Hipotermia é definida pela Organização Mundial da Saúde como temperatura central < 36,5° C. Em neonatos pré-termo, a hipotermia aumenta a morbidade e a mortalidade. A hipotermia pode ser puramente ambiental ou representar doenças intercorrentes (p. ex., sepse). A manutenção de uma temperatura ambiente adequada na sala de parto ou sala de cirurgia é fundamental na prevenção da hipotermia neonatal. Deve-se reaquecer os recém-nascidos hipotérmicos e diagnosticar e tratar qualquer distúrbio subjacente.
A temperatura retal normal em neonatos nascidos a termo e neonatos pré-termo é 36,5 a 37,5° C. Embora a hipotermia seja uma temperatura central de < 36,5° C, pode haver estresse causado pelo frio em temperaturas mais altas sempre que a perda de calor requer maior produção de calor metabólico.
Fisiopatologia da hipotermia em neonatos
O equilíbrio térmico é afetado por umidade relativa, fluxo de ar, contato direto com superfícies frias, proximidade a objetos frios e temperatura do ar ambiente. Os neonatos são propensos a rápida perda de calor e consequente hipotermia por causa da elevada relação da área de superfície comparada à proporção de volume, que é ainda mais elevada nos neonatos de baixo peso. Há vários mecanismos para a perda de calor:
Perda de calor por irradiação: a pele descoberta é exposta a um ambiente contendo objetos com temperatura mais fria.
Perda de calor por evaporação: neonatos estão úmidos pelo líquido amniótico.
Perda de calor por condução: neonatos são colocados em contato com uma superfície ou objeto frio.
Perda de calor por convecção: fluxo de ar ambiente mais frio afasta o calor do neonato.
O estresse pelo frio não reconhecido e prolongado pode desviar calorias para produzir calor, prejudicando o crescimento. Os neonatos têm uma resposta metabólica ao frio que envolve termogênese química (antitremor) por descarga dos nervos simpáticos de noradrenalina na gordura marrom. Esse tecido é próprio do neonato e está localizado nas regiões nucal, interescapular, peri e suprarrenal e responde por lipólise seguida de oxidação ou reesterificação dos ácidos graxos que são liberados. Essas reações produzem calor localmente, e um rico suprimento sanguíneo para a gordura marrom ajuda a transferir esse calor para o resto do corpo do neonato. Essa reação aumenta de 2 a 3 vezes a taxa metabólica e o consumo de oxigênio. Portanto, em neonatos com insuficiência respiratória (p. ex., pré-termos com síndrome da angústia respiratória), o estresse pelo frio também pode ocasionar hipóxia tecidual e danos neurológicos. A ativação das reservas de glicogênio pode causar hiperglicemia transitória. Hipotermia persistente pode resultar em hipoglicemia e acidose metabólica e maior risco de sepse de início tardio e mortalidade (1).
Apesar dos mecanismos compensatórios, os neonatos, especialmente aqueles com baixo peso ao nascer, têm capacidade limitada de termorregulação e são propensos à queda na temperatura central. Mesmo antes de a temperatura diminuir, o estresse pelo frio ocorre quando a perda de calor requer um aumento na produção de calor metabólico.
O ambiente térmico neutro (termoneutralidade) é a zona de temperatura ideal para neonatos; é definida como a temperatura ambiente em que as demandas metabólicas (e, portanto, gasto calórico) para manter a temperatura corporal no intervalo normal (36,5 a 37,5° C retal) são as mais baixas. A temperatura ambiente específica necessária para manter a termoneutralidade depende do fato de os neonatos estarem molhados (p. ex., após o parto ou banho) ou vestidos, e de seu peso, idade gestacional, e idade em horas e dias.
Referência sobre fisiopatologia
1. Bi SY, Yu YH, Li C, et al. A standardized implementation of multicenter quality improvement program of very low birth weight newborns could significantly reduce admission hypothermia and improve outcomes. BMC Pediatr. 2022;22(1):281. Publicado em 2022 Mai 14. doi:10.1186/s12887-022-03310-5
Etiologia da hipotermia em neonatos
A hipotermia pode ser causada por fatores ambientais, doenças que prejudicam a termorregulação (p. ex., sepse, hemorragia intracraniana, suspensão de fármacos) ou uma combinação.
Os fatores de risco de hipotermia incluem:
Parto em uma área com temperatura ambiente abaixo dos níveis recomendados
Deixar o neonato molhado após o parto ou em contato com toalhas molhadas
Índice de Apgar baixo
Tratamento da hipotermia em neonatos
Reaquecimento em uma incubadora ou sob aquecedor
A hipotermia é tratada com reaquecimento em uma incubadora ou sob aquecedor. Deve-se monitorar o neonato e, se necessário, tratar a hipoglicemia, a hipoxemia e a apneia. Doenças como sepse, suspensão de fármacos ou hemorragia intracraniana podem exigir tratamento específico.
Prevenção da hipotermia em neonatos
A manutenção de uma temperatura ambiental adequada é o passo mais importante na prevenção da hipotermia em neonatos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a temperatura na sala de parto seja de pelo menos 25 a 28° C e que os neonatos sejam secados imediatamente e, quando possível, colocados em contato pele a pele com o responsável e cobertos. (Ver também the WHO's practical guide to thermal protection of the newborn.)
Neonatos pré-termo que estão hipotérmicos quando internados na unidade de terapia intensiva neonatal têm maior taxa de morbidade e a mortalidade; descobriu-se que aumentar a temperatura nas salas de parto e cirurgia reduz a incidência de hipotermia à admissão na unidade de terapia intensiva neonatal. Assim, a Academia Americana de Pediatria e a American Heart Association recomendam que as salas de parto e cirurgia onde os neonatos pré-termo nascem tenham uma temperatura de 23 a 25° C (1). Como aumentar a temperatura da sala somente quando o parto é antecipado pode permitir a perda de calor por radiação para superfícies frias e a perda de calor por convecção pelo fluxo de ar rápido, deve-se manter a sala continuamente à temperatura recomendada.
Ao nascimento, neonatos devem ser imediatamente secados e depois enrolados (incluindo a cabeça) com uma manta quente para evitar perdas por evaporação, condutividade e convecção. No recém-nascido pré-termo, descobriu-se que a colocação em uma bolsa de polietileno imediatamente após o parto ajuda a manter a temperatura do neonato; alguns médicos não secam o neonato antes de colocá-lo na bolsa porque a maior umidade pode ser benéfica (2).
Deve-se posicionar um neonato exposto para reanimação ou observação sob um aquecedor por radiação, sem que nada bloqueie o calor para o neonato, como um cobertor, para evitar perdas por radiação. Neonatos enfermos devem ser mantidos em ambiente térmico neutro para minimizar o gasto metabólico. A temperatura da incubadora adequada varia dependendo do peso de nascimento e da idade pós-natal do neonato e umidade na encubadora. Alternativamente, pode-se ajustar o aquecimento com dispositivos servomecânicos para manter a temperatura da pele em 36,5° C.
Referências sobre prevenção
1. Weiner GM, ed: Textbook of Neonatal Resuscitation, ed. 8. Itasca, American Academy of Pediatrics, 2021.
2. Oatley HK, Blencowe H, Lawn JE: The effect of coverings, including plastic bags and wraps, on mortality and morbidity in preterm and full-term neonates. J Perinatol 36(Suppl 1):S82–S88, 2016. doi: 10.1038/jp.2016.35
Pontos-chave
Neonatos, particularmente aqueles com peso muito baixo ao nascer, são suscetíveis à hipotermia ambiental; distúrbios que prejudicam a termorregulação (p. ex., hemorragia intracraniana, sepse) aumentam o risco.
A temperatura ambiente ideal para neonatos é aquela em que o gasto calórico necessário para manter a temperatura normal do corpo é o mais baixo, tipicamente entre 36,5° C e 37,5° C (retal).
Reaquecer os neonatos em uma incubadora ou sob um aquecedor por radiação e tratar quaisquer condições subjacentes.
Prevenir a hipotermia mantendo uma temperatura ambiental adequadamente quente nas áreas de cuidados com os neonatos, secando imediatamente o neonato e então envolvendo neonatos a termo em mantas ou colocando os pré-termo em uma bolsa de polietileno.
Informações adicionais
O recurso em inglês a seguir pode ser útil. Observe que este Manual não é responsável pelo conteúdo deste recurso.
World Health Organization (WHO): Thermal protection of the newborn: A practical guide
