Hipertensão em crianças

PorBruce A. Kaiser, MD, Nemours/Alfred I. DuPont Hospital for Children
Revisado/Corrigido: set 2021 | modificado set 2022
Visão Educação para o paciente

Hipertensão é a elevação sustentada da pressão arterial sistólica ou diastólica em repouso, ou ambas; as pressões consideradas anormais em crianças variam de acordo com a idade até os 13 anos. A hipertensão de causa desconhecida (primária) é mais comum em adultos. Hipertensão com causa identificada (hipertensão secundária) é relativamente rara em crianças. Em geral, as crianças não apresentam sintomas ou complicações da hipertensão durante a infância, embora estas possam se desenvolver mais tarde. Obtém-se o diagnóstico com esfigmomanômetro. Pode-se realizar exames para procurar causas da hipertensão secundária. O tratamento envolve mudanças no estilo de vida, fármacos e manejo das causas curáveis.

Tornou-se claro ao longo das últimas décadas que a hipertensão em adultos é afetada tanto por condições intrauterinas como neonatais e muitas vezes começa na infância. Além disso, sequelas da hipertensão na idade adulta ocorrem mais cedo em pacientes hipertensos quando crianças. Portanto, é importante identificar e tratar a hipertensão em crianças.

Nos Estados Unidos, a prevalência de hipertensão em crianças varia entre 2,2% e 3,9%, com leituras no limite superior de normalidade entre 3,4% e 4%. Em todo o mundo, a prevalência é menos clara por causa das diferenças regionais quanto a definições, dados de referência e metodologia, mas estima-se que seja cerca de 4%. Além disso, a prevalência parece estar aumentando, provavelmente por causa do aumento da incidência de sobrepeso e obesidade em crianças; a obesidade é agora duas vezes mais comum em adolescentes do que era há 30 anos (ver Obesidade em adolescentes). Adolescentes obesos têm maior probabilidade de apresentar hipertensão arterial do que adolescentes não obesos.

Definição de hipertensão em crianças

Como não há dados de desfecho para a hipertensão em crianças, classifica-se a hipertensão em crianças < 13 anos normativamente, isto é, em comparação a medições da pressão arterial em um grande grupo de crianças. Os valores normativos para a pressão arterial em crianças < 13 anos variam de acordo com idade, sexo e altura (ver tabelas de níveis percentuais de pressão arterial para meninos e meninas).

Tabela
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A pressão arterial em crianças ≥ 13 anos de idade é classificada com base nos valores reais da pressão arterial [ver tabela Classificação da pressão arterial (PA) em crianças].

Tabela

Etiologia da hipertensão em crianças

A hipertensão pode ser

  • Primária (sem causa conhecida, um diagnóstico de exclusão)

  • Secundária (causada por outra doença, p. ex., doença renal)

Depois dos 6 anos, a hipertensão primária é de longe a etiologia dominante, e isso é ainda mais verdadeiro em adolescentes. Antes dos 6 anos, a hipertensão secundária é mais comum, e isso é mais verdadeiro em crianças com menos de 3 anos.

Hipertensão primária

Por definição, a causa da hipertensão primária não é conhecida, razão pela qual é um diagnóstico de exclusão. Contudo, sabe-se que é mais comum em crianças que

  • Apresentam sobrepeso ou obesidade (o fator de risco mais importante para hipertensão primária)

  • Têm história familiar de hipertensão

  • São do sexo masculino

  • São de origem mexicana ou negros não hispânicos (nos Estados Unidos)

  • Têm um estilo de vida sedentário

  • Têm hábitos alimentares não saudáveis (p. ex., ingestão elevada de sal e calorias)

  • Tiveram vários fatores intrauterinos (p. ex., que resultaram em baixo peso ao nascer, recém-nascido pré-termo ou pequeno para a idade gestacional)

  • Têm fatores de risco sociais (p. ex., abuso infantil, violência familiar e/ou interpessoal, insegurança alimentar e/ou habitacional — a quantidade, a duração e a gravidade desses fatores têm um efeito cumulativo)

Hipertensão secundária

A hipertensão secundária tem uma causa identificável; a hipertensão pode ser reversível se a causa for resolvida.

As causas mais comuns de hipertensão secundária em crianças são

Outras causas de hipertensão secundária são

  • Distúrbios respiratórios do sono

  • Causas neurológicas (p. ex., aumento da pressão intracraniana)

  • Fármacos (p. ex., glicocorticoides, esteroides anabolizantes, estimulantes, contraceptivos orais, nicotina, cafeína, certas drogas ilícitas)

  • Dor ou estresse psicológico

  • Causas diversas (p. ex., neuroblastoma, complexo da esclerose tuberosa, tumor de Wilms)

A hipertensão de causa ortopédica está relacionada com tração ou compressão de um membro inferior, geralmente após uma fratura de fêmur. Acredita-se que esse tipo de hipertensão seja causado pela pressão sobre o nervo femoral.

Fisiopatologia da hipertensão em crianças

Como em adultos, determina-se a pressão arterial pelo equilíbrio entre o débito cardíaco (afetado pela contratilidade miocárdica, frequência cardíaca e volume vascular) e a resistência vascular (afetada pela estrutura e função vasculares). O sistema renina-angiotensina-aldosterona, o sistema nervoso simpático, o transporte de sódio e outros fatores influenciam (para informações adicionais, ver Fisiopatologia da hipertensão). Ao contrário de idosos, em crianças e adultos mais jovens, é provável que o débito cardíaco e o status volumétrico sejam as forças motrizes proeminentes da hipertensão; contudo, com o envelhecimento, alterações estruturais vasculares como a maior espessura e rigidez da parede do vaso (que aumentam a resistência vascular) desempenham um papel mais importante.

Complicações da hipertensão pediátrica

As complicações da hipertensão pediátrica podem ser

  • Aguda

  • Crônica

Complicações agudas da hipertensão em crianças são relativamente incomuns; em geral, estão relacionadas com emergências hipertensivas, em que há disfunção ou lesão de órgão terminal. Os órgãos afetados incluem o sistema nervoso central (causando encefalopatia que inclui convulsões, letargia e/ou coma), o coração (causando insuficiência cardíaca), os olhos (causando papiledema, hemorragias retinianas) e os rins (causando insuficiência renal).

Complicações crônicas da hipertensão em crianças são raras e, quando presentes, geralmente só ocorrem no final da adolescência ou início da idade adulta. As complicações da hipertensão crônica em adultos (como doença coronariana, insuficiência cardíaca, acidente vascular encefálico isquêmico e doença renal hipertensiva em estágio terminal) raramente, se alguma vez, ocorrem em crianças. Entretanto, há achados em crianças que parecem predizer o desenvolvimento posterior dessas complicações. O indicador mais bem estudado e mais preciso é o desenvolvimento de hipertrofia ventricular esquerda (VE) (diagnosticada por ecocardiografia). Quando normalizada para altura, idade e sexo, considera-se uma massa do VE > 51 g/m2 excessiva. Esse achado é uma razão clara para iniciar a terapia anti-hipertensiva durante a infância.

Outro achado em algumas crianças hipertensas que se acredita ser um fator de risco para doença cardiovascular na idade adulta seja o espessamento das camadas média-íntima, medido utilizando técnicas ultrassonográficas sensíveis. Em crianças com doença renal crônica, a hipertensão foi associada a um declínio mais acentuado da função renal e a um aumento da excreção urinária de albumina, um marcador de lesão renal. Por fim, há evidências preliminares sugerindo que a hipertensão causa déficits na função neurocognitiva, mas essas informações são muito limitadas.

Sinais e sintomas da hipertensão em crianças

A hipertensão em crianças, com a rara exceção de emergências hipertensivas, costuma ser assintomática.

O exame físico pode ser normal (exceto pela pressão arterial elevada), mas os sinais de hipertensão e/ou suas causas às vezes estão presentes e devem ser procurados especificamente, incluindo

Referência sobre sinais e sintomas

  1. 1. O'Neill JA, Berkowitz H, Fellows KJ, Harmon CM: Midaortic syndrome and hypertension in childhood. J Pediatr Surg 30(2):164–171; discussion 171-2, 1995. doi: 10.1016/0022-3468(95)90555-3

Diagnóstico do diabetes em crianças

  • Esfigmomanometria (ausculta)

  • Aparelhos oscilométricos

  • Às vezes, testes para etiologia

Como os valores da pressão arterial (PA) variam de acordo com a idade, sexo e altura, define-se a hipertensão com base nos valores normativos (ver tabelas dos níveis percentuais da PA para meninos e meninas). Em geral, a hipertensão não deve ser diagnosticada até que valores altos de PA (como definido na tabela Classificação da PA em crianças) tenham sido identificados em três consultas distintas para excluir causas transitórias de elevação da PA, como consumo recente de bebidas cafeinadas ou hipertensão do avental branco (isto é, elevação da PA decorrente da ansiedade de uma consulta de saúde).

Deve-se medir a PA utilizando uma técnica adequada. As crianças devem permanecem sentadas em uma cadeira com as costas apoiadas e os pés no chão por 3 a 5 minutos antes da medição. É fundamental utilizar um manguito do tamanho correto; uma variedade de tamanhos de manguito, incluindo manguitos para coxa, deve estar disponível. A largura do manguito deve ser de pelo menos 40% da circunferência da metade do braço e o comprimento da bexiga inflável deve ser 80 a 100% dessa circunferência. Um manguito muito estreito resulta em valores erroneamente altos de PA, enquanto um manguito muito largo resulta em valores incorretamente baixos de PA. Em geral, deve-se realizar pelo menos duas medições em cada consulta, particularmente se a medição inicial é alta.

Triagem da pressão arterial

Atualmente, a maioria dos exames para PA é feita utilizando aparelhos oscilométricos porque eles são fáceis de utilizar, reduzem o viés de observação e são mais bem tolerados por crianças e lactentes. As medições feitas com um aparelho oscilométrico geralmente são mais altas do que as obtidas por ausculta, de modo que qualquer medida ≥ percentil 90 precisa ser confirmada por ausculta.

De acordo com as diretrizes de 2017 para pressão arterial em crianças e adolescentes da American Academy of Pediatrics (AAP), deve-se realizar o monitoramento de rotina da PA anualmente a partir dos 3 anos de idade. Se a PA está abaixo do percentil 90 ou abaixo do valor de PA que requer avaliação mais profunda de acordo com as diretrizes da AAP, a medição é continuada anualmente. Deve-se avaliar as crianças com fatores de risco para hipertensão, como doença renal, doença cardíaca ou história neonatal significativa, mais cedo e com mais frequência — a cada consulta.

Para simplificar a triagem, as diretrizes da AAP fornecem valores de PA para cada idade que, embora não sejam diagnósticos de hipertensão, indicam necessidade de avaliação mais profunda (ver tabela Triagem dos valores da PA em crianças que precisam de avaliação mais profunda). Esses valores representam o percentil 90 da PA para a menor coorte de altura em cada idade de 1 a 12 anos, de modo que os profissionais de triagem não precisam determinar percentis de PA precisos em cada criança. Em geral, avaliações adicionais começam com medições repetidas e cálculo do percentil real da PA [ver tabela Classificação da pressão arterial (PA) em crianças] e, em seguida, acompanhamento por um médico (isto é, se a triagem é feita por outros profissionais).

Tabela

Deve-se verificar novamente as crianças com PA entre os percentis 90 e 95 por ausculta depois de 6 meses porque 50 a 70% retornam ao intervalo normal. Se a PA permanecer elevada após 6 meses, deve-se recomendar mudanças no estilo de vida (p. ex., dieta, atividade e perda ponderal, se necessário) e deve-se realizar medições da PA nos membros superiores e inferiores. Se a PA permanecer elevada ao longo dos próximos 6 meses, pode-se fazer monitoramento ambulatorial da PA de 24 horas, se possível, ou pode-se encaminhar o paciente a um especialista. Entretanto, se durante esse período a PA cair abaixo do percentil 90, o cronograma de monitoramento anual pode ser retomado.

Se as medidas são consistentemente 95º percentil, mas <95º percentil + 12 mmHg, deve-se considerar crianças com hipertensão em estágio 1 (ver também tabela Classificação da pressão arterial em crianças). Medições ≥ percentil 95 + 12 mmHg ou ≥ 140/90, o que for mais baixo, representam hipertensão em estágio 2.

Crianças com hipertensão em estágio 1 devem ser avaliadas novamente em 1 a 2 semanas. Se a PA permanecer no estágio 1, deve-se fazer medições da PA nos membros superiores e inferiores, realizar urinálise e recomendar mudanças no estilo de vida. Deve-se verificar a PA novamente em 2 a 3 meses e, se permanecer no estágio 1, e deve-se encaminhar a criança a um especialista para avaliação, incluindo a determinação da causa. Deve-se encaminhar as crianças com hipertensão em estágio 2 ou 1 com sintomas imediatamente a um pronto-socorro ou a um pediatra para possível hospitalização.

Avaliação da causa

Deve-se realizar exames específicos à procura de quaisquer doenças suspeitas de acordo com a anamnese e exame físico (p. ex., exames da função da tireoide se há suspeita de hipertireoidismo).

Além disso, a maioria dos médicos solicita exames laboratoriais iniciais que incluem a dosagem do nitrogênio da ureia sanguínea, creatinina e eletrólitos; um perfil lipídico em jejum; urinálise; e, especialmente naquelas com hipertensão em uma idade jovem ou naquelas com história de urinálise ou função renal anormal, ultrassonografia renal. Entretanto, pode-se adotar uma abordagem mais direcionada de acordo com a idade, sintomas e fatores de risco (ver também diretrizes de 2017 da AAP).

Crianças ≥ 6 anos e adolescentes com hipertensão em estágio 1 assintomáticos e história familiar positiva de hipertensão, que estão com sobrepeso ou são obesos e que não têm história sugestiva ou achados no exame físico não exigem uma avaliação extensa à procura de hipertensão secundária. Pode-se simplificar os exames iniciais para essas crianças, incluindo a medição do nitrogênio da ureia sanguínea, eletrólitos e cálcio e um exame de urina com tira reagente. Se esses resultados forem normais e não houver diferença entre as medidas da PA de membros superiores e inferiores, deve-se iniciar mudanças na dieta e no estilo de vida (p. ex., atividades, perda ponderal, se necessário) e deve-se reavaliar as crianças em 6 meses. Se a PA permanecer elevada e o peso permanecer inalterado ou aumentar depois de 6 meses, deve-se fazer uma avaliação mais profunda à procura de outros fatores etiológicos para a hipertensão. Crianças com hipertensão em estágio 1 assintomáticas durante 3 leituras, mas sem história familiar e que não estão acima do peso devem fazer essa avaliação em 1 ou 2 meses. Deve-se avaliar imediatamente crianças e adolescentes com hipertensão em estágio 2 ou hipertensão em estágio 1 com sintomas.

Avaliações adicionais incluem os seguintes exames:

  • Painel metabólico completo em jejum (incluindo glicose, enzimas hepáticas e painel lipídico) e hemoglobina glicosilada (HbA1c — à procura de pré-diabetes)

  • Ecocardiografia (para hipertrofia ventricular esquerda)

  • Razão entre albumina e creatinina urinária e urinálise

  • Ultrassonografia renal

Se os resultados dos exames são normais, mudanças na dieta e no estilo de vida são mantidas por mais 6 meses, e pode-se recomendar consulta a um nutricionista. No entanto, se houver evidências de uma comorbidade, a PA permanecer elevada e o peso não diminuir, deve-se considerar o uso de tratamento farmacológico.

Crianças < 6 anos que não estão acima do peso e não têm história familiar significativa de hipertensão, todas as crianças ≤ 3 anos e aquelas com hipertensão em estágio 1 com sintomas ou hipertensão em estágio 2 devem passar uma avaliação inicial mais abrangente, tendo em mente que quanto maior a PA e quanto menor a criança, maior a probabilidade de encontrar a causa da hipertensão secundária. Por fim, crianças com idades entre 3 e 6 anos que estão acima do peso e com história familiar de hipertensão devem passar por essa avaliação antes de prescrever apenas mudanças no estilo de vida. Essas crianças devem ser submetidas aos testes a seguir:

  • Perfil metabólico abrangente

  • Hemograma completo

  • Exame de urina

  • Razão albumina:creatinina urinária

  • Atividade da renina plasmática e níveis de aldosterona

  • Testes de função da tireoide

  • Avaliação da atividade das catecolaminas (p. ex., medição de metanefrinas livres no plasma)

  • Ultrassonografia renal com fluxo Doppler

  • Ecocardiografia

A outra opção para essas crianças é o encaminhamento precoce a um nefrologista pediátrico porque a maioria das causas comuns de hipertensão secundária em crianças está relacionada com os rins. Um nefrologista pediátrico faria essa mesma avaliação junto com outros exames de imagem renais, como cintilografia renal com ácido dimercaptosuccínico (DMSA) marcado com tecnécio 99m (para procurar cicatrizes renais) e/ou angiografia digital por subtração (para avaliar doença vascular renal).

Tratamento da constipação em crianças

  • Perda ponderal

  • Modificação dietética (redução de sal e calorias)

  • Exercício

  • Às vezes, tratamento farmacológico

O tratamento da hipertensão em crianças inclui uma combinação de perda ponderal, dieta, exercícios e, às vezes, tratamento farmacológico dependendo do estágio da hipertensão. Deve-se encaminhar as crianças com hipertensão em estágio 2 ou hipertensão em estágio 1 com sintomas, evidências de lesão em órgão-alvo, diabetes ou doença renal a um especialista para iniciar um tratamento mais rápido e correto.

Os objetivos do tratamento geralmente incluem uma PA < percentil 90 ou, em crianças maiores, < 130/80, o que for menor; alguns centros têm como meta de tratamento uma PA < 120/80. Para crianças com doença renal, o objetivo é uma PA média de 24 horas abaixo do percentil 50.

Mudanças no estilo de vida que podem ajudar a diminuir a PA, incluindo modificação dietética e exercícios, são iniciadas em todas as crianças com PA elevada. Os segredos para perda ponderal na infância são hábitos alimentares saudáveis e aumento da atividade física. Uma dieta mais rica em frutas, vegetais, legumes e produtos lácteos com baixo teor de gordura e ingestão mais baixa de sal, como o DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension), foi associada com uma PA mais baixa. Alterações na dieta também devem incluir um limite de calorias de acordo com o nível de atividade, idade e sexo. A ingestão de sal deve ser < 2.300 mg/dia em crianças com mais de 13 anos e < 2 a 3 mEq/kg/dia em crianças menores. Crianças com 6 a 17 anos devem realizar 30 a 60 minutos de atividade física moderada a vigorosa diariamente ou em pelo menos 3 a 5 dias por semana. Crianças menores devem manter-se fisicamente ativas ao longo do dia.

Inicia-se o tratamento farmacológico imediatamente em certas crianças e mais tarde em outras se uma tentativa com alterações no estilo de vida não conseguir controlar a PA.

Tratamento farmacológico da hipertensão em crianças

Em geral, inicia-se o tratamento farmacológico imediato (junto com alterações no estilo de vida) para crianças com

  • Hipertensão sintomática em qualquer estágio ou nível

  • Hipertensão em estágio 1 com qualquer evidência de disfunção ou lesão de órgão-alvo

  • Hipertensão em estágio 2 mesmo com um fator de risco óbvio e modificável (p. ex., obesidade), que deve ser abordado à medida que a PA é controlada

  • Qualquer estágio de hipertensão se tiverem doença renal crônica, diabetes ou doença cardíaca

Em crianças com pressão no limite superior de normalidade ou hipertensão limítrofe ou hipertensão em estágio 1 sem sintomas nem disfunção de órgãos-alvo, iniciam-se alterações no estilo de vida; se estas não reduzirem suficientemente a PA em cerca de 6 meses, será necessário tratamento farmacológico.

Em geral, deve-se começar o tratamento farmacológico com um único fármaco na menor dosagem possível, aumentada a cada 1 a 4 semanas até a PA ser controlada, a dosagem mais alta ser alcançada ou ocorrerem efeitos adversos que afetam o uso do fármaco. Nesse ponto, se a PA alvo não foi alcançada, pode-se adicionar um segundo fármaco, titulado como o fármaco inicial. Classes de fármacos orais utilizados para tratar a hipertensão incluem

Para uma discussão mais detalhada de cada classe e seus fármacos específicos, ver Fármacos para hipertensão em crianças.

Em geral, a terapia oral para hipertensão persistente em crianças deve começar com um inibidor da enzima conversora da angiotensina (ECA) ou um bloqueador dos canais de cálcio (BCC). (BRA são igualmente eficazes e não provocam tosse, mas há mais dados em crianças sobre o uso de inibidores da ECA.) Pode-se administrar ambas as classes de fármacos em uma dose única diária; eles parecem ser igualmente eficazes. Deve-se administrar inibidores da ECA a pacientes com doença renal crônica ou diabetes porque esses fármacos também podem proteger os rins. Deve-se administrar BCC em meninas que menstruam se há risco de gestação porque os inibidores da ECA e BRA têm efeitos significativos sobre o feto. BCC também não têm efeito significativo sobre o perfil químico do sangue. Os diuréticos tiazídicos foram utilizados como tratamento inicial, mas, geralmente, a ingestão de sal em adolescentes é tão alta que raramente são eficazes.

Se o tratamento inicial com um único fármaco não alcançar a PA alvo, deve-se adicionar um segundo fármaco. Se o primeiro fármaco for um inibidor da ECA ou BRA, diuréticos tiazídicos provaram funcionar bem como segundo fármaco, mas pode-se adicionar ainda um BCC. Se o primeiro fármaco é um BCC, um inibidor da ECA ou BRA normalmente funciona como um segundo fármaco, mas se há risco de gestação, deve-se evitá-los, e deve-se tentar um diurético tiazídico ou outro fármaco. Se um diurético tiazídico é utilizado, a clortalidona é o fármaco ideal porque pode ser administrado uma vez ao dia. Exceto em condições especiais, vasodilatadores e alfa e betabloqueadores são fármacos de 3ª linha que, se necessário, devem ser utilizados após consulta a um especialista.

Prevenção

  • Perda ponderal

  • Exercício

  • Redução do consumo de sal

  • Redução dos fatores de risco cardiovascular

Obesidade infantil tornou-se um problema sério. As crianças passam uma quantidade exagerada de tempo na frente de telas. De acordo com o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), crianças de 8 a 10 anos passam em média 6 horas por dia, crianças de 11 a 14 anos passam em média 9 horas por dia e crianças de 15 a 18 anos passa em média 7½ horas por dia. Esses números incluem apenas o tempo gasto na frente de uma tela para entretenimento. Não incluem o tempo gasto utilizando um computador na escola para fins educacionais ou em casa para fazer lições. Essa quantidade de tempo na frente de telas toma o tempo que seria utilizado com exercícios e, portanto, contribui para o sobrepeso e a obesidade.

Crianças de 6 a 17 anos devem realizar 30 a 60 minutos de atividade física moderada a vigorosa pelo menos 3 a 5 dias por semana. Crianças menores devem manter-se fisicamente ativas ao longo do dia.

De acordo com o CDC, crianças de 6 a 18 anos nos Estados Unidos consomem cerca de 3.300 mg de sódio por dia (1), e isso ocorre antes de o sal ser adicionado aos alimentos. As 2020–2025 Dietary Guidelines for Americans do U.S. Department of Agriculture and U.S. Department of Health and Human Services recomendam que as crianças consumam menos de 2.300 mg por dia (ainda menos para crianças < 13 anos).

É importante monitorar o tabagismo em crianças e, quando necessário, ajudar a implementar um programa de cessação de tabagismo. Além disso, é importante monitorar o uso de cafeína (incluindo bebidas energéticas), álcool e drogas, todos os quais podem influenciar na hipertensão.

Referência sobre prevenção

  1. 1. Yang Q, Zhang Z, Kukline EV, et al: Sodium intake and blood pressure among US children and adolescents. Pediatrics 130(4): 611–619, 2012. doi: 10.1542/peds.2011-3870

Pontos-chave

  • A maioria dos casos de hipertensão é primária.

  • Confirmar o diagnóstico de hipertensão com leituras em três consultas diferentes.

  • Descartar causas secundárias de hipertensão por exame físico e exames laboratoriais.

  • Iniciar o tratamento com mudanças no estilo de vida, principalmente dieta e exercícios.

  • Se as mudanças no estilo de vida forem insuficientes, adicionar tratamento farmacológico, começando com um bloqueador dos canais de cálcio ou um inibidor da enzima conversora de angiotensina.

  • Titular a dose e os fármacos até alcançar a pressão arterial ideal.

Informações adicionais

Os recursos em inglês a seguir podem ser úteis. Observe que este Manual não é responsável pelo conteúdo desses recursos.

  1. American Academy of Pediatrics: Clinical Practice Guideline for Screening and Management of High Blood Pressure in Children and Adolescents (2017)

  2. U.S. Department of Agriculture and U.S. Department of Health and Human Services: 2020–2025 Dietary Guidelines for Americans

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