A pneumonia eosinofílica aguda é um distúrbio de etiologia variada, caracterizado por infiltração eosinofílica rápida do interstício pulmonar. Desconforto respiratório e progressão rápida para insuficiência respiratória são comuns. O diagnóstico baseia-se em exames de imagem (radiografia e tomografia computadorizada de alta resolução) e lavado broncoalveolar demonstrando eosinófilos. O tratamento quase sempre envolve glicocorticoides sistêmicos e, às vezes, ventilação mecânica. O prognóstico geralmente é bom.
Em comparação à pneumonia eosinofílica crônica, a pneumonia eosinofílica aguda é uma doença aguda que normalmente não recorre. Os dados disponíveis sobre a frequência da doença são limitados, mas acredita-se que seja rara. Um estudo com militares norte-americanos em serviço relatou uma taxa de incidência de aproximadamente 9 por 100.000 ano-pessoa (1). A pneumonia eosinofílica aguda pode ocorrer em qualquer idade, mas frequentemente compromete pacientes entre 20 e 40 anos de idade, com razão homem/mulher de 2:1.
A causa não é clara, mas a pneumonia eosinofílica aguda pode ser uma reação de hipersensibilidade aguda a certos gatilhos como fumos tóxicos inalados, medicamentos ou infecções (2). A exposição à fumaça de cigarro ou a outras formas de fumaça, particularmente em fumantes recentes, bem como à areia fina do deserto ou à poeira suspensa no ar, parecem atuar como gatilhos (1). Mas em muitos casos, nenhuma causa pode ser identificada e é idiopática. Uma história de asma e doença alérgica pode estar presente. Por causa de sua raridade, muitas vezes é um diagnóstico de exclusão.
Referências gerais
1. Shorr AF, Scoville SL, Cersovsky SB, et al. Acute eosinophilic pneumonia among US Military personnel deployed in or near Iraq. JAMA 2004;292(24):2997-3005. doi:10.1001/jama.292.24.2997
2. Allen J, Wert M. Eosinophilic Pneumonias. J Allergy Clin Immunol Pract. 2018;6(5):1455-1461. doi:10.1016/j.jaip.2018.03.011
Sinais e sintomas da pneumonia eosinofílica aguda
A pneumonia eosinofílica aguda provoca doença febril aguda de curta duração (em geral, < 7 dias). Os sintomas são: tosse improdutiva, dispneia, mal-estar, mialgias, sudorese noturna e dor torácica pleurítica.
Os sinais incluem: taquipneia, febre (frequentemente > 38,5 °C), hipóxia, estertores crepitantes inspiratórios bibasais e, ocasionalmente, roncos na expiração forçada.
Pneumonia eosinofílica aguda pode progredir rapidamente para insuficiência respiratória aguda, exigindo ventilação mecânica. Raramente, pode ocorrer choque distributivo (hiperdinâmico).
Diagnóstico da pneumonia eosinofílica aguda
TC de alta resolução (TCAR)
Geralmente hemograma completo (HC) com contagem diferencial e análise do líquido pleural (se houver derrame)
Exclusão de outras causas autoimunes ou infecciosas da pneumonia aguda
Deve-se realizar broncoscopia para obtenção de lavado e, raramente, biópsia
A pneumonia eosinofílica aguda é um diagnóstico de exclusão e exige a ausência de causas conhecidas de pneumonia eosinofílica (p. ex., induzida por fármacos e toxinas, relacionada com infecções helmínticas e fúngicas, granulomatose eosinofílica com poliangiite, síndrome hipereosinofílica, tumores).
Suspeita-se do diagnóstico de pneumonia eosinofílica aguda em pacientes com sintomas de pneumonia aguda que evolui para insuficiência respiratória e não responde a antibióticos. O diagnóstico é baseado nos achados de testes de rotina e confirmado por broncoscopia.
Frequentemente o HC não demonstra contagens de eosinófilos marcadamente elevadas, ao contrário da pneumonia eosinofílica crônica. A velocidade de hemossedimentação de eritrócitos (VHS) e os níveis de IgE podem estar elevados, mas são inespecíficos.
Inicialmente, a radiografia de tórax pode revelar apenas opacidades reticulares sutis ou em vidro fosco (ou atenuação), com frequência com linhas B de Kerley. Também é possível observar opacidades alveolares isoladas (cerca de 25% dos casos), ou reticulares (cerca de 25% dos casos) nas manifestações clínicas iniciais. Diferentemente da pneumonia eosinofílica crônica, na pneumonia eosinofílica aguda as opacidades não estão caracteristicamente localizadas na periferia do pulmão. Ocorrem derrames pleurais em dois terços dos pacientes e, frequentemente, são bilaterais.
A TC de alta resolução é quase sempre anormal, com opacidades reticulares ou em vidro fosco esparsas, aleatórias e bilaterais.
O exame do líquido pleural revela eosinofilia intensa e pH elevado.
Os testes de função pulmonar não são diagnósticos, mas frequentemente demonstram um processo restritivo, com redução da capacidade de difusão pulmonar do monóxido de carbono (DLCO).
Deve-se realizar uma broncoscopia para lavagem se os pacientes estiverem clinicamente estáveis o suficiente para tolerar o procedimento. O lavado broncoalveolar com frequência mostra número e porcentagem elevados de eosinófilos (> 25%). Uma biópsia raramente é necessária e, em geral, é reservada para pacientes que não respondem adequadamente aos glicocorticoides sistêmicos ou naqueles em que uma etiologia infecciosa não pode ser excluída por LBA. As características histopatológicas mais comuns da biópsia envolvem infiltração eosinofílica, com lesão alveolar difusa aguda e em organização.
Tratamento da pneumonia eosinofílica aguda
Glicocorticoides sistêmicos
Às vezes, ventilação mecânica
Alguns pacientes com pneumonia eosinofílica aguda melhoram de maneira espontânea. Contudo, a maioria requer tratamento com altas doses de prednisona oral. Em pacientes com insuficiência respiratória, prefere-se metilprednisolona intravenosa. A ventilação mecânica é iniciada se houver insuficiência respiratória hipoxêmica; a escolha da modalidade ventilatória (como intubação) depende da extensão do envolvimento.
O prognóstico da pneumonia eosinofílica aguda geralmente é bom se o tratamento for iniciado imediatamente; é comum observar uma resposta aos glicocorticoides em 1 a 2 dias e recuperação completa em 4 a 8 semanas. A melhora radiográfica costuma ser mais tardia do que a resposta clínica. Os derrames pleurais regridem de modo mais lento que as opacidades parenquimatosas.
