Uso de álcool

PorGerald F. O’Malley, DO, Grand Strand Regional Medical Center;
Rika O’Malley, MD, Grand Strand Medical Center
Revisado/Corrigido: dez 2022
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O álcool (etanol) é um depressivo (desacelera o funcionamento do cérebro e do sistema nervoso). Consumir grandes quantidades rapidamente ou com frequência pode causar problemas de saúde, incluindo danos a órgãos, coma e morte.

  • A genética e as características pessoais podem exercer uma função no desenvolvimento de transtornos relacionados ao álcool.

  • Beber muito álcool pode tornar as pessoas sonolentas ou agressivas, prejudicar a coordenação e a função mental e interferir no trabalho, nos relacionamentos familiares e em outras atividades.

  • Beber muito álcool por um longo período pode fazer com que as pessoas se tornem dependentes do álcool e danifica o fígado, o cérebro e o coração.

  • É possível que os médicos usem questionários ou determinem o teor de álcool no sangue para ajudar a identificar pessoas com um transtorno relacionado ao uso do álcool.

  • O tratamento imediato para a overdose pode incluir assistência respiratória, hidratação, tiamina e, às vezes, outras vitaminas (para corrigir as deficiências relacionadas ao uso crônico do álcool) e, para a abstinência, benzodiazepínicos.

  • Programas de desintoxicação e de reabilitação podem ajudar as pessoas com transtornos graves relacionados ao álcool

(consulte também Uso e abuso de drogas).

Aproximadamente 50% dos adultos nos Estados Unidos bebem álcool, 20% já beberam e não bebem mais e entre 30% e 35% nunca beberam álcool na vida. Beber grandes quantidades de álcool (mais de dois a seis drinques por dia) por longos períodos pode danificar vários órgãos, especialmente o fígado, o coração e o cérebro. No entanto, beber uma quantidade moderada de álcool pode reduzir o risco de morte por doenças cardíacas e dos vasos sanguíneos (cardiovasculares). No entanto, beber álcool com essa finalidade não é recomendado, especialmente quando outras medidas mais seguras e mais eficazes estão disponíveis.

Transtornos relacionados ao álcool

A maioria das pessoas não consome álcool suficiente, ou não consome com frequência suficiente para prejudicar a saúde ou interferir nas atividades diárias. No entanto, aproximadamente 14% dos adultos dos Estados Unidos têm problema de abuso do álcool (transtorno relacionado ao uso de álcool, também conhecido como alcoolismo). Os homens são duas a quatro vezes mais propensos a desenvolver um transtorno relacionado ao uso de álcool que as mulheres. Os transtornos relacionados ao uso de substâncias e ao álcool são aqueles em que a pessoa continua a usar uma substância mesmo quando esse uso lhe causa problemas.

O uso do álcool pode dar origem a muitos comportamentos e efeitos destruidores:

  • Dirigir quando bêbado

  • Lesões físicas causadas por quedas, brigas ou acidentes de trânsito

  • Violência, incluindo violência doméstica

A embriaguez pode destruir a família e os relacionamentos sociais. A taxa de divórcio é 50% maior quando um dos cônjuges bebe muito. O absentismo extremo do trabalho pode levar ao desemprego.

Tabela

Você sabia que...

  • Beber quantidades muito grandes de álcool pode provocar a morte prematura.

Populações especiais

Crianças muito novas que bebem álcool (geralmente por acidente) têm um risco significativo de apresentar um nível muito baixo de glicose no sangue e coma.

As mulheres podem ser mais sensíveis aos efeitos do álcool que os homens, mesmo levando em consideração o peso.

Os idosos podem ser mais sensíveis aos efeitos do álcool que os adultos mais jovens.

As mulheres que bebem durante a gestação têm um risco maior de ter um bebê com síndrome alcoólica fetal.

Embora a sensibilidade aos efeitos do álcool possa variar com a idade, as pessoas de todas as idades são suscetíveis a transtornos relacionados ao uso de álcool. O uso e abuso de drogas e substâncias entre os adolescentes têm sido cada vez mais vinculados a consequências particularmente desastrosas. As pessoas que começam a beber em idade precoce (principalmente na pré-adolescência) são muito mais propensas a se tornar dependentes do álcool quando adultos.

Causas do transtorno relacionado ao uso de álcool

O transtorno relacionado ao uso de álcool envolve a hereditariedade até certo ponto. Os familiares consanguíneos de pessoas com transtorno relacionado ao uso de álcool estão mais propensas a ter um transtorno relacionado ao uso de álcool que o resto da população geral, e os filhos biológicos de pessoas com transtorno relacionado ao uso de álcool estão mais propensos a ter o transtorno relacionado ao uso de álcool que os filhos adotivos.

Algumas pesquisas sugerem que as pessoas com risco de ter um transtorno relacionado ao uso do álcool ficam intoxicadas com menos facilidade que aquelas que não são bebedores-problema. Ou seja, seus cérebros são menos suscetíveis aos efeitos do álcool. Os parentes consanguíneos de pessoas com transtorno relacionado ao uso de álcool podem ter essa característica.

Determinados fatores e características de personalidade podem predispor a pessoa a ter um transtorno relacionado ao uso de álcool. As pessoas com transtorno relacionado ao uso de álcool tendem a se sentir isoladas, solitárias, tímidas, deprimidas ou hostis. Elas podem agir de forma autodestrutiva. Não se sabe se essas características são a causa ou o resultado do transtorno relacionado ao uso de álcool.

Sintomas do transtorno relacionado ao uso de álcool

O álcool causa três tipos básicos de problemas:

  • Os que ocorrem imediatamente quando a pessoa bebe demais em um momento específico (intoxicação e overdose)

  • Os que ocorrem durante um longo período de tempo quando a pessoa consome, regularmente, quantidades excessivas

  • Os que ocorrem quando o uso intenso e prolongado é interrompido repentinamente (abstinência)

Efeitos imediatos

O álcool tem efeitos quase imediatos, pois é absorvido mais rápido do que é processado (metabolizado) e eliminado do organismo. Como resultado os níveis de álcool no sangue aumentam rapidamente. Os efeitos podem aparecer minutos depois de se ter bebido.

Os efeitos variam muito de pessoa para pessoa. Por exemplo, a pessoa que bebe regularmente (duas ou mais doses por dia) é menos afetada por uma determinada quantidade de álcool, do que quem normalmente não bebe ou quem bebe apenas socialmente, um fenômeno denominado de tolerância. A pessoa que desenvolveu tolerância ao álcool também pode ser tolerante a outras drogas que diminuem a função cerebral, como barbitúricos e benzodiazepínicos.

Os efeitos variam de acordo com nível de álcool na corrente sanguínea, que geralmente é expresso, nos Estados Unidos, em termos de miligramas por decilitro (1/10 de litro de sangue), abreviado como mg/dl, e em outras partes do mundo, na forma de milimoles por litro, abreviado mmol/l. O teor de álcool no sangue efetivamente necessário para causar sintomas varia muito de acordo com a tolerância, porém, os seguintes sintomas são comuns em usuários característicos que ainda não criaram tolerância:

  • 20 a 50 mg/dl (4,3 a 10,9 mmol/l): tranquilidade, leve sonolência, alguma redução na coordenação motora fina e algum prejuízo da capacidade de dirigir

  • 50 a 100 mg/dl (10,9 a 21,7 mmol/l): capacidade de discernimento prejudicada e uma redução maior da coordenação

  • 100 a 150 mg/dl (21,7 a 32,6 mmol/l): passo irregular, fala mal articulada, perda de inibições comportamentais e desgaste da memória

  • 150 a 300 mg/dl (32,6 a 65,1 mmol/l): delirium e letargia (provável)

  • 300 a 400 mg/dl (65,1 a 86,8 mmol/l): geralmente perda de consciência

  • 400 mg/dl (86,8 mmol/l): possivelmente fatal

O vômito é comum no caso de intoxicação por álcool moderada a grave. Como a pessoa pode ficar muito sonolenta, o material vomitado pode entrar nos pulmões (ser aspirado), levando, às vezes, à pneumonia e à morte.

Nos Estados Unidos, todos os estados consideram ser um crime dirigir com um teor de álcool no sangue (TAS) de 80 mg/dl ou superior (17,4 mmol/l; 0,08%), porém, as leis e penalidades específicas variam de um estado para outro.

Overdose

Em pessoas que não bebem regularmente, um teor de álcool no sangue entre 300 a 400 mg/dl (65,1 a 86,8 mmol/L) costuma provocar a perda da consciência, e um teor de álcool no sangue de ≥ 400 mg/dl ( 86,8 mmol/L) pode ser letal. A morte pode ocorrer devido a um comprometimento da respiração ou ritmos cardíacos anormais (arritmia), especialmente quando grandes quantidades de álcool são consumidas rapidamente. Beber grandes quantidades de álcool pode causar pressão arterial baixa e baixos níveis de glicose no sangue.

Os efeitos de um nível específico no sangue diferem nos bebedores crônicos. Muitos parecem não ficar afetados e parecem funcionar normalmente com teores relativamente altos, como 300 a 400 mg/dl (65,1 a 86,8 mmol/L).

O álcool, mesmo em doses moderadas, interfere com a formação das memórias de curto prazo, o que pode causar amnésia. A pessoa intoxicada pode parecer alegre e falante, mas lembrará de pouca coisa do período de amnésia.

Efeitos no longo prazo

A ingestão prolongada de quantidades excessivas de álcool danifica muitos órgãos, principalmente o fígado (doença hepática alcoólica). Como a pessoa pode não ter uma alimentação adequada, também pode desenvolver deficiências graves de vitaminas e outras deficiências nutricionais.

A doença hepática alcoólica inclui inflamação do fígado (hepatite), esteatose hepática e fibrose hepática (cirrose). Um fígado lesionado pelo álcool tem menos capacidade de eliminar do organismo os produtos de resíduos tóxicos, o que pode provocar uma disfunção cerebral (encefalopatia hepática). As pessoas que desenvolvem encefalopatia hepática tornam-se desanimadas, sonolentas, entorpecidas e confusas e podem entrar em coma. O coma hepático é letal e precisa de tratamento imediato.

Geralmente, pessoas com insuficiência hepática também apresentam tremor adejante (asterixe): quando braços e mãos são estendidos, as mãos caem repentinamente e, em seguida, retomam sua posição original. O tremor adejante hepático se assemelha, mas não é um tremor.

A cirrose hepática causa um aumento da pressão nos vasos sanguíneos ao redor do fígado (hipertensão portal). O acúmulo da pressão nesses vasos sanguíneos pode causar o inchaço dos vasos sanguíneos no estômago e esôfago (varizes). Esses vasos inchados podem se romper e sangrar abundantemente, o que faz com que a pessoa vomite sangue. Essa hemorragia é um problema grande, pois o fígado lesionado não produz o suficiente das substâncias que fazem o sangue coagular.

O consumo excessivo de álcool pode causar inflamação do pâncreas (pancreatite). A pessoa apresenta dor abdominal grave com vômito.

O consumo excessivo de álcool pode também causar danos aos nervos e a partes do cérebro. Quando os nervos dos braços e das pernas (nervos periféricos) são afetados, é possível que a pessoa perca a sensação ou sinta dormência nas mãos e nos pés. A pessoa pode desenvolver um tremor crônico. O álcool pode danificar a parte do cérebro que coordena o movimento (cerebelo), dando origem a movimentos mal controlados de braços e pernas e afetar o equilíbrio. O uso pesado e prolongado do álcool pode resultar em danos irreversíveis ao cérebro e psicose. Pode também lesionar o revestimento (bainha de mielina) dos nervos no cérebro, resultando em um distúrbio raro denominado doença de Marchiafava-Bignami. As pessoas com esse distúrbio tornam-se agitadas, confusas e dementes. Algumas apresentam convulsões e ficam em estado de coma antes de morrer.

O uso pesado e prolongado do álcool pode causar uma deficiência grave de tiamina, um tipo de vitamina B. Essa deficiência pode dar origem à encefalopatia de Wernicke (um quadro clínico caracterizado por confusão, incapacidade de coordenar a caminhada ou dificuldade em coordenar o movimento dos olhos), que, se não for imediatamente tratada, pode dar origem à síndrome de Korsakoff, coma ou até mesmo morte.

O consumo de álcool pode piorar a depressão existente, e as pessoas com transtorno relacionado ao uso de álcool são mais propensas a ficar deprimidas que aquelas que não têm problema com bebida. Uma vez que os transtornos relacionados ao uso de álcool, sobretudo as bebedeiras, geralmente provocam fortes sentimentos de remorso durante os períodos secos, as pessoas com transtorno relacionado ao uso de álcool são propensas a cometer suicídio, mesmo durante os períodos de abstinência.

O consumo de álcool por mulheres grávidas pode provocar problemas graves no feto em desenvolvimento, incluindo baixo peso no nascimento, baixo comprimento do corpo, tamanho pequeno da cabeça, danos cardíacos, danos musculares e pouca inteligência ou deficiência intelectual. Esses efeitos são chamados de síndrome alcoólica fetal. Evitar o álcool é, portanto, recomendado durante a gestação.

Tabela

Sintomas de abstinência

Se uma pessoa que bebe continuamente durante um certo tempo deixar de beber repentinamente, é provável que ocorram sintomas de abstinência. Por exemplo, a abstinência pode ocorrer durante hospitalização (por exemplo, para cirurgia eletiva), pois os bebedores não têm acesso ao álcool.

Os sintomas de abstinência variam de leves a graves. A abstinência grave não tratada do álcool pode ser fatal.

A abstinência leve a moderada geralmente tem início no prazo de seis horas após a pessoa parar de beber. Os sintomas leves incluem tremor, dor de cabeça, fraqueza, transpiração e náuseas. Algumas pessoas sofrem convulsões (chamadas de epilepsia alcoólica ou convulsões por álcool).

A alucinose alcoólica pode ocorrer em bebedores contumazes que param de beber. Essas pessoas ouvem vozes que parecem acusatórias e ameaçadoras, provocando apreensão e terror. A alucinose alcoólica pode durar dias e pode ser controlada com medicamentos antipsicóticos, como a cloropromazina ou a tioridazina.

Delirium tremens (DTs) é o grupo mais sério de sintomas de abstinência. Normalmente, o delirium tremens não começa imediatamente. Em vez disso, aparece aproximadamente 48 a 72 horas depois que a pessoa para de beber. A pessoa fica inicialmente nervosa. Depois, ela se torna cada vez mais confusa, não dorme bem, tem pesadelos assustadores, transpira excessivamente e se torna muito deprimida. Ocorre um aceleramento do ritmo cardíaco e um aumento da pressão arterial. Pode apresentar febre. O episódio pode agravar-se com alucinações fugazes, com ilusões que causam medo e inquietação e desorientação com alucinações visuais que podem aterrorizar. Os objetos vistos na luz fraca podem ser muito aterrorizantes e o indivíduo fica extremamente confuso. O equilíbrio é prejudicado, algumas vezes fazendo com que a pessoa acredite que o chão está se movendo, que as paredes estão caindo ou que o quarto está girando. À medida que o delirium progride o tremor persistente aparece nas mãos, estendendo-se por vezes à cabeça e ao corpo. A maioria das pessoas se torna gravemente descoordenada. O delirium tremens pode ser fatal, principalmente quando não é tratado.

Triagem quanto à presença do transtorno relacionado ao uso de álcool

Algumas pessoas podem não saber que o quanto bebem pode ser um problema. Outros sabem, mas não querem admitir que têm um problema com álcool. Portanto, os profissionais da área da saúde não esperam que as pessoas peçam ajuda. Eles podem suspeitar de um transtorno relacionado ao uso de álcool em pessoas cujo comportamento muda inexplicavelmente ou cujo comportamento se torna autodestrutivo. Os médicos também podem suspeitar da presença de um transtorno relacionado ao uso de álcool quando problemas de saúde, como hipertensão arterial ou inflamação do estômago (gastrite), não respondem ao tratamento habitual.

Muitos profissionais da área da saúde periodicamente fazem essas triagens em busca de problemas relacionados ao álcool, perguntando às pessoas sobre seu consumo de álcool. As perguntas podem incluir:

  • Quantos dias por semana, em média, você bebe álcool?

  • Quando bebe, em um dia comum, quantas bebidas alcoólicas você ingere?

  • Qual o número máximo de doses que consumiu, numa ocasião qualquer, no mês passado?

Se o médico suspeitar de um transtorno relacionado ao uso de álcool, é possível que ele faça perguntas mais específicas sobre as consequências da bebida, como as perguntas a seguir:

  • Alguma vez já sentiu que deveria diminuir o consumo de bebidas alcoólicas?

  • Você se incomoda que o critiquem por estar bebendo?

  • Em algum momento você se sentiu culpado por beber?

  • Alguma vez você tomou uma bebida ao acordar (como a primeira coisa que faz de manhã) para acalmar os nervos ou para se recuperar de uma ressaca?

Duas ou mais respostas positivas a essas perguntas indicam um possível transtorno relacionado ao uso de álcool.

Diagnóstico do transtorno relacionado ao uso de álcool

  • Relato próprio de intoxicação por álcool

  • Exames de sangue

  • Questionários de avaliação

A intoxicação aguda por álcool é normalmente evidente, com base no que a própria pessoa ou os amigos informam ao médico e também com base nos resultados do exame físico. Se não estiver claro por que uma pessoa está agindo de modo anormal, o médico talvez faça exames para descartar outras possíveis causas para os sintomas, como, por exemplo, níveis baixos de glicose no sangue ou traumatismo craniano.

Os exames possivelmente incluem exames de sangue para determinar a quantidade de álcool e o nível de glicose no sangue, exames de urina para detectar determinadas substâncias tóxicas e uma tomografia computadorizada (TC) da cabeça. Os médicos não supõem que, simplesmente porque a pessoa tem álcool no hálito, não tem outra coisa errada com ela.

Para fins legais (por exemplo, quando a pessoa é vítima de acidentes de trânsito ou está agindo anormalmente no trabalho), os níveis de álcool podem ser medidos no sangue ou estimados pela medição da quantidade em uma amostra de hálito.

Exames de sangue podem ser feitos em pessoas com um transtorno relacionado ao uso de álcool de longo prazo para procurar a presença de alterações na função hepática e de evidências de lesões em outros órgãos. Se os sintomas forem muito graves, um exame de diagnóstico por imagem, como a TC, pode ser realizado para descartar uma lesão ou uma infecção no cérebro.

Tratamento do transtorno relacionado ao uso de álcool

O tratamento possivelmente inclui as seguintes situações:

  • As pessoas são trazidas para o tratamento porque têm sintomas relacionados a um alto teor de álcool no sangue.

  • As pessoas vêm porque têm sintomas intoleráveis de abstinência. No entanto, as pessoas que apresentam sintomas de abstinência alcoólica geralmente se tratam sozinhas bebendo novamente.

  • As pessoas começam o tratamento porque querem parar de beber.

Tratamento de emergência

O tratamento de emergência é necessário quando uma quantidade muito grande de álcool é consumida ou uma abstinência do álcool provoca sintomas moderados a graves.

Não há antídoto específico para a intoxicação aguda:

  • Observação e monitoramento até que a pessoa esteja sóbria

  • O café e outros remédios caseiros não anulam os efeitos do álcool.

  • Se a pessoa estiver em coma ou houver supressão da respiração, é possível que ela precise que um tubo seja inserido nas vias aéreas para evitar que ela engasgue com vômito e secreções e para ajudá-la a respirar.

  • É administrada hidratação intravenosa, se necessário, para evitar ou tratar a desidratação ou a hipotensão.

  • Se houver suspeita de que a pessoa pratica o consumo crônico de álcool, ela recebe tiamina para prevenir a ocorrência da encefalopatia de Wernicke. Frequentemente, os médicos também adicionam o magnésio (que ajuda o organismo a processar a tiamina) e multivitamínicos (para possíveis deficiências de vitaminas) ao soro.

Em geral, o médico receita benzodiazepínicos (um sedativo leve) para ser tomado por alguns dias no caso de sintomas de abstinência alcoólica. Esse sedativo reduz a agitação e ajuda a prevenir alguns sintomas de abstinência, como convulsões e delirium tremens. Uma vez que as pessoas podem se tornar dependentes de benzodiazepínicos, esses medicamentos são usados somente por um curto período. Os medicamentos antipsicóticos são às vezes administrados a pessoas com alucinose alcoólica.

O delirium tremens pode ser letal e é tratado mais agressivamente para controlar a febre elevada e a agitação intensa. O tratamento é realizado em uma unidade de tratamento intensivo. O tratamento normalmente inclui o seguinte:

  • Doses elevadas de benzodiazepínicos e barbitúricos, administradas por via intravenosa

  • Altas doses de vitaminas (especialmente a tiamina)

  • Líquidos administrados por via intravenosa

  • Medidas de resfriamento externo, como uma manta fria, por exemplo

  • Medicamentos que controlam a frequência cardíaca e a pressão arterial

  • Tratamento de complicações (por exemplo, pancreatite, pneumonia e convulsões)

Com esse tipo de tratamento, o delirium tremens normalmente começa a melhorar entre 12 e 24 horas do seu início, mas os casos graves podem durar por cinco a sete dias. A maioria das pessoas não se lembra do que aconteceu durante a abstinência grave, depois de ela ter sido resolvida.

Depois que eventuais problemas médicos urgentes tenham sido resolvidos, o tratamento posterior dependerá de quão grave é o uso do álcool e de outros problemas de saúde física e mental da pessoa. Se a pessoa não tiver se tornado dependente do álcool, é possível que o médico discuta as consequências sérias do uso do álcool com ela, recomende maneiras de reduzir ou de parar de beber e programe visitas de acompanhamento para verificar como ela está indo.

Um programa de desintoxicação e reabilitação pode ser recomendado a pessoas cujo uso de álcool é mais grave, principalmente aquelas que têm concomitantemente problemas de saúde física e mental.

Você sabia que...

  • Não há um antídoto específico para intoxicação por álcool aguda: café, líquidos, vitaminas ou outros remédios não ajudam a pessoa a ficar sóbria.

Desintoxicação e reabilitação

Na primeira fase da desintoxicação e de reabilitação, o álcool é completamente retirado e todo sintoma de abstinência é tratado. Em seguida, a pessoa com transtorno relacionado ao uso de álcool precisa aprender maneiras de modificar seu comportamento. Sem ajuda, a maioria dos bebedores-problema apresenta recaída após alguns dias ou semanas. Programas de reabilitação, que combinam psicoterapia com supervisão médica, podem ajudar. As pessoas são avisadas sobre a dificuldade de se interromper o consumo de álcool. As pessoas também aprendem maneiras de melhorar a motivação para parar, e de evitar situações com maior propensão de levar a uma recaída. O tratamento deve ser adaptado a cada indivíduo. Esses programas também convocam o apoio de familiares e amigos. Grupos de autoajuda como, por exemplo, os Alcoólicos Anônimos, também podem ajudar.

Algumas vezes, determinados medicamentos (dissulfiram, naltrexona, acamprosato e clonidina) podem ajudar as pessoas com transtorno relacionado ao uso de álcool a evitar o consumo de álcool. No entanto, normalmente os medicamentos só conseguem ajudar se a pessoa estiver motivada e cooperativa, e se forem usados como parte de um regime contínuo e intensivo de psicoterapia. Os resultados variam.

O dissulfiram reduz o consumo de álcool, porque interfere com o metabolismo do álcool, fazendo com que o acetaldeído (uma substância que resulta da decomposição do álcool) se acumule na corrente sanguínea. O acetaldeído faz com que as pessoas se sintam doentes. Se uma pessoa que tomou dissulfiram beber álcool, o acúmulo de acetaldeído causa os seguintes sintomas, no prazo de cinco a 15 minutos após o consumo do álcool:

  • Rubor facial

  • Dor de cabeça latejante

  • Uma frequência cardíaca rápida

  • Respiração rápida

  • Sudorese

A náusea e o vômito podem aparecer 30 a 60 minutos mais tarde. Essas reações incômodas e potencialmente perigosas duram entre uma e três horas.

O incômodo de consumir álcool depois de tomar o dissulfiram é tão intenso que poucas pessoas se arriscam a beber álcool em seguida, até mesmo a pequena quantidade existente em alguns preparados de venda livre, contra tosse e resfriado, ou alguns alimentos.

O dissulfiram precisa ser tomado todos os dias para que tenha eficácia em fazer com que a pessoa pare de beber.

As pessoas a seguir não devem tomar dissulfiram:

A naltrexona altera os efeitos do álcool em certas substâncias químicas produzidas pelo cérebro (endorfinas), o que pode estar associado ao anseio por álcool e seu consumo. Esse medicamento é eficaz para maioria das pessoas que o tomam consistentemente. Uma forma de ação prolongada pode ser administrada por injeção uma vez por mês. A naltrexona, diferente do dissulfiram, não causa mal-estar. Assim, as pessoas que tomam a naltrexona podem continuar a beber. A naltrexona não deve ser tomada por pessoas com hepatite ou outras doenças hepáticas.

A clonidina é um medicamento que afeta determinadas partes do cérebro e costuma ser usada para tratar hipertensão arterial, mas também pode ajudar a aliviar alguns dos sintomas da abstinência alcoólica.

Alcoólicos Anônimos: um caminho para a recuperação

Nenhum outro método foi tão eficaz em beneficiar a tantas pessoas com transtorno relacionado ao uso de álcool quanto o AA (Alcoólicos Anônimos). O AA é uma associação internacional de pessoas que desejam parar de beber. Não é necessário pagar nada. O programa funciona com base nas "doze etapas", que oferecem aos bebedores-problema um novo modo de viver sem álcool. Os membros da associação trabalham normalmente com um tutor, um membro associado que está deixando de consumir álcool e que oferece orientação e apoio.

O AA funciona em um contexto espiritual, mas não está filiado a nenhuma ideologia ou doutrina religiosa específica. No entanto, organizações alternativas, como a LifeRing Recovery (Organizações Seculares pela Sobriedade), existem para os que buscam uma abordagem mais secular.

O AA também ajuda seus membros de outras maneiras. Oferece um local onde a pessoa em fase de recuperação pode se relacionar socialmente longe de bebidas alcóolicas e com amigos que não bebem e que estão sempre disponíveis para dar apoio se a vontade de voltar a beber ficar forte. Nas reuniões, a pessoa com transtorno relacionado ao uso de álcool ouve os relatos das outras pessoas do grupo, em relação à sua luta diária para evitar a bebida. Ao fornecer meios para ajudar os outros, o AA permite que a pessoa construa uma confiança e autoestima, que antes só encontrava na bebida. A maior parte das regiões metropolitanas têm muitas reuniões de AA, disponíveis dia e noite, 7 dias por semana. As pessoas com transtorno relacionado ao uso de álcool são incentivadas a participar de várias reuniões diferentes e frequentar aquelas em que se sinta mais confortável.

Mais informações

Os seguintes recursos em inglês podem ser úteis. Vale ressaltar que O MANUAL não é responsável pelo conteúdo desses recursos. 

  1. Al-Anon Family Groups: Oferecem serviços de apoio para adultos que praticam o abuso de álcool, adultos que cresceram com transtorno relacionado ao uso de álcool e adolescentes afetados pelo uso problemático de álcool por outra pessoa.

  2. Alcoólicos Anônimos: Associação internacional de pessoas com um problema de álcool que criou a abordagem de 12 passos para ajudar seus membros a superar sua dependência de álcool e ajudar outros a fazerem o mesmo.

  3. LifeRing: Apoio para pessoas com problemas de uso de drogas e álcool ao facilitar o compartilhamento de experiências práticas e apoio à sobriedade como alternativa aos programas de 12 passos tradicionais.

  4. National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA): Apoia e realiza pesquisas sobre a maneira pela qual o uso do álcool afeta a saúde e o bem-estar humano.

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