Poucas plantas comumente cultivadas são altamente tóxicas, e muitas plantas são moderadamente tóxicas (ver tabela Plantas moderadamente tóxicas) (1, 2). Poucos venenos de plantas têm antídotos específicos. A maioria das ingestões de plantas, incluindo as listadas na tabela supracitada, resultam em sintomas mínimos, a menos que as folhas e outros componentes estejam concentrados em uma pasta ou na forma de chá.
Muito tóxicas e potencialmente fatais são:
Mamona, jequiriti (fruta de conta)
Oleandro (espirradeira) e dedaleira
Cicuta
(Ver também Princípios gerais da intoxicação.)
Mamona, jequiriti (fruta de conta)
A mamona contém ricina, um veneno extremamente concentrado. A semente do jequiriti contém abrina, uma toxina ainda mais potente. Ambas são revestidas por uma casca impermeável; contudo, o caroço precisa ser mastigado para liberar a toxina. Contudo, a casca da semente do jequiriti geralmente não está intacta, e a simples digestão bacteriana pode liberar a abrina.
Os sintomas de qualquer uma das intoxicações podem incluir gastroenterite tardia, às vezes grave e hemorrágica, seguida de insuficiência de múltiplos órgãos, incluindo insuficiência renal e colapso cardiovascular. A irrigação de todo o intestino deve ser considerada, pois visa remover todos os feijões ingeridos (3, 4, 5).
Oleandro (espirradeira) e dedaleira
Essas plantas e o lírio do vale (similar, mas menos tóxico) contêm glicosídio digitálico. A dedaleira era a fonte original dos agentes digitálicos. A toxicidade inclui gastroenterite, confusão, hiperpotassemia e arritmias. O nível sérico da digoxina pode confirmar a ingestão, porém não é útil como dado quantitativo.
Monitoram-se atentamente os níveis de potássio. Hiperpotassemia pode responder apenas à hemodiálise. O uso de cálcio como parte do tratamento de arritmias decorrentes de intoxicação por glicosídeo digitálico é controverso (6). Para tratar arritmias ventriculares, têm sido utilizados fragmentos de anticorpos fracionados (Fab, fracionated antibodies) digoxina-específicos.
Cicuta
A intoxicação por cicuta (cicuta e cicuta aquática) pode causar sintomas em 15 minutos.
A cicuta tem efeitos no receptor colinérgico nicotínico, inicialmente com xerostomia e progredindo para taquicardia, salivação, tremores, diaforese, midríase e convulsões. Em casos graves, podem ocorrer bradicardia, coma e paralisia ascendente que leva à insuficiência respiratória. Rabdomiólise também pode ocorrer.
A água de cicuta parece aumentar a atividade do ácido gama-aminobutírico (GABA, gamma-aminobutiric acid). Os sintomas são gastroenterite, delirium, convulsões refratárias e coma.
Plantas moderadamente tóxicas
Planta | Sintomas | Tratamento |
|---|---|---|
Aconitina (p. ex., derivada de acônito) | Bradicardia, arritmias, parestesia, fraqueza | Cuidados de suporte Bicarbonato de cálcio |
Aloe spp | Gastroenterite, nefrite, irritação de pele | Cuidados de suporte e irrigação da pele com água e sabão |
Aristolochia spp (papo-de-peru, cachimbo-holandês) | Cuidados de suporte | |
Azaleia | Sintomas colinérgicos | Cuidados de suporte e atropina |
Caladium spp (orelha-de-elefante, asas-de-anjo) | Lesões da mucosa oral pelos cristais de oxalato de cálcio nas folhas | Cuidados de suporte e demulsificação (p. ex., com leite ou sorvete) |
Capsicum spp (pimentas) | Irritação das mucosas e edema | Tratamento de suporte, hidratação |
Colchicina (açafrão do outono, açafrão do campo, lírio da glória) | Gastroenterite tardia, falência múltipla de órgãos Supressão da medula óssea | Medidas de suporte e, possivelmente, como último recurso fragmentos Fab-colchicina-específicos* |
Glicosídeos cianogênicos [p. ex., em Prunus spp (p. ex., pêssego, damasco e cereja selvagem), Malus spp (p. ex., sementes de maçã) e outras sementes] | Sintomas de envenenamento por cianeto | Hidroxocobalamina Kit de antídoto contra cianeto (inclui nitrato de amyl, nitrato de sódio e tiossulfato de sódio) |
Beladona | Sintomas anticolinérgicos, hipertemia, convulsões, alucinações | Cuidados de suporte Fisostigmina em casos de hipertermia grave ou convulsões |
Dieffenbachia (cana-do-mudo) | Lesões da mucosa oral pelos cristais de oxalato de cálcio nas folhas | Cuidados de suporte e demulsificação (p. ex., com leite ou sorvete) |
Feijão gordo (feijão homus) | Em pacientes com deficiência de G6PD, gastroenterite, febre, cefaleia, anemia hemolítica | Cuidados de suporte Transfusão exsanguineotransfusão em casos de anemia grave e intoxicação |
Batata rainha e broto de batata | Gastroenterite, alucinações, delirium | Cuidados de suporte |
Holly berries (guardanapos de Natal) | Cuidados de suporte | |
Figueira-brava | Sintomas anticolinérgicos, hipertemia, convulsões, alucinações | Cuidados de suporte Fisostigmina em casos de hipertermia grave ou convulsões |
Alcaçuz natural (não o doce artificialmente aromatizado com alcaçuz) | Hipopotassemia, hipertensão e retenção de sódio e água (pseudo-hiperaldosteronismo) | Tratamento de suporte |
Lírio do campo | Hiperpotassemia, gastroenterite, confusão, arritmia | |
Visgo (espécie de erva-passarinho americana) | Cuidados de suporte | |
Urtiga | Queimação e ferroadas locais | Cuidados de suporte |
Erva-moura comum ou lenhosa | Gastroenterite, alucinações, delirium | Cuidados de suporte |
Poejo | Hepatotoxicidade | N-acetilcisteína |
Philodendron spp | Lesões da mucosa oral pelos cristais de oxalato de cálcio nas folhas | Cuidados de suporte e demulsificação (p. ex., com leite ou sorvete) |
Bico de papagaio | Mínima irritação da mucosa | Desnecessário |
Hera venenosa | Dermatite | Ver Dermatite |
Erva dos cancros | Irritação da membrana mucosa, gastroenterite | Cuidados de suporte |
Pothos (Epipremmum aureum) | Lesões da mucosa oral pelos cristais de oxalato de cálcio nas folhas | Cuidados de suporte e demulsificação (p. ex., com leite ou sorvete) |
Teixo | Raramente, convulsões, arritmia e coma | Cuidados de suporte |
*Não disponível fora da França. | ||
Fab = anticorpos fracionados; VI = via intravenosa. | ||
Referências
1. Krenzelok EP, Mrvos R. Friends and foes in the plant world: a profile of plant ingestions and fatalities. Clin Toxicol (Phila). 2011;49(3):142-149. doi:10.3109/15563650.2011.568945
2. Froberg B, Ibrahim D, Furbee RB. Plant poisoning. Emerg Med Clin North Am. 2007;25(2):375-ix. doi:10.1016/j.emc.2007.02.013
3. Rasetti-Escargueil C, Avril A. Medical Countermeasures against Ricin Intoxication. Toxins (Basel). 2023;15(2):100. Publicado em 2023 Jan 20. doi:10.3390/toxins15020100
4. Centers for Disease Control and Prevention. The National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH). Abrin: Biotoxin. Accessed January 30, 2025.
5. Centers for Disease Control and Prevention. The National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH). Ricin: Biotoxin. Accessed January 30, 2025.
6. Levine M, Nikkanen H, Pallin DJ. The effects of intravenous calcium in patients with digoxin toxicity. J Emerg Med. 2011;40(1):41-46. doi:10.1016/j.jemermed.2008.09.027
