Conjuntivite neonatal

(Oftalmia neonatal)

PorAnnabelle de St. Maurice, MD, MPH, UCLA, David Geffen School of Medicine
Reviewed ByBrenda L. Tesini, MD, University of Rochester School of Medicine and Dentistry
Revisado/Corrigido: modificado abr. 2025
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Visão Educação para o paciente

A conjuntivite neonatal consiste em secreção ocular purulenta e aquosa devido a irritação química ou organismos patogênicos (frequentemente com Chlamydia trachomatis). O rastreamento e o tratamento maternos para clamídia e gonorreia são rotineiros, assim como a prevenção no neonato com tratamento tópico antigonocócico ao nascimento. O diagnóstico é clínico e usualmente confirmado por testes laboratoriais. O tratamento é feito com antimicrobianos específicos.

(Ver também Conjuntivite bacteriana aguda, Conjuntivite viral e Visão geral das infecções neonatais.)

Etiologia da conjuntivite neonatal

As principais causas da conjuntivite neonatal (em ordem decrescente) são as seguintes:

  • Infecção bacteriana

  • Infecção viral

  • Inflamação química

A infecção é adquirida de mães infectadas por contato com o líquido vaginal. A oftalmia por clamídia (causada por Chlamydia trachomatis) é a causa bacteriana comum (1). A prevalência relatada de infecção materna por clamídia varia com a idade e o local e é estimada em aproximadamente 8% (2). Dados anteriores ao rastreamento e tratamento rotineiros de gestantes sugerem que até 60% dos neonatos nascidos de pacientes infectadas adquirem a infecção, aproximadamente 30% desses desenvolvem conjuntivite e aproximadamente 15% desenvolvem pneumonia neonatal (3). Outras bactérias, incluindo Streptococcus pneumoniae, Staphylococcus aureus e Haemophilus influenzae não tipável, respondem por muitos dos casos bacterianos restantes, enquanto a oftalmia gonocócica (conjuntivite por Neisseria gonorrhoeae) é relativamente rara.

A principal causa viral é vírus do herpes simples tipos 1 e 2 (ceratoconjuntivite herpética), mas trata-se de uma causa relativamente rara de conjuntivite neonatal.

A conjuntivite química é normalmente secundária à instilação de terapia tópica para profilaxia ocular.

Referências sobre etiologia

  1. 1. Committee on Infectious Diseases, American Academy of PediatricsNeonatal Ophthalmia Prevention in Red Book: 2024–2027 Report of the Committee on Infectious Diseases, ed. 33, edited by Kimberlin DW, Banerjee R, Barnett ED, Lynfield R, and Sawyer MH. Itasca, American Academy of Pediatrics, 2024.

  2. 2. Salari N, Olfat N, Ghasemi H, Larti M, Beiromvand M, Mohammadi M. The global prevalence of Chlamydia trachomatis genital infection in pregnant women: a meta-analysis. Arch Gynecol Obstet. 2025;311(2):529-542. doi:10.1007/s00404-024-07928-x

  3. 3. Schachter J, Grossman M, Sweet RL, Holt J, Jordan C, Bishop E. Prospective study of perinatal transmission of Chlamydia trachomatisJAMA. 1986;255(24):3374-3377.

Sinais e sintomas da conjuntivite neonatal

As causas da conjuntivite neonatal são difíceis de distinguir clinicamente porque se sobrepõem tanto na manifestação quanto no início. As conjuntivas ficam congestionadas e com secreção (aquosa ou purulenta).

Oftalmia por clamídia ocorre geralmente 5 a 14 dias após o nascimento. Pode variar de conjuntivite leve, com secreção mucopurulenta mínima, até a forma grave, com edema de pálpebras, secreção abundante e formação pseudomembranosa. Os folículos conjuntivais que aparecem em crianças maiores e adultos não são visíveis no neonato.

Oftalmia gonocócica causa uma forma aguda de conjuntivite purulenta que aparece 2 a 5 dias após o nascimento ou antes, com a ruptura prematura das membranas. O neonato apresenta edema grave de pálpebras, seguido de equimose e exsudato purulento abundante. Se não tratada, podem ocorrer ulcerações da córnea e cegueira.

Oftalmia neonatal
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Essa imagem mostra oftalmia gonocócica. Sinais e sintomas de edema palpebral, quemose, e secreção purulenta se desenvolvem 2 a 5 dias após o parto.

DR M.A. ANSARY/SCIENCE PHOTO LIBRARY

Conjuntivite causada por outras bactérias tem início variável, entre 4 dias e várias semanas após o nascimento.

Ceratoconjuntivite herpética pode ocorrer como infecção isolada ou disseminada ou infecção do sistema nervoso central. Pode ser confundida com a conjuntivite bacteriana ou química, mas a presença de ceratite dendrítica é patognomônica.

Conjuntivite química secundária à profilaxia tópica geralmente aparece 6 a 8 horas após a instilação e desaparece espontaneamente em 48 a 96 horas.

Diagnóstico da conjuntivite neonatal

  • Exame no material conjuntival de patógenos, incluindo gonorreia, clamídia e, às vezes, herpes

As infecções por clamídia e gonorreia são melhor diagnosticadas com técnicas de amplificação de ácidos nucleicos devido à sua alta sensibilidade e especificidade. No entanto, o material conjuntival pode ser corado pelo gram, cultivado para gonorreia (p. ex., em meio de Thayer-Martin modificado) e outras bactérias, e testado para clamídia (p. ex., cultura, por imunofluorescência direta ou ensaio enzimático imunoabsorvente [as amostras devem conter células]). O esfregaço conjuntival também pode ser examinado com corante Giemsa; se as inclusões intracitoplasmáticas azuis forem identificadas, a oftalmia por clamídia é confirmada.

O teste viral é feito apenas se houver suspeita de infecção viral em razão de lesões cutâneas ou infecção materna.

Tratamento da conjuntivite neonatal

  • Terapia antimicrobiana tópica, sistêmica ou combinada

Na oftalmia por clamídia, a terapia sistêmica é o tratamento de escolha porque pelo menos metade dos neonatos afetados também têm infecção nasofaríngea e alguns desenvolverão pneumonia por clamídia. Etilsuccinato de eritromicina ou azitromicina é recomendado; entretanto, os dados sobre o tratamento com azitromicina são limitados. Como a eficácia do tratamento com eritromicina é de apenas 80% (1), um segundo tratamento pode ser necessário. Como o uso da eritromicina em neonatos é associado ao desenvolvimento da estenose hipertrófica do piloro (EHP), todos os neonatos tratados com este medicamento devem ser monitorados para os sinais e sintomas da estenose hipertrófica do piloro e seus parentes devem ser aconselhados sobre os potenciais riscos.

Neonatos com conjuntivite e infecção gonocócica materna conhecida ou com diplococos intracelulares gram-negativos identificados no exsudato conjuntival devem ser hospitalizados, avaliados para infecção disseminada e tratados com ceftriaxona ou cefotaxima antes que os resultados dos testes confirmatórios estejam disponíveis. Recém-nascidos com hiperbilirrubinemia ou aqueles que recebem líquidos contendo cálcio não devem receber ceftriaxona, mas pode ser administrada uma dose única de cefotaxima. Irrigações frequentes do globo ocular devem ser feitas com soro fisiológico, como medida preventiva de aderências. O uso tópico isolado de pomadas antimicrobianas é ineficaz e não necessário quando é fornecida terapia sistêmica.

A conjuntivite por outras bactérias geralmente responde ao uso tópico de pomadas contendo polimixina/bacitracina, eritromicina ou tetraciclina.

A ceratoconjuntivite herpética deve ser tratada com aciclovir sistêmico e trifluridina tópica a 1% ou ganciclovir a 0,15% e em consulta com um oftalmologista. A terapia sistêmica é importante, pois pode ocorrer disseminação para o sistema nervoso central e outros órgãos.

Pomadas que contêm corticoides devem ser evitadas, pois podem exacerbar gravemente a infecções oculares porC. trachomatis e herpes-vírus simples.

Referência sobre tratamento

  1. 1. Workowski KA, Bachmann LH, Chan PA, et al. Sexually Transmitted Infections Treatment Guidelines, 2021. MMWR Recomm Rep. 2021;70(4):1-187. Publicado em 2021 Jul 23. doi:10.15585/mmwr.rr7004a1

Prevenção da conjuntivite neonatal

O uso rotineiro de gotas de nitrato de prata, pomada de eritromicina ou pomadas ou gotas oftálmicas de tetraciclina instiladas em cada globo ocular ao nascimento previne de maneira eficaz a oftalmia gonocócica. Entretanto, nenhum desses agentes previne a oftalmia por clamídia; gotas de iodopovidona podem ser eficazes contra clamídia e gonococos (não disponível nos Estados Unidos). Nitrato de prata e pomadas oftálmicas de tetraciclina também não estão disponíveis nos Estados Unidos.

O rastreamento e o tratamento de gestantes para gonorreia e clamídia são as formas mais eficazes de prevenir a infecção neonatal por clamídia, incluindo conjuntivite e pneumonia. Neonatos de mães com gonorreia não tratada devem receber uma única injeção de ceftriaxona. Especificamente, todas as gestantes com < 25 anos ou com ≥ 25 anos com ≥ 1 fator de risco (p. ex., história de IST prévia, envolvimento em comportamento sexual de alto risco, parceiro com IST ou que se envolve em comportamento de alto risco, história de encarceramento) são rastreadas na primeira consulta pré-natal e novamente durante o terceiro trimestre se o risco permanecer alto (1, 2, 3).

Para prevenir a infecção neonatal por herpes, deve-se oferecer terapia viral supressiva a gestantes com histórico de herpes genital a partir de 36 semanas de gestação (4). A cesariana é recomendada para gestantes com lesões ativas de herpes simples genital ou sintomas prodrômicos no momento do parto.

Referências sobre prevenção

  1. 1. LeFevre ML; U.S. Preventive Services Task Force. Screening for Chlamydia and gonorrhea: U.S. Preventive Services Task Force recommendation statement. Ann Intern Med. 2014;161(12):902-910. doi:10.7326/M14-1981LeFevre ML; U.S. Preventive Services Task Force. Screening for Chlamydia and gonorrhea: U.S. Preventive Services Task Force recommendation statement. Ann Intern Med. 2014;161(12):902-910. doi:10.7326/M14-1981

  2. 2. US Preventive Services Task Force, Davidson KW, Barry MJ, et al. Screening for Chlamydia and Gonorrhea: US Preventive Services Task Force Recommendation Statement. JAMA. 2021;326(10):949-956. doi:10.1001/jama.2021.14081

  3. 3. Workowski KA, Bachmann LH, Chan PA, et al. Sexually Transmitted Infections Treatment Guidelines, 2021. MMWR Recomm Rep. 2021;70(4):1-187. Publicado em 2021 Jul 23. doi:10.15585/mmwr.rr7004a1

  4. 4. Management of Genital Herpes in Pregnancy: ACOG Practice Bulletin, Number 220. Obstet Gynecol. 2020;135(5):e193-e202. doi:10.1097/AOG.0000000000003840

Pontos-chave

  • C. trachomatis, S. pneumoniae, S. aureus e H. influenzae não tipáveis causam a maioria dos casos de conjuntivite bacteriana; N. gonorrhoeae é uma causa rara.

  • Conjuntivite viral, incluindo ceratoconjuntivite herpética, é rara em neonatos.

  • Conjuntivite química pode resultar de antimicrobianos em gotas ou de nitrato de prata aplicados no momento do nascimento para evitar a conjuntivite bacteriana.

  • As conjuntivas ficam congestionadas e com secreção (aquosa ou purulenta).

  • Testar material conjuntival para patógenos (incluindo gonorreia e clamídia) utilizando técnicas de amplificação de ácido nucleico e cultura.

  • Administrar antibióticos ativamente contra o organismo infectante; neonatos com infecção gonocócica devem ser hospitalizados.

  • Administrar terapia sistêmica para oftalmia por clamídia.

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