Obstrução duodenal

PorJaime Belkind-Gerson, MD, MSc, University of Colorado
Reviewed ByAlicia R. Pekarsky, MD, State University of New York Upstate Medical University, Upstate Golisano Children's Hospital
Revisado/Corrigido: modificado ago. 2025
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Visão Educação para o paciente

O duodeno pode ser obstruído por estenose, atresia e por pressão provocada por massa extrínseca. Atresia duodenal e outras causas de obstrução duodenal são frequentemente associadas à síndrome de Down. O diagnóstico é feito com exames de imagem. O tratamento é correção cirúrgica.

(Ver também Visão geral das anomalias gastrointestinais congênitas.)

Atresia duodenal

A atresia duodenal é a 2ª atresia mais comum do trato gastrointestinal (GI). A incidência é estimada em 1 para 10.000 nascidos vivos (1). É decorrente da falta de canalização do duodeno embrionário. Essa falha pode estar relacionada a um evento isquêmico ou a fatores genéticos.

A atresia duodenal, ao contrário de outras atresias intestinais, é comumente associada a outras anomalias congênitas; aproximadamente 25 a 40% dos lactentes com atresia duodenal têm síndrome de Down (1). Outras anomalias associadas incluem anomalias vertebrais, atresia anal, malformações cardíacas, fístula traqueoesofágica, atresia esofágica, anomalias renais e aplasia radial, e anomalias dos membros (acrônimo VACTERL, em inglês), bem como má rotação, pâncreas anular, anomalias das vias biliares e anomalias mandibulofaciais.

Suspeita-se de diagnóstico de atresia duodenal no pré-natal se houver polidrâmnio e/ou estômago dilatado. A ultrassonografia pré-natal pode detectar um duplo sinal de bolha (bolha gástrica grande e bolha duodenal proximal menor) em até 80% dos casos (2).

Efeito de dupla bolha
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Essa radiografia mostra o típico efeito de bolha dupla observado na obstrução total do duodeno. A bolha menor representa a parte proximal do duodeno dilatada (seta aberta); a bolha maior representa o estômago (seta fechada). Esse efeito pode ser visto na atresia de duodeno, na membrana duodenal, no pâncreas anular e veia porta pré-duodenal. Raramente, também pode ser visto na obstrução duodenal total resultante de bandas de Ladd em um paciente mal rodado.

By permission of the publisher. From Langer J: Gastroenterology and Hepatology: Pediatric Gastrointestinal Problems. Edited by M Feldman (series editor) and PE Hyman. Philadelphia, Current Medicine, 1997.

No pós-natal, lactentes com atresia duodenal apresentam, dificuldades alimentares e vômito bilioso. Suspeita-se do diagnóstico com base nos sintomas e nos achados radiográficos clássicos de dupla bolha, que mostram uma bolha no estômago e outra no duodeno proximal, além de pouco ou nenhum ar no intestino distal. Embora uma série contratada gastrointestinal superior forneça o diagnóstico definitivo, ela deve ser realizada com cuidado em crianças por um radiologista experiente nesse procedimento para evitar a aspiração, e não costuma ser necessária se a cirurgia for feita imediatamente. Se a cirurgia for adiada (p. ex., devido a outros problemas médicos, como síndrome do desconforto respiratório ou a necessidade de estabilizar o recém-nascido), um enema de contraste deve ser realizado para confirmar que o sinal de dupla bolha não é devido à má rotação.

Uma vez feita a suspeita diagnóstica, o lactente não deve receber nada por boca, e a sonda nasogástrica deve ser colocada para diminuir a compressão sobre o estômago.

A cirurgia é a terapia definitiva.

Estenose duodenal

Ocorre menos comumente do que a atresia duodenal, mas apresenta aspecto semelhante e requer cirurgia. É também frequentemente associada à síndrome de Down.

Cisto do colédoco

Um cisto do colédoco pode obstruir o duodeno por pressão extrínseca. A incidência varia de aproximadamente 1 em 100.000 pessoas nos Estados Unidos e Europa a 1 em 13.000 no Japão (3). Mais da metade dos casos notificados ocorre no Japão. Existem algumas evidências de que a incidência dos cistos de colédoco está aumentando (4).

Lactentes com cisto do colédoco apresentam, classicamente, a tríade clássica de dor abdominal (dado muito difícil de ser considerado no neonato), massa no hipocôndrio direito e icterícia. Se o cisto for grande, ele também pode apresentar-se com graus variados de obstrução duodenal. Neonatos podem manifestar colestase. Em alguns lactentes, pancreatite é um achado associado.

Seu diagnóstico é feito, com mais frequência, pela ultrassonografia. Pode-se definir esses cistos ainda mais utilizando colangiopancreatografia por ressonância magnética, colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) ou ultrassonografia endoscópica.

O tratamento de cistos do colédoco é cirúrgico e requer excisão completa do cisto por causa do alto risco (7 a 30%) de desenvolver neoplasia nos remanescentes císticos (5, 6). O procedimento cirúrgico mais comumente utilizado é hepatojejunostomia em Y de Roux. Esse procedimento costuma ser feito por via laparoscópica. Alguns estudos recentes observaram que o desfecho pode ser melhorado com cirurgia assistida por robô. O risco de câncer é reduzido, mas não eliminado com ressecção completa (7).

Pâncreas anular

Pâncreas anular é uma anomalia congênita rara (5 a 15/100.000 nascidos vivos) (8) e é frequentemente associado à síndrome de Down. Nessa anomalia, o tecido pancreático circunda a segunda porção do duodeno, causando obstrução duodenal.

Cerca de dois terços das pessoas afetadas permanecem assintomáticas. Entre aqueles que desenvolvem sintomas, a maioria se manifesta no período neonatal, mas a apresentação clínica pode ser retardada até a idade adulta. Lactentes apresentam problemas alimentares e êmese que pode ser biliosa.

O diagnóstico do pâncreas anular pode ser sugerido por radiografia do abdome mostrando o mesmo sinal de bolha dupla visto na atresia duodenal. O diagnóstico também pode ser feito por uma série gastrointestinal superior e, de modo mais definitivo, por TC ou colangiopancreatografia por ressonância magnética. A colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) pode ser feito em crianças maiores.

O tratamento é derivação cirúrgica do pâncreas anular com duodenoduodenostomia, duodenojejunostomia ou gastrojejunostomia. Deve-se evitar a ressecção do pâncreas por causa das potenciais complicações da pancreatite e do desenvolvimento de fístula pancreática.

Má rotação

Obstrução duodenal causada por má rotação é rara, ocorrendo em uma pequena parcela de lactentes com má rotação "sintomática" (1/2500 a 6000) (9).

Referências

  1. 1. Bethell GS, Long AM, Knight M, Hall NJ; BAPS-CASS. Congenital duodenal obstruction in the UK: a population-based study. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 2020;105(2):178-183. doi:10.1136/archdischild-2019-317085

  2. 2. Engwall-Gill AJ, Zhou AL, Penikis AB, et al. Prenatal sonography in suspected proximal gastrointestinal obstructions: Diagnostic accuracy and neonatal outcomes. J Pediatr Surg. 2023;58(6):1090-1094. doi: 10.1016/j.jpedsurg.2023.02.029

  3. 3. Soares KC, Kim Y, Spolverato G, et al. Presentation and clinical outcomes of choledochal cysts in children and adults: a multi-institutional analysis. JAMA Surg. 2015;150(6):577-584. doi:10.1001/jamasurg.2015.0226

  4. 4. Ohashi T, Wakai T, Kubota M, et al. Risk of subsequent biliary malignancy in patients undergoing cyst excision for congenital choledochal cysts. J Gastroenterol Hepatol. 2013;28(2):243-247. doi:10.1111/j.1440-1746.2012.07260.x

  5. 5. Søreide K, Søreide JA. Bile duct cyst as precursor to biliary tract cancer. Ann Surg Oncol. 2007;14(3):1200-1211. doi:10.1245/s10434-006-9294-3

  6. 6. Frenette C, Mendiratta-Lala M, Salgia R, Wong RJ, Sauer BG, Pillai A. ACG Clinical Guideline: Focal Liver Lesions. Am J Gastroenterol. 2024;119(7):1235-1271. doi:10.14309/ajg.0000000000002857

  7. 7. Bloomfield GC, Nigam A, Calvo IG, et al. Characteristics and malignancy rates of adult patients diagnosed with choledochal cyst in the West: a systematic review. J Gastrointest Surg. 2024;28(1):77-87. doi:10.1016/j.gassur.2023.11.007

  8. 8. Alkhayyat M, Bachour S, Abou Saleh M, et al. The epidemiology of annular pancreas in the United States: a population-based study. J Clin Gastroenterol. 2022;56(2):186-191. doi:10.1097/MCG.0000000000001531

  9. 9. Salehi Karlslätt K, Husberg B, Ullberg U, Nordenskjöld A, Wester T. Intestinal Malrotation in Children: Clinical Presentation and Outcomes. Eur J Pediatr Surg. 2024;34(3):228-235. doi:10.1055/s-0043-1764239

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