Visão geral dos transtornos de ansiedade

PorJohn W. Barnhill, MD, New York-Presbyterian Hospital
Revisado/Corrigido: ago 2023
Visão Educação para o paciente

Os transtornos de ansiedade são caracterizados por medo e ansiedade persistentes e excessivos e pelas alterações comportamentais disfuncionais que um paciente pode utilizar para mitigar esses sentimentos. Os transtornos de ansiedade são diferenciados com base em objetos ou situações específicas que induzem medo, ansiedade e mudanças comportamentais associadas.

Todas as pessoas experimentam periodicamente medo e ansiedade.

O medo é uma resposta emocional, física e comportamental a uma ameaça externa imediatamente reconhecível (p. ex., um intruso, um carro descontrolado).

Ansiedade é um estado emocional perturbador e desconfortável de nervosismo e preocupação; suas causas são menos claras. A ansiedade está menos ligada com o momento exato da ameaça; ela pode ser antecipatória, antes da ameaça, persistir depois que a ameaça cessou, ou ocorrer sem ameaça identificável.

As pessoas muitas vezes experimentam tanto o medo quanto a ansiedade como mudanças em seus corpos (p. ex., sudorese, náuseas) e seus comportamentos (p. ex., esquiva, raiva). Muitas vezes, as pessoas estão cientes dessas mudanças físicas e comportamentais sem identificar claramente que estão ansiosas ou com medo.

A ansiedade adaptativa pode ajudar a motivar as pessoas a se prepararem, praticarem e treinarem; também pode incentivar a devida precaução em situações potencialmente perigosas. Quando a ansiedade causa disfunção e sofrimento indevido, porém, ela é considerada mal-adaptativa e, portanto, um transtorno psiquiátrico.

Transtornos de ansiedade são mais comuns que qualquer outra classe de transtornos psiquiátricos, com cerca de um terço das pessoas atendendo os critérios para transtorno de ansiedade em algum momento da vida (1, 2). Entretanto, os transtornos de ansiedade tendem a ser subdiagnosticados e podem estar associados a pensamentos e tentativas de suicídio.

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição, Texto Revisado (DSM-5-TR) lista os vários transtornos de ansiedade em ordem de idade típica de início (3):

Ansiedade da separação e mutismo seletivo tendem a surgir durante a infância, enquanto os outros distúrbios listados acima geralmente se desenvolvem na idade adulta.

Transtorno de ansiedade induzido por substâncias/medicamentos e ansiedade devida a outra condição médica sempre devem ser consideradas quando as pessoas apresentam ansiedade significativa.

Outros transtornos que muitas vezes se manifestam com ansiedade proeminente incluem transtorno de estresse agudo, transtornos de adaptação, e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Como são consideradas decorrentes de experiências traumáticas ou estressantes, elas são agrupadas separadamente no DSM-5-TR.

Os transtornos de ansiedade tendem a ser altamente comórbidos com outras condições médicas e psiquiátricas. Depressão, transtornos por uso de substâncias, transtornos de personalidade, e outros transtornos de ansiedade são comorbidades particularmente comuns, assim como doença cardiovascular, asma, enxaqueca e artrite. Como os transtornos de ansiedade muitas vezes precedem outras comorbidades psiquiátricas, o tratamento precoce e eficaz do transtorno de ansiedade pode prevenir ou mitigar seu desenvolvimento.

Referências gerais

  1. 1. Bandelow B, Michaelis S: Epidemiology of anxiety disorders in the 21st century. Dialogues Clin Neurosci 17(3):327-335, 2015. doi: 10.31887/DCNS.2015.17.3/bbandelow

  2. 2. Penninx BW, Pine DS, Holmes EA, et al: Anxiety disorders. Lancet 97(10277):914-927, 2021. doi: 10.1016/S0140-6736(21)00359-7

  3. 3. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição, Texto Revisado (DSM-5-TR). American Psychiatric Association Publishing, Washington, DC, pp 215-262.

Etiologia dos transtornos de ansiedade

Não há um gene ou causa psicológica únicos para os transtornos de ansiedade, mas eles parecem se desenvolver no contexto de fatores biopsicossociais típicos. Os transtornos de ansiedade tendem a ocorrer em famílias, e o fazem por meio de pelo menos 2 mecanismos (1):

  • Um traço de "inibição comportamental" na infância parece ser um pouco herdado, e esse traço está associado a maior risco de transtornos de ansiedade na adolescência.

  • Medos sociais e esquiva podem ser transmitidos às crianças por meio de modelos parentais e/ou experiências traumáticas precoces que podem incluir maus-tratos na infância ou doenças médicas (p. ex., asma). Tem-se a hipótese de que essas experiências e vulnerabilidades genéticas estimulam algumas crianças a serem incomumente atentas às suas próprias reações físicas e emocionais ao estresse, que podem então levar ao transtorno do pânico e ao transtorno de ansiedade social.

Muitas pessoas desenvolvem um transtorno de ansiedade sem um gatilho antecedente identificável. Por exemplo, a maioria das pessoas com ofidiofobia nunca foi mordida por uma cobra e não relata uma experiência traumática característica. A ansiedade também pode ser uma resposta a estressores ambientais e sociais durante a idade adulta, como o término de um relacionamento significativo ou a exposição a um desastre com risco de vida, embora a maioria das pessoas que experimentam esses estressores não desenvolva um transtorno de ansiedade.

Múltiplos neurotransmissores estão envolvidos no desenvolvimento de transtornos de ansiedade. Os 2 neurotransmissores predominantes — GABA e glutamato - desempenham um papel fundamental, assim como outros neurotransmissores como serotonina, noradrenalina e dopamina. Esses neurotransmissores desempenham um papel importante, pois influenciam a seleção dos medicamentos.

Alguns transtornos médicos podem produzir ansiedade diretamente. Estes incluem asma, arritmias cardíacas, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), insuficiência cardíaca, hipertireoidismo, síndrome de Cushing, e feocromocitoma.

Os medicamentos utilizados para tratar alguns distúrbios médicos também podem induzir a ansiedade como um sintoma. Esses incluem

  • Asma (albuterol, corticoides, teofilina)

  • Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (anfetaminas e outros estimulantes)

  • Hipertireoidismo (levotiroxina, liotironina)

  • Alergias sazonais (anti-histamínicos e descongestionantes)

  • Convulsões (fenitoína)

  • Doença de Parkinson (levodopa)

Além disso, uma variedade de substâncias e drogas ilícitas pode induzir diretamente a ansiedade, incluindo cafeína, cocaína, e MDMA (ecstasy). Alguns fármacos que geralmente são utilizados para induzir relaxamento também podem causar ansiedade. Cannabis (maconha) induz ansiedade em algumas pessoas, seja diretamente ou por meio de um adulterante como fenciclidina (PCP). Abstinência de álcool, sedativos e alguns outros fármacos também podem causar ansiedade.

Ansiedade relacionada à covid-19

A pandemia de covid-19 foi associada a surtos nas taxas de depressão e ansiedade em pessoas que não foram infectadas (2). Essas reações psicológicas podem ter sido exacerbações de questões subjacentes, mas os sintomas são muitas vezes intensificados por exposição na mídia, dificuldades econômicas, incerteza em relação ao futuro, medos de infecção (para eles mesmos e entes queridos), perda de apoios familiares (p. ex., amigos, emprego) e restrições comportamentais (p. ex., máscaras, distanciamento social).

A infecção sintomática por covid-19 também está associada ao aumento da ansiedade (3). Os gatilhos para esse aumento da ansiedade podem ser fisiológicos (p. ex., falta de ar); psicológicos (p. ex., medos imediatos da morte); sociais (p. ex., isolamento dos entes queridos); e farmacológicos (p. ex., uso não prescrito de corticoides, que são frequentemente utilizados no tratamento da covid-19). Além disso, a hipótese de que covid-19 induz uma resposta imunitária do hospedeiro que leva diretamente a sintomas neuropsiquiátricos (p. ex., ansiedade, alterações de humor, disfunção neuromuscular); essas reações neuropsiquiátricas podem ser agudas ou fazer parte de uma síndrome conhecida como covid longa. (Ver também Manifestações neuropsiquiátricas relacionadas à covid.)

Referências sobre etiologia

  1. 1. Juruena MF, Eror F, Cleare AJ, et al: The role of early life stress in HPA axis and anxiety. Adv Exp Med Biol 1191:141-153, 2020. doi: 10.1007/978-981-32-9705-0_9

  2. 2. Shafran R, Rachman S, Whittal M, et al: Fear and anxiety in COVID-19: Preexisting anxiety disorders. Cogn Behav Pract 28(4):459-467, 2021. doi:10.1016/j.cbpra.2021.03.003

  3. 3. Troyer EA, Kohn JN, Hong S: Are we facing a crashing wave of neuropsychiatric sequelae of COVID-19? Neuropsychiatric symptoms and potential immunologic mechanisms. Brain Behav Immun 87:34-39, 2020. doi: 10.1016/j.bbi.2020.04.027

Sinais e sintomas do transtorno de ansiedade

Os transtornos de ansiedade tendem a diferir da ansiedade habitual e normal por serem persistentes (> 6 meses), excessivos, debilitantes e desconfortáveis.

Os transtornos de ansiedade podem induzir uma ampla gama de sintomas físicos, incluindo (1):

  • Gastrointestinais: náuseas, vômitos, diarreia

  • Pulmonar: falta de ar, asfixia

  • Autonômicos: tontura, desmaio, sudorese, ondas de calor e frio

  • Cardíaco: palpitação, aceleração da frequência cardíaca

  • Musculoesqueléticos: tensão muscular, dor ou aperto no peito

Um diário de pânico ou preocupação pode ser uma ferramenta útil para registrar os sintomas, tanto porque os relatos retrospectivos de ansiedade podem ser vagos quanto porque as estratégias de tratamento muitas vezes dependem de detalhes.

Referência sobre sinais e sintomas

  1. 1. Craske MG, Stein MB: Anxiety. Lancet 388:3048-3059, 2016. doi: 10.1016/S0140-6736(16)30381-6

Diagnóstico dos transtornos de ansiedade

  • Critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição, Texto Revisado (DSM-5-TR)

O diagnóstico de um transtorno de ansiedade específico baseia-se em seus sinais e sintomas característicos de acordo com o DSM-5-TR. Em geral, pode-se suspeitar de um transtorno de ansiedade quando o seguinte se aplica (1):

  • A ansiedade é muito perturbadora.

  • A ansiedade interfere no funcionamento.

  • A ansiedade não cessou espontaneamente em poucos dias.

  • Outras causas não foram identificadas.

Ao diagnosticar um transtorno de ansiedade, é importante excluir ansiedade atribuível a certas condições médicas (p. ex., asma, hipertireoidismo) e/ou substâncias ou medicamentos (2). Além disso, se presente, o médico precisa avaliar até que ponto o distúrbio médico e/ou substância está realmente envolvido na ansiedade. Como é verdade em todas as avaliações psiquiátricas, uma história cuidadosa é crucial para o diagnóstico preciso.

Se os pacientes preenchem os critérios para um transtorno de ansiedade e o médico conclui que os sintomas são mais bem explicados pelos efeitos fisiológicos diretos de um fármaco ou droga/substância ilícita, considera-se que o paciente tem transtorno de ansiedade induzido por substância/medicamento. Da mesma forma, se a ansiedade significativa é considerada o resultado fisiológico direto de outra condição médica, o paciente pode ser diagnosticado com transtorno de ansiedade devido a outra condição médica.

Como é verdade para quase todas as condições psiquiátricas, não há testes laboratoriais para transtornos de ansiedade, embora testes laboratoriais possam ajudar a identificar condições médicas associadas à ansiedade. O julgamento clínico é necessário antes do diagnóstico. Além de provocar sintomas característicos e tempo de evolução, o médico também deve avaliar se a situação clínica atende o limiar para causar sofrimento e/ou disfunção clinicamente significativos.

Os diferentes transtornos de ansiedade muitas vezes podem ser distinguidos com base nas respostas a 3 perguntas-chave:

  • Que situações induzem o medo e a ansiedade?

  • Que pensamentos estão associados à ansiedade?

  • Quais estratégias de prevenção são utilizadas?

Fatores culturais

A cultura influencia a expressão, conceituação e tratamento de todas as condições psiquiátricas, incluindo transtornos de ansiedade (3, 4). Durante a avaliação psiquiátrica, é importante procurar maneiras como os sintomas de ansiedade podem ser afetados pelos sistemas político, econômico e legal circundantes, bem como por questões específicas relacionadas com o status de migrante, orientação sexual, status socioeconômico, religião, espiritualidade e estruturas familiares.

Os pacientes podem se sentir intimidados, envergonhados ou relutantes em discutir a ansiedade com qualquer pessoa, muito menos médicos, que podem parecer pertencer a um grupo socioeconômico diferente e potencialmente mais privilegiado. Da mesma forma, as pessoas que querem ser "bons pacientes" podem não ser francos sobre questões psiquiátricas se suspeitarem que seus médicos estão ocupados demais para abordar qualquer coisa além de sua questão médica não psiquiátrica mais proeminente.

É útil que o médico considere que indivíduos ou grupos diferentes utilizam palavras diferentes para descrever o sofrimento. Por exemplo, pessoas em muitos países utilizam a expressão "pensar demais" em vez de descrever sintomas que correspondem a critérios psiquiátricos específicos para transtornos como depressão, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), ou transtorno de ansiedade generalizada (5).

Também pode ser útil perguntar aos pacientes o que eles acham que está causando seus problemas. Nem todos os pacientes acreditam completamente no modelo médico e, se questionados com cuidado, muitos pacientes podem relutantemente mencionar que eles (ou seus parentes) acreditam que seus sintomas foram induzidos por uma fonte religiosa ou mística (p. ex., um "mau-olhado").

A obtenção dessas informações melhora a aliança paciente-médico, aprofunda a compreensão tanto do paciente como das queixas apresentadas e melhora a probabilidade de que o paciente seja mais transparente e mais aderente no futuro.

Referências sobre diagnóstico

  1. 1. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª Edição,Texto Revisado (DSM-5-TR). American Psychiatric Association Publishing, Washington, DC, pp 215-221.

  2. 2. Craske MG, Stein MB: Anxiety. Lancet 388:3048-3059, 2016. doi: 10.1016/S0140-6736(16)30381-6

  3. 3. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5th Edition, Text Revision (DSM-5-TR), Conceitos Culturais de Angústia. American Psychiatric Association Publishing, Washington, DC, pp 872-880.

  4. 4. Lewis-Fernández R, Aggarwal NK, Lam PC, et al: Feasibility, acceptability and clinical utility of the Cultural Formulation Interview: Mixed-methods results from the DSM-5 international field trial. Br J Psychiatry 210(4):290-297, 2017. doi: 10.1192/bjp.bp.116.193862

  5. 5. Kaiser BN , Haroz EE, Kohrt BA, et al: "Thinking too much": A systematic review of a common idiom of distress. Soc Sci Med 147:170-183, 2015. doi: 10.1016/j.socscimed.2015.10.044

Tratamento dos transtornos de ansiedade

  • Psicoeducação

  • Técnicas de relaxamento

  • Psicoterapias, como psicoterapia cognitivo-comportamental (TCC)

  • Farmacoterapia (benzodiazepinas, inibidores seletivos da recaptação da serotonina [ISRSs])

É importante levar em consideração os seguintes princípios gerais ao tratar transtornos de ansiedade:

  • Uma variedade de intervenções é eficaz para tratar transtornos de ansiedade.

  • A maioria dos pacientes pode ser tratada com sucesso em unidades de cuidados primários.

  • A identificação precisa do transtorno de ansiedade e as comorbidades pertinentes são cruciais.

  • O tratamento de condições médicas comórbidas que podem contribuir para a ansiedade (p. ex., asma).

  • Transtornos acompanhados pelo uso de substâncias geralmente devem ser tratados concomitantemente com o transtorno de ansiedade. Deve-se reconhecer que a substância é frequentemente utilizada em parte para reduzir a ansiedade, e a abstinência pode induzir ansiedade adicional.

  • Modificações no estilo de vida, como exercício e sono adequados (1) e limitar a ingestão de cafeína pode reduzir significativamente os sintomas de ansiedade.

  • As recomendações de tratamento são influenciadas pelas preferências do paciente e pelo acesso a profissionais de saúde mental.

Psicoterapia e medicações são eficazes para a maioria dos transtornos de ansiedade, particularmente quando utilizados em conjunto (2, 3).

Técnicas de psicoeducação e relaxamento

A psicoeducação é tipicamente fundamental para o tratamento dos transtornos de ansiedade. Pode parecer liberador para o paciente entender como uma variedade de sintomas e comportamentos às vezes desconcertante pode ser conceituada em um diagnóstico. A educação também fornece uma estrutura cognitiva para ajudar os pacientes a buscar um tratamento que pode se sentir desconfortável.

Técnicas de relaxamento devem ser ensinadas no início do tratamento. Essas técnicas são úteis porque o medo e a ansiedade são fundamentais para os transtornos de ansiedade e porque o tratamento pode intensificar transitoriamente os pensamentos e sentimentos incapacitantes. Sem uma ferramenta para controlar a ansiedade, muitos pacientes não aderem ao tratamento. Técnicas de relaxamento podem incluir relaxamento muscular, controle da respiração, ioga, hipnose e/ou meditação, mas a preferência do paciente é importante para determinar a abordagem específica. As técnicas de relaxamento podem ser brevemente descritas e então "prescritas" como tarefas de casa. É mais provável que a adesão e a eficácia sejam otimizadas se o médico demonstrar periodicamente as técnicas (p. ex., respiração lenta e constante) com entusiasmo.

Psicoterapias

Várias psicoterapias são igualmente eficazes para a maioria dos transtornos psiquiátricos. Essa equivalência parece estar relacionada com as chamadas fatores inespecíficos, que incluem as características pessoais do terapeuta e um clima terapêutico positivo que permite ao paciente se engajar efetivamente na terapia baseada na conversa e permanecer aderente às práticas e medicamentos acordados.

Terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem a evidência mais sólida como um tratamento psicossocial para transtornos de ansiedade (4). Técnicas de psicoeducação e relaxamento deve ser introduzida precocemente na TCC.

A terapia cognitivo-comportamental envolve tanto a reestruturação cognitiva como a terapia de exposição. A reestruturação cognitiva começa com a ideia de que pacientes com transtornos de ansiedade superestimam o perigo (catastrofizam) e subestimam sua capacidade de lidar com o perigo. Esses pensamentos imprecisos e gatilhos antecedentes são esclarecidos durante o tratamento. Muitas vezes, o padrão de ansiedade pode ser colocado em um ciclo característico de gatilhos, comportamentos e ansiedade. À medida que esse ciclo é esclarecido, os pacientes são ensinados a reconhecer e confrontar seus pensamentos imprecisos (isto é, reestruturação cognitiva).

A TCC também focaliza os elementos comportamentais do transtorno de ansiedade. Em geral, pacientes com transtornos de ansiedade respondem à percepção de perigo com uma resposta do tipo "luta ou fuga". Alguns pacientes com ansiedade significativa são capazes de "combater" sua ansiedade, muitas vezes com uma resposta contrafóbica (p. ex., um ator com ansiedade social significativa), mas a maioria responde com a esquiva. A terapia de exposição visa identificar o comportamento de esquiva e, em seguida, apresentar ao paciente oportunidades gradualmente intensificadas de exposição segura ao gatilho temido, dessensibilizando gradualmente o paciente.

Outras psicoterapias utilizado para o tratamento de transtornos de ansiedade combinam aspectos da TCC, relaxamento e atenção plena, juntamente com outras estratégias que parecem ser úteis. Esses tratamentos incluem redução do estresse com base na atenção plena, hipnose, psicoterapia psicodinâmica focada em pânico, terapia interpessoal e psicoterapia de apoio:

  • Redução do estresse com base na atenção plena é um programa padronizado no qual os grupos se reúnem por 8 semanas consecutivas; as sessões incluem meditação sentada e andando, ioga e técnicas de relaxamento. Também há prática domiciliar diária para reforçar os princípios praticados durante as sessões de 2,5 horas (5). A terapia cognitiva baseada na atenção plena combina esses elementos da atenção plena com métodos de terapia cognitivo-comportamental como psicoeducação e reestruturação cognitiva.

  • A hipnose é empregada para ensinar o tratamento da interação entre ansiedade mental e estresse físico, como tensão muscular, aumento da frequência respiratória e cardíaca, e sudorese. Ansiedade mental e estresse físico tendem a se reforçar, enquanto sugestões hipnóticas para imaginar estar em um lugar seguro e confortável, juntamente com a visualização de meios de controle bem-sucedido do estresse, podem reduzir os sintomas de ansiedade rapidamente enquanto ensinam uma habilidade de enfrentamento (6).

  • A psicoterapia psicodinâmica focada no pânico é uma psicoterapia estruturada com tempo limitado que compartilha características com outras intervenções, embora as sessões tendam a se concentrar nos estressores, sentimentos e significados emocionais dos ataques de pânico (7).

  • A psicoterapia interpessoal (TIP) é uma psicoterapia estruturada com tempo limitado que aborda os problemas e relacionamentos atuais. A TIP focaliza 1 ou mais de 4 áreas: conflitos de relacionamento, mudanças na vida, luto ou perda, e problemas com relacionamentos. Usada com mais frequência para tratar a depressão, a TIP parece ser bem tolerada e eficaz para vários transtornos de ansiedade (8). Enquanto a TCC se concentra nas cognições e comportamentos, a TIP focaliza os sentimentos que se desenvolvem no contexto de situações interpessoais.

  • Psicoterapia de apoio visa apoiar as defesas e comportamentos saudáveis do paciente por meio de empatia, validação e escuta sem julgamento. Técnicas de apoio tendem a melhorar a aliança terapêutica e reduzir a não aderência ao tratamento. A psicoterapia de apoio pode ser terapêutica por si só e também pode ser uma parte fundamental de outras psicoterapias.

Farmacoterapia

A farmacoterapia é tipicamente útil no tratamento de transtornos de ansiedade, especialmente quando utilizada em conjunto com qualquer uma das técnicas psicoterapêuticas acima. Antidepressivos e benzodiazepinas são as 2 classes de medicamentos com a mais forte base de evidências, embora também haja um papel para ansiolíticos não benzodiazepinas (como buspirona) e antipsicóticos atípicos (9).

Inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs) são geralmente considerados de primeira linha com base em seus perfis de eficácia e segurança. Esses "antidepressivos" tratam os sintomas dos transtornos de ansiedade, independentemente de haver um transtorno depressivo comórbido.

Os antidepressivos ISRS são geralmente iniciados na menor dose disponível para minimizar os efeitos adversos. Pacientes com ansiedade podem ser sensíveis a alterações corporais e podem interromper o tratamento se tiverem efeitos adversos no início. Uma vez que o paciente tenha tolerado a dose inicial, o antidepressivo pode ser aumentado gradualmente até que uma dose ou efeito terapêutico seja alcançado. Um efeito clínico positivo pode ocorrer a qualquer momento, mas geralmente leva 6 ou mais semanas para ser alcançado.

Inibidores de recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSNs), particularmente duloxetina e venlafaxina, também demonstraram segurança e eficácia para o tratamento dos transtornos de ansiedade.

Benzodiazepinas podem ser empregadas para alívio agudo da ansiedade, mas podem criar dependência e desejo de aumentar os níveis que limitam sua relação risco/benefício para uso crônico (10). São frequentemente utilizados em conjunto com um antidepressivo e psicoterapia. A benzodiazepina pode ser diminuída assim que os sintomas de ansiedade melhorarem.

Tratamento das comorbidades

Quando presentes, transtornos por uso de substâncias comórbidas e outras condições psiquiátricas também devem ser adequadamente tratados.

Transtornos por uso de substâncias comórbidos muitas vezes não são notificados espontaneamente (11). Substâncias como álcool, maconha e benzodiazepinas são frequentemente utilizadas para automedicar aqueles com transtornos de ansiedade. Os pacientes podem ser relutantes em desistir dessas substâncias até que confiem que o médico tenha um tratamento alternativo viável. A automedicação geralmente leva a um ciclo vicioso. Por exemplo, o uso de álcool que reduz rapidamente a ansiedade pode ser seguido por ansiedade de rebote, seguido de maior urgência para automedicar.

Transtorno bipolar comórbido pode causar dificuldades específicas de tratamento. Muitas pessoas com transtorno bipolar são inicialmente diagnosticadas erroneamente, particularmente porque costumam ter períodos de depressão muito mais do que mania. O tratamento com um antidepressivo pode ser um tratamento de primeira linha apropriado para transtorno de ansiedade com comorbidade maior depressão. Contudo, para um indivíduo com ansiedade e transtorno bipolar, essa mesma escolha de medicação pode desencadear um episódio maníaco que consiste em ansiedade intensificada e irritabilidade. Um transtorno bipolar esquecido pode resultar em décadas de tratamentos inapropriados.

Distúrbios médicos comórbidos também podem ser um desafio para o tratamento. Por exemplo, a asma pode causar ansiedade fisiologicamente, mas alguns dos medicamentos utilizados para tratar a asma também podem. A ansiedade pode contribuir para a exacerbação da asma e os medos de uma exacerbação da asma podem levar a comportamentos de esquiva (p. ex., diminuição da atividade, não adesão à medicação), o que, por sua vez, podem exacerbar a asma e levar à diminuição da qualidade de vida.

Referências sobre o tratamento

  1. 1. Chellappa SL, Aeschbach D: Sleep and anxiety: From mechanisms to interventions. Sleep Med Rev61:101583, 2022. doi: 10.1016/j.smrv.2021.101583

  2. 2. Bandelow B, Michaelis S, Wedekind D: Treatment of anxiety disorders. Dialogues Clin Neurosci 19(2):93-107, 2017. doi: 10.31887/DCNS.2017.19.2/bbandelow

  3. 3. Cuijpers P, Sijbrandij M, Koole SL, et al: Adding psychotherapy to antidepressant medication in depression and anxiety disorders: a meta-analysis. World Psychiatry, 13(1), 56-67, 2014.doi: 10.1002/wps.20089

  4. 4. Szuhany KL, Simon NM: Anxiety disorders: A review. JAMA 328(24):2431-2445, 2022. doi: 10.1001/jama.2022.22744

  5. 5. Haller H, Breilmann P, Schröter, M. et al: A systematic review and meta-analysis of acceptance- and mindfulness-based interventions for DSM-5 anxiety disorders. Sci Rep 11(1):20385, 2021.  doi: 10.1038/s41598-021-99882-w

  6. 6. Valentine KE, Milling LS, Clark LJ, et al: The efficacy of hypnosis as a treatment for anxiety: A meta-analysis. Int J Clin Exp Hyposis 67(3)336-363, 2019. doi: 10.1080/00207144.2019.1613863

  7. 7. Barber JP, Milrod B, Gallop R, et al: Processes of therapeutic change: Results from the Cornell-Penn Study of Psychotherapies for Panic Disorder. J Couns Psychol 67(2):222-231, 2020. doi: 10.1037/cou0000417

  8. 8. Markowitz JC, Milrod B, Luyten P, et al: Mentalizing in interpersonal psychotherapy. Am J Psychother 72(4):95-100. 2019. doi: 10.1176/appi.psychotherapy.20190021

  9. 9. Slee A, Nazareth I, Bondaronek P, et al: Pharmacological treatments for generalised anxiety disorder: A systematic review and network meta-analysis. Lancet 2019393(10173):768-777. doi: 10.1016/S0140-6736(18)31793-8

  10. 10. Balon R, Starcevic V: Role of benzodiazepines in anxiety disorders. Adv Exp Med Biol 1191:367-388, 2020. doi: 10.1007/978-981-32-9705-0_20

  11. 11. Anker JJ, Kushner MG: Co-occurring alcohol use disorder and anxiety: Bridging psychiatric, psychological, and neurobiological perspectives. Alcohol Res 40(1):arcr.v40.1.03, 2019. doi: 10.35946/arcr.v40.1.03

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