Problemas relacionados a medicamentos são comuns em idosos e incluem ineficácia medicamentosa, efeitos adversos de medicamentos, superdosagem, subdosagem, tratamento inapropriado, monitoramento inadequado, não adesão e interações medicamentosas ou fármaco-doença. (Ver também Visão geral do tratamento farmacológico em idosos.)
Os medicamentos podem ser ineficazes em idosos porque os médicos subdosam ou não ajustam a dose ao longo do tempo (p. ex., devido a uma maior preocupação com os efeitos adversos) ou porque a adesão é baixa (p. ex., devido a limitações financeiras ou cognitivas).
Os efeitos adversos de medicamentos são indesejáveis, desconfortáveis ou perigosos. Os exemplos comuns são: excessiva sedação, confusão, alucinações, quedas, diarreia, obstipação e sangramento. Os efeitos adversos de medicamentos ocorrem a uma taxa de cerca 50 eventos a cada 1.000 pessoas por ano em indivíduos deambulatórios com ≥ 65 anos (1). As taxas de hospitalização causada por efeitos adversos de medicamentos são 4 a 7 vezes maiores em pacientes idosos do que em pacientes mais jovens; essas hospitalizações em pacientes idosos são mais comumente causadas por anticoagulantes, antibióticos, agentes para diabetes, analgésicos opioides e antipsicóticos (2, 3).
Referências
1. Gurwitz JH, Field TS, Harrold LR, et al. Incidence and preventability of adverse drug events among older persons in the ambulatory setting. JAMA. 2003;289(9):1107-1116. doi:10.1001/jama.289.9.1107
2. Salvi F, Marchetti A, D'Angelo F, Boemi M, Lattanzio F, Cherubini A. Adverse drug events as a cause of hospitalization in older adults. Drug Saf. 2012;35 Suppl 1:29-45. doi:10.1007/BF03319101
3. Shehab N, Lovegrove MC, Geller AI, Rose KO, Weidle NJ, Budnitz DS. US Emergency Department Visits for Outpatient Adverse Drug Events, 2013-2014. JAMA. 2016;316(20):2115-2125. doi:10.1001/jama.2016.16201
Razões dos problemas relacionados a fármacos
Os efeitos adversos de medicamentos podem ocorrer em qualquer paciente, mas certas características do idoso os tornam mais suscetíveis. Por exemplo, idosos frequentemente utilizam muitos fármacos e têm alterações relacionadas com a idade tanto na farmacodinâmica como na farmacocinética; ambas aumentam o risco de efeitos adversos.
Em qualquer idade, os efeitos adversos dos fármacos podem ocorrer quando os fármacos são prescritos e utilizados de maneira apropriada; p. ex., reações alérgicas recentes não são previsíveis ou evitáveis. No entanto, considera-se que os efeitos adversos são preveníveis em muitos casos em idosos (1).
Em idosos, diversas causas comuns de efeitos adversos de medicamentos, ineficácia, ou ambos, dos fármacos podem ser prevenidas. Essas causas evitáveis incluem:
Condição médica não tratada
A comunicação inadequada com os pacientes ou entre os profissionais de saúde (especialmente durante as transições de cuidados de saúde) é uma das principais causas de efeitos adversos de medicamentos em idosos. Pode-se evitar muitos problemas relacionados com medicamentos se fosse dada mais atenção à reconciliação medicamentosa quando os pacientes são internados ou recebem alta hospitalar ou em outras transições de cuidados (transferência da casa de repouso para um hospital ou da casa de repouso especializada para casa) (2-4). Outra fonte de efeitos adversos de medicamentos é a falta de avaliação contínua da eficácia do medicamento e a necessidade contínua de medicamentos específicos.
Interações entre fármacos e doença
Um determinado fármaco administrado para tratar certa doença pode exacerbar outra doença independentemente da idade do paciente, mas tais interações devem ser especialmente consideradas nos idosos. A distinção, muitas vezes sutil, entre os efeitos adversos de medicamentos e os da doença é difícil e pode levar a uma cascata de prescrições. Os critérios Beers® da American Geriatrics Society são comumente utilizados para identificar potenciais interações fármaco-doença em idosos e fornecem recomendações para tratamento médico (5).
Uma cascata de prescrição ocorre quando o efeito adverso de determinado fármaco é interpretado de maneira equivocada como um sintoma ou sinal de um novo distúrbio e se prescreve um novo fármaco para seu tratamento. O novo e desnecessário fármaco pode causar efeitos adversos adicionais, que podem ainda ser novamente interpretados de maneira equivocada como outro distúrbio e tratado desnecessariamente, e assim por diante.
Vários fármacos têm efeitos adversos que lembram os sintomas de doenças comuns em idosos ou alterações causadas pelo envelhecimento. Seguem alguns exemplos:
Os antipsicóticos podem causar sintomas similares aos da doença de Parkinson. Em idosos, pode-se diagnosticar esses sintomas como doença de Parkinson e tratá-los com dopaminérgicos, possivelmente levando a efeitos adversos dos fármacos antiparkinsonianos (p. ex., hipotensão ortostática, delirium, alucinações, náuseas).
Pode-se prescrever inibidores da colinesterase (p. ex., donepezila, rivastigmina, galantamina) para pacientes com demência. Esses fármacos podem causar diarreia ou incontinência urinária de urgência ou frequência. Os pacientes podem então receber prescrição de fármacos anticolinérgicos (p. ex., oxibutinina) para tratar os novos sintomas. Assim, um medicamento desnecessário é acrescentado, aumentando o risco de efeitos adversos de medicamentos e interações medicamentosas. A melhor estratégia é a diminuição da dose do inibidor de colinesterase ou a consideração de um tratamento diferente para demência (p. ex., memantina) com um mecanismo diferente de ação.
Pode-se prescrever bloqueadores dos canais de cálcio (p. ex., amlodipino, nifedipina, felodipino) a pacientes com hipertensão. Esses fármacos podem tratar a hipertensão de forma adequada, mas também podem provocar edema periférico. Pode-se então prescrever aos pacientes terapia diurética (p. ex., furosemida), que pode causar hipopotassemia, exigindo suplementação de potássio. Uma estratégia melhor é reduzir a dose ou interromper o bloqueador dos canais de cálcio em favor de outros fármacos anti-hipertensivos, como inibidores da enzima de conversão da angiotensina ou bloqueadores do receptor da angiotensina.
Ao prescrever fármacos a pacientes idosos, deve-se considerar a possibilidade de que um novo sinal ou sintoma decorre do tratamento farmacológico já em uso.
Interações medicamentosas
Os idosos são vulneráveis às interações medicamentosa porque geralmente fazem uso de muitos fármacos. Com frequência, os idosos também fazem uso de ervas medicinais e outros suplementos dietéticos e podem não compartilhar isso com os profissionais de saúde. As ervas medicinais podem interagir com os fármacos prescritos e provocar efeitos adversos. Por exemplo, o extrato de ginkgo biloba tomado com varfarina pode aumentar o risco de sangramento; a erva-de-são-joão tomada com inibidores seletivos da recaptação da serotonina pode aumentar o risco de síndrome serotoninérgica. Portanto, os médicos devem questionar os pacientes especificamente sobre os suplementos alimentares, inclusive as ervas medicinais e suplementos vitamínicos.
As interações medicamentosas em idosos são semelhantes às da população em geral. No entanto, a indução do metabolismo do fármaco citocromo P-450 (CYP450) por certos fármacos (p. ex., fenitoína, carbamazepina, rifampicina) pode estar diminuída no idoso; portanto, a alteração (aumento) no metabolismo do fármaco pode ser menos pronunciada no idoso. Muitos outros fármacos inibem o metabolismo do CYP450 e, assim, aumentam o risco de toxicidade medicamentosa que depende dessa via para a eliminação. Como os idosos costumam utilizar um grande número de fármacos, eles têm maior risco de interações múltiplas do CYP450 difíceis de prever. O uso de múltiplos medicamentos também pode tornar muitas interações medicamentosas difíceis de prever. Por exemplo, mesmo que haja uma interação conhecida entre 2 medicamentos, essa interação pode ser diferente se um terceiro ou quarto medicamento estiver sendo administrado simultaneamente. Além disso, o uso concomitante de ≥ 1 fármaco com efeitos adversos similares pode aumentar o risco ou a gravidade dos efeitos adversos.
Monitoramento inadequado
O monitoramento do uso do fármaco envolve:
Documentar a indicação para um novo fármaco
Manter uma lista atualizada de fármacos utilizados para o paciente nos registros médicos
Monitorar o resultado dos objetivos terapêuticos e outras respostas aos novos fármacos
Monitoramento de exames laboratoriais necessários ou outros testes para verificar a eficácia ou efeitos adversos (p. ex., sódio, potássio, magnésio, vitamina B12, frequência cardíaca, intervalo QT corrigido [QTc])
Revisar periodicamente os medicamentos para verificar sua eficácia e necessidade contínua
Tais medidas são especialmente importantes para os pacientes idosos. A falta de monitoramento atento, especialmente após a prescrição de novos fármacos, aumenta o de risco de polifarmácia, efeitos adversos e ineficácia.
Seleção medicamentosa inadequada
Um fármaco é considerado inadequado quando o potencial de dano é maior que o de benefício. O uso inadequado de um fármaco pode envolver:
Escolha de fármaco, dose, frequência de dose ou duração da terapia inadequados
Duplicação da terapia
Não levar em consideração as interações medicamentosas e as indicações apropriadas para o uso do fármaco
Fármacos apropriados que são erroneamente mantidos em uso contínuo, depois da resolução de doença aguda (como pode acontecer quando o paciente é transferido de uma instituição de saúde para outra e a indicação não é reavaliada)
Algumas classes de fármacos são de especial preocupação em idosos. Alguns medicamentos devem ser completamente evitados em idosos, alguns devem ser evitados apenas em certas situações, e outros podem ser utilizados, mas com monitoramento rigoroso. Os critérios de Beers da American Geriatrics Society® listam os fármacos potencialmente inapropriados para idosos de acordo com a classe farmacológica; outras listas similares estão disponíveis (5). Uma lista de algumas alternativas farmacológicas e não farmacológicas com referências de apoio também está disponível (6). Os médicos devem ponderar os potenciais benefícios e riscos da terapia em cada paciente. Os critérios não se aplicam a pacientes em fase terminal, quando as decisões em relação a tratamentos farmacológicos são muito diferentes.
Apesar da disseminação e conhecimento dos American Geriatrics Society Beers Criteria® e de outros critérios, fármacos inadequados ainda são prescritos para idosos; em geral, cerca de 45% dos idosos residentes na comunidade receberam pelo menos um fármaco inadequado (7). Em tais pacientes, o risco de efeitos adversos é elevado. Em pacientes institucionalizados, o uso inadequado também aumenta o risco de hospitalização e morte. Em um estudo com pacientes hospitalizados, 27,5% receberam um medicamento potencialmente inadequado com base nos Critérios de Beers da American Geriatrics Society® (8).
Alguns fármacos inapropriados [p. ex., difenidramina e fármacos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) orais] estão disponíveis sem prescrição médica; assim, os médicos devem questionar especificamente os pacientes sobre o uso de fármacos de venda livre e discutir com eles os potenciais problemas que esses fármacos podem causar.
Frequentemente, os idosos recebem prescrição de medicamentos (em geral, analgésicos, inibidores da bomba de prótons ou hipnóticos) para sintomas leves (incluindo efeitos adversos de outros medicamentos) que podem ser mais bem tratados com intervenções não farmacológicas (p. ex., exercícios, fisioterapia, massagem, alterações na dieta, terapia cognitivo-comportamental) ou pela redução da dose do medicamento que causa os efeitos adversos. Iniciar fármacos adicionais geralmente é inadequado; os benefícios podem ser pequenos, além de aumentar os custos, e o novo fármaco pode provocar intoxicação.
A eliminação eficaz do uso inapropriado de medicamentos em idosos requer mais do que evitar uma pequena lista de medicamentos e observar as categorias de medicamentos que causam preocupação. O regime medicamentoso completo de um paciente também deve ser avaliado regularmente para determinar a necessidade contínua de um medicamento e ponderar os potenciais benefícios em relação aos riscos.
Falta de adesão do paciente
A eficácia do fármaco geralmente é comprometida pela não adesão do paciente idoso ambulatorial. A adesão é afetada por muitos fatores, incluindo barreiras linguísticas, mas não pela idade por si só. Até metade dos idosos não utiliza os fármacos indicados, geralmente utilizam menos que o prescrito (subadesão). As causas são similares às dos pacientes jovens. Além disso, os seguintes motivos também contribuem:
Limitações físicas e financeiras que podem dificultar a compra do fármaco
Problemas cognitivos ou baixo conhecimento de saúde, o que pode dificultar o uso de medicamentos conforme as instruções
Uso de múltiplos fármacos (polifármacia)
Uso de fármacos que devem ser tomados várias vezes ao dia ou de maneira específica
Falta de compreensão sobre os benefícios pretendidos de um medicamento, os potenciais efeitos adversos ou o uso de formas farmacêuticas não convencionais, como adesivos transdérmicos ou inaladores
Um regime com doses muito frequentes ou muito infrequentes, múltiplos fármacos, ou ambos, pode ser muito complicado para os pacientes darem continuidade. Os médicos devem avaliar o entendimento e as habilidades de saúde dos pacientes para aderir a um regime terapêutico (p. ex., destreza, força da mão, cognição, visão) e tentar acomodar suas limitações—, p. ex., providenciando ou recomendando recipientes de fácil acesso, rótulos de medicamentos e instruções em letras grandes, recipientes equipados com alarmes de lembrete, recipientes preenchidos com base nas necessidades diárias dos medicamentos, chamadas telefônicas de lembrete ou assistência ao medicamento. Os farmacêuticos e enfermeiros podem auxiliar com ensino e revisão das instruções prescritas ao paciente idoso em cada consulta. É possível a um farmacêutico identificar um problema a observando se os pacientes obtêm renovações de receitas dentro do cronograma ou se uma prescrição parece ilógica ou incorreta. Muitas farmácias e sistemas de saúde são capazes de monitorar os padrões de renovação da receita e entrar em contato com os pacientes e/ou médicos se as prescrições não estiverem sendo renovadas em intervalos apropriados.
Superdosagem
A dosagem excessiva de um fármaco apropriado pode ser prescrita ao paciente idoso, se o médico não considerar as alterações relacionadas à idade que afetam a farmacocinética e a farmacodinâmica. Por exemplo, deve-se ajustar as doses dos fármacos eliminados por via renal (p. ex., gabapentina, alguns antimicrobianos, digoxina) em pacientes com insuficiência renal.
Em geral, embora os requisitos para doses variem consideravelmente de uma pessoa para outra, os fármacos devem ser iniciados na dose mais baixa em idosos. A maioria dos medicamentos não foi bem estudada em adultos com > 75 anos de idade (principalmente aqueles com múltiplas morbidades, uso de múltiplos medicamentos e/ou fragilidade) e, como resultado, a dosagem excessiva é comum simplesmente pela falta de dados sobre como dosar medicamentos nesses pacientes. Normalmente indicam-se doses iniciais de cerca de um terço à metade da dose normal para adultos quando um fármaco tem baixo índice terapêutico ou quando outra doença pode exacerbar-se por causa desse fármaco, especialmente quando os pacientes são frágeis. A dose é aumentada, quando tolerada, até o efeito desejado. O paciente deve ser avaliado com relação aos efeitos adversos e os níveis do fármaco devem ser monitorados sempre que possível.
A superdosagem também pode ocorrer quando as interações medicamentosas aumentam a quantidade de fármaco disponível ou diferentes profissionais prescrevem determinado fármaco e não sabem que o outro prescreveu o mesmo fármaco ou algum similar (duplicação terapêutica). Pacientes que utilizam apenas uma farmácia aumentam a probabilidade de identificar e prevenir a duplicação terapêutica.
Comunicação insatisfatória
A comunicação insatisfatória da informação médica nos pontos de transição (de uma instituição de cuidados de saúde para outra) causa muitos erros de medicamentos e efeitos adversos de medicamentos no hospital. Quando os pacientes recebem alta do hospital, os esquemas medicamentosos que foram iniciados e necessários apenas no hospital (p. ex., hipnóticos sedativos, laxantes, inibidores da bomba de prótons) podem ser desnecessariamente continuados pelo médico que prescreve a alta. Da mesma forma, os formulários hospitalares podem determinar a mudança de um medicamento para outro durante a internação (p. ex., estatinas), o que pode resultar em erros de duplicação ou omissão na alta. Por outro lado, na admissão a uma unidade de saúde, a falta de comunicação pode resultar em omissão não intencional da manutenção necessária de determinado fármaco. A reconciliação medicamentosa se refere a um processo formal de revisão de todos os medicamentos receitados em cada transição de atendimento e pode ajudar a eliminar erros e omissões.
Subprescrição
Fármacos apropriados podem ser subprescritos — isto é, não ser utilizados para a máxima eficácia. A subprescrição pode aumentar a morbidade e mortalidade, além de diminuir a qualidade de vida. Os médicos devem utilizar doses adequadas dos fármacos e, quando indicado, regimes de múltiplos fármacos.
Os fármacos que são frequentemente subprescritos para idosos incluem aqueles utilizados para tratar a depressão, doença de Alzheimer, insuficiência cardíaca, pós-infarto do miocárdio (betabloqueadores), fibrilação atrial (anticoagulantes) e hipertensão. Além disso, as vacinas nem sempre são administradas da maneira recomendada.
Betabloqueadores: nos pacientes com história de infarto do miocárdio e/ou insuficiência cardíaca, mesmo em idosos com elevado risco de complicações (p. ex., aqueles com doença pulmonar ou diabetes), esses fármacos diminuem as taxas de mortalidade e internações.
Anti-hipertensivos: existem diretrizes disponíveis para tratamento da hipertensão em idosos; o tratamento parece ser benéfico (diminuição do risco de acidente vascular cerebral e de eventos cardiovasculares graves), mesmo em idosos frágeis. No entanto, estudos indicam que a hipertensão geralmente não é controlada de maneira ideal em pacientes idosos.
Fármacos para a doença de Alzheimer: os inibidores da acetilcolinesterase e os antagonistas de NMDA têm apresentado benefícios aos indivíduos com doença de Alzheimer. A magnitude do benefício é modesta e variável, mas deve-se oferecer aos pacientes e aos familiares a oportunidade de uma decisão esclarecida sobre o uso.
Anticoagulantes: anticoagulantes (tanto a varfarina como os anticoagulantes diretos orais mais recentes) reduzem o risco de acidente vascular cerebral em pacientes com fibrilação atrial. Embora, geralmente, haja um maior risco de sangramento com o uso de anticoagulantes, alguns idosos que podem se beneficiar desses fármacos não o recebem.
Vacinas: idosos têm maior risco de morbidade e mortalidade decorrentes de influenza, infecção pneumocócica, vírus sincicial respiratório, COVID-19, coqueluche e herpes zóster. As taxas de vacinação entre idosos ainda podem ser aprimoradas.
Os pacientes idosos com doenças crônicas, agudas ou não relacionadas podem ser subtratados (p. ex., a hipercolesterolemia pode não ser tratada em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica). Os médicos podem suspender esses tratamentos por se preocupar com o maior risco de efeitos adversos ou com o tempo necessário para se beneficiar do tratamento em um paciente com expectativa de vida reduzida. Os médicos podem supor que o manejo do problema principal já esgota a capacidade ou a disposição dos pacientes, ou que eles não têm meios de arcar com os medicamentos complementares. Pacientes e cuidadores devem participar ativamente da tomada de decisões em relação à terapia farmacológica para que os médicos possam entender as prioridades e preocupações do paciente.
Referências
1. Zazzara MB, Palmer K, Vetrano DL, Carfì A, Onder G. Adverse drug reactions in older adults: a narrative review of the literature [correção publicada em Eur Geriatr Med. 2022 Feb;13(1):307. doi: 10.1007/s41999-021-00591-4.]. Eur Geriatr Med. 2021;12(3):463-473. doi:10.1007/s41999-021-00481-9
2. Tam VC, Knowles SR, Cornish PL, et al: Frequency, type and clinical importance of medication history errors at admission to hospital: a systematic review. CMAJ 173(5):510-5, 2005. doi: 10.1503/cmaj.045311
3. Wong JD, Bajcar JM, Wong GG, et al: Medication reconciliation at hospital discharge: evaluating discrepancies. Ann Pharmacother 42(10):1373-9, 2008. doi: 10.1345/aph.1L190
4. Forster AJ, Clark HD, Menard A, et al: Adverse events among medical patients after discharge from hospital. CMAJ 170(3):345-9.
5. The 2023 American Geriatrics Society Beers Criteria® Update Expert Panel. American Geriatrics Society 2023 updated AGS Beers Criteria® for potentially inappropriate medication use in older adults. J Am Geriatr Soc. 2023;71(7):2052-2081. doi:10.1111/jgs.18372
6. Hanlon JT, Semla TP, Schmader KE, et al: Alternative medications for medications in the use of high-risk medications in the elderly and potentially harmful drug-disease interactions in the elderly quality measures. J Am Geriatr Soc 63(12): e8-e18, 2015. doi: 10.1111/jgs.13807
7. Innes GK, Ogden CL, Crentsil V, Concato J, Fakhouri TH. Prescription Medication Use Among Older Adults in the US. JAMA Intern Med. 2024;184(9):1121-1123. doi:10.1001/jamainternmed.2024.2781
8. Page RL 2nd, Ruscin JM. The risk of adverse drug events and hospital-related morbidity and mortality among older adults with potentially inappropriate medication use. Am J Geriatr Pharmacother. 2006;4(4):297-305. doi:10.1016/j.amjopharm.2006.12.008
Prevenção
Antes de iniciar um novo fármaco
Os médicos devem considerar os seguintes itens, antes de iniciar um novo fármaco, para diminuir o risco dos efeitos adversos de medicamentos no idoso:
Considerar que novos sintomas ou problemas médicos podem estar relacionados à terapia farmacológica existente
Considerar um tratamento não medicamentoso.
Discutir as metas do tratamento com o paciente e/ou cuidadores e definir um prazo em que se espera o benefício do tratamento farmacológico
Avaliar a indicação de cada novo fármaco (para evitar o uso de fármacos desnecessários)
Considerar as alterações relacionadas à idade na farmacocinética ou farmacodinâmica e o efeito nas necessidades de dosagem
Escolher o agente farmacológico mais seguro possível para a indicação (p. ex., para artrite não inflamatória, paracetamol em vez de um anti-inflamatório não esteroide (AINE) oral)
Checar o potencial de interação fármaco-doença e interação medicamentosa
Começar com a menor dose eficaz
Utilizar a menor quantidade de fármacos necessários
Observar as doenças coexistentes e a probabilidade de contribuírem para os efeitos adversos de medicamentos
Explicar o uso e os efeitos adversos de cada fármaco
Dar instruções claras aos pacientes sobre como tomar seus medicamentos (incluindo nomes genéricos e de marca, grafia de cada nome do medicamento, indicação para cada medicamento e explicação de formulações que contêm mais de um medicamento) e por quanto tempo o medicamento provavelmente será necessário
Antecipar a confusão devido aos sons de nomes semelhantes de fármacos e ressaltar denominações que podem ser confusas (p. ex., Glucophage® e Glucovance®)
Após iniciar um fármaco
Os seguintes itens devem ser considerados após iniciar um medicamento:
Assumir que um novo sintoma está relacionado com o fármaco até prova em contrário (para prevenir uma cascata de prescrição).
Monitorar os sinais dos efeitos adversos de medicamentos, incluindo a medida dos níveis de fármacos e realizar outros exames laboratoriais, quando necessário.
Documentar a resposta à terapia e aumentar as doses, quando necessário, para alcançar o efeito desejado.
Reavaliar regularmente a necessidade de continuar o tratamento farmacológico e interromper fármacos que não são mais necessários ou fármacos cujos potenciais riscos sejam maiores do que potenciais benefícios.
Continuidade
Devem ser considerados os seguintes itens:
Reconciliação medicamentosa é o processo que ajuda a assegurar a transferência das informações referentes ao regime medicamentoso em qualquer ponto de transição do sistema de cuidados de saúde. O processo inclui identificação e listagem de todos os fármacos que o paciente utiliza (nome, dose, frequência, via) e compara a lista resultante com as prescrições médicas em um ponto de transição. A reconciliação medicamentosa deve ocorrer a cada fase de transferência (admissão, transferência e alta).
Programas informatizados de prescrição médica e sistemas de prontuários médicos eletrônicos podem incorporar alertas de prescrição para avisar os médicos sobre potenciais problemas (p. ex., alergia, necessidade de redução da dose em pacientes com função renal comprometida, interações medicamentosas). Esses programas também permitem o monitoramento dos efeitos adversos de medicamentos em determinados pacientes.
