Íleo meconial é a obstrução do íleo terminal por mecônio anormalmente endurecido. É uma causa importante de obstrução neonatal do intestino delgado. O íleo meconial ocorre com mais frequência em neonatos com fibrose cística e costuma ser a primeira manifestação da doença. Os sintomas incluem vômito, que pode ser bilioso, distensão abdominal e incapacidade de eliminar o mecônio nos primeiros vários dias de vida. O diagnóstico baseia-se no quadro clínico e nas radiografias. O tratamento é feito com enemas com contraste diluído sob fluoroscopia; a cirurgia é necessária se o enema falhar.
A obstrução meconial do íleo é mais frequentemente uma manifestação precoce da fibrose cística, que causa secreções gastrointestinais extremamente viscosas e aderentes à mucosa intestinal. Íleo meconial é a manifestação clínica inicial da fibrose cística em 10 a 20% dos casos, e 80 a 90% dos neonatos com íleo meconial também têm fibrose cística (1).
A obstrução geralmente ocorre no nível do íleo terminal (diferente da obstrução do colo causada pela síndrome do tampão de mecônio) e pode ser diagnosticada por ultrassonografia pré-natal. Distalmente à obstrução, o colo é estreito e vazio ou contém pequenas quantidades de esferas de mecônio dissecado. O colo relativamente vazio, de pequeno calibre, é chamado microcolo e é secundário à difusão.
Referência geral
1. Tobias J, Tillotson M, Maloney L, Fialkowski E. Meconium Ileus, Distal Intestinal Obstruction Syndrome, and Other Gastrointestinal Pathology in the Cystic Fibrosis Patient. Surg Clin North Am. 2022;102(5):873-882. doi:10.1016/j.suc.2022.07.016
Sinais e sintomas do íleo meconial
Neonatos com íleo meconial não passam mecônio nas primeiras 12 a 24 horas após o nascimento, ao contrário dos neonatos normais. Eles apresentam sinais de obstrução intestinal, incluindo vômito que pode ser bilioso e distensão abdominal. Alças de intestino delgado distendidas podem ser, às vezes, palpáveis através da parede abdominal, sentindo-se caracteristicamente a presença de uma massa. Peritonite meconial com desconforto respiratório e ascite podem ocorrer secundariamente à perfuração (1).
Referência sobre sinais e sintomas
1. Galante G, Freeman AJ: Gastrointestinal, pancreatic, and hepatic manifestations of cystic fibrosis in the newborn. Neoreviews 20(1):e12–e24, 2019. doi: 10.1542/neo.20-1-e12
Complicações do íleo meconial
Ultrassonografia pré-natal
Radiografias simples
Se positivo, testes para fibrose cística
A ultrassonografia pré-natal pode revelar alterações in utero sugestivas, porém não específicas, de fibrose cística e íleo meconial (p. ex., intestino dilatado, polidrâmnio). A ultrassonografia pré-natal também pode detectar ascite, calcificações e pseudocistos associados à peritonite meconial.
Suspeita-se do diagnóstico do íleo meconial em um neonato com sinais de obstrução intestinal, particularmente quando existe história familiar de fibrose cística. Os pacientes devem ser submetidos a radiografia abdominal, que pode revelar alças intestinais dilatadas; entretanto, níveis de líquidos podem estar ausentes. Um aspecto de “bolha de sabão” ou “vidro moído” devido à presença de pequenas bolhas de ar misturado com mecônio faz o diagnóstico de íleo meconial. Se houver a presença de peritonite meconial, manchas de mecônio calcificado delineiam a superfície peritoneal e até mesmo o escroto.
Enema baritado hidrossolúvel revela microcólon com obstrução no íleo terminal.
Pacientes com diagnóstico de íleo meconial devem ser avaliados para fibrose cística.
Complicações do íleo meconial
Aproximadamente 40% dos casos apresentam complicações (1), que podem incluir o seguinte.
Perfuração in utero levando à peritonite meconial, uma inflamação química da cavidade peritoneal, que pode causar formação de pseudocisto, infarto intestinal, calcificações intra-abdominais, doença adesiva e ascite (2).
Alças intestinais dilatadas podem impedir a rotação intestinal normal in utero, levando à má-rotação e torção (vólvulo). Um vólvulo in utero pode levar a infarto e perfuração intestinais. As áreas infartadas do intestino também podem ser reabsorvidas, deixando uma ou mais áreas de atresia intestinal.
Perfuração ou vólvulo também podem ocorrer no período pós-natal.
Se cirurgia intestinal extensa for necessária após o nascimento, em razão de complicações in utero ou pós-natais, a síndrome do intestino curto pode ser uma complicação a longo prazo.
Lactentes com íleo meconial também têm maior risco de desenvolver colestase.
Referências sobre diagnóstico
1. Padoan R, Cirilli N, Falchetti D, Cesana BM; Meconium Ileus Project Study Group. Risk factors for adverse outcome in infancy in meconium ileus cystic fibrosis infants: A multicentre Italian study. J Cyst Fibros. 2019;18(6):863-868. doi:10.1016/j.jcf.2019.07.003
2. Shinar S, Agrawal S, Ryu M, et al. Fetal Meconium Peritonitis - Prenatal Findings and Postnatal Outcome: A Case Series, Systematic Review, and Meta-Analysis. Fetale Mekoniumperitonitis – pränatale Befunde und postnatales Outcome: Eine Fallserie, systematische Übersicht und Metaanalyse. Ultraschall Med. 2022;43(2):194-203. doi:10.1055/a-1194-4363
Tratamento do íleo meconial
Radiografia com enema contrastado
Algumas vezes, cirurgia
A obstrução pode ser aliviada nos casos não complicados (isto é, ausência de perfuração, vólvulo ou atresia) administrando ≥ 1 enema com um meio de contraste radiográfico diluído (p. ex., gastrografina [meglumina de diatrizoato e diatrizoato de sódio]), às vezes com N-acetil-cisteína, sob fluoroscopia; no entanto, contraste com material hipertônico pode causar grandes perdas hídricas via trato gastrointestinal que exigem reidratação intravenosa.
A laparotomia será necessária se o enema não reparar a obstrução. A ileostomia com lavagem repetida das alças proximal e distal com N-acetil-cisteína é usualmente necessária para liquefazer e remover o mecônio anormal.
Em casos complicados, pode ser necessária cirurgia para atresia intestinal, aderências ou pseudocistos. Perfuração pós-natal e vólvulo são emergências cirúrgicas.
