Obstrução duodenal

PorJaime Belkind-Gerson, MD, MSc, University of Colorado
Revisado/Corrigido: ago 2023
Visão Educação para o paciente

    O duodeno pode ser obstruído por estenose, atresia e por pressão provocada por massa extrínseca.

    (Ver também Visão geral das anomalias gastrointestinais congênitas.)

    Atresia duodenal

    A atresia duodenal é a 2ª atresia mais comum do trato gastrointestinal (GI). A incidência é estimada em 1 para 10.000 nascidos vivos (1). É decorrente da falta de canalização do duodeno embrionário. Essa falha pode estar relacionada a um evento isquêmico ou a fatores genéticos.

    A atresia duodenal, ao contrário de outras atresias intestinais, é comumente associada a outras anomalias congênitas; aproximadamente 25 a 40% dos lactentes com atresia duodenal têm síndrome de Down (1). Outras anomalias associadas incluem VACTERM (anomalias vertebrais, atresia anal, malformações cardíacas, fístula traqueal, atresia esofágica, anomalias renais, aplasia do rádio e anomalias dos membros), má rotação, pâncreas anular, anormalidades do trato biliar e anormalidades mandibulofaciais.

    Suspeita-se de diagnóstico de atresia duodenal no pré-natal se houver polidrâmnio e/ou estômago dilatado. A ultrassonografia pré-natal pode detectar um duplo sinal de bolha (bolha gástrica grande e bolha duodenal proximal menor) em até 80% dos casos (2).

    Efeito de dupla bolha
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    Essa radiografia mostra o típico efeito de bolha dupla observado na obstrução total do duodeno. A bolha menor representa a parte proximal do duodeno dilatada (seta aberta); a bolha maior representa o estômago (seta fechada). Esse efeito pode ser visto na atresia de duodeno, na membrana duodenal, no pâncreas anular e veia porta pré-duodenal. Raramente, também pode ser visto na obstrução duodenal total resultante de bandas de Ladd em um paciente mal rodado.
    By permission of the publisher. De Langer J: Gastroenterology and Hepatology: Pediatric Gastrointestinal Problems. Editado por M Feldman (editor da série) and PE Hyman. Philadelphia, Current Medicine, 1997.

    No pós-natal, lactentes com atresia duodenal apresentam, dificuldades alimentares e vômito bilioso. O diagnóstico é sintomático e pela clássica imagem “bolha dupla” — uma bolha no estômago e a outra no duodeno proximal e pouco ou nenhum ar no intestino distal. Embora uma série contratada gastrointestinal superior forneça o diagnóstico definitivo, ela deve ser realizada com cuidado em crianças por um radiologista experiente nesse procedimento para evitar a aspiração, e não costuma ser necessária se a cirurgia for feita imediatamente. Se a cirurgia for adiada (por exemplo, devido a outros problemas médicos, como síndrome de desconforto respiratório ou a necessidade de estabilizar o recém-nascido), um enema de contraste deve ser realizado para confirmar que o sinal de dupla bolha não é devido a má rotação.

    Uma vez feita a suspeita diagnóstica, o lactente não deve receber nada por boca, e a sonda nasogástrica deve ser colocada para diminuir a compressão sobre o estômago.

    A cirurgia é a terapia definitiva.

    Estenose duodenal

    Ocorre menos comumente do que a atresia duodenal, mas apresenta aspecto semelhante e requer cirurgia. É também frequentemente associada à síndrome de Down.

    Cisto do colédoco

    Um cisto do colédoco pode obstruir o duodeno por pressão extrínseca. A incidência varia de aproximadamente 1 em 100.000 pessoas nos Estados Unidos e Europa a 1 em 13.000 no Japão (3). Mais da metade dos casos notificados ocorre no Japão. Existem algumas evidências de que a incidência dos cistos de colédoco está aumentando.

    Lactentes com cisto do colédoco apresentam, classicamente, a tríade clássica de dor abdominal (dado muito difícil de ser considerado no neonato), massa no hipocôndrio direito e icterícia. Se o cisto for grande, ele também pode apresentar-se com graus variados de obstrução duodenal. Neonatos podem manifestar colestase. Em alguns casos, pancreatite é um achado associado.

    Seu diagnóstico é feito, com mais frequência, pela ultrassonografia. Pode-se definir esses cistos ainda mais utilizando colangiopancreatografia por ressonância magnética, colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) ou ultrassonografia endoscópica.

    O tratamento de cistos do colédoco é cirúrgico e requer excisão completa do cisto por causa do alto risco (20 a 30%) de desenvolver neoplasia nos remanescentes císticos (4). O procedimento cirúrgico mais comumente utilizado é hepatojejunostomia em Y de Roux. Esse procedimento costuma ser feito por via laparoscópica. Alguns estudos recentes observaram que o desfecho pode ser melhorado com cirurgia assistida por robô.

    Pâncreas anular

    Pâncreas anular é uma anomalia congênita rara (5 a 15 por 100.000 nascidos vivos [5]), muitas vezes associado à síndrome de Down, em que o tecido pancreático circunda a 2ª porção do duodeno, causando obstrução duodenal.

    Cerca de dois terços das pessoas afetadas permanecem assintomáticas. Entre aqueles que desenvolvem os sintomas, a maioria apresenta no período neonatal, mas a manifestação pode aparecer apenas na idade adulta. Lactentes apresentam problemas alimentares e êmese que pode ser biliosa.

    O diagnóstico do pâncreas anular pode ser sugerido por radiografia do abdome mostrando o mesmo sinal de bolha dupla visto na atresia duodenal. O diagnóstico também pode ser feito por uma série gastrointestinal superior e, de modo mais definitivo, por TC ou colangiopancreatografia por ressonância magnética. A colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) pode ser feito em crianças maiores.

    O tratamento é derivação cirúrgica do pâncreas anular com duodenoduodenostomia, duodenojejunostomia ou gastrojejunostomia. Deve-se evitar a ressecção do pâncreas por causa das potenciais complicações da pancreatite e do desenvolvimento de fístula pancreática.

    Referências

    1. 1. Bethell GS, Long AM, Knight M, Hall NJ; BAPS-CASS: Congenital duodenal obstruction in the UK: a population-based study. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed 105(2):178-183, 2020. doi:10.1136/archdischild-2019-317085

    2. 2. Engwall-Gill AJ, Zhou AL, Penikis AB, et al: Prenatal sonography in suspected proximal gastrointestinal obstructions: Diagnostic accuracy and neonatal outcomes. J Pediatr Surg 58(6):1090-1094, 2023. doi: 10.1016/j.jpedsurg.2023.02.029. Epub 2023 Feb 17. PMID: 36907770

    3. 3. Soares KC, Kim Y, Spolverato G, et al: Presentation and clinical outcomes of choledochal cysts in children and adults: a multi-institutional analysis. JAMA Surg 150(6):577-584, 2015. doi:10.1001/jamasurg.2015.0226

    4. 4. Søreide K, Søreide JA: Bile duct cyst as precursor to biliary tract cancer. Ann Surg Oncol 14(3):1200-1211, 2007. doi:10.1245/s10434-006-9294-3

    5. 5. Alkhayyat M, Bachour S, Abou Saleh M, et al: The epidemiology of annular pancreas in the United States: a population-based study. J Clin Gastroenterol 56(2):186-191, 2022. doi:10.1097/MCG.0000000000001531

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