O sarampo é uma infecção viral altamente contagiosa que é mais comum entre crianças que vivem em áreas sem cobertura vacinal ampla. É caracterizada por febre, tosse, coriza, conjuntivite, um enantema característico (manchas de Koplik) na mucosa oral e um exantema maculopapular que se dissemina no sentido craniocaudal. Complicações, principalmente pneumonia ou encefalite, podem ser fatais, particularmente em populações de pacientes com poucos recursos médicos. O diagnóstico é geralmente clínico com confirmação por teste de reação em cadeia da polimerase. O tratamento é de suporte; vitamina A é administrada a crianças. A vacinação é eficaz para prevenção.
Em todo o mundo, o sarampo infecta cerca de 10 milhões de pessoas e causa cerca de 100.000 mortes a cada ano, majoritariamente de crianças (1, 2, 3). A incidência de infecção e a taxa de mortalidade são significativamente maiores em populações com baixas taxas de vacinação contra sarampo. Crianças pequenas, gestantes, desnutridas e pessoas imunocomprometidas estão em maior risco de complicações resultantes do sarampo.
O sarampo tem sido incomum nos Estados Unidos em razão da vacinação infantil de rotina, e o sarampo endêmico foi declarado eliminado nos Estados Unidos em 2000. Foi notificada aos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) uma média de 71 casos por ano, de 2000 a 2010 (4).
Em 2019, a incidência anual nos Estados Unidos aumentou para 1274 casos, o maior número relatado desde 1992 (4). Esse aumento deveu-se principalmente à disseminação entre pessoas não vacinadas. Em 2020, durante a pandemia global de covid-19, apenas 13 casos de sarampo foram relatados nos Estados Unidos. De 2020 a 2023, houve um total de 242 casos confirmados, e, em 2024, houve 285 casos (4).
Em 2025 (até 22 de maio), foram relatados 1046 casos confirmados e 3 mortes nos Estados Unidos. Houve 14 surtos (definidos como ≥ 3 casos relacionados), e 92% dos casos confirmados (961 de 1046) foram associados a surtos (4). Para comparação, em 2024, 16 surtos foram relatados e 69% dos casos (198 de 285) foram associados a surtos.
O aumento da incidência e o número de surtos de sarampo estão associados à diminuição das taxas de vacinação, impulsionados por diversos fatores, incluindo hesitação vacinal e interrupções nos programas de vacinação (4, 5). Nos Estados Unidos, recusa dos pais à vacinação dos filhos tornou-se mais frequente e a diminuição das taxas de vacinação resultou em aumento das taxas de doenças preveníveis por vacina em crianças. A cobertura vacinal entre crianças na pré-escola nos Estados Unidos caiu de 95,2% no ano letivo de 2019–2020 para 92,7% no ano letivo de 2023–2024 (4). O limiar de imunidade coletiva (a proporção de uma população com imunidade a uma doença infecciosa por meio de imunidade inata, vacinação ou infecção prévia, necessária para impedir a transmissão) para o sarampo nos Estados Unidos é estimado em 92 a 95% (6, 7).
Referências gerais
1. World Health Organization: The Global Health Observatory; Measles - number of reported cases. Accessed May 9, 2025.
2. World Health Organization: Facts Sheet; Measles. Accessed May 9, 2025.
3. Minta AA, Ferrari M, Antoni S, et al. Progress Toward Measles Elimination - Worldwide, 2000-2023. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2024;73(45):1036-1042. Publicado em 2024 Nov 14. doi:10.15585/mmwr.mm7345a4
4. Centers for Disease Control and Prevention (CDC): Measles Cases and Outbreaks. Accessed May 9, 2025.
5. Zucker JR, Rosen JB, Iwamoto M, et al. Consequences of Undervaccination - Measles Outbreak, New York City, 2018-2019. N Engl J Med. 2020;382(11):1009-1017. doi:10.1056/NEJMoa1912514
6. Measles vaccines: WHO position paper – April 2017. Note de synthèse de l’OMS sur les vaccins contre la rougeole – avril 2017. Wkly Epidemiol Rec. 2017;92(17):205-227. Publicado em 2017 Abr 28.
7. Funk S, Knapp JK, Lebo E, et al. Combining serological and contact data to derive target immunity levels for achieving and maintaining measles elimination. BMC Med. 2019;17(1):180. Publicado em 2019 Set 25. doi:10.1186/s12916-019-1413-7
Fisiopatologia do sarampo
O sarampo é causado por um paramixovírus e é uma doença humana sem reservatório animal conhecido ou estado de portador assintomático. É extremamente contagioso; a taxa de doença secundária é > 90% entre as pessoas suscetíveis expostas (1). É um dos vírus humanos mais contagiosos conhecidos (2).
O sarampo é transmitido principalmente durante o estágio prodrômico ou no início do estágio do exantema. A transmissão ocorre tipicamente por gotículas respiratórias grandes que são eliminadas pela tosse e permanecem brevemente no ar por uma curta distância. A transmissão também pode ocorrer por meio de pequenas gotículas de aerossol que permanecem no ar (e, assim, podem ser inaladas) por até 2 horas nos locais fechados (p. ex., sala de exame de clínica). A transmissão por fômites é possível, mas tem menor importância clínica do que a transmissão aérea, pois se acredita que o vírus do sarampo sobreviva apenas por curto período em superfícies secas (3).
Viagem internacional ou doméstica para áreas onde o sarampo é endêmico ou onde um surto está ativo é um fator de risco para transmissão do sarampo.
A contagiosidade começa 4 dias antes e continua até 4 dias depois do aparecimento do exantema. Pacientes imunocomprometidos podem ter secreção prolongada do vírus do sarampo em seu trato respiratório.
Referências sobre fisiopatologia
1. Centers for Disease Control and Prevention (CDC): Yellow Book: Health Information for International Travel. Measles (Rubeola). 2026.
2. Strebel PM, Orenstein WA. Measles. N Engl J Med. 2019;381(4):349-357. doi:10.1056/NEJMcp1905181
3. Bischoff WE, McNall RJ, Blevins MW, et al. Detection of Measles Virus RNA in Air and Surface Specimens in a Hospital Setting. J Infect Dis. 2016;213(4):600-603. doi:10.1093/infdis/jiv465
Sinais e sintomas do sarampo
O curso típico de uma infecção por sarampo é o seguinte (o número de dias é aproximado e a duração pode variar) (1, 2):
Exposição
Período de incubação: 7 a 21 (média de 11 a 12 dias) dias da exposição ao início da febre
Pródromo: 3 a 7 dias do início dos sintomas até o exantema aparecer
Manchas de Koplik (enantema): aparecem cerca de 2 dias antes e persistem por 1 a 2 dias após o início do exantema
Erupção cutânea (exantema): a erupção cutânea está presente por 4 a 7 dias e então começa a desaparecer rapidamente.
Recuperação (sintomas e exantema se resolvem): 7 dias após o início do exantema em casos não complicados
Período infeccioso: pacientes infectados são contagiosos entre 4 dias antes e 4 dias após o início do exantema.
Após a exposição e um período médio de incubação de 11 a 12 dias (intervalo de 7 a 20 dias [3]), o sarampo inicia-se com um pródromo caracterizado por febre, coriza, tosse irritativa e conjuntivite tarsal.
As manchas de Koplik na mucosa oral lembram grãos de areia branca rodeados por aréolas vermelhas. Esses enantemas são patognomônicos e aparecem em 70% dos pacientes (2). As manchas de Koplik aparecem durante o pródromo, antes do início do exantema, geralmente na mucosa oral em frente ao primeiro e ao segundo molares superiores. Podem ser extensas, produzindo eritema difuso e heterogêneo na mucosa oral.
As manchas de Koplik são classicamente descritas como pontos vermelhos brilhantes com centro branco ou branco-azulado que podem se assemelhar a grãos de areia. Podem se localizar em qualquer parte da boca, muitas vezes precedem o exantema generalizado e são patognomônicas do sarampo.
As manchas de Koplik são classicamente descritas como pontos vermelhos brilhantes com centro branco ou branco-azulado q
Images courtesy of the Public Health Image Library of the Centers for Disease Control and Prevention.
As manchas de Koplik são classicamente descritas como pontos vermelhos brilhantes com centro branco ou branco-azulado que podem se assemelhar a grãos de areia. Podem se localizar em qualquer parte da boca, muitas vezes precedem o exantema generalizado e são patognomônicas do sarampo.
As manchas de Koplik são classicamente descritas como pontos vermelhos brilhantes com centro branco ou branco-azulado q
DR P. MARAZZI/SCIENCE PHOTO LIBRARY
As manchas de Koplik são classicamente descritas como pontos vermelhos brilhantes com centro branco ou branco-azulado que podem se assemelhar a grãos de areia. Podem se localizar em qualquer parte da boca, muitas vezes precedem o exantema generalizado e são patognomônicas do sarampo.
As manchas de Koplik são classicamente descritas como pontos vermelhos brilhantes com centro branco ou branco-azulado q
DR P. MARAZZI/SCIENCE PHOTO LIBRARY
O exantema aparece aproximadamente 3 a 7 dias depois do início dos sintomas prodrômicos, normalmente 1 a 2 dias após o aparecimento das manchas de Koplik. Inicia-se na face, em frente e abaixo das orelhas e na lateral do pescoço, na forma de máculas irregulares, logo associadas a pápulas. O exantema é eritematoso, mas pode apresentar-se mais escuro em pacientes com pele escura. Dentro de 24 a 48 horas, as lesões aparecem no tronco e nas extremidades (incluindo as palmas das mãos e plantas dos pés) enquanto começam a desaparecer na face. Descamação pode ocorrer após o exantema facial desaparecer. Petéquias ou equimoses podem ocorrer em casos graves.
O sarampo (rubéola) se manifesta como um exantema maculopapular difuso que se torna confluente e se espalha em um padrão cefalocaudal.
O sarampo (rubéola) se manifesta como um exantema maculopapular difuso que se torna confluente e se espalha em um padrã
Imagem cedida por cortesia da Biblioteca de Imagens de Saúde Pública dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças.
O sarampo (rubéola) se manifesta como um exantema maculopapular difuso que se torna confluente e se espalha em um padrão cefalocaudal.
O sarampo (rubéola) se manifesta como um exantema maculopapular difuso que se torna confluente e se espalha em um padrã
SCIENCE PHOTO LIBRARY
O sarampo (rubéola) se manifesta como um exantema maculopapular difuso que se torna confluente e se espalha em um padrão cefalocaudal.
O sarampo (rubéola) se manifesta como um exantema maculopapular difuso que se torna confluente e se espalha em um padrã
CDC/ Betty G. Partin
Durante o pico da gravidade da doença, o paciente pode ter febre alta, às vezes excedendo 40° C, com edema periorbital, conjuntivite, fotofobia, tosse irritativa, exantema extenso e prostração. Sinais e sintomas constitucionais correspondem à gravidade da erupção.
Geralmente, o exantema começa a desaparecer rapidamente cerca de 4 a 7 dias após o surgimento, deixando uma descoloração marrom-acobreada ou hiperpigmentada, seguida de descamação após o desaparecimento do exantema. Aproximadamente na mesma época, a febre diminui e o paciente se sente mais confortável.
Pacientes infectados são contagiosos desde 4 dias antes até 4 dias após o início do exantema.
Pacientes imunocomprometidos podem não apresentar exantema e desenvolver pneumonia de células gigantes progressiva e grave.
Complicações do sarampo
As complicações do sarampo incluem:
Superinfecção bacteriana, incluindo otite média, pneumonia
Amnésia imunológica
Hepatite transitória
Encefalite
Púrpura trombocitopênica aguda
Panencefalite esclerosante subaguda
Em países de alta renda, as taxas de complicações do sarampo incluem otite média (7 a 9%), pneumonia (1 a 6%), diarreia (8%), encefalite pós-infecciosa (aproximadamente 1/1000) e morte (aproximadamente 1/1000) (2). A panencefalite esclerosante subaguda é uma complicação tardia que ocorre em aproximadamente 1/10.000 pacientes com infecção prévia por sarampo. As taxas de complicações são maiores em crianças pequenas, gestantes e pacientes desnutridos ou imunocomprometidos. O sarampo suprime transitoriamente a imunidade mediada por células, levando à amnésia imunológica e aumentando o risco de infecções subsequentes por meses a anos.
Superinfecções bacterianas incluem pneumonia, laringotraqueobronquite e otite média. Superinfecção bacteriana é sugerida por sinais focais pertinentes ou uma recidiva de febre, leucocitose ou fraqueza.
Pneumonia causada pela infecção pelo vírus do sarampo ocorre em até 6% dos pacientes, mesmo durante uma infecção aparentemente sem complicações (2). Em casos fatais de sarampo em crianças, a pneumonia costuma ser a causa da morte.
A imunossupressão induzida pelo sarampo pode agravar a tuberculose ativa e impedir temporariamente a reação cutânea aos antígenos tuberculina e histoplasmina.
Hepatite transitória e diarreia podem ocorrer durante uma infecção aguda.
Encefalite pós-infecciosa ocorre em 1/1.000 crianças, geralmente 2 dias a 2 semanas após o início do exantema (4), frequentemente começando com recrudescimento de febre alta, cefaleia, convulsões e coma (2). O líquido cefalorraquidiano normalmente apresenta uma contagem de linfócitos de 50 a 500/mcL e um nível de proteína um pouco elevado, mas pode ser inicialmente normal. A encefalite pode se resolver em cerca de 1 semana ou persistir por mais tempo, causando morbidade ou morte.
Púrpura trombocitopênica aguda pode ocorrer depois da resolução da infecção e causa tendência a sangramento leve, autolimitada; ocasionalmente, o sangramento é intenso.
Pan-encefalite esclerosante subaguda (PEES) é uma complicação tardia, essencialmente fatal, rara e progressiva do sarampo. A PEES é uma doença degenerativa que pode se manifestar até 7 a 10 (ou mais) anos após a infecção por sarampo e é geralmente fatal dentro de vários anos do início dos sintomas. O risco de PEES é muito maior em crianças originalmente infectadas pelo sarampo antes dos 5 anos de idade (1:1300 casos) e, em particular, naquelas infectadas antes dos 12 meses de idade (1:600 casos) (5).
A síndrome do sarampo atípico é uma complicação observada em pessoas vacinadas com as vacinas originais de vírus inativado contra o sarampo, usadas nos EUA entre 1963 e 1967 e em alguns países até o início da década de 1970 (6). Essas vacinas mais antigas podem alterar a expressão da doença em alguns pacientes que não estavam complemente imunizados e foram então infectados com sarampo do tipo selvagem. As manifestações do sarampo se desenvolviam de modo mais súbito e envolvimento pulmonar significativo era mais comum (7). Casos confirmados são extremamente raros desde a década de 1980 (8). O sarampo atípico é importante principalmente porque os pacientes que receberam uma vacina contra o sarampo durante esse período de tempo podem relatar uma história de vacinação e infecção contra o sarampo.
Referência sobre sinais e sintomas
1. Centers for Disease Control and Prevention (CDC): Yellow Book: Health Information for International Travel. Measles (Rubeola). 2026.
2. Strebel PM, Orenstein WA. Measles. N Engl J Med. 2019;381(4):349-357. doi:10.1056/NEJMcp1905181
3. Tanaka H, Takahashi Y, Matsumoto S, et al. Shorter incubation period in symptomatic measles patients who had no history of measles vaccination. Vaccine. 2025;45:126652. doi:10.1016/j.vaccine.2024.126652
4. CDC: Clinical Overview of Measles. Accessed May 5, 2025.
5. Wendorf KA, Winter K, Zipprich J, et al. Subacute Sclerosing Panencephalitis: The Devastating Measles Complication That Might Be More Common Than Previously Estimated. Clin Infect Dis. 2017;65(2):226-232. doi:10.1093/cid/cix302
6. CDC: Measles prevention. MMWR Suppl. 1989;38(9):1–18.
7. Annunziato D, Kaplan MH, Hall WW, et al. Atypical measles syndrome: pathologic and serologic findings. Pediatrics. 1982;70(2):203-209.
8. Melenotte C, Cassir N, Tessonnier L, Brouqui P. Atypical measles syndrome in adults: still around. BMJ Case Rep. 2015;2015:bcr2015211054. Publicado em 2015 Set 23. doi:10.1136/bcr-2015-211054
Diagnóstico do sarampo
História e exame físico
Detecção viral via reação em cadeia da polimerase via transcriptase reversa (RT-PCR)
Exames sorológicos
Pode-se inicialmente suspeitar de sarampo em paciente exposto que apresente coriza, conjuntivite, fotofobia e tosse. Os médicos devem manter alto grau de suspeita clínica quando o exantema surgir em pacientes não vacinados ou com vacinação incompleta, com histórico de viagem ou exposição conhecida.
O diagnóstico baseia-se no achado de manchas de Koplik, que são patognomônicas, ou na presença de um exantema característico em paciente sem imunidade e com exposição conhecida ou suspeita.
Deve-se realizar a confirmação laboratorial. Um swab nasofaríngeo ou orofaríngeo é realizado para teste de RT-PCR; uma amostra de urina também é coletada para teste de RT-PCR, se viável (1, 2). Uma amostra de sangue é coletada para sorologia. Uma elevação em níveis de anticorpos IgG no soro entre as fases aguda e convalescente é altamente precisa, mas atrasa o diagnóstico. Os níveis de IgM indicam infecção aguda (ou recente), mas podem não ser detectados até 3 dias após o início e podem estar ausentes ou presentes apenas de forma transitória em pessoas previamente vacinadas (3). Todos os casos suspeitos de sarampo devem ser notificados às autoridades de saúde locais, mesmo antes da confirmação laboratorial. (Veja também CDC: MMRV Testing for Clinicians para informações atualizadas sobre testes para a fase aguda do sarampo e para a avaliação da imunidade contra o sarampo.)
Um hemograma completo pode mostrar linfopenia e trombocitopenia, mas não é necessário para o diagnóstico de sarampo.
O diagnóstico diferencial inclui rubéola, escarlatina, exantema medicamentoso, doença do soro (ver tabela Algumas causas de urticária), roséola infantil, mononucleose infecciosa, eritema infeccioso, doenças transmitidas por carrapatos, doença de Kawasaki e infecções por echovírus e vírus de Coxsackie (ver tabela Alguns vírus respiratórios). Os sinais e sintomas apresentados podem causar confusão diagnóstica em áreas onde o sarampo é muito raro.
Algumas dessas condições podem ser diferenciadas do sarampo típico, conforme exposto a seguir:
Rubéola: características que distinguem rubéola de sarampo típico podem incluir a ausência de um pródromo reconhecível, ausência ou intensidade mais leve da febre e de outros sintomas constitucionais, aumento (e, geralmente, sensibilidade) dos linfonodos retroauricular e suboccipital e tempo menor de duração.
Exantema por fármacos: um exantema causado por hipersensibilidade a um fármaco muitas vezes se assemelha ao exantema do sarampo, mas um pródromo está ausente, não há progressão cefalocaudal ou tosse, e geralmente há história de exposição recente a fármacos.
Roséola infantil: o exantema é semelhante ao do sarampo, mas raramente ocorre em crianças com > 3 anos de idade. Em geral, a temperatura inicial é inicialmente alta, há ausência das manchas de Koplik e de mal-estar e há simultaneidade da defervescência e do aparecimento do exantema.
Referências sobre diagnóstico
1. Centers for Disease Control and Prevention (CDC): Clinical Overview of Measles. Accessed May 5, 2025.
2. Hübschen JM, Gouandjika-Vasilache I, Dina J. Measles. Lancet. 2022;399(10325):678-690. doi:10.1016/S0140-6736(21)02004-3
3. CDC: Laboratory Testing for Measles. Accessed May 16, 2025.
Tratamento do sarampo
Cuidados de suporte
Para crianças, vitamina A
Antibióticos se ocorrer superinfecção bacteriana
O tratamento do sarampo é de suporte, inclusive para encefalite.
Pacientes com suspeita de sarampo devem ser isolados imediatamente (1). Pacientes sem outras comorbidades, passíveis de isolamento e manejo ambulatorial.
Pacientes hospitalizados com sarampo devem ser manejados com precauções padrão, de contato e aéreas. Recomendam-se quartos isolados individuais com proteção para infecção aerotransportada e máscaras N-95 ou equipamentos de proteção individual semelhantes.
A suplementação de vitamina A mostrou reduzir a morbidade e a mortalidade decorrentes do sarampo em crianças nas regiões com condições clínicas precárias. Como os baixos níveis séricos de vitamina A estão associados à doença grave decorrente do sarampo, o tratamento com vitamina A é recomendado para todas as crianças com sarampo (2, 3). A dose é administrada por via oral uma vez ao dia, durante 2 dias, e depende da idade da criança:
≥ 12 meses: 200.000 unidades internacionais (UI)
6 a 11 meses: 100.000 UI
< 6 meses: 50.000 UI
Em crianças com sinais clínicos de deficiência de vitamina A (p. ex., redução da visão noturna, xeroftalmia e olhos secos, pele e mucosas secas ou queratinizadas, imunidade prejudicada, anormalidades de crescimento em crianças pequenas), uma dose única adicional, específica para a idade, de vitamina A é repetida 2 a 4 semanas depois.
Antibióticos devem ser administrados quando indicados, em caso de diagnóstico de superinfecção bacteriana.
Referências sobre tratamento
1. Centers for Disease Control and Prevention (CDC): Expanding Measles Outbreak in the United States and Guidance for the Upcoming Travel Season. Recommendations for Healthcare Professionals. Accessed May 14, 2025.
2. World Health Organization. (2020). Guide for clinical case management and infection prevention and control during a measles outbreak. 2020.
3. CDC: Yellow Book: Health Information for International Travel. Measles (Rubeola). 2026.
Prognóstico do sarampo
A mortalidade por sarampo é de aproximadamente 1 a 3/1000 crianças nos Estados Unidos; é significativamente mais alta (2 a 3%) em regiões com acesso limitado a cuidados de saúde (1, 2) e é de aproximadamente 1% em escala mundial (3, 4).
Infecção em lactentes, falta de acesso a cuidados médicos, desnutrição grave, deficiência de vitamina A e pneumonia como complicação estão associadas ao aumento do risco de mortalidade (5, 6).
Ver também Complicações do sarampo.
Referências sobre prognóstico
1. Gindler J, Tinker S, Markowitz L, Atkinson W, Dales L, Papania MJ. Acute measles mortality in the United States, 1987-2002. J Infect Dis. 2004;189 Suppl 1:S69-S77. doi:10.1086/378565
2. Lee B, Ying M, Papania MJ, Stevenson J, Seward JF, Hutchins SS. Measles hospitalizations, United States, 1985-2002. J Infect Dis. 2004;189 Suppl 1:S210-S215. doi:10.1086/381555
3. Minta AA, Ferrari M, Antoni S, et al. Progress Toward Measles Elimination - Worldwide, 2000-2023. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2024;73(45):1036-1042. Publicado em 2024 Nov 14. doi:10.15585/mmwr.mm7345a4
4. Sbarra AN, Mosser JF, Jit M, et al. Estimating national-level measles case-fatality ratios in low-income and middle-income countries: an updated systematic review and modelling study. Lancet Glob Health. 2023;11(4):e516-e524. doi:10.1016/S2214-109X(23)00043-8
5. Strebel PM, Orenstein WA. Measles. N Engl J Med. 2019;381(4):349-357. doi:10.1056/NEJMcp1905181
6. Donadel M, Stanescu A, Pistol A, et al. Risk factors for measles deaths among children during a Nationwide measles outbreak - Romania, 2016-2018. BMC Infect Dis. 2021;21(1):279. Publicado em 2021 Mar 19. doi:10.1186/s12879-021-05966-3
Prevenção do sarampo
Pessoas que tiveram infecção por sarampo selvagem são consideradas como tendo imunidade vitalícia (incluindo adultos nascidos antes de 1957 devido à exposição presumida ao vírus). Um lactente cuja mãe é imune ao sarampo (p. ex., por causa de doença prévia ou vacina) recebe anticorpos maternos por via transplacental; esses anticorpos são tipicamente protetores durante os primeiros 6 a 12 meses de vida.
A vacina de vírus vivos atenuados contra sarampo, caxumba e rubéola (SCR) é rotineiramente administrado a crianças na maioria dos países com uma infra-estrutura de saúde robusta. Nos Estados Unidos, a vacina SCR é recomendada para crianças e administrada em 2 doses: 1 aos 12 a 15 meses e 1 aos 4 a 6 anos. A aplicação de 2 doses da vacina SCR é considerada suficiente para proteção contra o sarampo
A imunização com a vacina SCR geralmente confere imunidade duradoura, e a vacinação de rotina em crianças diminuiu a incidência de sarampo nos Estados Unidos em 99% (1). Uma grande metanálise de estudos de coorte descobriu que a eficácia da vacina SCR na prevenção do sarampo em crianças de 9 meses a 15 anos foi de 95% após uma dose e 96% após duas doses (2). Mundialmente, de 2000 a 2023, estima-se que 60,3 milhões de mortes devido ao sarampo foram prevenidas pela vacinação; no entanto, nenhuma região havia alcançado e mantido a eliminação do sarampo até o final de 2023 (3).
O esquema de 2 doses da vacina SCR foi introduzido em 1989; portanto, adultos nascidos de 1957 a 1989 podem ter recebido apenas uma única dose. Para adultos neste grupo, 1 a 2 doses adicionais são recomendadas naqueles que não têm evidência de imunidade e estão em alto risco de exposição (p. ex., estudantes de instituições de ensino superior, profissionais de saúde, viajantes internacionais, contatos de pessoas imunocomprometidas, pessoas com infecção por HIV) (4, 5, 6). Além disso, um pequeno número de adultos vacinados de 1963 a 1967 pode ter recebido vacina inativada (morta) contra sarampo, são considerados não vacinados e devem ser revacinados.
A vacina SCR é uma vacina viva e é contraindicada durante a gestação. Também é contraindicada em certos pacientes imunocomprometidos e em pacientes que tiveram reação anafilática a um componente da vacina ou dose prévia da vacina (7).
Consulte Vacina SCR para obter mais informações, includindo indicações, contraindicações e precauções, dosagem e administração, e efeitos adversos.
Profilaxia pós-exposição
É possível fazer a prevenção em contatos não imunes que não estão imunocomprometidos, administrando-se a vacina SCR até 3 dias após a exposição.
Para pacientes suscetíveis que não podem ser vacinados (por exemplo, pacientes gravemente imunocomprometidos ou gestantes), imunoglobulina humana contendo anticorpos contra sarampo é administrada imediatamente (dentro de 6 dias). Todos os pacientes expostos com imunodeficiência grave devem receber imunoglobulina pós-exposição independentemente do estado de imunização.
Pacientes que receberam imunoglobulina IM devem receber a vacina SCR 6 meses depois, e pacientes que receberam imunoglobulina IV devem receber a vacina SCR 8 meses depois, se tiverem ≥ 12 meses de idade e forem elegíveis para vacinação com vírus vivo (5).
Em uma epidemia institucional (p. ex., escolas), contatos suscetíveis que se recusam ou não podem receber a vacinação e que também não recebem imunoglobulina devem ser excluídos da instituição afetada por 21 dias após o início do exantema no último caso. Profissionais de saúde expostos e suscetíveis devem ser afastados após a exposição, e decisões sobre retorno ao trabalho devem ser orientadas por recomendações de saúde pública e devem considerar o estado imunológico dos trabalhadores e risco para terceiros no ambiente de trabalho.
Referências sobre prevenção
1. McLean HQ, Fiebelkorn AP, Temte JL, Wallace GS; Centers for Disease Control and Prevention. Prevention of measles, rubella, congenital rubella syndrome, and mumps, 2013: Summary recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP). [correção publicada em MMWR Recomm Rep. 2015 Mar 13;64(9):259]. MMWR Recomm Rep. 2013;62(RR-04):1–34.
2. Di Pietrantonj C, Rivetti A, Marchione P, et al. Vaccines for measles, mumps, rubella, and varicella in children. Cochrane Database Syst Rev. 2020;4(4):CD004407. doi:10.1002/14651858.CD004407.pub4
3. Minta AA, Ferrari M, Antoni S, et al. Progress Toward Measles Elimination - Worldwide, 2000-2023. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2024;73(45):1036-1042. Publicado em 2024 Nov 14. doi:10.15585/mmwr.mm7345a4
4. Centers for Disease Control and Prevention (CDC): Expanding Measles Outbreak in the United States and Guidance for the Upcoming Travel Season. Recommendations for Healthcare Professionals. Accessed May 14, 2025.
5. CDC: Yellow Book: Health Information for International Travel. Measles (Rubeola). 2026.
6. CDC: Measles Vaccine Recommendations. Accessed May 30, 2025.
7. National Center for Immunization and Respiratory Diseases. General recommendations on immunization --- recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP) [correção publicada em MMWR Recomm Rep. 2011 Jul 29;60:993]. MMWR Recomm Rep. 2011;60(2):1-64.
Pontos-chave
A vacinação infantil universal contra o sarampo é segura e eficaz, e a vacina SCR deve ser administrada, a menos que contraindicada (p. ex., por gestação ou imunodeficiência grave).
A incidência de sarampo é altamente variável com base na taxa de vacinação da população.
O sarampo é altamente transmissível, se desenvolvendo em > 90% dos contatos suscetíveis.
O sarampo causa cerca de 100.000 mortes anuais em todo o mundo, sobretudo em crianças que vivem em áreas com acesso limitado a cuidados de saúde.
O tratamento é principalmente de suporte, mas as crianças também devem receber suplementação de vitamina A.
Administrar profilaxia pós-exposição a contatos suscetíveis; aplicar a vacina até 3 dias após a exposição, salvo contraindicação, situação em que se deve administrar imunoglobulina até 6 dias.
