Linfocitopenia

PorDavid C. Dale, MD, University of Washington
Revisado/Corrigido: abr. 2023
Visão Educação para o paciente

Consiste na contagem total de linfócitos < 1.000/mcL (< 1 × 10/L) em adultos ou < 3.000/mcL (< 3 × 10/L) em crianças com < 2 anos de idade. As sequelas incluem infecções oportunistas e aumento no risco de neoplasia e distúrbios autoimunes. Se o hemograma completo revela linfocitopenia, deve-se realizar testes para imunodeficiência e análise das subpopulações de linfócitos, geralmente após o paciente se recuperar de qualquer evento agudo. O tratamento é direcionado à doença subjacente.

Linfócitos são componentes do sistema imunitário celular e incluem células T, células B e células natural killer (NK), todas presentes no sangue periférico; cerca de 75% dos linfócitos são células T, 20% células B e 5% células NK. Como os linfócitos representam apenas 20 a 40% do total da contagem de leucócitos, a linfocitopenia pode não ser notada se a contagem de leucócitos for checada sem exame diferencial.

A contagem normal de linfócitos em adultos é de 1.000 a 4.800/mcL (1 a 4,8 × 109/L; em crianças < 2 anos, a contagem normal é 3.000 a 9.500/mcL (3 a 9,5 × 109/L). Aos 6 anos de idade, o limite inferior da contagem normal é de 1.500/mcL (1,5 × 109/L). Cada laboratório podem ter uma discreta diferença entre os valores de referência.

Quase 65% das células T sanguíneas são células T CD4+ (helpers). Assim, a maioria dos pacientes com linfopenia tem redução do número absoluto de células T, especialmente do número de células T CD4+. O número médio de células T CD4+ no sangue de adultos é de 1.100/mcL (faixa de 300 a 1.300/mcL [1,1 × 109/L de 0,3 a 1,3 × 109/L]), e o número médio de células de outro subgrupo principal de células T, as células T CD8+ (supressoras) é de 600/mcL (faixa de 100 a 900/mcL).

E importante observar que os linfócitos no sangue representam apenas uma pequena proporção da reserva total de linfócitos e a contagem de linfócitos pode nem sempre se correlacionar com a composição e a quantidade de linfócitos em outros tecidos linfoides (p. ex., linfonodos, baço) e não linfoides (p. ex., pulmão, fígado). Da mesma maneira, as deficiências de subconjuntos específicos de linfócitos (p. ex., células CD8+, B, NK) também podem passar despercebidas.

Etiologia da linfocitopenia

Linfocitopenia pode ser

  • Adquirida

  • Hereditária

Linfocitopenia adquirida

Linfopenia adquirida pode ocorrer em algumas outras doenças (ver tabela Causas de linfocitopenia).

As causas mais comuns incluem

  • Desnutrição proteico-calórica

  • Infecção pelo HIV

  • Covid-19

  • Certas outras infecções virais

A desnutrição proteico-calórica consiste na causa mais conhecida mundialmente.

A linfocitopenia é frequentemente transitória quando causada por muitas infecções virais e bacterianas, sepse, tratamento com corticoides e respostas ao estresse.

Pacientes com aids rotineiramente têm linfocitopenia, decorrente da destruição dos células T CD4+ infectados pelo HIV (1). A linfocitopenia também pode refletir a produção insuficiente de linfócitos, em razão da destruição da arquitetura tímica ou linfoide. Na viremia aguda por HIV ou outros agentes, os linfócitos podem sofrer destruição acelerada decorrente de infecções ativas pelo vírus, podem estar restritos ao baço ou aos linfonodos, ou pode migrar para o trato respiratório.

Pacientes com covid-19 também costumam apresentar linfocitopenia (35 a 83% dos indivíduos) (2). A contagem mais baixa de linfócitos indica prognóstico desfavorável e maior probabilidade de necessidade de internação em UTI e morte pela doença. A causa da linfocitopenia não está completamente compreendida, mas a covid-19 pode infectar diretamente os linfócitos, sendo provável a ocorrência de apoptose das células por citocinas.

A linfopenia pode ocorrer em linfomas, sarcoidose, doenças autoimunes como lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide ou miastenia grave e enteropatia perdedora de proteínas causada por doença gastrointestinal ou pericardite constritiva.

Linfocitopenia iatrogênica é causada por quimioterapia citotóxica, radioterapia ou administração de globulina antilinfocítica (ou outros anticorpos contra linfócitos como o rituximabe). O tratamento de longo prazo para psoríase, utilizando psoraleno e irradiação ultravioleta A pode destruir as células T. A terapia a longo prazo com glicocorticoides pode induzir à destruição de linfócitos, como pode síndrome de Cushing.

Linfocitopenia hereditária

A linfopenia hereditária (ver tabela Causas de linfocitopenia) é mais comum em

Pode ocorrer em doenças por imunodeficiência hereditárias e nas doenças que prejudicam a produção de linfócitos (3). Outros distúrbios hereditários, como síndrome de Wiskott-Aldrich, deficiência de adenosina desaminase e nucleosídeo purina fosforilase, podem envolver a destruição acelerada da célula T. A síndrome WHIM (verrugas, hipogamaglobulinemia, infecções e mielocatexia) é uma doença hereditária rara caracterizada por neutropenia e linfocitopenia decorrente da migração anormal de leucócitos com retenção de neutrófilos maduros na medula óssea. Em muitos desses distúrbios, a produção de anticorpos também está deficiente.

Tabela
Tabela

Referências sobre etiologia

  1. 1. Moir S, Chun TW, Fauci AS: Pathogenic mechanisms of HIV disease. Annu Rev Pathol 6:223-6248, 2011. doi: 10.1146/annurev-pathol-011110-130254

  2. 2. Agbuduwe C, Basu S: Haematological manifestations of COVID-19: From cytopenia to coagulopathy. Eur J Haematol 105(5):540-546, 2020. doi: 10.1111/ejh.13491

  3. 3. Puck JM: Newborn screening for severe combined immunodeficiency and T-cell lymphopenia Immunol Rev 287(1):241-252, 2019. doi: 10.1111/imr.12729.

Sinais e sintomas da linfocitopenia

A linfocitopenia, em si, geralmente não causa sintomas. Entretanto, os resultados de uma doença associada podem incluir

  • Ausência ou diminuição do volume das tonsilas ou dos linfonodos indicando imunodeficiência celular

  • Anormalidades cutâneas (p. ex., alopecia, eczema, pioderma e telangiectasia, verrugas)

  • Evidências de doença hematológica (p. ex., palidez, petéquias, icterícia e úlceras orais)

  • Linfadenopatia generalizada e esplenomegalia, que podem sugerir infecção pelo HIV ou linfoma de Hodgkin

Pacientes com linfopenia têm infecções recidivantes ou são infectados por microrganismos incomuns. Pneumocystis jirovecii, citomegalovírus, rubeola e pneumonia por varicela são, com frequência, fatais. A linfocitopenia também é um fator de risco do desenvolvimento de cânceres e doenças autoimunes.

Diagnóstico da linfocitopenia

  • Suspeita clínica (infecções repetidas ou incomuns)

  • Hemograma completo com diferencial

  • Contagem de subpopulações de linfócitos e níveis de imunoglobulina

Suspeita-se de linfocitopenia em paciente com infecções recidivantes virais, bacterianas, fúngicas ou parasíticas, mas é quase sempre detectada incidentalmente no hemograma. P. jirovecii, citomegalovírus, rubeola ou pneumonia por varicela com linfocitopenia sugere imunodeficiência.

As subpopulações de linfócitos são medidas em pacientes com linfocitopenia. A mensuração dos níveis de imunoglobulina também deve ser feita para avaliar a produção de anticorpos. Pacientes com história de infecção de repetição devem passar por uma avaliação laboratorial completa de imunodeficiência, mesmo que os testes de rastreamento iniciais estejam normais.

Tratamento da linfocitopenia

  • Tratamento das infecções associadas

  • Tratamento da doença subjacente

  • Algumas vezes, imunoglobulina IV ou por via subcutânea

  • Possivelmente transplante de células-tronco hematopoiéticas

Nas linfocitopenias adquiridas, quase sempre o quadro regride com a remoção do fator subjacente ou por meio do tratamento bem-sucedido da doença subjacente. Há indicação de imunoglobulina IV ou por via subcutânea se os pacientes tiverem deficiência crônica de imunoglobulina G, linfopenia e infecções recorrentes. Pode-se considerar o transplante de células-tronco hematopoiéticas para todos os pacientes com imunodeficiências congênitas e este procedimento pode ser curativo.

Evitar a administração de vacinas vivas (por causa do risco de infecção) nesses pacientes. Vacinas inativas ou recombinantes são seguras, mas sua eficácia é variável dependendo do tipo e da gravidade da linfocitopenia.

Pontos-chave

  • A linfocitopenia ocorre mais frequentemente por causa da aids e recentemente covid-19, ou desnutrição, mas também pode ser hereditária ou causada por várias infecções, fármacos ou doenças autoimunes.

  • Os pacientes têm infecções virais, bacterianas, fúngicas ou parasitárias recorrentes.

  • Deve-se medir as subpopulações de linfócitos e os níveis de imunoglobulina.

  • O tratamento geralmente é direcionado à causa, mas ocasionalmente a administração de imunoglobulina IV ou por via subcutânea ou, nos pacientes com imunodeficiência congênita, transplante de células-tronco pode ser útil.

  • Evitar administrar vacinas vivas nesses pacientes.

quizzes_lightbulb_red
Test your KnowledgeTake a Quiz!
Baixe o aplicativo  do Manual MSD!ANDROID iOS
Baixe o aplicativo  do Manual MSD!ANDROID iOS
Baixe o aplicativo  do Manual MSD!ANDROID iOS