Hipertensão Portal

PorDanielle Tholey, MD, Sidney Kimmel Medical College at Thomas Jefferson University
Reviewed ByMinhhuyen Nguyen, MD, Fox Chase Cancer Center, Temple University
Revisado/Corrigido: modificado ago. 2025
v897850_pt
Visão Educação para o paciente

A hipertensão portal é a elevação da pressão na veia porta. É causada mais frequentemente por cirrose, esquistossomose (em áreas endêmicas) e trombose da veia porta. Como resultado, pode haver sangramento por varizes esofágicas e encefalopatia portossistêmica. O diagnóstico baseia-se em critérios clínicos, geralmente associados a exames de imagem e endoscopia. O tratamento envolve a prevenção de sangramento gastrointestinal (GI) com endoscopia, medicamentos ou ambos. Às vezes, realiza-se derivação portacava ou transplante de fígado.

(Ver também Estrutura e função hepáticas e Avaliação do paciente com doença hepática.)

A veia porta, formada pela junção das veias mesentérica superior e esplênica, drena sangue do trato gastrointestinal, do baço e do pâncreas para o fígado. Nos sinusoides, canais sanguíneos localizados no reticuloendotélio, o sangue das vênulas portais terminais se mistura com o sangue proveniente das arteríolas hepáticas. O sangue então segue dos sinusoides, via vênulas hepáticas, para a veia cava inferior.

A pressão portal normal é entre 5 e 10 mmHg (7 a 14 cm/H2O), o que excede a pressão da veia cava inferior em 4 a 5 mmHg (gradiente venoso portal). Valores mais elevados são definidos como hipertensão portal.

Etiologia da hipertensão portal

A hipertensão portal resulta principalmente do aumento na resistência ao fluxo de sangue na veia porta. As causas podem ser classificadas como pré-hepáticas (como na trombose da veia porta), intra-hepáticas (como na cirrose ou esquistossomose) e pós-hepáticas (como na obstrução venosa hepática) (1). A cirrose é a causa mais comum de resistência intra-hepática (ver tabela Causas Mais Comuns de Hipertensão Portal para outras causas). O aumento do fluxo portal é uma causa rara, apesar de geralmente contribuir como um dos fatores na hipertensão portal dos cirróticos e nas doenças hematológicas que causam esplenomegalia maciça.

Tabela
Tabela

Referência sobre etiologia

  1. 1. Kaplan DE, Ripoll C, Thiele M, et al. AASLD Practice Guidance on risk stratification and management of portal hypertension and varices in cirrhosis. Hepatology. 2024;79(5):1180-1211. doi:10.1097/HEP.0000000000000647

Fisiopatologia da hipertensão portal

Na cirrose, fibrose tissular e regeneração causam aumento da resistência sinusoidal e das vênulas portais terminais. Entretanto, outros fatores potencialmente reversíveis também contribuem, como contratilidade das células sinusoidais, produção de derivados vasoativos (p. ex., endotelinas e óxido nítrico), vários mediadores sistêmicos determinantes da resistência arteriolar e, possivelmente, edema hepatocitário. Outras causas e fatores contribuintes para cirrose podem afetar os vasos sanguíneos pré-hepáticos (p. ex., trombose da veia porta), a vasculatura pré ou pós-sinusoidal dentro do próprio fígado (p. ex., fibrose pré-sinusoidal na esquistossomose), ou os vasos sanguíneos pós-hepáticos ou o próprio coração (p. ex., trombose da veia hepática).

Com o decorrer do tempo, a hipertensão portal leva à formação de colaterais venosos portossistêmicos. Podem diminuir ligeiramente a pressão na veia porta, mas podem causar complicações. Vasos submucosos engurgitados (varizes) na porção distal do esôfago e, algumas vezes, no fundo gástrico, podem romper causando sangramento gastrointestinal súbito e catastrófico. O sangramento raramente acontece, a não ser que o gradiente venoso portal seja > 12 mmHg. Congestão vascular mucosa gástrica (gastropatia hipertensiva portal) pode causar sangramento digestório agudo ou crônico, independentemente da presença de varizes. Colaterais de parede abdominal visíveis são comuns, mas veias que se espalham a partir do umbigo (cabeça de Medusa) são mais raras e indicam fluxo intenso nas veias umbilicais e periumbilicais. Colaterais venosos perirretais podem se transformar em vasos varicosos e sangrar.

Os vasos colaterais portossistêmicos desviam o fluxo venoso portal que iria para o fígado. Portanto, menos fluxo sanguíneo alcança o fígado quando ocorre aumento do fluxo portal (reserva hepática diminuída). Além disso, substâncias tóxicas do intestino, incluindo amônia, são derivadas diretamente para a circulação sistêmica, contribuindo para encefalopatia portossistêmica. Congestão venosa consequente à hipertensão portal em órgãos viscerais contribui para o aparecimento de ascite, pela alteração nas forças de Starling. Esplenomegalia e hiperesplenismo ocorrem com frequência como resultado do aumento da pressão na veia esplênica. Trombocitopenia, leucopenia e, mais raramente, anemia hemolítica podem ocorrer.

A hipertensão portal é comumente associada a um estado circulatório hiperdinâmico. Os mecanismos são complexos e parecem envolver alterações no tônus simpático, produção de óxido nítrico e de outros vasodilatadores endógenos e aumento da atividade de fatores humorais (p. ex., glucagon).

Sinais e sintomas de hipertensão portal

A hipertensão portal é assintomática; os sinais e sintomas resultam de suas complicações. O mais perigoso é sangramento varicoso agudo. Nesse caso, os pacientes apresentam tipicamente sangramento maciço do trato gastrointestinal superior, não acompanhado de dor. O sangramento associado à gastropatia hipertensiva geralmente ocorre de modo crônico ou subagudo. Ascite, esplenomegalia o encefalopatia portossistêmica podem estar presentes.

Diagnóstico da hipertensão portal

  • Principalmente história e exame físico

  • Às vezes, ultrassonografia, TC, endoscopia ou medida transjugular direta do gradiente de pressão venosa portal

Presume-se que haja hipertensão porta quando um paciente com doença hepática crônica tem circulação colateral, esplenomegalia, ascite ou encefalopatia portossistêmica. A prova requer a medição do gradiente de pressão venosa hepática, que se aproxima da pressão portal, por um catéter transjugular; no entanto, esse procedimento é invasivo e geralmente não é realizado. Exames de imagem podem ajudar quando há suspeita de cirrose. A ultrassonografia ou a TC geralmente revelam colaterais intra-abdominais dilatadas e o Doppler pode determinar tanto a patência quanto o fluxo portal.

Varizes esofagogástricas e gastropatia hipertensiva portal são mais bem diagnosticadas pela endoscopia, que pode, inclusive, identificar achados preditores de hemorragia varicosa esofagogástricas (p. ex., presença de manchas avermelhadas vivas).

Tratamento da hipertensão portal

  • Programa de terapia endoscópica e vigilância

  • Betabloqueadores não seletivos com ou sem mononitrato de isossorbida

  • Eventualmente, derivações portossistêmicas

Quando possível, o tratamento da doença de base é realizado.

Em pacientes com varizes esofagogástricas que apresentaram sangramento, a combinação de tratamento endoscópico e farmacológico reduz a mortalidade e o risco de ressangramento mais do que cada terapia isoladamente. Realiza-se uma série de sessões de ligadura endoscópica para obliterar varizes residuais, então faz-se vigilância endoscópica periódica para identificar e tratar varizes recorrentes. Em geral, o tratamento farmacológico a longo prazo envolve betabloqueadores não seletivos; esses fármacos reduzem a pressão portal principalmente pela diminuição no fluxo portal, embora os efeitos variem. Os agentes incluem propranolol, nadolol, timolol e carvedilol, com dosagem titulada para diminuir a frequência cardíaca em aproximadamente 25%. Em pacientes com cirrose compensada, o carvedilol é o betabloqueador de primeira linha preferido, com dosagem inicial e titulação conforme tolerado pela pressão arterial (1). Os betabloqueadores são geralmente administrados em doses menores do que as utilizadas para insuficiência cardíaca, a menos que exista hipertensão arterial sistêmica concomitante ou doença cardíaca. A associação de mononitrato de isossorbida pode ajudar a reduzir ainda mais a pressão portal (2, 3).

Nos pacientes com varizes esofagogástricas que ainda não sangraram (isto é, para profilaxia primária), os desfechos são semelhantes com o tratamento com betabloqueadores ou terapia endoscópica.

Pacientes que não respondem de maneira satisfatória a esses tratamentos são candidatos a serem submetidos à TIPS ou a um derivação portocava cirúrgico. No TIPS, a derivação é criada inserindo um stent entre a circulação venosa portal e hepática dentro do fígado (1). Apesar de o TIPS provocar menos mortes que a derivação sistêmica, principalmente em casos de sangramento agudo digestório, a manutenção da persistência pode requerer procedimentos periódicos por apresentar, frequentemente, estenoses e tromboses com o passar do tempo. Os benefícios a longo prazo são desconhecidos. O transplante hepático pode ser indicado para alguns pacientes.

Em casos de sangramento decorrente de gastropatia hipertensiva portal, podem ser utilizados betabloqueadores para reduzir a pressão portal. Pode-se considerar derivação se os medicamentos não são eficazes, mas os resultados podem ser menos favoráveis do que nos casos de sangramento varicoso esofagogástrico.

Como é raro que o hiperesplenismo cause problemas clínicos, geralmente ele não requer nenhum tratamento específico, e deve-se evitar a esplenectomia.

Referências sobre tratamento

  1. 1. Boyer TD, Haskal ZJ; American Association for the Study of Liver Diseases. The Role of Transjugular Intrahepatic Portosystemic Shunt (TIPS) in the Management of Portal Hypertension: update 2009. Hepatology. 2010 Jan;51(1):306. doi: 10.1002/hep.23383

  2. 2. Albillos A, Zamora J, Martínez J, et al. Stratifying risk in the prevention of recurrent variceal hemorrhage: Results of an individual patient meta-analysis. Hepatology. 2017;66:1219-1231. doi:10.1002/hep.29267

  3. 3. Kaplan DE, Ripoll C, Thiele M, et al. AASLD Practice Guidance on risk stratification and management of portal hypertension and varices in cirrhosis. Hepatology. 2024;79(5):1180-1211. doi:10.1097/HEP.0000000000000647

Prognóstico para hipertensão portal

A mortalidade durante hemorragia varicosa aguda é de aproximadamente 15 a 20% e a mortalidade em 6 semanas varia até 43% (1, 2, 3). O prognóstico é influenciado pelo grau de reserva hepática e a intensidade do sangramento. Para os sobreviventes, o risco de sangramento no próximo ano é de até 60% sem profilaxia (4). Tratamentos endoscópicos ou farmacológicos contínuos reduzem o risco de ressangramento, mas diminuem a mortalidade a longo prazo (> 60% em 5 anos [5]) apenas marginalmente. Para o tratamento do sangramento agudo, ver Visão geral da hemorragia gastrointestinal e Varizes: Tratamento.

Referências sobre prognóstico

  1. 1. Reverter E, Tandon P, Augustin S, et al. A MELD-based model to determine risk of mortality among patients with acute variceal bleeding. Gastroenterology. 2014;146(2):412-19.e3. doi:10.1053/j.gastro.2013.10.018

  2. 2. Mertens A, Essing T, Kunstein A, et al. Acute Variceal Hemorrhage in Germany-A Nationwide Study of 65,357 Hospitalized Cases: Variceal Hemorrhage in Germany. Can J Gastroenterol Hepatol. 2024;2024:5453294. Publicado em 2024 Out 24. doi:10.1155/2024/545329

  3. 3. Garcia-Tsao G, Abraldes JG, Rich NE, et al. AGA Clinical Practice Update on the Use of Vasoactive Drugs and Intravenous Albumin in Cirrhosis: Expert Review. Gastroenterology. 2024;166(1):202-210. doi:10.1053/j.gastro.2023.10.016

  4. 4. Kaplan DE, Ripoll C, Thiele M, et al. AASLD Practice Guidance on risk stratification and management of portal hypertension and varices in cirrhosis. Hepatology. 2024;79(5):1180-1211. doi:10.1097/HEP.0000000000000647

  5. 5. Cho H, Nagata N, Shimbo T, et al. Recurrence and prognosis of patients emergently hospitalized for acute esophageal variceal bleeding: A long-term cohort study. Hepatol Res. 2016;46(13):1338-1346. doi:10.1111/hepr.12692

Pontos-chave

  • É causada mais frequentemente pela cirrose (em países desenvolvidos), pela esquistossomíase (na Europa e na América do Norte), ou por alterações vasculares hepáticas.

  • Complicações podem incluir sangramento varicoso agudo (com alta taxa de mortalidade), ascite, esplenomegalia e encefalopatia portossistêmica.

  • Diagnosticar a hipertensão portal com base em achados clínicos.

  • Para ajudar a evitar sangramento varicoso agudo, iniciar vigilância periódica e sessões de bandagem endoscópica.

  • Para ajudar a prevenir ressangramento, tratar com betabloqueadores não seletivos com ou sem mononitrato de isossorbida e/ou derivação portossistêmica intra-hepático transjugular (TIPS, na sigla em inglês).

quizzes_lightbulb_red
Test your KnowledgeTake a Quiz!
ANDROID iOS
ANDROID iOS
ANDROID iOS