Infecções estafilocócicas

PorLarry M. Bush, MD, FACP, Charles E. Schmidt College of Medicine, Florida Atlantic University;
Maria T. Vazquez-Pertejo, MD, FACP, Wellington Regional Medical Center
Reviewed ByBrenda L. Tesini, MD, University of Rochester School of Medicine and Dentistry
Revisado/Corrigido: modificado set. 2025
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Visão Educação para o paciente

Estafilococos são microrganismos Gram-positivos aeróbios. Staphylococcus aureus é o mais patogênico; em geral, causa infecções de pele e algumas vezes pneumonia, endocardite e osteomielite. Na maioria das vezes, provoca a formação de abscesso. Algumas cepas produzem toxinas que provocam gastroenterite, síndrome da pele escaldada e síndrome do choque tóxico. O diagnóstico é por coloração de Gram e cultura. O tratamento costuma ser com betalactâmicos resistentes à penicilinase, mas como a resistência a antibióticos é comum, pode ser necessário o uso de vancomicina ou outros antibióticos.

As espécies estafilocócicas são bactérias caracterizadas, ao microscópio, pela aparência de aglomerados esféricos de microrganismos semelhantes a cachos de uvas. Existem espécies tanto coagulase-positivas quanto coagulase-negativas; a habilidade de coagular o sangue produzindo coagulase distingue o patógeno virulento, Staphylococcus aureus, das espécies de estafilococos coagulase-negativos menos virulentas. S. aureus está entre os patógenos humanos mais onipresentes e perigosos, tanto por sua virulência como por sua habilidade de desenvolver resistência aos antibióticos.

Espécies coagulase-negativas, como S. epidermidis, estão associadas a infecções hospitalares; S. saprophyticus provoca infecções urinárias. S. lugdunensis, outra espécie coagulase-negativa, pode causar doença invasiva com virulência semelhante à do S. aureus. Ao contrário de muitas espécies estafilocócicas coagulase-negativo, S. lugdunensis muitas vezes permanece sensível aos betalactâmicos resistentes à penicinilase (isto é, sensíveis à meticilina).

Uma condição de portador é comum. Estafilococos patogênicos são onipresentes. São carregados, geralmente transitoriamente, nas narinas anteriores de cerca de 32% dos adultos sadios (1) e na pele de cerca de 20-30% (2); desses locais, estafilococos podem causar infecção no hospedeiro e outros. As taxas de transporte são mais altas em pacientes hospitalizados e pessoal hospitalar. Infecções por S. aureus são mais prevalentes em portadores do que em não portadores e geralmente são causadas pela cepa colonizadora.

Fatores de risco de infecções estafilocócicas

Pessoas predispostas a infecções estafilocócicas incluem:

  • Neonatos e mães que amamentam

  • Pacientes com influenza, doenças crônicas broncopulmonares (p. ex., fibrose cística, enfisema), leucemia, HIV, neoplasias malignas, doenças cutâneas crônicas ou diabetes mellitus

  • Pacientes transplantados, com implante de prótese, outros corpos estranhos ou catéter plástico intravascular de demora

  • Pacientes que recebem glicocorticoides exógenos, irradiação, imunossupressores ou quimioterapia antitumor

  • Pacientes com defeitos na quimiotaxia (p. ex., síndromes de Job, de Chediak-Higashi e de Wiskott-Aldrich) e na fagocitose

  • Usuários de drogas injetáveis

  • Pacientes com doença renal crônica e que estão em diálise

  • Pacientes com incisões cirúrgicas, feridas abertas ou queimaduras

Pacientes predispostos podem adquirir estafilococos resistentes de outros pacientes, funcionários de hospitais ou de objetos do hospital. A transmissão pelas mãos de funcionários é o meio mais comum de disseminação, mas a transmissão pelo ar também pode ocorrer.

Referências gerais

  1. 1. Mainous AG 3rd, Hueston WJ, Everett CJ, Diaz VA. Nasal carriage of Staphylococcus aureus and methicillin-resistant S aureus in the United States, 2001-2002. Ann Fam Med. 2006;4(2):132-137. doi:10.1370/afm.526

  2. 2. Parlet CP, Brown MM, Horswill AR. Commensal Staphylococci Influence Staphylococcus aureus Skin Colonization and Disease. Trends Microbiol. 2019;27(6):497-507. doi:10.1016/j.tim.2019.01.008

Doenças causadas por estafilococos

Os estafilococos causam doença por:

  • Invasão direta do tecido

  • Algumas vezes, pela produção de exotoxina

Invasão tecidual direta é o mecanismo mais comum para a doença estafilocócica, incluindo:

Múltiplas exotoxinas são algumas vezes produzidas por estafilococos. Algumas agem localmente; outras desencadeiam a liberação de citocinas por certas células T, causando sérios efeitos sistêmicos, incluindo lesões cutâneas, choque, disfunção orgânica e morte. A leucocidina de Panton-Valentine (LPV) é uma toxina produzida por cepas infectadas por um bacteriófago específico. LPV está normalmente presente em cepas comunitárias de S. aureus resistentes à meticilina (SARM-AC) e acreditava-se que mediava a capacidade de provocar necrose (1); mas esse efeito não foi comprovado (2).

As doenças estafilocócicas mediadas por toxinas são:

As infecções e doenças listadas abaixo são discutidas em outras partes deste Manual.

Bacteremia estafilocócica

S. aureus bacteremia, que frequentemente causa focos metastáticos de infecção, pode ocorrer com qualquer infecção localizada por S. aureus, mas é particularmente comum com infecção relacionada a cateteres intravasculares ou outros corpos estranhos, ou entre pessoas que injetam drogas (via inoculação direta a partir da colonização cutânea). Pode ocorrer também sem qualquer outro local primário óbvio.

S. epidermidis e outros estafilococos coagulase-negativos provocam bacteremias de aquisição hospitalar associadas a catéteres e a outros corpos estranhos porque podem formar biofilmes nestes materiais.

Bacteremia estafilocócica é uma causa importante de morbidade (especialmente prolongamento da hospitalização) e mortalidade em pacientes debilitados.

Infecções cutâneas estafilocócicas

Infecções cutâneas são as formas mais comuns da doença estafilocócica. Infecções superficiais podem ser difusas, com pústulas vesiculares e formação de crostas (impetigo) ou, às vezes, celulite focal ou com abscessos nodulares (furúnculos e carbúnculos). Abscessos cutâneos profundos são comuns. Podem ocorrer graves infecções cutâneas necrosantes.

Algumas infecções cutâneas estafilocócicas
Impetigo
Impetigo

No impetigo, aglomerados de lesões vesicopustulares ou bolhosas se formam, rompem e desenvolvem uma crosta cor de mel.

No impetigo, aglomerados de lesões vesicopustulares ou bolhosas se formam, rompem e desenvolvem uma crosta cor de mel.

Imagem cedida por cortesia de Thomas Habif, MD.

Impetigo não bolhoso (lactente)
Impetigo não bolhoso (lactente)

Esta foto mostra aglomerados de vesículas e pústulas com crostas cor de mel no nariz.

Esta foto mostra aglomerados de vesículas e pústulas com crostas cor de mel no nariz.

DR P. MARAZZI/SCIENCE PHOTO LIBRARY

Furúnculo
Furúnculo

Furúnculos são nódulos ou pústulas dolorosos que acometem um folículo piloso e são causados por infecção estafilocócica.

Furúnculos são nódulos ou pústulas dolorosos que acometem um folículo piloso e são causados por infecção estafilocócica

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Image provided by Thomas Habif, MD.

Os estafilococos estão habitualmente implicados em infecções de feridas e queimaduras, infecções em incisões cirúrgicas e mastite ou abscesso de mama em mulheres que amamentam.

Infecções neonatais estafilocócicas

Infecções neonatais ocorrem dentro de 4 semanas após o nascimento e incluem

Pneumonia estafilocócica

A pneumonia de origem estafilocócica que ocorre em ambiente comunitário não é comum, mas pode se desenvolver em pacientes com uma ou mais das seguintes características:

  • Influenza

  • Doenças broncopulmonares crônicas ou outras doenças de alto risco

  • Glicocorticoides ou terapia imunossupressora

  • Cateteres IV de demora para terapia parenteral domiciliar ou hemodiálise

  • Uso de drogas injetáveis

A pneumonia estafilocócica pode ser uma infecção primária ou resultar da disseminação hematogênica da infecção por S. aureus em outras partes do corpo (p. ex., infecção do catéter IV endocardite, infecção de tecidos moles) ou uso de drogas injetáveis. Contudo, S. aureus é uma causa comum de pneumonia intra-hospitalar, inclusive na pneumonia associada ao ventilador.

A pneumonia estafilocócica é caracterizada ocasionalmente pela formação de abscessos pulmonares seguidos de rápido desenvolvimento de pneumatoceles e empiema. O S. aureus resistente à meticilina adquirido na comunidade (SARM-AC) frequentemente causa pneumonia necrosante grave.

Endocardite estafilocócica

Endocardite pode se desenvolver, particularmente em pessoas que utilizam drogas injetáveis e pacientes com valvas cardíacas protéticas. Devido ao uso de cateteres intravasculares e ao implante de dispositivos cardíacos, o S. aureus é uma das principais causas de endocardite bacteriana.

A endocardite por S. aureus é uma doença febril aguda frequentemente acompanhada por abscessos viscerais, fenômenos embólicos, pericardite, petéquias subungueais, hemorragia subconjuntival, lesões purpúricas, sopros cardíacos, abcesso perivalvular, defeitos de condução e, eventualmente, insuficiência cardíaca secundária à lesão valvar cardíaca.

Osteomielite estafilocócica

Osteomielite ocorre mais comumente em crianças e é frequentemente o resultado de disseminação hematogênica aguda. Manifesta-se por calafrios, febre e dor na região do osso afetado. Posteriormente, os tecidos moles sobrepostos tornam-se eritematosos e edemaciados. Infecção articular pode ocorrer e na maioria das vezes resulta em derrame articular por disseminação contígua, sugerindo artrite séptica e não osteomielite. A maioria das infecções dos discos intervertebrais e vertebrais em adultos é por S. aureus.

Artrite infecciosa estafilocócica

As articulações geralmente se tornam secundariamente infectadas por infecção hematogênica, mas a infecção também pode ser causada por extensão de uma infecção óssea (osteomielite), trauma ou infecção primária direta durante cirurgia articular. Articulações protéticas são particularmente propensas a infecções. Em geral, infecção estafilocócica de uma articulação protética nos meses após o implante foi adquirida durante a cirurgia, e infecções que ocorrem mais de 12 meses após a cirurgia são provavelmente por disseminação hematogênica. Entretanto, as infecções ainda podem ser secundárias a organismos que foram inadvertidamente introduzidos no momento do implante e permaneceram inativos e então se tornaram clinicamente evidentes alguns meses mais tarde.

Síndrome do choque tóxico estafilocócico

Síndrome do choque tóxico estafilocócico pode resultar do uso de tampões vaginais ou outros dispositivos que podem complicar qualquer tipo de infecção por S. aureus (p. ex., infecção da ferida pós-operatória, infecção de uma queimadura, infecção da pele). Embora a maioria dos casos tenha sido decorrente de S. aureus sensível à meticilina(SASM), os casos decorrentes de SARM são proporcionais ao aumento da prevalência de infecções nosocomiais e comunitárias por SARM.

Síndrome estafilocócica da pele escaldada

A síndrome estafilocócica da pele escaldada, que é causada por várias toxinas chamadas de esfoliatinas (principalmente toxinas esfoliativas A e B [ETA e ETB]), é uma dermatite esfoliativa de crianças, caracterizada por grandes bolhas e descolamento da camada externa da pele. Por fim, pode ocorrer esfoliação. A síndrome da pele escaldada ocorre mais comumente em lactentes e crianças < 5 anos.

Síndrome da pele escaldada estafilocócica (lactente)
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A síndrome da pele escaldada estafilocócica é a epidermólise causada pela toxina estafilocócica. Os achados incluem eritema com descamação em folhas, particularmente na área intertriginosa da virilha e das axilas. Muitas vezes, há também descamação perioral.

Imagem cedida por cortesia de Thomas Habif, MD.

Intoxicação alimentar por estafilococos

A intoxicação alimentar por estafilococos é causada pela ingestão de uma enterotoxina pré-formada resistente ao calor. Os alimentos podem ser contaminados por portadores de estafilococos ou pessoas com infecções cutâneas. Se os alimentos estão malcozidos ou deixados à temperatura ambiente, os estafilococos se multiplicam e produzem enterotoxina. Muitos alimentos podem servir como meio de crescimento e, apesar da contaminação, podem apresentar gosto e odor normais. Náuseas e vômitos intensos começam de 2 a 8 horas após a ingestão, seguidos de cólicas abdominais e diarreia. O episódio é breve, com duração < 12 horas.

Referências de doenças causadas por estafilococos

  1. 1. Huang J, Zhang T, Zou X, Wu S, Zhu J. Panton-valentine leucocidin carrying Staphylococcus aureus causing necrotizing pneumonia inactivates the JAK/STAT signaling pathway and increases the expression of inflammatory cytokines. Infect Genet Evol. 2020;86:104582. doi:10.1016/j.meegid.2020.104582

  2. 2. Saeed K, Gould I, Esposito S, et al. Panton-Valentine leukocidin-positive Staphylococcus aureus: a position statement from the International Society of Chemotherapy. Int J Antimicrob Agents. 2018;51(1):16-25. doi:10.1016/j.ijantimicag.2017.11.002

Diagnóstico das infecções estafilocócicas

  • Coloração de Gram e cultura

  • Testes de detecção molecular (p. ex., reação em cadeia da polimerase em tempo real [PCR])

  • Estudos de imagem do osso (RM, TC ou cintilografia óssea com radionuclídeos)

  • Raramente, biópsia de pele ou osso

  • Raramente, isolamento de bactérias de amostras de alimentos

O diagnóstico das infecções estafilocócicas baseia-se na coloração de Gram e na cultura do material infectado.

Os testes de susceptibilidade a antibióticos devem ser feitos porque os microrganismos meticilina-resistentes são comuns e requerem terapêutica alternativa.

Na osteomielite, alterações radiográficas podem não ser aparentes por 10 a 14 dias e a rarefação óssea e a reação periosteal podem não ser detectadas por muito tempo. Anormalidades em ressonância magnética (RM), tomografia computadorizada (TC), ou cintilografia óssea com radioisótopo com frequência aparecem mais precocemente. Biópsia óssea (aberta ou percutânea) deve ser feita para a identificação do patógeno e os testes de sensibilidade.

Quando há suspeita de síndrome da pele escaldada estafilocócica, devem ser obtidas culturas de sangue, urina, nasofaringe, alterações cutâneas, ou qualquer suspeita de foco de infecção; as bolhas intactas são estéreis. Embora o diagnóstico seja geralmente clínico, uma biópsia da pele comprometida pode ajudar a confirmar o diagnóstico.

Suspeita-se da contaminação de alimentos por estafilococos geralmente quando há um grupo de casos (p. ex., em uma família, membros de um grupo social, ou clientes de um restaurante). A confirmação (habitualmente pelo departamento de saúde) exige o isolamento do estafilococo do alimento suspeito e, algumas vezes, teste para enterotoxinas.

Vigilância contra SARM em instituições de saúde

Práticas horizontais de prevenção de infecções (isto é, medidas que visam prevenir múltiplas infecções entre diferentes patógenos) como boa higiene das mãos, limpeza ambiental e desinfecção, são essenciais para reduzir as infecções nosocomiais e prevenir a disseminação de microrganismos, incluindo o SARM (1). Algumas instituições com alta incidência de infecções nosocomiais por S. aureus resistente à meticilina (SARM) ou que estejam enfrentando um surto podem implementar programas de triagem para SARM (vigilância ativa) destinados a todos os pacientes ou apenas aos de alto risco (p. ex., pacientes em unidades de terapia intensiva ou com infecção ou colonização prévia por SARM), utilizando técnicas laboratoriais rápidas para avaliar amostras de swab nasal. O isolamento de contato oportuno subsequente de pacientes colonizados ou infectados por SARM pode ajudar a reduzir a incidência de infecções nosocomiais por SARM.

O rastreamento de colonização por SARM, com teste de suscetibilidade antimicrobiana, também é frequentemente realizado antes de cirurgias de alto risco, como procedimentos cardiovasculares, neurocirúrgicos e ortopédicos, especialmente quando há implante de material protético. Esse teste pode ser utilizado para determinar quais pacientes podem se beneficiar de tentativas de descolonização e quando incluir cobertura anti-SARM em esquemas de profilaxia antibiótica perioperatória (p. ex., vancomicina).

Em pacientes com pneumonia, a reação em cadeia da polimerase (PCR) para identificar colonização por SARM nas narinas mostrou ter um valor preditivo negativo de > 95% para infecção pulmonar por SARM e pode, portanto, ser útil no tratamento com antibióticos (2).

Referências sobre diagnóstico

  1. 1. Popovich KJ, Aureden K, Ham DC, et al. SHEA/IDSA/APIC Practice Recommendation: Strategies to prevent methicillin-resistant Staphylococcus aureus transmission and infection in acute-care hospitals: 2022 Update. Infect Control Hosp Epidemiol. 2023;44(7):1039-1067. doi:10.1017/ice.2023.102

  2. 2. Parente DM, Cunha CB, Mylonakis E, Timbrook TT. The Clinical Utility of Methicillin-Resistant Staphylococcus aureus (MRSA) Nasal Screening to Rule Out MRSA Pneumonia: A Diagnostic Meta-analysis With Antimicrobial Stewardship Implications. Clin Infect Dis. 2018;67(1):1-7. doi:10.1093/cid/ciy024

Tratamento das infecções estafilocócicas

  • Medidas locais (p. ex., desbridamento, remoção de catéteres)

  • Antibióticos selecionados com base na gravidade da infecção e nos padrões locais de resistência

O tratamento de infecções estafilocócicas inclui a drenagem do abscesso, o desbridamento do tecido necrosado, a remoção de corpos estranhos (inclusive os catéteres intravasculares) e o uso de antibióticos conforme determinado por protocolos institucionais.

A escolha inicial e posologia dos antibióticos dependem de:

  • Local da infecção

  • Gravidade da doença

  • Probabilidade de existirem cepas resistentes

Portanto, é essencial conhecer os padrões locais de resistência para orientar a terapia inicial (e, posteriormente, manter atenção à suscetibilidade aos antibióticos antistafilocócicos habituais).

O tratamento da doença estafilocócica mediada por toxina (sendo a mais grave a síndrome do choque tóxico), envolve assepsia da área produtiva (exploração de feridas cirúrgicas, irrigação, desbridamento), cuidado intensivo (incluindo líquidos IV vasopressores e assistência ventilatória), balanço de eletrólitos e antimicrobianos. Evidências in vitro apoiam o uso de uma combinação de agente antimicrobiano antiestafilocócico IV resistente a betalactamase (p. ex., nafcilina, oxacilina, vancomicina) mais um inibidor da síntese de proteínas (p. ex., clindamicina, linezolida). Em casos graves, a imunoglobulina IV pode ser benéfica para melhorar a sobrevida (1).

Resistência a antibióticos

Muitos cepas estafilocócicas produzem penicilinase, uma enzima que inativa vários antibióticos betalactâmicos; essas cepas são resistentes a penicilina G, ampicilina, amoxicilina e penicilinas antipseudomonas (p. ex., piperacilina).

Penicilinas resistentes à penicilinase (p. ex., meticilina, oxacilina, nafcilina, cloxacilina, dicloxacilina) e cefalosporinas de primeira geração são os antibióticos preferidos para tratar infecções estafilocócicas. Contudo, a alta prevalência de SARM tanto em ambientes de saúde quanto comunitários pode limitar seu uso empírico. Tetraciclinas (p. ex., doxiciclina), trimetoprima/sulfametoxazol (TMP/SMX), vancomicina, daptomicina, cefalosporinas anti-SARM (p. ex., ceftarolina, ceftobiprole) e linezolida frequentemente ainda podem ser utilizados. A resistência à clindamicina entre isolados estafilocócicos varia amplamente.

Isolados de SARM foram inicialmente associados a infecções adquiridas em uma instituição de saúde e demonstraram resistência a múltiplas classes de antibióticos, incluindo eritromicina, clindamicina e fluoroquinolonas. SARM associado à comunidade (SARM-AC, CA-MRSA) emergiu posteriormente e agora está amplamente disseminado. Os SARM-AC tendem a ser menos resistentes a múltiplas antibióticos do que os isolados adquiridos em hospitais. Essas cepas, embora resistentes à maioria dos beta-lactâmicos, são frequentemente suscetíveis à TMP/SMX e às tetraciclinas (minociclina, doxiciclina). Costumam ser sensíveis à clindamicina, mas há a possibilidade de surgimento de resistência à clindamicina por cepas resistentes indutivamente à eritromicina (os laboratórios podem se referir a essas cepas como teste D positivo). A distinção entre SARM-AH (classicamente, cepas USA100/200) e SARM-AC (como cepas USA300) tornou-se menos clara, e a localização do paciente no momento da infecção pode não refletir com precisão essas distinções iniciais (2).

A vancomicina é eficaz contra a maioria das infecções por SARM, às vezes com rifampicina e um aminoglicosídeo acrescentado para determinadas infecções graves (isto é, osteomielite, infecções de próteses articulares ou endocardite de valva protética). Um antibiótico alternativo (p. ex., daptomicina, linezolida, tedizolida, dalbavancina, oritavancina, telavancina, tigeciclina, omadaciclina, lefamulina, eravaciclina, delafloxacina, quinupristina/dalfopristina, TMP/SMX, ceftarolina, ceftobiprole) deve ser considerado no tratamento de cepas de SARM com concentração inibitória mínima (CIM) da vancomicina de ≥ 1,5 mcg/mL.

Vancomicina-resistente (VRSA; CIM ≥ 16 mcg/mL) e vancomicina-intermediária–suscetível (VISA; CIM 4 a 8 mcg/mL) surgiram nos Estados Unidos. Esses organismos exigem o uso de linezolida, tedizolida, quinupristina/dalfopristina, daptomicina, SMX-TMP, delafloxacina, oritavancina, ceftarolina ou ceftobiprol. Dalbavancina e telavancina são ativas contra SARIV, mas têm pouca atividade contra SARV. A oritavancina é ativa contra ambos, SARIV e SARV.

Devido ao aumento da incidência de SARM, o tratamento empírico inicial para as infecções estafilocócicas graves (especialmente as que ocorrem em uma unidade de saúde) deve incluir um antibiótico confiável contra SARM. Assim, os antibióticos apropriados incluem:

  • Para infecções na corrente sanguínea comprovadas ou suspeitas, vancomicina ou linezolida

  • Para pneumonia, deve ser utilizada vancomicina, telavancin ou linezolida (porque a daptomicina não tem ação confiável nos pulmões)

A tabela Tratamento com antibióticos de infecções estafilocócicas em adultos resume as opções de tratamento.

Tabela
Tabela

Referências sobre tratamento

  1. 1. Amreen S, Brar SK, Perveen S, Chaudhry MR, AlBabtain S, Khan S. Clinical Efficacy of Intravenous Immunoglobulins in Management of Toxic Shock Syndrome: An Updated Literature Review. Cureus. 2021;13(1):e12836. Publicado em 2021 Jan 21. doi:10.7759/cureus.12836

  2. 2. Thiede SN, Snitkin ES, Trick W, et al. Genomic Epidemiology Suggests Community Origins of Healthcare-Associated USA300 Methicillin-Resistant Staphylococcus aureusJ Infect Dis. 2022;226(1):157-166. doi:10.1093/infdis/jiac056

Prevenção das infecções estafilocócicas

Precauções assépticas (p. ex., mãos cuidadosamente lavadas entre o atendimento dos pacientes e esterilização do equipamento compartilhado) ajudam a diminuir a disseminação em instituições de saúde.

Procedimentos de isolamento de contato devem ser utilizados em pacientes que alberguem micróbios resistentes até que suas infecções sejam curadas. Com base em uma revisão de 2020 das evidências atuais, o CDC continua a recomendar o uso de precauções de contato para pacientes colonizados ou infectados por SARM (1). 

Diretrizes multidisciplinares para profilaxia antibiótica antes de certos tipos de cirurgia sugerem que a maioria dos pacientes pode receber uma única dose parenteral de um antibiótico administrado pouco antes da cirurgia. Cefazolina é utilizada para a maioria dos procedimentos. Entretanto, para pacientes com colonização por SARM documentada por cultura ou reação em cadeia da polimerase (PCR), deve-se acrescentar vancomicina (2).

A intoxicação alimentar por estafilococos pode ser prevenida pela preparação adequada dos alimentos. Os pacientes com infecções cutâneas por estafilococos não devem manusear alimentos e estes, por sua vez, devem ser consumidos imediatamente ou refrigerados, não devendo ser mantidos à temperatura ambiente.

Descolonização de portadores de SARM

O S. aureus recorre em até 50% dos portadores e frequentemente se torna resistente. Para certos portadores de SARM (p. ex., pacientes aguardando cirurgias ortopédicas, vasculares e cardiovasculares), alguns especialistas recomendam a descolonização nasal com pomada de mupirocina 2 vezes ao dia por 5 a 10 dias e esquemas de descolonização corporal tópicos com solução antisséptica cutânea (p. ex., clorexidina) ou banhos diluídos com água sanitária (cerca de 5 mL/L) durante 5 a 14 dias.

A mupirocina nasal tópica mostrou-se relativamente eficaz na redução da infecção por SARM em pacientes hospitalizados (p. ex., pacientes em unidades de terapia intensiva, aqueles submetidos a cirurgias de grande porte). Embora esteja emergindo uma resistência à mupirocina, um estudo multicêntrico randomizado com 2121 participantes demonstrou uma redução de 30% no risco de infecção por SARM pós-alta ao longo de 1 ano para pacientes que foram colonizados com SARM e tratados com descolonização por 5 dias, duas vezes por mês, durante 6 meses (3). A intervenção de descolonização envolveu o uso de clorexidina a 4% para banhos diários, enxaguatório bucal com clorexidina a 0,12% duas vezes ao dia e pomada nasal de mupirocina a 2% duas vezes ao dia. 

Referências sobre prevenção

  1. 1. Centers for Disease Control and Prevention. Infection Control Guidance: Preventing Methicillin-resistant Staphylococcus aureus (MRSA) in Healthcare Facilities. June 27, 2025. Accessed September 4, 2025.

  2. 2. Bratzler DW, Dellinger EP, Olsen KM, et al: Clinical practice guidelines for antimicrobial prophylaxis in surgery. Surg Infect (Larchmt) 14(1):73–156, 2013. doi: 10.1089/sur.2013.9999

  3. 3. Huang SS, Singh R, McKinnell JA, et al: Decolonization to reduce postdischarge infection risk among MRSA carriers. N Engl J Med 380:638–650, 2019.

Pontos-chave

  • Staphylococcus aureus é a espécie de estafilococos mais perigosa.

  • A maioria das doenças por estafilococos envolve invasão direta do tecido e causa infecções na pele e tecidos moles, infecções no catéter IV, pneumonia, endocardite e osteomielite.

  • Algumas cepas produzem uma toxina que pode provocar síndrome do choque tóxico, síndrome da pele escaldada ou intoxicação alimentar.

  • Cepas resistentes à meticilina são comuns, e resistência à vancomicina está surgindo nos Estados Unidos.

  • A escolha do antibiótico depende da fonte e do local da infecção e dos padrões de resistência comunitários ou institucionais.

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