Hipertensão pulmonar persistente do recém-nascido refere-se à persistência ou ao retorno da alta resistência vascular pulmonar fetal, o que provoca redução intensa do fluxo sanguíneo pulmonar e, frequentemente, derivação da direita para a esquerda no nível atrial e/ou ductal. Os sinais e sintomas incluem insuficiência respiratória hipoxêmica com taquipneia, retrações e cianose grave ou dessaturação que não responde ao oxigênio. O diagnóstico é feito por meio da história clínica, exame, radiografia de tórax, resposta ao oxigênio e ecocardiografia. O tratamento inclui oxigênio, ventilação de alta frequência, óxido nítrico, pressores e/ou inotrópicos, e oxigenação por membrana extracorpórea (se outras terapias falharem).
(Ver também Visão geral dos distúrbios respiratórios perinatais.)
O nascimento é acompanhado de extensas mudanças fisiológicas, algumas vezes revelando condições que não causavam qualquer problema na vida intrauterina. A idade gestacional e os parâmetros de crescimento ajudam a identificar o risco de patologia neonatal.
A hipertensão pulmonar persistente do recém-nascido deve-se a um desarranjo da vasculatura pulmonar que afeta os recém-nascidos de termo e pós-termo.
Etiologia da HPPN
Na circulação fetal normal, o sangue que entra no lado direito do coração já foi oxigenado pela placenta. Como os pulmões não são ventilados, apenas uma pequena quantidade de sangue (11% do débito cardíaco combinado total) (1) precisa passar pelas artérias pulmonares. A maior parte do sangue do lado direito do coração contorna os pulmões através do forame oval e canal arterial. Normalmente, essas 2 estruturas se fecham logo após o nascimento. (Ver também Função cardiovascular neonatal.)
Na HPPN (anteriormente conhecida como circulação fetal persistente), estresse pré-natal, estresse pós-natal (incluindo síndrome da aspiração de mecônio) e diferenças anatômicas podem resultar na persistência da resistência vascular pulmonar elevada após o nascimento. Hipoxemia e acidose fazem com que as arteríolas pulmonares se contraiam e impeçam o fechamento do ducto arterioso, interrompendo ou revertendo os processos habituais que estabelecem a circulação do recém-nascido no momento do parto. Se a pressão da artéria pulmonar for maior que a pressão arterial sistêmica (suprassistêmica), ocorre derivação da direita para a esquerda através do canal arterial, forame oval, ou ambos. Essa derivação da direita para a esquerda fornece sangue desoxigenado para a circulação sistêmica em vez de para os pulmões. Mesmo que a pressão da artéria pulmonar não seja suprassistêmica, o fluxo sanguíneo pulmonar reduzido causa hipoxemia. O aumento da pós-carga do ventrículo direito também pode causar dilatação do ventrículo direito e, em casos graves, disfunção.
Causas comuns de HPPN incluem as seguintes (2):
Asfixia perinatal ou hipóxia: a hipóxia desencadeia reversão ou persistência da resistência vascular pulmonar elevada, o estado normal no feto.
Fechamento prematuro do canal arterial ou forame oval, que pode ser desencadeado pelo uso materno de anti-inflamatório não esteroide (AINE) (no entanto, epidemiologicamente, o uso de AINE não parece aumentar o risco geral de HPPN) (3)
Hipoplasia pulmonar com hipoplasia da vasculatura pulmonar associada (às vezes devido à hérnia diafragmática congênita), levando à HPPN (4)
Sepse neonatal ou pneumonia neonatal devido a citocinas inflamatórias, hipóxia e acidose (5)
Referências sobre etiologia
1. Mielke G, Benda N. Cardiac output and central distribution of blood flow in the human fetus. Circulation. 2001;103(12):1662-1668. doi:10.1161/01.cir.103.12.1662
2. Sankaran D, Lakshminrusimha S. Pulmonary hypertension in the newborn- etiology and pathogenesis. Semin Fetal Neonatal Med. 2022;27(4):101381. doi:10.1016/j.siny.2022.101381
3. Van Marter LJ, Hernandez-Diaz S, Werler MM, et al. Nonsteroidal anti-inflammatory drugs in late pregnancy and persistent pulmonary hypertension of the newborn. Pediatrics. 2013;131(1):79–87. doi:10.1542/peds.2012-0496
4. Chandrasekharan PK, Rawat M, Madappa R, et al. Congenital diaphragmatic hernia—A review. Matern Health Neonatol Perinatol. 2017;3:6. doi:10.1186/s40748-017-0045-1
5. Duignan SM, Lakshminrusimha S, Armstrong K, et al. Neonatal sepsis and cardiovascular dysfunction I: mechanisms and pathophysiology. Pediatr Res. 2024;95(5):1207-1216. doi:10.1038/s41390-023-02926-2
Fisiopatologia da HPPN
Qualquer que seja a causa final, a resistência vascular pulmonar elevada resulta na redução do fluxo sanguíneo pulmonar e hipoxemia. Por fim, se a pressão da artéria pulmonar se tornar maior do que a pressão arterial sistêmica (suprassistêmica), a derivação da direita para a esquerda via canal arterial ou forame oval pode resultar em hipoxemia sistêmica intratável. A resistência vascular pulmonar elevada aumenta a pós-carga do ventrículo direito, o que pode resultar em dilatação cardíaca direita, insuficiência tricúspide e disfunção ventricular direita. O desenvolvimento anormal e hipertrofia do músculo liso nas paredes das pequenas artérias pulmonares e arteríolas também podem piorar a própria HPP.
Sinais e sintomas da HPPN
Os sinais e sintomas de HPPN incluem taquipneia, retrações e cianose grave ou hipoxemia que não responde ao oxigênio suplementar.
No lactente com derivação da direita para a esquerda via persistência do canal arterial, a oxigenação é maior na artéria braquial direita do que na aorta descendente, e a cianose é diferencial (isto é, a saturação de oxigênio nos membros inferiores [pós-ductais] é ≥ 5% menor do que na extremidade superior direita [pré-ductal] ou na orelha).
Diagnóstico da HPPN
Hipoxemia não responsiva à oxigenoterapia, às vezes com insuficiência respiratória
Cianose diferencial com oximetria pré e pós-ductal
Ecocardiograma
Radiografia para identificar doenças de base
Deve-se suspeitar do diagnóstico de HPPN em qualquer recém-nascido próximo ao termo com hipoxemia arterial lábil, especialmente um com história sugestiva e cianose diferencial cuja saturação de oxigênio não melhora com a administração de oxigênio a 100%.
O diagnóstico é confirmado por ecocardiograma, que pode mostrar a presença de pressões elevadas na artéria pulmonar, estimar o grau de hipertensão pulmonar (subsistêmica, sistêmica ou suprassistêmica), avaliar insuficiência cardíaca direita e excluir ou identificar cardiopatia congênita.
Na radiografia, os campos pulmonares podem ser normais ou mostrar alguma alteração por doença subjacente (p. ex., síndrome da aspiração de mecônio, pneumonia neonatal, hérnia diafragmática congênita). Pode ser difícil diferenciar as anormalidades na radiografia da pneumonia bacteriana.
Hemoculturas devem ser realizadas porque a infecção pré-natal é uma possível causa da HPPN. Outros exames laboratoriais para avaliar sepse também podem ser realizados.
Tratamento da HPPN
Oxigênio para dilatar a vasculatura pulmonar e melhorar a oxigenação
Frequentemente óxido nítrico inalado ou outros vasodilatadores pulmonares
Suporte ventilatório invasivo conforme necessário
Correção da acidose metabólica e/ou respiratória
Oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO) conforme necessário
Às vezes apoio circulatório
O tratamento tem por objetivo reverter as condições que provocam vasoconstrição pulmonar e tratar as condições subjacentes.
O lactente é colocado em ambiente calmo, e a estimulação externa é minimizada. O tratamento com oxigênio, um vasodilatador pulmonar potente, é iniciado imediatamente para prevenir a progressão da doença. O oxigênio é fornecido de forma não invasiva ou através de ventilação mecânica; a distensão mecânica dos alvéolos favorece a vasodilatação. A fração de oxigênio inspirado (FiO2) deve ser inicialmente 1, mas pode ser titulada para baixo a fim de manter a PaO2 entre 50 e 90 mmHg e, assim, minimizar a lesão pulmonar quando houver evidências de diminuição da resistência vascular pulmonar. Uma vez estabilizada a PaO2, pode-se tentar a retirada reduzindo-se FiO2 em decrementos de 2 a 3%, e então reduzindo a pressão ventilatória; as mudanças devem ser graduais porque uma grande queda de PaO2 pode causar vasoconstrição recorrente da artéria pulmonar. A ventilação oscilatória de alta frequência expande e ventila os pulmões enquanto minimiza o barotrauma e deve ser considerada para recém-nascidos com doenças pulmonares de base nos quais a combinação ruim de atelectasia e ventilação/perfusão (V/P) pode exacerbar a hipoxemia da HPPN.
O índice de oxigenação (pressão média das vias respiratórias [cm H2O] × FiO2 × 100/PaO2) é utilizado para avaliar a gravidade da doença e determinar o momento das intervenções (em particular para óxido nítrico inalado [índice de oxigenação de 15 a 25] e ECMO [índice de oxigenação > 35 a 40]).
A inalação de óxido nítrico relaxa a musculatura lisa do endotélio e dilata as arteríolas pulmonares, o que aumenta o fluxo de sangue no pulmão e melhora rapidamente a oxigenação em cerca de metade dos pacientes (1). A dose inicial é de 20 ppm, seguindo-se doses decrescentes de acordo com o efeito. Outros vasodilatadores pulmonares, incluindo sildenafil, bosentana e análogos da prostaciclina, podem ser utilizados como adjuvantes (2).
A insuficiência ventricular direita pode ser tratada com um inotrópico como milrinona, que também tem efeitos vasodilatadores pulmonares e sistêmicos. Reanimação volêmica e/ou agentes vasoativos adicionais podem ser necessários para manter a pressão arterial sistêmica.
Pode-se utilizar a ECMO para recém-nascidos com insuficiência respiratória hipóxica grave, definida por um índice de oxigenação > 35 a 40 apesar do suporte respiratório máximo.
Um ambiente silencioso deve ser mantido; ocasionalmente, sedação ou relaxantes musculares são necessários. Tanto a acidose respiratória quanto a metabólica devem ser corrigidas. Devem ser mantidos níveis normais de líquidos, eletrólitos, glicose e cálcio. Os recém-nascidos devem ser mantidos em ambiente térmico neutro e tratados com antibióticos por possível sepse enquanto se aguardam os resultados das culturas.
Referências sobre tratamento
1. Lakshminrusimha S, Konduri GG, Steinhorn RH. Considerations in the management of hypoxemic respiratory failure and persistent pulmonary hypertension in term and late preterm neonates. J Perinatol. 2016;36 Suppl 2:S12-S19. doi:10.1038/jp.2016.44
2. Fei Q, Pan J, Zhang F, Lin Y, Yuan T. Comparison of Different Treatments of Persistent Pulmonary Hypertension of the Newborn: A Systematic Review and Network Meta-Analysis. Crit Care Med. 2024;52(6):e314-e322. doi:10.1097/CCM.0000000000006227
Prognóstico da HPPN
As estimativas de mortalidade variam de 7 a 20%; risco está relacionado com a doença subjacente (1, 2).
Morbidades de longo prazo incluem atraso no desenvolvimento, déficits auditivos e doença pulmonar crônica (3).
Referências sobre prognóstico
1. Nakwan N, Jain S, Kumar K, et al. An Asian multicenter retrospective study on persistent pulmonary hypertension of the newborn: incidence, etiology, diagnosis, treatment and outcome. J Matern Fetal Neonatal Med. 2020;33(12):2032-2037. doi:10.1080/14767058.2018.1536740
2. Steurer MA, Jelliffe-Pawlowski LL, Baer RJ, Partridge JC, Rogers EE, Keller RL. Persistent Pulmonary Hypertension of the Newborn in Late Preterm and Term Infants in California. Pediatrics. 2017;139(1):e20161165. doi:10.1542/peds.2016-1165
3. Stieren ES, Sankaran D, Lakshminrusimha S, Rottkamp CA. Comorbidities and Late Outcomes in Neonatal Pulmonary Hypertension. Clin Perinatol. 2024;51(1):271-289. doi:10.1016/j.clp.2023.10.002
Pontos-chave
Hipóxia prolongada e/ou acidose e doenças que aumentam o fluxo sanguíneo pulmonar causam hipertrofia dos músculos lisos nas artérias pulmonares pequenas, resultando em hipertensão pulmonar persistente.
A hipertensão pulmonar persistente provoca derivação da direita para a esquerda via canal arterial ou forame oval, resultando em hipoxemia sistêmica; insuficiência cardíaca direita pode se desenvolver.
Confirmar o diagnóstico por ecocardiografia.
Administrar oxigênio, óxido nítrico e outros vasodilatadores pulmonares e ventilar mecanicamente conforme necessário; para casos graves ou refratários, utilizar oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO).
