Bulimia nervosa

PorEvelyn Attia, MD, Columbia University Medical Center;
B. Timothy Walsh, MD, College of Physicians and Surgeons, Columbia University
Revisado/Corrigido: jul 2022
Visão Educação para o paciente

Bulimia nervosa caracteriza-se por episódios recorrentes de compulsão alimentar seguidos por alguma forma de comportamento compensatório inapropriado como purgação (vômitos autoinduzidos, abuso de laxantes ou diuréticos), jejum ou exercício vigoroso; os episódios ocorrem, em média, pelo menos 1 vez/semana durante 3 meses. O diagnóstico se baseia na história e no exame. O tratamento é feito com psicoterapia e antidepressivos.

(Ver também Introdução aos transtornos alimentares.)

A prevalência ao longo da vida da bulimia nervosa é de cerca de 0,5% em mulheres e 0,1% em homens (1). As pessoas afetadas ficam persistente e claramente preocupadas com a forma e o peso corporais. De modo diferente dos pacientes com anorexia nervosa, os pacientes com bulimia nervosa têm peso normal ou acima do normal.

Referência geral

  1. 1. Udo T, Grilo CM: Prevalence and correlates of DSM-5–defined eating disorders in a nationally representative sample of U.S. adults. Biol Psychiatry 1;84(5):345-354, 2018. doi: 10.1016/j.biopsych.2018.03.014.

Fisiopatologia da bulimia nervosa

Distúrbios hídricos e eletrolíticos sérios, em especial hipopotassemia, ocorrem ocasionalmente. Muito raramente, o estômago se rompe ou o esôfago se rasga durante episódio de compulsão ou purgação, acarretando complicações potencialmente fatais.

Como não há perda ponderal substancial, as complicações físicas graves que costumam ocorrer com a anorexia nervosa não estão presentes. Mas cardiomiopatia pode resultar de abuso a longo prazo de xarope de ipeca se utilizado para induzir vômitos.

Sinais e sintomas da bulimia nervosa

Pacientes com bulimia nervosa normalmente descrevem comportamentos de compulsão-purgação. A compulsão alimentar envolve o consumo rápido de quantidade de alimentos definitivamente maior do que a maioria das pessoas comeria em um período de tempo semelhante sob circunstâncias similares (mas a quantidade considerada excessiva para uma refeição normal versus uma refeição comemorativa pode diferir) acompanhado de sensação de perda do controle.

Pacientes tendem a consumir alimentos altamente calóricos e doces (p. ex., sorvete, bolo) durante episódios compulsivos. A quantidade de alimento consumido em um episódio de compulsão varia, algumas vezes compreendendo milhares de calorias. Eles tendem a ser episódicos, são frequentemente desencadeados por estresse psicossocial, podem ocorrer até várias vezes ao dia e, geralmente, são executados em segredo.

A compulsão alimentar é seguida por comportamentos compensatórios: vômitos autoinduzidos, uso de laxantes ou diuréticos, exercício excessivo e/ou jejum.

Os pacientes costumam ter peso normal; somente uma minoria tem excesso de peso ou obesidade. Mas os pacientes ficam excessivamente preocupados com seu peso e/ou forma do corpo; eles costumam não estar à vontade com seus corpos e acham que precisam perder peso.

Os pacientes com bulimia nervosa tendem a ser mais cientes, ter mais remorso ou culpa de seu comportamento do que os pacientes com anorexia nervosa e têm maior probabilidade de admitir suas preocupações quando questionados por médico solidário. Eles também parecem menos introvertidos e estão mais propensos a comportamentos impulsivos, abuso de drogas e álcool e depressão clara. Depressão, ansiedade (p. ex., quanto ao peso e/ou situações sociais) e transtornos de ansiedade são mais comuns nesses pacientes.

Complicações

A maioria dos sintomas físicos e das complicações da bulimia nervosa resulta da purgação. A autoindução de vômito pode levar à erosão do esmalte dentário dos dentes da frente e aumento indolor do tamanho da glândula (salivar) parótida e inflamação do esôfago. Sinais físicos incluem

  • Glândulas parótidas inchadas

  • Cicatrizes na parte posterior da mão (pela indução repetida de vômitos utilizando os dedos para desencadear o reflexo faríngeo)

  • Erosão dentária

Diagnóstico da bulimia nervosa

  • Critérios clínicos

Os critérios clínicos (1) para o diagnóstico da bulimia nervosa são:

  • Episódios recorrentes de compulsão alimentar (consumo incontrolável de quantidades de alimento incomumente grandes) que são acompanhados por sensações de perda de controle em relação à ingestão e que ocorrem, em média, pelo menos 1 vez/semana durante 3 meses

  • Comportamento compensatório inapropriado recorrente para influenciar o peso corporal (em média, pelo menos 1 vez/semana durante 3 meses)

  • Autoavaliação que é impropriamente influenciada por preocupações com a forma e o peso corporais

Referência sobre diagnóstico

  1. 1. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição, Texto Revisado, DSM-5-TRTM, Transtornos Alimentares.

Tratamento da bulimia nervosa

  • Terapia cognitivo-comportamental

  • Psicoterapia interpessoal

  • Inibidores seletivos de recaptação de serotonina

A terapia cognitivo-comportamental é o tratamento de escolha para bulimia nervosa. A terapia geralmente envolve 16 a 20 sessões individuais ao longo de 4 a 5 meses, embora também possa ser feita como terapia em grupo. O tratamento visa

  • Aumentar a motivação para mudanças

  • Substituir a alimentação disfuncional por um padrão regular e flexível

  • Diminuir a preocupação indevida com a forma e o peso do corpo

  • Prevenir recorrência

A terapia cognitivo-comportamental elimina os episódios de comer compulsivamente e a purgação em cerca de 30 a 50% dos pacientes. Muitos outros apresentam melhora; alguns abandonam o tratamento ou não respondem. A melhora geralmente se mantém bem a longo prazo.

Na psicoterapia interpessoal, a ênfase está em ajudar os pacientes a identificar e alterar seus problemas interpessoais atuais que podem estar mantendo o transtorno alimentar. O tratamento é tanto não diretivo como não interpretativo e não foca diretamente nos sintomas do transtorno alimentar. Pode-se considerar a psicoterapia interpessoal uma alternativa quando a terapia cognitivo-comportamental não está disponível.

Os ISRS utilizados isoladamente reduzem a frequência dos episódios de compulsão alimentar e de vômitos, embora os desfechos a longo prazo sejam desconhecidos. Os ISRS também são efetivos no tratamento de ansiedade e depressão comórbidas. Fluoxetina está aprovada para o tratamento da bulimia nervosa; recomenda-se a dose de 60 mg por via oral uma vez ao dia, (essa dose é mais alta do que a normalmente utilizada para depressão).

Pontos-chave

  • Consiste em episódios recorrentes de compulsão alimentar seguidos por alguma forma de comportamento compensatório inapropriado como vômitos autoinduzidos, abuso de laxantes ou diuréticos, jejum ou excesso de exercícios.

  • Ao contrário dos pacientes com anorexia nervosa, os pacientes raramente perdem muito peso ou desenvolvem deficiências nutricionais.

  • Vômitos autoinduzidos recorrentes podem desgastar o esmalte dental e/ou causar esofagite.

  • Distúrbios hídricos e eletrolíticos sérios, em especial hipopotassemia, ocorrem ocasionalmente.

  • Ruptura do esôfago ou estômago ou cardiomiopatia são complicações raras.

  • Tratar com terapia cognitivo-comportamental e, às vezes, um ISRS.

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