Choro

PorDeborah M. Consolini, MD, Thomas Jefferson University Hospital
Revisado/Corrigido: nov 2022
Visão Educação para o paciente

Todas as crianças choram como forma de comunicação; é o único meio que elas têm para expressar as necessidades delas. Geralmente é uma resposta a fome, desconforto (p. ex., fralda molhada) ou separação e cessa quando as necessidades são atendidas (p. ex., alimentação, troca de fralda, um abraço). Esse choro é normal e tende a diminuir em duração e frequência após os 3 meses de idade. Se, após os atendimentos básicos da criança, o choro não desaparecer, devem ser feitas investigações para identificação de uma causa específica.

Etiologia do choro

A causa de choro é

  • Orgânica em < 5%

  • Funcional em 95%

Orgânica

Embora raras, as causas orgânicas do choro, sempre devem ser consideradas. As causas a considerar são classificadas como cardíacas, gastrointestinal, infecções e traumas ( see table Algumas causas do choro). Algumas delas apresentam risco potencial para a vida: insuficiência cardíaca, intussuscepção, vólvulo, meningite (ver também Meningite bacteriana em lactentes com 3 meses de idade e Meningite bacteriana neonatal) e lesões, particularmente sangramento intracraniano por traumatismo de crânio.

Cólica é choro excessivo que ocorre em lactentes com ≤ 4 meses de idade que não tem uma causa orgânica identificável e que ocorre pelo menos 3 horas/dia > 3 dias/semana por > 3 semanas.

Tabela

Avaliação do choro

História

História da doença atual focaliza o início do choro, a duração, a resposta à tentativa de consolo e a frequência ou a singularidade dos episódios. Perguntas devem ser dirigidas aos pais sobre eventos ou condições associadas, incluindo imunizações recentes, trauma (p. ex., quedas), interação com um irmão, infecções, uso de fármacos e relação do choro com alimentação e evacuações.

A revisão dos sistemas focaliza sintomas como constipação, diarreia, vômitos, costas arqueadas, sangue nas fezes (distúrbios gastrointestinais); febre, tosse, chiado, congestão nasal, dispneia (infecção respiratória) e dor aparente durante o banho ou a troca de fralda (trauma).

A história clínica deve considerar episódios anteriores de choro e condições que potencialmente predispõem a ele (p. ex., história de cardiopatia, retardo de desenvolvimento).

Exame físico

Tem início com revisão dos sinais vitais, particularmente de febre e taquipneia. Avalia sinais de letargia ou aflição e como os pais interagem com a criança.

O lactente ou a criança é despido e observado quanto aos sinais de desconforto respiratório (p. ex., retrações clavicular e subcostal, cianose). Examina-se todo o corpo para observação de edema, escoriações e ferimentos.

Ausculta para procurar sinais de infecção respiratória (p. ex., sibilos, roncos, diminuição dos ruídos respiratórios) e comprometimento cardíaco (p. ex., taquicardia, ritmo de galope, sopro holossistólico, estalido sistólico). Verificar dor à palpação do abdome. Retira-se a fralda para exame dos genitais e do ânus para verificar sinais de torsão testicular (p. ex., escroto hiperemiado equimótico, dor à palpação), torniquete capilar no pênis, hérnia inguinal (p. ex., edema na região inguinal ou no escroto) e fissuras anais.

Observar sinais de fratura nas extremidades (p. ex., edema, eritema, dor ao toque ou à movimentação passiva). Verificar torniquetes capilares nos dedos dos pés e das mãos.

Exame otológico para verificar traumas (p. ex., sangue no canal ou atrás da membrana timpânica) ou infecção (p. ex., membrana timpânica abaulada e vermelha). As córneas devem ser coradas com fluoresceína e examinadas com luz azul, para afastar lesão da córnea, e o fundo de olho visto com oftalmoscópio, para afastar sinais de hemorragia. (Se houver suspeita de retinas hemorrágicas, a criança deverá ser encaminhada ao oftalmologista.) Examinar a orofaringe para sinais de aftas ou lesões. O crânio é palpado suavemente para verificar sinais de fratura.

Sinais de alerta

Os achados a seguir são particularmente preocupantes:

  • Desconforto respiratório

  • Ferimentos e lesões

  • Irritabilidade extrema

  • Febre e inconsolabilidade

  • Febre no lactente 8 semanas de idade

Interpretação dos achados

Um alto índice de suspeitas surge quando se avalia o choro de uma criança. A preocupação dos pais é uma variável importante. Quando a preocupação é grande, mesmo quando não existem dados conclusivos, o médico deve precaver-se porque os pais podem estar reagindo de modo subconsciente com alterações sutis, mas significativas. Por outro lado, um nível muito baixo de preocupação parental, particularmente quando há pouca interação entre os pais e o lactente ou criança, pode indicar um problema de vínculo ou inabilidade de avaliar e administrar as necessidades da criança. A inconsistência da história e a apresentação clínica da criança podem gerar preocupações sobre possível abuso.

As queixas podem ajudar na localização do problema. Por exemplo, com febre, a etiologia mais provável é infecção; o desconforto respiratório sem febre sugere possível problema cardíaco ou dor. Alterações nas evacuações ou dor abdominal durante o exame são compatíveis com etiologia gastrointestinal. Dados específicos frequentemente sugerem certas causas ( see table Algumas causas do choro).

O tempo de duração também é útil. Se o choro é intermitente por vários dias, ele é menos preocupante do que o choro súbito e constante. Observar se o choro acontece em uma determinada hora do dia ou da noite. Por exemplo, início recente do choro à noite em uma criança ou lactente saudável e feliz pode ser sugestivo de ansiedade por separação ou questões associadas ao sono.

O aspecto do choro também é relevante. Geralmente os pais conseguem diferenciar o choro por ansiedade ou medo do choro por dor. É igualmente importante determinar o nível de acuidade. Uma criança inconsolável é mais preocupante do que aquela com bom aspecto e que não chora durante a consulta.

Exames

O objetivo dos exames é alcançar a causa suspeita ( see table Algumas causas do choro), com particular interesse às ameaças potenciais à vida, a menos que a história e o exame físico sejam suficientes para se chegar a um diagnóstico. Quando há poucos achados clínicos específicos ou nenhum deles e nenhum exame é imediatamente indicado, acompanhamento de perto e reavaliação são necessários.

Tratamento do choro

A doença orgânica de base deve ser tratada. Tranquilizar e orientar os pais quando a criança não apresenta doença de base aparente. Pode ser útil envolver a criança em fraldas no primeiro mês de vida. Segurar um recém-nascido ou criança é útil para diminuir a duração do choro.

Também é valioso encorajar os pais, se eles estiverem se sentindo frustrados, a dar um tempo para o choro da criança, deixando-a em ambiente confortável por alguns segundos. Instruir os pais e “dar permissão” para descansar são úteis na prevenção do abuso. O fornecimento de recursos para serviços de apoio aos pais que parecem oprimidos pode prevenir preocupações futuras.

Pontos-chave

  • O choro é parte do desenvolvimento normal e mais presente nos primeiros 3 meses de vida.

  • O choro excessivo com causas orgânicas precisa ser diferenciado da cólica.

  • Menos de 5% dos choros têm causa orgânica.

  • Quando nenhuma causa orgânica é identificada, os pais podem precisar de apoio.

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