O transtorno delirante caracteriza-se por convicções falsas firmemente mantidas (delírios) que persistem por no mínimo 1 mês, sem outros sintomas da psicose. O diagnóstico é estabelecido a partir de avaliação psiquiátrica. O tratamento consiste em psicoterapia e, às vezes, em antipsicóticos.
A distinção entre delírios e crenças equivocadas é que as crenças delirantes permanecem inalteradas diante de evidências claras e razoáveis em contrário. Às vezes, é difícil estabelecer essa distinção quando as crenças são plausíveis (p. ex., que um cônjuge seja infiel).
O transtorno delirante distingue-se da esquizofrenia pela presença de delírios sem quaisquer outros sintomas de psicose (p. ex., alucinações proeminentes, fala ou comportamento desorganizado, sintomas negativos) e sem comprometimento funcional significativo além daquele associado ao delírio (1). Os critérios diagnósticos para esse transtorno também exigem que os delírios não sejam causados por outra condição médica ou substância. Os delírios podem ser
Não bizarros: envolvem situações que poderiam acontecer, tais como ser seguido, envenenado, infectado, amado a distância ou enganado pelo cônjuge ou amante.
Bizarro: envolvem situações implausíveis como acreditar que alguém removeu os órgãos internos sem deixar cicatriz.
Em contraste com a esquizofrenia, o transtorno delirante é relativamente incomum (2). O início geralmente é involucional, significando que ocorre no meio ou no final da vida adulta. O funcionamento psicossocial não é tão prejudicado, como no caso da esquizofrenia, e os prejuízos surgem, geralmente, diretamente da crença delirante.
Quando o transtorno delirante acontece em adultos mais velhos, é algumas vezes chamado de parafrenia. Pode coexistir com demência leve. Quando um paciente com demência leve relata abuso de idoso, o médico deve ser cuidadoso para separar o que é real do que é delírio.
Referências
1. American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition Text Revision, DSM-5-TR (DSM-5-TR). American Psychiatric Association Publishing, Washington, DC, 2022, pp 105-109.
2. Lieberman JA, First MB.. Psychotic Disorders. N Engl J Med. 2018;379(3):270-280. doi:10.1056/NEJMra1801490
Sinais e sintomas do transtorno delirante
O transtorno delirante pode surgir no contexto de um transtorno de personalidade paranoide preexistente. Em tais pessoas, a desconfiança disseminada e a suspeita de outras pessoas e de suas motivações começam no início da idade adulta e se estendem por toda a vida.
Os sintomas iniciais podem incluir sensação de estar sendo explorado, preocupação com a lealdade ou a fidedignidade de amigos, tendência a ler significados ameaçadores em observações ou eventos benignos, propensão persistente a ressentimentos e facilidade de responder a descortesias percebidas.
Vários subtipos de transtorno delirante com sintomas variados são reconhecidos:
Erotomaníaco: pacientes acreditam que outra pessoa está apaixonada por eles. Esforços para contatar o objeto do delírio por meio de telefonemas, cartas, espionagem ou perseguição são comuns. As pessoas com esse subtipo podem ter conflitos com a lei relacionados ao seu comportamento.
Grandiosidade: os pacientes acreditam que possuem grande talento ou fizeram descoberta importante.
Ciúmes: os pacientes acreditam que seu cônjuge ou parceiro sexual é infiel. Essa crença se baseia em conclusões incorretas, sustentadas por evidências dúbias. Os pacientes podem recorrer à agressão física.
Persecutório: os pacientes acreditam que estão sendo vítimas de uma trama, que estão sendo espionados, difamados ou importunados. Eles podem tentar obter justiça repetidamente por meio de apelos a juízes ou entidades governamentais e recorrer à violência em retaliação à perseguição imaginada.
Somático: O delírio se relaciona a uma função corporal; p. ex., os pacientes acreditam que possuem uma deformidade física, um determinado odor ou um parasita.
O comportamento dos pacientes não é obviamente bizarro ou estranho, e além das possíveis consequências dos seus delírios (p. ex., isolamento ou estigmatização social, dificuldades conjugais ou de trabalho), a capacidade de funcionamento dos pacientes não é acentuadamente prejudicada.
Diagnóstico do transtorno delirante
Avaliação psiquiátrica
Critérios do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 5th edition, Text Revision (DSM-5-TR)
Avaliação clínica geral para excluir outras etiologias
O diagnóstico depende predominantemente da avaliação clínica, obtenção da anamnese completa e exclusão de outras doenças específicas associadas a deliriums (p. ex., abuso de substâncias químicas, doença de Alzheimer, epilepsia, transtorno obsessivo-compulsivo, delirium ou outros transtornos do espectro da esquizofrenia).
O diagnóstico do transtorno delirante em si requer o seguinte (1):
Presença de pelo menos 1 delírio por pelo menos 1 mês
Nunca ter atendido ao critério anterior para esquizofrenia
Ausência de comprometimento funcional significativo ou comportamento obviamente bizarro
Ausência de episódios de humor significativos (ou seja, episódios maníacos ou depressivos são relativamente breves em comparação com a duração dos períodos delirantes)
Exclusão de condições médicas gerais, transtorno por uso de substâncias ou outro transtorno mental como causa da perturbação
A avaliação do risco de que os pacientes representem perigo para si mesmos ou para os outros é fundamental, especialmente quanto à disposição em agir de acordo com seus delírios.
Referência sobre diagnóstico
1. American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition Text Revision, DSM-5-TR (DSM-5-TR). American Psychiatric Association Publishing, Washington, DC, 2022, pp 105-109.
Tratamento do transtorno delirante
Estabelecimento de um relacionamento médico-paciente eficaz
Tratamento das complicações
Antipsicóticos às vezes
Visa estabelecer relação médico-paciente efetiva e controlar as complicações. A ausência significativa de consciência do transtorno nos pacientes constitui um desafio para o tratamento.
Caso se avalie os pacientes como perigosos, pode ser necessária internação.
Dados insuficientes estão disponíveis para sustentar o uso de qualquer medicamento em particular, embora os fármacos antipsicóticos possam, algumas vezes, aliviar os sintomas (1).
Um objetivo de tratamento de longo prazo de mudar a principal área de preocupação do paciente para longe do foco delirante e para uma área mais construtiva e gratificante é difícil, porém razoável.
Referência sobre tratamento
1. Muñoz-Negro JE, Cervilla JA. A Systematic Review on the Pharmacological Treatment of Delusional Disorder. J Clin Psychopharmacol. 2016;36(6):684-690. doi:10.1097/JCP.0000000000000595
Prognóstico para transtorno delirante
O transtorno delirante não ocasiona geralmente prejuízos ou mudanças graves na personalidade, mas as preocupações delirantes podem progredir gradualmente. A maioria dos pacientes pode continuar trabalhando desde que sua função não envolva assuntos relacionados com seus delírios.
