Como fazer o exame E-FAST

PorDorothy Habrat, DO, University of New Mexico School of Medicine
Reviewed ByDiane M. Birnbaumer, MD, David Geffen School of Medicine at UCLA
Revisado/Corrigido: modificado set. 2025
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Visão Educação para o paciente

O E-FAST (Extended Focused Assessment with Sonography in Trauma) é um protocolo de ultrassonografia à beira do leito projetado para detectar líquido peritoneal, líquido pericárdico, pneumotórax e/ou hemotórax em um paciente traumatizado.

O exame FAST (Focused Assessment with Sonography in Trauma) procura se há líquido — presumivelmente sangue no contexto clínico apropriado — em 10 estruturas ou espaços em 4 áreas:

  • Pericárdico

  • Peri-hepático

  • Periesplênico

  • Pélvica

O E-FAST (Extended-FAST) examina adicionalmente os espaços pleurais anterior e lateral (incidência torácica) para avaliar se o que se considerou um hemotórax na verdade é um pneumotórax ou um derrame pleural em pacientes traumatizados.

O E-FAST tem sensibilidade moderada e alta especificidade na identificação de pneumotórax, líquido livre intra-abdominal e derrame pericárdico (1). O exame pode ser feito de forma rápida, não invasiva e sem exposição à radiação, e pode ser repetido para exames seriados. Por esses benefícios, a ultrassonografia essencialmente substituiu o lavado peritoneal diagnóstico (LPD) na avaliação de pacientes traumatizados. Entretanto, devido à sensibilidade apenas moderada, o E-FAST não é tão confiável para excluir pneumotórax, líquido livre intra-abdominal e derrame pericárdico (1).

Em um paciente que está hemodinamicamente instável, um E- FAST positivo pode ser uma indicação para intervenção imediata (p. ex., toracostomia com dreno, janela pericárdica, laparotomia diagnóstica).

Em um paciente que está hemodinamicamente estável, o E- FAST pode direcionar a realização de exames diagnósticos adicionais.

Embora o E-FAST tenha sido projetado para agilizar o tratamento de pacientes lesionados, os componentes também têm sido utilizados na avaliação de pacientes que não sofreram lesões traumáticas como ultrassonografia à beira do leito (POCUS) para pacientes que estão hipotensos mas não lesionados a fim de identificar líquido livre decorrente de outras causas (p. ex., gestação ectópica rompida, ruptura de aneurisma da aorta abdominal).

O E-FAST é utilizado por alguns profissionais pré-hospitalares para avaliar líquido livre peritoneal ou pleural, que pode identificar hemorragia grave (2). A identificação pré-hospitalar de hemorragia grave pode permitir a diminuição do tempo para tratamento definitivo (p. ex., administração de hemoderivados ou intervenção cirúrgica).

Indicações para o exame E- FAST

  • Avaliação da lesão, hipotensão e/ou choque de etiologia desconhecida em um paciente traumatizado para determinar a necessidade de intervenções

  • Avaliação de hipotensão ou choque inexplicável em paciente sem trauma

  • Para identificar ruptura de uma gestação ectópica

Contraindicações para o exame E- FAST

Contraindicações absolutas:

  • Necessidade clara de cuidados definitivos nos quais o tempo constitui um fator fundamental que seriam postergados com a realização de ultrassonografia (p. ex., laparotomia)

Contraindicações relativas:

  • Nenhum

Complicações do exame E- FAST

  • A ultrassonografia é um procedimento não invasivo; portanto, é improvável que o procedimento tenha complicações.

Equipamento para o exame E- FAST

  • Aparelho de ultrassom à beira do leito

  • Sonda de baixa frequência (p. ex., 2 a 5 MHz) (transdutor), curvilínea ou de matriz faseada*

  • Sonda linear de alta frequência (p. ex., 5 a 10 MHz) para examinar a pleura

  • Gel (não estéril) para ultrassom ou lubrificante cirúrgico à base de água

  • Cobertura para a sonda de ultrassom (ou luva para cobrir a ponta da sonda) a fim de fornecer proteção de barreira

* Uma sonda de matriz faseada é frequentemente preferível para o E-FAST porque sua pequena base pode ser mais prontamente inserida entre os arcos costais.

Considerações adicionais para o exame E- FAST

  • Deve-se concluir o exame E-FAST em < 5 minutos.

  • Avalia-se primeiro o saco pericárdico, especialmente após um trauma penetrante, porque a presença de líquido pericárdico depois de um trauma pode ser imediatamente fatal e o manejo supera o tratamento de outras lesões.

  • O exame E-FAST maximiza a sensibilidade realizando imagens em posições dependentes da cavidade peritoneal, onde o líquido preferencialmente se acumula. Esse líquido aparece como áreas anecoicas (escuras) que preenchem os espaços potenciais. O exame também foca nas interfaces entre os órgãos sólidos para maximizar a visualização do líquido.

Posicionamento para o exame E- FAST

  • O paciente em decúbito dorsal.

  • O operador permanece ao lado do paciente próximo ao abdômen. (Tradicionalmente, instruíam-se os operadores a se posicionarem à direita do paciente de modo que a mão direita pudesse ser utilizada; no entanto, a posição do operador pode basear-se na preferência dele.)

  • Se possível, o paciente pode ser colocado em cerca de 5 graus da posição de Trendelenburg para aumentar a sensibilidade da detecção do líquido peritoneal no quadrante superior direito.

Anatomia relevante para o exame E- FAST

  • O sulco paracólico direito é mais profundo e menos obstruído que o esquerdo. O líquido flui preferencialmente para a direita. Assim, essa área deve ser a primeira no peritônio a ser avaliada (normalmente após exame de imagem do pericárdio).

  • Forma-se um espaço potencial pela reflexão do peritônio do reto à bexiga em homens ou do reto ao útero em mulheres. O líquido flui preferencialmente para essa área a partir dos sulcos paracólicos direito ou esquerdo. A pelve é uma das partes mais dependentes e facilmente visualizadas da cavidade peritoneal; assim, as coleções de fluidos são vistas aqui antes que em outras áreas.

Descrição passo a passo do exame E- FAST

  • Utilizar sonda curvilínea ou de matriz faseada.

  • Orientação padrão da sonda: assegurar de que a imagem na tela se correlacione com a orientação espacial da sonda ao segurar e movê-la. O marcador de orientação na ponta da sonda corresponde ao ponto marcador no monitor de ultrassom. Ajustar as configurações do monitor e a posição da sonda, se necessário, para alcançar uma orientação precisa da esquerda para a direita. Tradicionalmente, ao obter imagens para um exame E-FAST, posicionar o marcador de orientação da sonda à direita do paciente e verificar se o ponto do marcador está no canto superior esquerdo do monitor de ultrassonografia.

  • Cobrir a ponta da sonda com gel de ultrassom, colocar uma cobertura da sonda ou luva firmemente sobre a ponta da sonda para eliminar todas as bolhas de ar e fixar a cobertura ou luva no lugar (p. ex., com elásticos).

  • Recobrir generosamente a sonda com gel; o uso inadequado do gel limita a visualização da anatomia relevante.

Incidência pericárdica (cardíaca)

A parte cardíaca do exame E-FAST procura por hemopericárdio que, no traumatismo, é mais facilmente examinado por imagem a partir da posição subxifóidea.*

* NOTA: a orientação cardiológica convencional é o oposto de todos os outros exames, com o ponto marcador no lado direito do monitor. Ao obter incidências no eixo curto, a marca de orientação da sonda estará à esquerda do paciente; ao obter incidências no eixo longo, a marca de orientação da sonda será direcionada à cabeça do paciente.

  • No caso de medicina de emergência ou orientação radiológica, segurar a sonda transversalmente na região subcostal quase paralela à pele e apontada um pouco para a esquerda do esterno do paciente e na direção da cabeça. O marcador de orientação da sonda deve estar à direita do paciente.

  • Mover o transdutor mais para a direita do paciente; a borda do fígado deve ser visualizada, tornando o lobo esquerdo do fígado utilizável como uma janela acústica.

  • Segurar a sonda sobre a pele do paciente e empurrá-la delicadamente para baixo, apontando-a entre a cabeça e o ombro esquerdo do paciente.

  • Mover a sonda o mais alto possível no espaço subxifoide.

  • No monitor de ultrassom, de cima para baixo, observar o fígado, o ventrículo direito e o ventrículo esquerdo. O ventrículo direito está adjacente ao fígado porque é mais anterior do que o ventrículo esquerdo. Os 2 ventrículos estão acima e à direita do monitor e os átrios abaixo e à esquerda.

  • Para melhorar a imagem, aumentar a configuração de profundidade da sonda no console ou aproximar o coração da sonda pedindo que o paciente respire fundo e segure.

  • O líquido pericárdico aparece como um espaço escuro (hipoecoico) entre as linhas brancas do pericárdio.

  • O líquido pleural pode ser confundido com derrame pericárdico e pode ser distinguido por sua aparência atrás da aorta descendente na incidência paraesternal de eixo longo do coração.

  • Um coxim adiposo epicárdico também pode ser confundido com líquido pericárdico. Coxins adiposos epicárdicos aparecem ecolucentes, mas se movem com o coração, ao contrário do líquido pericárdico, que é estático.

Incidência periférica (quadrante superior direito)

Mover a sonda para o quadrante superior direito a fim de identificar líquido intraperitoneal livre.

  • Inserir a sonda no 10º ou 11º espaço intercostal, imediatamente anterior à linha axilar média. Apontar o marcador de orientação da sonda na direção cefálica. Para eliminar as sombras dos arcos costais, girar a sonda e olhar entre os arcos costais.

  • Obter imagem da interface (espaço potencial) entre o rim direito e o fígado, chamado recesso hepatorrenal. Se apenas o rim está visível, deslizar a sonda cefalicamente ao longo da linha axilar média, um espaço costal de cada vez, até o fígado estar visível. Se apenas o fígado está visível, deslizar a sonda caudalmente, um espaço costal de cada vez, até o rim estar visível. Um erro comum é posicionar a sonda muito anterior no abdome; deslizar a sonda posteriormente pode ajudar a visualizar o rim.

  • Na incidência do quadrante superior direito, o recesso hepatorrenal é o local em que mais comumente se visualiza líquido livre. Examinar toda a extensão do rim para evitar que uma pequena coleção de líquido passe despercebida.

  • Mover a sonda para procurar hemotórax. O diafragma aparece como uma linha curvilínea branca clara, com o fígado à direita e o pulmão normal à esquerda. O pulmão normal irradia ondas de ultrassom e tem uma aparência de "neve"

  • Um hemotórax tem aparência hiperecoica. Além disso, a linha espinhosa, visível na parte inferior do monitor, continuará além do diafragma e em direção ao tórax. O sangue no hemitórax atua como uma janela acústica que possibilita a visualização da coluna vertebral. Esse achado chama-se continuação anormal da linha espinhosa (o "sinal da coluna vertebral") e não ocorre na ausência de hemotórax, porque o ar dos pulmões irradia as ondas ultrassonográficas, obscurecendo a visualização da linha espinhosa.

Incidência perisplênica (quadrante superior esquerdo)

Mover a sonda para o quadrante superior esquerdo a fim de identificar líquido intraperitoneal livre.

  • O rim esquerdo está localizado um pouco mais posterior e cefálico do que o direito; portanto, inserir a sonda na linha axilar posterior entre o 9º e o 10º espaço intercostal, com o marcador de orientação da sonda posicionado cefalicamente.

  • O quadrante superior esquerdo é uma imagem espelhada do direito, com o baço aparecendo na parte superior do monitor, o diafragma à esquerda e o rim à direita.

  • É mais provável que o líquido se acumule em volta do baço do que entre o baço e o rim; o líquido no quadrante superior esquerdo geralmente representa lesão esplênica.

  • Mais uma vez, avaliar o hemotórax procurando acúmulo de líquido acima do diafragma e continuação anormal da linha espinhosa.

Incidência pélvica (suprapúbica)

Mover a sonda até a pelve. Essa localização é mais sensível para detectar líquido intraperitoneal.

  • Inserir o transdutor imediatamente superior à sínfise púbica em uma orientação transversal com o marcador de orientação da sonda à direita do paciente. Inclinar a sonda na pelve e mantê-la na linha média. Agora, examinar toda a bexiga de superior a inferior para identificar líquido livre.

  • Em seguida, girar a sonda em 90 graus no sentido horário de modo que o marcador de orientação da sonda aponte na direção cefálica. Nessa incidência sagital (longitudinal), continuar movendo a sonda da direita para a esquerda a fim de avaliar toda a bexiga.

  • A bexiga é visível anteriormente e é hipoecoica porque está cheia de líquido. No paciente do sexo masculino, é mais provável que o líquido se acumule na bolsa retovesical, entre a bexiga e o reto. Na paciente do sexo feminino, o líquido provavelmente se acumula na bolsa uterovesical, entre a bexiga e o útero. Mover a sonda lentamente de um lado para o outro aumentará a sensibilidade do exame.

Torácicas

Avaliar a pleura para identificar pneumotórax.

  • Utilizar uma sonda linear (alta frequência, alta resolução, penetração superficial).

  • Segurar a sonda perpendicularmente às costelas, com o marcador de orientação da sonda na direção cefálica; iniciar em torno do 3º ou 4º espaço intercostal na linha medioclavicular. Exames de imagem devem ser feitos de ambos os hemitórax, direito e esquerdo.

  • Para aumentar a sensibilidade do exame, obter uma imagem da superfície pleural em vários locais ao longo da parede torácica anterior e lateral.

  • No traumatismo, quando os pacientes muitas vezes estão posicionados em decúbito dorsal com restrição dos movimentos da coluna, o local mais provável para encontrar um pneumotórax é anteriormente. Mas os pacientes podem ter pneumotórax lateral isolado. Portanto, é importante visualizar o pulmão inteiro.

  • Segurar a sonda perpendicular aos arcos costais. Um arco costal projetará uma sombra atrás dele. A linha pleural (branca) é visível. Três achados normais são deslizamento de arcos costais, cauda de cometa e linhas A.

    • O deslizamento das costelas parecerá com ecogenicidade mista granulosa e cintilante abaixo da linha pleural. Às vezes, é chamado de formigas em um tronco. No modo M, a aparência granular abaixo da linha pleural se parece com a areia na praia, sendo chamada "sinal de beira-mar"

    • Caudas de cometas aparecem como projeções abaixo da linha pleural, movendo-se verticalmente.

    • As linhas A são uma reflexão produzida pela linha pleural que ocorre aproximadamente na metade do caminho entre a linha pleural e a parte inferior do monitor.

  • Se um paciente traumatizado apresentasse pneumotórax, não haveria movimento de deslizamento na linha pleural, nenhuma cauda de cometa e nenhuma linha A.

  • Em caso de incerteza em relação ao deslizamento pleural, utilizar o modo M ao longo da área pleural. No modo M, o sinal de beira-mar normal não estaria presente. Em vez disso, um sinal chamado "sinal de código de barras" seria visível; este nome se dá pela aparência de múltiplas linhas horizontais de cima para baixo no monitor.

USADT-A
Inserção da sonda perpendicularmente aos arcos costais
Inserção da sonda perpendicularmente aos arcos costais

Deve-se inserir a sonda perpendicularmente aos arcos costais. Também observar que o marcador de orientação da sonda aponta para a direção cefálica.

Deve-se inserir a sonda perpendicularmente aos arcos costais. Também observar que o marcador de orientação da sonda apo

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Aparência ultrassonográfica dos arcos costais e da linha pleural
Aparência ultrassonográfica dos arcos costais e da linha pleural

O arco costal (flecha amarela) aparece como uma estrutura hiperecoica (branca) com sombreamento abaixo do arco costal. A linha pleural (flecha vermelha) é visível no espaço intercostal.

O arco costal (flecha amarela) aparece como uma estrutura hiperecoica (branca) com sombreamento abaixo do arco costal.

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Linha pleural normal
Linha pleural normal

A linha pleural é hiperecoica (flecha vermelha). Durante a respiração, o deslizamento dos arcos costais fará com que a linha pleural cintile e criará uma aparência de “formigas andando em um tronco” quando visualizada em um vídeo em tempo real (flechas verdes). As linhas A (flecha amarela) aparecem por causa dos artefatos de reflexão produzidos pelas ondas de ultrassom.

A linha pleural é hiperecoica (flecha vermelha). Durante a respiração, o deslizamento dos arcos costais fará com que a

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Alertas e erros comuns para o exame E-FAST

  • O conhecimento da anatomia de superfície e subjacente é crucial para determinar o posicionamento inicial adequado do transdutor.

  • Um exame E-FAST normal não exclui uma lesão traumática intra-abdominal (1, 3).

  • Não esquecer as variantes anatômicas.

  • Desafios técnicos como biotipo do paciente e a presença de enfisema subcutâneo ou gases intestinais podem prejudicar a qualidade da imagem e potencialmente levar a resultados falso-negativos ou falso-positivos.

Recomendações e sugestões para o exame E-FAST

  • Se possível, reduzir o brilho das luzes para ajudar a aumentar o contraste e a ajustar o ganho.

  • Diminuir a profundidade ao alternar entre as incidências cardíaca e abdominal e então torácica.

  • Lembrar que nem todo líquido tem aparência anecoica (p. ex., o sangue coagulado pode ter ecogenicidade mista).

Referências

  1. 1. Netherton S, Milenkovic V, Taylor M, Davis PJ. Precisão diagnóstica do eFAST em pacientes com trauma: revisão sistemática e meta-análise. CJEM. 2019;21(6):727-738. doi:10.1017/cem.2019.381

  2. 2. Stralec G, Fontaine C, Arras S, et al. Is a Positive Prehospital FAST Associated with Severe Bleeding? A Multicenter Retrospective Study. Prehosp Emerg Care. 2024;28(4):572-579. doi:10.1080/10903127.2023.2272196

  3. 3. El-Gendy A, Sobhy T, Hamed M, Esmail H. Study of Extended Focused Assessment Sonography Accuracy versus Computed Tomography in Multiple Trauma Patients. The Egyptian Journal of Hospital Medicine. 2022;89(2):6993-6999. doi: 10.21608/ejhm.2022.272492

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