Streptococcus pneumoniae (pneumococos) são diplococos Gram-positivos, alfa-hemolíticos, aeróbios e encapsulados. A infecção pneumocócica é a principal causa de otite média, pneumonia, sepse, meningite e morte. O diagnóstico é por coloração de Gram e cultura. O tratamento depende do perfil de resistência e do local da infecção e inclui betalactâmicos, macrolídeos, doxiciclina, omadaciclina, uma fluoroquinolona mais recente ou vancomicina.
Pneumococos são microrganismos exigentes e encapsulados que requerem catalase para crescer em placas de ágar. No laboratório, identificam-se pneumococos por:
Diplococos Gram-positivos em forma de lanceta
Catalase-negatividade
Alfa-hemólise em ágar-sangue
Sensibilidade à optoquina
Lise por sais biliares
Os pneumococos colonizam comumente o trato respiratório humano, em particular no inverno e no início da primavera. A disseminação ocorre por gotículas no ar.
Epidemias verdadeiras de infecções pneumocócicas são raras; no entanto, alguns sorotipos parecem estar associados a surtos em certas populações ou ambientes (p. ex., instalações militares, ambientes de congregação, pessoas sem-teto), particularmente em ambientes aglomerados.
Sorotipos
A cápsula do pneumococo consiste em um polissacarídio complexo que determina o tipo sorológico e contribui para a virulência e a patogenicidade. A virulência varia um pouco de acordo com tipos sorológicos por causa da diversidade genética.
A cápsula do pneumococo consiste em um polissacarídio complexo que determina o tipo sorológico e contribui para a virulência e a patogenicidade. A virulência varia um pouco de acordo com tipos sorológicos por causa da diversidade genética. A cápsula de polissacarídeo que envolve o pneumococo é crucial para evitar a fagocitose.
Atualmente, foram identificados mais de 100 sorotipos pneumocócicos distintos, com base em sua reação a antissoros tipo-específicos (1).
Os sorotipos de pneumococos que colonizam a nasofaringe variam por idade do paciente e localização geográfica e mudaram ao longo do tempo. Aqueles sorotipos que colonizam a nasofaringe, que são mais fortemente encapsulados e tendem a formar mais colônias mucoides do que outros sorotipos, estão mais frequentemente associados à doença pneumocócica invasiva em pacientes.
Os sorotipos responsáveis pela maioria das infecções graves (sorotipos 3, 4, 6B, 9V, 14, 18C, 19F e 23F) causam cerca de 90% das infecções invasivas em crianças e até 85% em adultos (2). Esses sorotipos estão contidos nas atuais vacinas pneumocócicas conjugadas para reforçar a imunidade contra eles. Em parte devido ao uso generalizado de vacinas polivalentes, os sorotipos mais prevalentes estão mudando.
O sorotipo 19A, que é altamente virulento e multirresistente a fármacos, surgiu como uma importante causa de infecções de vias respiratórias e doenças invasivas.
As vacinas pneumocócicas conjugadas protegem contra diversos sorotipos causadores de infecção (p. ex., a vacina pneumocócica conjugada 21-valente [PCV21] atualizada inclui 8 sorotipos exclusivos que causam aproximadamente 20 a 30% dos casos de doença pneumocócica invasiva) (3). Uma vacina pneumocócica polissacarídica 23-valente (PPSV23) oferece forte proteção contra doença pneumocócica invasiva, incluindo bacteremia e meningite, mas não é tão eficaz na prevenção da pneumonia.
Fatores de risco de infecção pneumocócica
Os pacientes mais suscetíveis a infecções pneumocócicas graves e invasivas incluem crianças pequenas (< 5 anos), adultos mais velhos (> 65 anos) e indivíduos com uma ou mais das seguintes características:
Doença crônica (p. ex., doença cardiorrespiratória crônica, diabetes, doença hepática, transtorno por uso de álcool)
Imunodeficiência ou imunossupressão (p. ex., HIV, hipogamaglobulinemia congênita e adquirida [como no mieloma múltiplo], deficiências da via do complemento, neutropenia, imunossupressores, radioterapia, transplantes de órgãos sólidos)
Asplenia congênita ou adquirida (devido à incapacidade de erradicar organismos encapsulados)
Doença falciforme ou outras hemoglobinopatias
Tabagismo
Doença renal crônica ou síndrome nefrótica
Implante coclear
Vazamento de líquido cefalorraquidiano
Malignidade (p. ex., câncer generalizado, doença de Hodgkin, leucemia, linfoma)
Ser residente de instituições de longa permanência ou ser um ilhéu do Pacífico ou australiano de ascendência aborígene, um nativo do Alasca, ou descendente de determinados povos indígenas americanos
Idosos, mesmo aqueles sem condições crônicas, tendem a apresentar um prognóstico desfavorável nas infecções pneumocócicas.
Alterações no epitélio respiratório por bronquite crônica ou viroses respiratórias comuns, especialmente influenza, podem predispor à invasão pelo pneumococo.
Referências gerais
1. Camargo DR, Pais FS, Volpini ÂC, Oliveira MA, Coimbra RS. Revisiting molecular serotyping of Streptococcus pneumoniae. BMC Genomics. 2015;16 Suppl 5(Suppl 5):S1. doi:10.1186/1471-2164-16-S5-S1
2. Weir E. Streptococcus pneumoniae infection in children: vaccine implications. CMAJ. 2002;166(2):220.
3. Kobayashi M, Leidner AJ, Gierke R, et al. Use of 21-Valent Pneumococcal Conjugate Vaccine Among U.S. Adults: Recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices - United States, 2024. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2024;73(36):793-798. Publicado em 2024 Set 12. doi:10.15585/mmwr.mm7336a3
Doenças causadas por pneumococos
As doenças pneumocócicas incluem:
A infecção pneumocócica primária costuma envolver os seios paranasais, a orelha média ou os pulmões.
As doenças listadas abaixo são discutidas em mais detalhes em outras partes deste Manual.
Otite média pneumocócica aguda
A otite média aguda em lactentes (após o período perinatal) e crianças é causada pelo pneumococo em cerca de 20% dos casos (1). Aproximadamente 40% das crianças na maioria das populações desenvolvem otite média pneumocócica aguda nos primeiros 2 anos de vida, sendo comum a recorrência da otite média pneumocócica (2). Relativamente poucos sorotipos de S. pneumoniae são responsáveis pela maior parte dos casos. Após a imunização universal de lactentes nos Estados Unidos, iniciada em 2000, a contribuição relativa de S. pneumoniae (particularmente o sorotipo 19A, que não estava incluído na vacina pneumocócica conjugada à proteína original) para a otite média aguda diminuiu, e os sorotipos que a causam passaram a incluir aqueles para os quais a vacinação não confere imunidade.
As complicações são:
Perda auditiva condutiva leve
Disfunção do equilíbrio vestibular
Perfuração da membrana timpânica
Mastoidite
Petrosite
Labirintite
Complicações intracranianas são raras nos países desenvolvidos, mas podem provocar meningite, abscesso peridural, abscesso cerebral, trombose do seio lateral, trombose do seio cavernoso, empiema subdural e trombose da artéria carótida.
Pneumonia pneumocócica
Pneumonia é a infecção grave mais frequente causada pelo pneumococo, pode se manifestar como pneumonia lobar ou, menos comumente, como broncopneumonia. Milhões de casos de pneumonia adquiridas na comunidade ocorrem todo ano nos Estados Unidos e quando há necessidade de internação, o pneumococo é o agente mais comum nos pacientes de todas as idades.
Ocorre derrame pleural em aproximadamente 50% dos pacientes, mas a maioria dos derrames desaparece durante a farmacoterapia (3). Apenas aproximadamente 5% dos pacientes desenvolvem derrames pleurais complicados, incluindo empiema (3, 4), que pode se tornar loculado, espesso e fibrinopurulento; empiema tem sido mais comumente associado ao sorotipo 1 do S. pneumoniae. Abscessos pulmonares por S. pneumoniae ocorrem mais frequentemente em crianças; o sorotipo 3 é o patógeno usual, mas outros sorotipos pneumocócicos podem estar envolvidos.
Sinusite paranasal pneucocócica
A sinusite paranasal pode ser provocada por pneumococos e se tornar crônica e polimicrobiana.
Os seios maxilares e etmoidais são acometidos com mais frequência. Infecção dos seios da face provoca dor e secreção purulenta e pode se estender para o crânio, causando as seguintes complicações:
Trombose do seio cavernoso
Abscessos cerebrais, epidurais ou subdurais
Tromboflebite cortical séptica
Meningite
Bacteremia pneumocócica
A bacteremia por pneumococo pode ocorrer em pacientes imunocompetentes e imunodeprimidos e os que sofreram esplenectomia estão particularmente em risco.
A bacteremia pode ser a infecção primária em pacientes suscetíveis ou pode acompanhar a fase aguda de qualquer infecção pneumocócica. A bacteremia pneumocócica pode ser complicada por sepse e choque séptico. Quando a bacteremia está presente, a infecção secundária de locais distantes pode provocar infecções, tais como artrite séptica, meningite e endocardite.
Apesar do tratamento, a taxa geral de letalidade para bacteremia pneumocócica é cerca de 20%, mas pode chegar a 60% em idosos (1).
O risco de morte é mais alto durante os primeiros 3 dias de bacteremia.
Meningite pneumocócica
A meningite purulenta aguda é provocada frequentemente por pneumococos e pode ser secundária a bacteremias de outros focos (em especial pneumonia); extensão direta de otite, processo mastoide ou seios paranasais; ou fratura basilar de crânio envolvendo um desses locais ou a placa crivosa (normalmente com extravasamento de líquido cefalorraquidiano), resultando assim em bactérias nos seios paranasais, nasofaringe ou acesso da orelha média ao sistema nervoso central.
Ocorrem sintomas típicos de meningite (p. ex., cefaleia, rigidez de nuca e febre).
Complicações após meningite pneumocócica ocorrem em até 50% dos pacientes (1) e podem incluir:
Perda auditiva
Convulsões
Deficiências intelectuais
Deficiências comportamentais
Déficits motores
Endocardite pneumocócica
Em alguns raros casos, a endocardite bacteriana aguda (um subtipo de endocardite infecciosa de progressão rápida), pode resultar de bacteremia pneumocócica, mesmo em pacientes sem doença valvar cardíaca.
A endocardite pneumocócica pode levar à formação de lesões valvulares corrosivas, com rupturas ou fenestrações súbitas associadas, levando à insuficiência cardíaca rapidamente progressiva e exigindo substituição valvar urgente. A síndrome austríaca é uma doença rara caracterizada pela tríade que inclui meningite pneumocócica, pneumonia e endocardite por S. pneumoniae e tem alta taxa de fatalidade. A insuficiência da valva aórtica congênita é a causa mais comum de insuficiência cardíaca nos pacientes afetados.
Artrite séptica pneumocócica
A artrite séptica de origem pneumocócica, similar à causada por outros cocos Gram-positivos, é geralmente uma complicação da bacteremia pneumocócica proveniente de outro foco de infecção.
Peritonite pneumocócica espontânea
Na maioria das vezes, a peritonite pneumocócica espontânea ocorre em pacientes com cirrose e ascite, sem características que possam diferenciá-la da peritonite bacteriana espontânea resultante de outras causas.
Referências de doenças causadas por pneumococos
1. Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Pneumococcal Disease: Clinical Features of Pneumococcal Disease. February 6, 2024. Accessed July 18, 2025.
2. Kaur R, Morris M, Pichichero ME. Epidemiology of Acute Otitis Media in the Postpneumococcal Conjugate Vaccine Era [correção publicada em Pediatrics. 2018 Mar;141(3):e20174067. doi: 10.1542/peds.2017-4067.]. Pediatrics. 2017;140(3):e20170181. doi:10.1542/peds.2017-0181
3. Taryle DA, Potts DE, Sahn SA. The incidence and clinical correlates of parapneumonic effusions in pneumococcal pneumonia. Chest. 1978;74(2):170-173. doi:10.1378/chest.74.2.170
4. Light RW, Girard WM, Jenkinson SG, George RB. Parapneumonic effusions. Am J Med. 1980;69(4):507-512. doi:10.1016/0002-9343(80)90460-x
Diagnóstico das infecções pneumocócicas
Coloração de Gram e cultura
Painéis de testes de amplificação de ácido nucleico (NAAT)
Os pneumococos são prontamente identificados por sua aparência encapsulada típica na coloração de Gram. Coloração de Gram e cultura são os testes mais comumente disponíveis e realizados na maioria dos ambientes clínicos. A cultura confirma a identificação bacteriana, e testes de sensibilidade antimicrobiana revelam padrões de sensibilidade.
As características da cápsula podem ser mais bem detectadas utilizando-se o exame Quellung. Neste exame, a aplicação de antissoro seguido de corante de tinta nanquim faz com que na cápsula apareça um halo ao redor do organismo. A cápsula pneumocócica torna-se visível microscopicamente após a ligação da cápsula ao antissoro específico do tipo, o que causa edema capsular. Após a adição do azul de metileno, as células pneumocócicas são coradas em azul escuro e circundadas por um halo bem demarcado, que representa a borda externa da cápsula.
A sorotipagem e a genotipagem dos isolados podem ser úteis em termos de epidemiologia (p. ex., para correlacionar a disseminação de cepas específicas e seguir os padrões de resistência antimicrobiana) (1). As diferenças na virulência entre os sorotipos podem ser distinguidas por técnicas como eletroforese em gel de campo pulsado e tipagem de sequência multilocal.
Também ganhando ampla aceitação em ambientes hospitalares, os painéis NAAT multiplex moleculares rápidos para patógenos respiratórios são muito sensíveis e específicos para a detecção de patógenos respiratórios incluindo S. pneumoniae (2). Um resultado positivo de NAAT obtido de espécimes não estéreis do trato respiratório superior em crianças pequenas deve ser interpretado em correlação com o quadro clínico geral, pois o carreamento nasofaríngeo assintomático é comum.
O teste de detecção de antígenos na urina tem alta especificidade (> 90%), mas baixa sensibilidade (50 a 80%) e é muito influenciado por bacteremia concomitante (3). Em geral, não se recomenda realizá-lo em crianças pequenas porque a colonização nasofaríngea pode causar liberação de um polissacarídeo da parede celular bacteriana que pode entrar na corrente sanguínea e ser filtrado pelo rim. O valor preditivo positivo (a proporção de pacientes com resultado de exame positivo que efetivamente têm a doença) é alto (> 95%) em adultos (4). Mas o valor preditivo negativo (a proporção de pacientes com um teste negativo que estão efetivamente livres da doença) é baixo, de modo que um teste de antígeno urinário negativo não deve ser utilizado para descartar doença pneumocócica.
Referências sobre diagnóstico
1. Self WH, Johnson KD, Resser JJ, et al. Prevalence, Clinical Severity, and Serotype Distribution of Pneumococcal Pneumonia Among Adults Hospitalized With Community-Acquired Pneumonia in Tennessee and Georgia, 2018-2022. Clin Infect Dis. 2024;79(4):838-847. doi:10.1093/cid/ciae316
2. Hanson KE, Azar MM, Banerjee R, et al. Molecular Testing for Acute Respiratory Tract Infections: Clinical and Diagnostic Recommendations From the IDSA's Diagnostics Committee. Clin Infect Dis. 2020;71(10):2744-2751. doi:10.1093/cid/ciaa508
3. Yasuo S, Murata M, Nakagawa N, et al. Diagnostic accuracy of urinary antigen tests for pneumococcal pneumonia among patients with acute respiratory failure suspected pneumonia: a systematic review and meta-analysis. BMJ Open. 2022;12(8):e057216. Publicado em 2022 Ago 11. doi:10.1136/bmjopen-2021-057216
4. Laijen W, Snijders D, Boersma WG. Pneumococcal urinary antigen test: Diagnostic yield and impact on antibiotic treatment. Clin Respir J. 11(6):999–1005, 2017. doi: 10.1111/crj.12453
Tratamento das infecções pneumocócicas
Betalactâmicos, macrolídeos, fluoroquinolonas respiratórias (p. ex., levofloxacino, moxifloxacino), tetraciclina (p. ex., doxiciclina, omadaciclina) ou pleuromutilina (p. ex., lefamulina)
Raramente, vancomicina
Em caso de suspeita de infecção pneumocócica, a terapia inicial, dependendo da sensibilidade, deve ser determinada pelos padrões de resistência local.
Embora o tratamento de escolha para as infecções pneumocócicas seja com antibióticos betalactâmicos, o tratamento tornou-se um desafio pelo surgimento de cepas resistentes. Cepas altamente resistentes à penicilina, ampicilina e outros betalactâmicos são comuns em todo o mundo, e as taxas de resistência variam geograficamente nos Estados Unidos. O fator predisponente mais comum para resistência a betalactâmicos é o uso desses antibióticos nos vários meses anteriores. A resistência a antibióticos macrolídeos também aumentou significativamente (aproximadamente 35%) (1); esses antibióticos não são recomendados como monoterapia para pacientes hospitalizados com pneumonia adquirida na comunidade. A vancomicina pode ser adicionada como tratamento empírico para suspeita de meningite ou outra doença invasiva até que os resultados de cultura e sensibilidade sejam obtidos e a suscetibilidade aos beta-lactâmicos seja confirmada, momento em que a cobertura antibiótica pode ser adequadamente trocada para beta-lactâmicos.
A suscetibilidade ou resistência aos antibióticos betalactâmicos (penicilina e as cefalosporinas de espectro estendido ceftriaxona e cefotaxima) depende do local da infecção e dos pontos de interrupção da concentração inibitória mínima (CIM). A administração de beta-lactâmicos em doses mais altas pode superar a suscetibilidade antibiótica potencialmente reduzida in vivo observada durante o tratamento de pneumonia e de infecções não invasivas. Organismos suscetíveis têm CIM abaixo do ponto de interrupção e organismos resistentes têm CIM acima do ponto de interrupção. Os pontos de interrupção da CIM são tipicamente mais altos para infecção pneumocócica não meníngea do que para infecção meníngea.
Infecções pneumocócicas meníngeas
Pontos de interrupção da CIM para pacientes com infecção pneumocócica meníngea:
Cepas sensíveis à penicilina: CIM ≤ 0,06 mcg/mL
Cepas resistentes à penicilina: CIM > 0,06 mcg/mL
Cefotaxima- e ceftriaxona-susceptíveis: CIM ≤ 0,5mcg/mL
Cepas intermediadas por cefotaxima e ceftriaxona: CIM > 0,5 a ≤ 1,0 mcg/mL
Cepas resistentes a cefotaxima e ceftriaxona: CIM > 1,0mcg/mL
Se a CIM da penicilina for ≤ 0,06 mcg/mL, o tratamento da infecção pneumocócica meníngea pode ser com penicilina IV; entretanto, ceftriaxona ou cefotaxima é preferível.
Se a CIM da penicilina for > 0,06 mcg/mL e a CIM da ceftriaxona ou da cefotaxima for ≤ 0,5 mcg/mL, o tratamento é com ceftriaxona ou cefotaxima.
Se a CIM da ceftriaxona ou da cefotaxima for ≥ 1,0 mcg/mL, o tratamento é com ceftriaxona ou cefotaxima mais vancomicina.
Infecções pneumocócicas não meníngeas
Pontos de interrupção da CIM para pacientes com infecção pneumocócica não meníngea:
Cepas sensíveis à penicilina: CIM ≤ 2mcg/mL
Cepas intermediárias de penicilina: CIM > 2,0 a ≤ 4,0 mcg/mL
Cepas resistentes à penicilina: CIM > 4,0 mcg/mL
Cepas sensíveis a cefotaxima e ceftriaxona: CIM ≤ 1mcg/mL
Cepas intermediárias por cefotaxima e ceftriaxona: CIM > 1,0 a ≤ 2,0 mcg/mL
Cepas resistentes a cefotaxima e ceftriaxona: CIM > 2,0mcg/mL
Pacientes gravemente enfermos com infecções não meníngeas causadas por microrganismos resistentes à penicilina frequentemente podem ser tratados com ceftriaxona ou cefotaxima. Doses altas de penicilina G por via parenteral (p. ex., 20 a 40 milhões de unidades/dia, IV, para adultos) também funcionam, a menos que a concentração inibitória mínima do isolado seja muito elevada, indicando resistência.
Fluoroquinolonas (p. ex., moxifloxacino, levofloxacino), doxiciclina, omadaciclina e lefamulina são eficazes para tratar infecções respiratórias causadas por pneumococos altamente resistentes às penicilinas em adultos. Evidências sugerem que a taxa de mortalidade por pneumonia pneumocócica bacterêmica é mais baixa ao utilizar a terapia combinada (p. ex., macrolídeo com betalactâmico).
Todos os isolados penicilina-resistentes são sensíveis à vancomicina até o momento, mas a vancomicina parenteral nem sempre alcança concentrações adequadas no líquido cefalorraquidiano para o tratamento de meningite (em especial se glicocorticoides também forem utilizados). Portanto, em pacientes com meningite, ceftriaxona ou cefotaxima é comumente utilizada com vancomicina. Até o momento, não foi demonstrada resistência pneumocócica à linezolida, à daptomicina e à ceftarolina.
Treatment reference
1. Suaya JA, Mendes RE, Sings HL, et al. Streptococcus pneumoniae serotype distribution and antimicrobial nonsusceptibility trends among adults with pneumonia in the United States, 2009‒2017. J Infect. 2020;81(4):557-566. doi:10.1016/j.jinf.2020.07.035
Prevenção das infecções pneumocócicas
A infecção produz imunidade tipo-específica, mas não se generaliza para outros sorotipos. A prevenção envolve:
Vacinação
Antibióticos profiláticos
Vacinas antipneumocócicas
Consulte Vacina pneumocócica para obter mais informações, incluindo indicações, contraindicações e precauções, dosagem e administração e efeitos adversos. Ver também os cronogramas de vacinação para crianças, adolescentes e adultos dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e as recomendações de vacinas pneumocócicas do Comitê Consultivo em Práticas de Imunização (ACIP) (1, 2, 3).
Antibióticos profiláticos
Para crianças < 5 anos de idade com asplenia funcional ou anatômica, recomenda-se penicilina V profilática 2 vezes ao dia. O tempo para quimioprofilaxia é empírico, mas alguns especialistas continuam a profilaxia na infância e na vida adulta para pacientes de alto risco com asplenia. A penicilina V por via oral 2 vezes ao dia é recomendada também para crianças mais velhas ou adolescentes por pelo menos 1 ano após a esplenectomia.
Referências sobre prevenção
1. Centers for Disease Control and Prevention. Vaccines and Immunizations: Child and Adolescent Immunization Schedule by Age (Addendum updated July 2, 2025). July 2, 2025. Accessed July 21, 2025.
2. Centers for Disease Control and Prevention. Vaccines and Immunizations: Adult Immunization Schedule by Age (Addendum updated July 2, 2025). July 2, 2025. Accessed July 21, 2025.
3. Centers for Disease Control and Prevention. ACIP Vaccine Recommendations and Guidelines: ACIP Recommendations: Pneumococcal Vaccine. January 8, 2025. Accessed July 21, 2025.
Pontos-chave
Streptococcus pneumoniae (pneumococos) são diplococos Gram-positivos, alfa-hemolíticos, aeróbios e encapsulados.
Pneumococos provocam muitos casos de otite média e pneumonia e também podem causar meningite, sinusite, endocardite e artrite séptica.
Pacientes com doença crônica do trato respiratório ou asplênia têm alto risco de infecções pneumocócicas graves e invasivas, assim como os pacientes imunocomprometidos.
Tratar infecções ambulatoriais leves ou não complicadas com um betalactâmico, um macrolídeo, doxiciclina ou uma fluoroquinolona mais recente.
Como a resistência aos antibióticos betalactâmicos e macrolídeos está aumentando, os pacientes gravemente enfermos podem ser tratados com uma cefalosporina de geração avançada (p. ex., ceftriaxona ou cefotaxima) com base na concentração inibitória mínima (CIM); outras opções incluem uma fluoroquinolona respiratória (p. ex., moxifloxacina, levofloxacina), uma tetraciclina (p. ex., omadaciclina) ou uma pleuromutilina (p. ex., lefamulina).
Prevenir a infecção pneumocócica em crianças de 2 meses a 6 anos de idade e em adultos de alto risco com a vacinação contra pneumococos.
