Como fazer ultrassonografia

PorDorothy Habrat, DO, University of New Mexico School of Medicine
Revisado/Corrigido: mar 2021
Visão Educação para o paciente

Ultrassonografia à beira do leito é cada vez mais utilizada em unidades de terapia intensiva para auxiliar tanto no diagnóstico (p. ex., acúmulo de líquidos ou corpos estranhos) como no tratamento (p. ex., cateterismo intravenoso ou artrocentese).

Equipamentos de ultrassonografia incluem sondas, consoles ou instrumentos de controle e monitores. Alguns aparelhos portáteis funcionam em aplicativos em aparelhos de bolso.

Ultrassonografia à beira do leito só deve ser feita por pessoal treinado.

Indicações

A ultrassonografia à beira do leito tem vários usos, incluindo

  • Avaliação de aneurisma da aorta abdominal

  • Identificação e localização de abscessos para incisão e drenagem

  • Artrocentese

  • Doenças biliares, como colelitíase e colecistite

  • Avaliação cardíaca à procura de derrame pericárdico, distensão do coração direito e anormalidades valvares, além de avaliação do débito cardíaco

  • Avaliação de trombose venosa profunda

  • Identificação e remoção de corpos estranhos

  • Identificação de fratura

  • Avaliação da hipotensão com URCH (ultrassonografia rápida para choque e hipotensão)

  • Bloqueios nervosos

  • Avaliação ocular para verificar corpo estranho, deslocamento do cristalino, hemorragia vítrea, descolamento de retina

  • Paracentese, pericardiocentese, toracentese

  • Gestação para verificar gestação intrauterina, determinação da idade gestacional

  • Acesso vascular tanto central como periférico

  • Cateterismo suprapúbico

  • Ultrassonografia focada estendida para avaliação de trauma (E-FAST, Extended Focused Assessment with Sonography in Trauma)

Contraindicações

  • Nenhum

Complicações

  • A ultrassonografia é um procedimento não invasivo; portanto, é improvável que o procedimento tenha complicações.

Equipamento

  • Aparelho de ultrassonografia

  • Sonda (transdutor) de ultrassom: matriz linear, curvilínea, de matriz faseada ou intracavitária

  • Gel de ultrassom (não estéril ou estéril conforme necessário) ou, muitas vezes, lubrificante cirúrgico à base de água

  • Para procedimentos não estéreis, luva ou envoltório de sonda, para cobrir a ponta da sonda (fornecendo proteção de barreira quando desejado)

  • Para procedimentos estéreis, cobrir a sonda estéril para protegê-la bem como o cordão da sonda (alternativamente, pode-se colocar a sonda dentro de uma luva estéril e o cordão enrolado em um campo estéril, utilizando elásticos estéreis conforme necessário)

Descrição passo a passo do procedimento

Escolher uma sonda

  • Sonda de matriz linear: imagem de alta resolução de alta frequência (p. ex., 5 a 10 MHz), pouca profundidade de penetração, base achatada, imagem retangular; preferível para obter imagens detalhadas de estruturas superficiais (p. ex., para canulação vascular ou artrocentese)

  • Sonda curvilínea: imagem de baixa frequência (p. ex., 1 a 5 MHz) e baixa resolução, maior profundidade de penetração, base convexa, imagem distribuída; preferível para obter imagens gerais de estruturas mais profundas (p. ex., para E-FAST ou avaliação de aneurisma aórtico)

  • Sonda de matriz faseada: tipicamente de baixa resolução e alta profundidade, base muito pequena que pode se encaixar em espaços compactos (p. ex., entre os arcos costais); frequentemente escolhida especificamente para exames de imagem cardíacos

  • Sonda intracavitária: sonda curvilínea compacta, de alta frequência; preferível para exames de imagem dentro das cavidades do corpo [p. ex., intraoral (tecidos peritonsilares), transvaginal (ovários), transretal (próstata)]

Em geral, atribui-se às sondas um rótulo, como uma letra e um número. A letra “C” significa curvilínea e “L” linear. Os números adjacentes correspondem à frequência da sonda.

Operar o console de ultrassom

  • Modo B (brilho): esse é o modo de imagem bidimensional comumente utilizado.

  • Modo M (movimento): no modo M, o operador vê uma imagem unidimensional no eixo y ao longo do tempo no eixo x. O monitor mostra 2 imagens: um feixe acústico único (linha sólida) imposto à imagem menor no modo B em uma porção do monitor, e esse único feixe apresentado como uma linha vertical movendo-se ao longo do monitor em uma área distinta do modo M. O movimento, como a frequência cardíaca, aparece como pertubações lineares repetitivas, e as estruturas estáticas produzem linhas horizontais sólidas e não perturbadas à medida que o feixe se move pela tela.

  • Doppler em cores para fluxo: esse modo mostra a direção do fluxo sanguíneo. Também mostra a velocidade do fluxo. Vermelho representa o fluxo sanguíneo em direção ao transdutor; azul representa o fluxo sanguíneo para longe dele.

  • Sonda: selecionar a sonda utilizada no console.

  • Predefinição: se disponível nos equipamentos, selecionar a configuração pré-definida para o exame que está sendo realizado (p. ex., obstétrico, nervoso, abdominal, cardíaco).

  • Profundidade ou frequência: a maioria dos equipamentos possibilita o ajuste da frequência. Ajustá-los de modo a obter uma imagem do objeto de interesse no centro do monitor. A menos que determinada pela pré-configuração, selecionar a frequência no console do equipamento. Pode-se atribuir a esse controle um rótulo além de “frequência”, como “profundidade” (ou “penetração”) ou “resolução”. Examinar primeiro as estruturas profundas e depois as superficiais.

  • Foco: a maioria dos equipamento possibilita o ajuste do foco. Mover a marca “x” na lateral do monitor para definir a profundidade de foco desejada.

  • Ganho: ajustar o ganho (brilho) d modo que os líquidos pareçam escuros (anecoicos), aumentando o contraste em relação a outras estruturas sólidas e mais claras (hiperecoicas). O ganho automático, ou “autoganho”, se disponível, às vezes ajuda a tornar mais claras as imagens, mas algumas vezes os resultados são melhores com o ajuste manual. Alguns equipamentos possibilitam ajustar o ganho separadamente nas partes superior e inferior do monitor.

    Objetos densos, como ossos e cálculos, diminuem a ecogenicidade dos objetos atrás deles (assim, geralmente há uma área escura atrás deles).

    Por outro lado, objetos hipoecoicos funcionam como “janelas acústicas”, tornando os objetos atrás deles mais ecogênicos e claros. Por exemplo, os tecidos atrás de uma bexiga cheia e hipoecoica realçam-se de maneira clara, e obtêm-se imagens aprimoradas do coração direcionando a sonda através do fígado hipoecoico. Pode ser necessário diminuir o ganho para visualizar com precisão objetos intensamente claros.

    Gás (p. ex., gás intestinal) tende a produzir imagens aleatórias não interpretáveis, tipicamente com ecogenicidade mista decorrente da mistura de líquido e ar. Isso chama-se sombreamento sujo, com imagens mais claras atrás, causado pelo ar.

    Artefatos de reverberação são comuns quando são usados transdutores de matriz curva ou faseada; aparecem como linhas paralelas e equidistantes (p. ex., dentro de cistos ou atrás da pleura). Um exemplo de como usá-los clinicamente é a cauda de cometa, um tipo de artefato de reverberação vertical criado quando a pleura roça o pulmão. Sua ausência sugere pneumotórax.  

  • Barra de congelamento: a maioria dos equipamentos tem uma barra de congelamento que captura a imagem na tela e também tem um recurso de reversão que recupera imagens de segundos antes (p. ex., 3 segundos), no caso de uma imagem de interesse ter sido inadvertidamente ignorada.

  • Medições: os equipamentos normalmente têm recursos de medição (p. ex., rotulada como “medida” ou, às vezes, “compasso"). Por exemplo, em alguns equipamentos, congelar uma imagem pressionando “congelar”. Mover o indicador do monitor para marcar os pontos inicial e final da medição e pressionar “selecionar”. O comprimento entre as marcas é mostrado no lado superior esquerdo do monitor. Muitos equipamentos podem fazer cálculos a partir dos valores medidos (p. ex., calcular o volume vesical ou a idade gestacional estimada).

Manobrar a sonda para obter imagens ultrassonográficas

  • Orientação padrão da sonda: com a colocação correta, o lado direito do paciente deve aparecer no lado esquerdo do monitor. A marca de orientação da sonda em um dos lados deve estar voltada para o lado direito do paciente (ou cefalicamente se a direção da sonda for longitudinal), e o ponto marcador no monitor está no canto superior esquerdo dele.

  • Orientação para exame cardíaco: selecionando a predefinição cardíaca, o ponto marcador estará à direita do monitor.

  • Cobrir a ponta da sonda com gel de ultrassom.

  • Ao usar uma sonda coberta, aplicar gel à sonda e então enluvar ou cobrir firmemente a ponta da sonda para eliminar todas as bolhas de ar no gel, e colocar elásticos ao redor da sonda. Aplicar mais gel em grandes quantidades à sonda coberta para assegurar uma película adequada ao mover a sonda.

  • Segurar a sonda e movê-la como uma caneta. Usar os outros dedos para estabilizar a sonda contra o paciente ao visualizar o monitor de ultrassom.

  • Otimizar as imagens. Tentar evitar ossos e gases, que são hiperecoicos e podem ocultar estruturas importantes. Às vezes, gases podem ser removidos. Otimizar o trajeto da imagem até o alvo usando uma janela acústica, geralmente por meio de estruturas hipoecoicas (p. ex., o fígado ao obter imagens do coração).

  • Começar escaneando grandes áreas (às vezes chamadas incidências de pesquisa) e então focar em áreas menores de interesse.

  • Deslizar a sonda de um lado para o outro ou para cima e para baixo, movendo a base da sonda. Com a base firme, inclinar a sonda, também chamado balanço, movimento em leque ou varrer, para obter uma incidência mais tridimensional. É possível comprimir a sonda, pressionando-a.

  • Girar a sonda, para alternar entre os eixos longitudinal e transversal, mantendo o alvo no quadro.

  • O paciente pode ajudar, por exemplo, mudando de posição ou inspirando profundamente.

  • Para obter a melhor incidência de um órgão, captar uma imagem de ambas as dimensões e inclinar a sonda para focar cada extremidade.

    Espera-se o uso de um “artefato espelho” ao obter imagens de tecidos reflexivos, como o diafragma. Por exemplo, no recesso hepatorrenal, o artefato espelho pode ajudar a descartar hemotórax ou pneumotórax. Quando as ondas sonoras encontram o diafragma, elas não o penetram e, assim, demoram mais tempo para que reflitam de volta à sonda. O equipamento interpreta erroneamente esse tempo mais longo como a presença de algo atrás do diafragma que, na verdade, está na frente do fígado (é possível ver uma densidade hepática atrás do diafragma à direita do paciente, ou o baço ao obter imagens do lado esquerdo). Chama-se artefato espelho porque espelha o que está na frente do diafragma.

Alertas e erros comuns

  • O uso inadequado de gel ou pressão inadequada sobre a sonda para entrar em contato com a pele do paciente pode limitar a visualização e distorcer as imagens.

Recomendações e sugestões

  • Posicionar o paciente antes do exame de forma a otimizar o posicionamento da sonda e maximizar o conforto do ultrassom e do paciente.

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