Como tratar a epistaxe posterior com balão

PorWaleed M Abuzeid, BSc, MBBS, University of Washington
Reviewed ByLawrence R. Lustig, MD, Columbia University Medical Center and New York Presbyterian Hospital
Revisado/Corrigido: modificado jun. 2025
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Visão Educação para o paciente

A epistaxe posterior (hemorragia nasal) pode ser controlada por tamponamento com balão.

A causa da epistaxe pode ser sangramento na passagem nasal anterior ou posterior. O sangramento anterior é muito mais comum, mas o sangramento posterior é mais perigoso, sendo tratado de modo diferente; assim, identificar o local do sangramento é fundamental. A epistaxe que persiste sem uma fonte nasal anterior evidente é mais frequentemente causada por um local de sangramento posterior.

O sangramento posterior é, às vezes, controlado com vasoconstritores tópicos. Caso contrário, geralmente requer tratamento com tamponamento nasal. Historicamente, o tamponamento com gaze costumava ser utilizado, mas o tamponamento com balão é mais fácil de realizar e mais confortável para o paciente e, portanto, é geralmente preferido. Alguns balões podem ocluir simultaneamente as cavidades nasais anterior e posterior (1).

O tamponamento nasal posterior com gaze pode ser bastante desconfortável e, se possível, deve ser evitado. Contudo, é menos caro que balões comercialmente disponíveis, e pode ser a única opção disponível em ambientes com menos recursos. Analgesia e sedação intravenosa frequentemente são necessárias e é necessária internação. Aplicar um monitor cardíaco e oximetria de pulso é fortemente recomendado.

O tampão de gaze posterior é composto por quadrados de gaze de 10 cm, dobrados, enrolados e firmemente amarrados com dois fios de sutura de seda grossa, sendo recoberto com pomada antibiótica. As extremidades de uma sutura são amarradas a um catéter que foi introduzido através da cavidade nasal no lado do sangramento e trazido para fora pela boca. Conforme o catéter é retirado do nariz, o tampão nasal posterior é puxado para o lugar acima do palato mole na nasofaringe. A segunda sutura, que é deixada longa, pende pela parte de trás da garganta e é cortada abaixo do nível do palato mole para que possa ser utilizada para remover o tampão. A cavidade nasal anterior a este tampão é firmemente tamponada com gaze impregnada com vaselina de 1/2 polegada, e a primeira sutura é amarrada sobre um rolo de gaze nas narinas anteriores para fixar o tampão nasal posterior. O tamponamento permanece no lugar por 4 a 5 dias. Um antibiótico (p. ex., amoxicilina/clavulanato 875 mg, por via oral, duas vezes ao dia, durante 7 a 10 dias) é administrado para prevenir sinusite e otite média. O tamponamento nasal posterior diminui a PO2 arterial, e O2 suplementar é administrado enquanto o tamponamento está no lugar.

(Ver Epistaxe, Como tratar epistaxe com cauterização e Como tratar epistaxe anterior com tamponamento nasal.)

Indicações para o tratamento da epistaxe posterior com balão

  • Epistaxe de uma fonte posterior suspeita

Contraindicações ao tratamento de epistaxe posterior com balão

Contraindicações absolutas

  • Fratura da base do crânio possível ou identificada

  • Trauma significativo no osso maxilofacial ou nasal

  • Vias respiratórias não controladas ou instabilidade hemodinâmica

O objetivo dos procedimentos descritos aqui é a epistaxe espontânea ou resultante de trauma leve. Epistaxe em pacientes com trauma facial deve ser tratado por especialista.

Contraindicações relativas

  • Desvio grave do septo nasal em direção ao lado do sangramento (dificulta a inserção do aparelho com balão)

Complicações do tratamento de epistaxe posterior com balão

  • Lesão (p. ex., necrose por pressão)

  • Migração do tamponamento nasal e sua aspiração às vias respiratórias ou comprometimento das vias respiratórias

  • Infecções como sinusite, otite média, ou raramente síndrome do choque tóxico

  • Penetração do catéter através da base do crânio, invadindo o parênquima cerebral, embora isso seja improvável na ausência de trauma preexistente na base do crânio

  • Disfagia

  • Otite média secundária à obstrução da tuba auditiva

  • Necrose da asa do nariz

  • Às vezes, hipoxemia, particularmente se os pacientes também estão sedados

  • Ativação do reflexo trigêmino-cardíaco, levando à arritmia cardíaca e até à parada cardíaca *

* Tais complicações cardíacas foram relatadas na literatura, embora isso ainda seja controverso.

Equipamento para tratamento de epistaxe posterior com balão

  • Luvas, máscara e capote

  • Bata ou campos estéreis para o paciente

  • Monitor cardíaco, oxímetro de pulso

  • Configuração IV: angiocatéter de calibre 18 (ou maior) e 1 L de solução de cristaloide isotônico (p. ex., soro fisiológico a 0,9%)

  • Fármacos para sedação/analgesia, se necessário (p. ex., 0,5 a 1,0 mcg/kg de fentanil até uma dose máxima de 100 mcg; considerar doses mais baixas para aqueles com mais de 65 anos e titular até o efeito)

  • Esponjas de gaze estéril

  • Bacia de êmese

  • Fonte de sucção e cânulas Frazier, de diversos calibres, com controle digital integrado para regular a intensidade da sucção

  • Cadeira com apoio de cabeça ou cadeira de otorrinolaringologista

  • Fonte de luz e lanterna de cabeça com feixe estreito ajustável

  • Espéculo nasal

  • Abaixadores de língua

  • Pinça baioneta

  • Catéter com balão inflável 12 a 16 Fr (p. ex., Foley) ou balão comercial para epistaxe (balão simples ou duplo)

  • Mistura de anestésico/vasoconstritor tópico (p. ex., cocaína a 4%, tetracaína a 1% ou lidocaína a 4% mais oximetazolina a 0,5%) (p. ex., spray de oximetazolina a 0,5%)

  • Lubrificante hidrossolúvel ou gel anestésico (p. ex., lidocaína em gel)

  • Swabs ou compressas de algodão

  • Às vezes, suprimentos e equipamentos para tamponamento nasal anterior utilizando tira de gaze

Considerações adicionais para tratamento de epistaxe posterior com balão

  • Iniciar o tratamento contra qualquer hipovolemia ou choque antes de tratar a epistaxe.

  • Perguntar sobre o uso de fármacos anticoagulantes ou antiplaquetários.

  • Verificar o hemograma completo, o tempo de protrombina (TP) e o tempo de tromboplastina parcial (TTP) se houver sinais ou sintomas de doença hemorrágica ou se o paciente tiver epistaxe grave ou recorrente.

Se o tamponamento posterior falhar em controlar a hemorragia nasal, métodos invasivos realizados por especialistas podem ser necessários:

  • Ligadura da artéria esfenopalatina (AEP), geralmente utilizando uma abordagem endoscópica transnasal; as taxas de sucesso excedem 85% (2)

  • Embolização endovascular da AEP; taxa de sucesso relatada de 88% (3).

A ligadura endoscópica da AEP é feita por um otorrinolaringologista e tem risco mais baixo de complicações graves (p. ex., acidente vascular cerebral, cegueira) do que a embolização endovascular da AEP e pode ser mais apropriada para pacientes que toleram com segurança uma anestesia geral ou se o procedimento de embolização não está prontamente disponível.

A embolização endovascular da AEP é feita por um radiologista intervencionista sob anestesia local e pode ser melhor para pacientes com múltiplas comorbidades que impedem uma anestesia geral segura, para aqueles em terapia anticoagulante e para pacientes que apresentam sangramento mesmo depois de uma ligadura endoscópica da AEP.

De vez em quando, a artéria maxilar interna e seus ramos devem ser ligados para controlar o sangramento. As artérias podem ser ligadas com clipes utilizando orientação endoscópica ou microscópica e uma abordagem cirúrgica através do seio maxilar. Como alternativa, a embolização angiográfica pode ser realizada por radiologista habilidoso.

Anatomia relevante para tratamento de epistaxe posterior com balão

  • Em geral, epistaxe posterior grave ou intratável decorre das artérias maxilar interna ou esfenopalatina ou de seus ramos proximais.

Posicionamento para tratar epistaxe posterior com balão

  • O paciente deve sentar-se em posição olfativa com a cabeça estendida, de preferência em uma cadeira de consultório de otorrinolaringologia. O occipúcio do paciente deve estar apoiado para evitar seu movimento repentino para trás. O nariz do paciente deve estar nivelado em relação aos olhos do médico.

  • O paciente deve segurar uma bacia de êmese para coletar qualquer sangramento contínuo ou êmese do sangue deglutido.

Descrição passo a passo para tratamento de epistaxe posterior com balão

Etapas iniciais:

  • Iniciar uma via IV e enviar todos os exames laboratoriais necessários.

  • Conectar o paciente a um monitor cardíaco e oxímetro de pulso.

  • Orientar o paciente a assoar o nariz para remover coágulos. Alternativamente, aspirar a passagem nasal cuidadosamente.

  • Para ajudar a identificar o local de sangramento (e possivelmente interrompê-lo), aplique uma mistura de vasoconstritor/anestésico: coloque cerca de 3 mL de solução de cocaína a 4% ou lidocaína a 4% com oximetazolina em um pequeno copo medidor; umedeça 2 ou 3 compressas de algodão na solução e insira-as no nariz, empilhadas verticalmente (ou borrife um vasoconstritor tópico, como a oximetazolina, e insira compressas de algodão contendo apenas anestésico tópico).

  • Deixar os fármacos tópicos no local por 10 a 15 minutos para interromper ou reduzir o sangramento, fornecer anestesia e reduzir o edema da mucosa.

  • Inserir um espéculo nasal com o dedo indicador apoiado no nariz ou na bochecha do paciente e o punho paralelo ao chão (de modo que as lâminas se abram verticalmente).

  • Abrir delicadamente o espéculo e examinar o nariz utilizando uma fonte de luz direcionada, que permite ao médico manter uma mão livre para manipular a sucção ou outros instrumentos durante o exame.

  • Se nenhum local de sangramento está visível no nariz anterior, utilizar um abaixador de língua e examinar a orofaringe. Sangramento contínuo sugere uma fonte posterior.

Inserir o catéter com balão para estancar um sangramento posterior ativo:

  • Administrar analgesia IV (p. ex., 0,5 a 1,0 mcg/kg de fentanil até uma dose máxima de 100 mcg; considerar doses mais baixas naqueles com mais de 65 anos e titular até o efeito).

  • Inserir o catéter com balão no nariz e avançá-lo delicadamente paralelo ao assoalho da cavidade nasal. Avançar o catéter até que a ponta possa ser visualizada na orofaringe ao examinar a boca.

  • Seguir as instruções de insuflação para balões comerciais para epistaxe. Se estiver utilizando um catéter de Foley, inflar parcialmente o balão com 5 a 7 mL de água. Puxar delicadamente o catéter anteriormente até que esteja firmemente encaixado na cavidade nasal posterior. Em seguida, adicionar lentamente 5 a 7 mL de água.

  • Se há dor ou deslocamento inferior do palato mole, esvaziar o balão até a resolução da dor ou do deslocamento do palato.

  • Mantendo tração no catéter, inserir tamponamento nasal anterior com gaze de vaselina em camadas.

  • Considerar o tamponamento da cavidade nasal anterior contralateral para evitar um desvio de septo.

  • Colocar um pedaço de gaze em volta do catéter na narina para proteger a asa do nariz e inserir um grampo no catéter para evitar que o balão deslize para fora da cavidade nasal posterior.

  • Ao utilizar um catéter com balão duplo, primeiro insuflar o balão posterior, utilizando a mesma técnica geral que a do catéter com balão único. Em seguida, insuflar o balão anterior (normalmente com 30 mL). O tamponamento nasal anterior com gaze em camadas é desnecessário ao utilizar um catéter com balão duplo.

Cuidados posteriores para epistaxe posterior com balão

  • Admitir todos os pacientes com tampão nasal posterior com balão em uma unidade monitorada (para facilitar o monitoramento de disritmias cardíacas e das vias respiratórias em caso de deslocamento acidental do balão/tampão). Tratar a hipoxemia conforme necessário.

  • Evitar o uso de ácido acetilsalicílico ou anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) por 4 dias após o tratamento.

  • Prescreva um antibiótico (p. ex., amoxicilina/clavulanato 875 mg, por via oral, duas vezes ao dia, durante 7 a 10 dias) para prevenir sinusite e otite média.

  • Desinflar o balão e remover o catéter após 48 a 72 horas.

Alertas e erros comuns no tratamento de epistaxe posterior com balão

  • Não abrir o espéculo lateralmente nem utilizá-lo de maneira não apoiada. (Manter um dedo da mão que está segurando o espéculo na bochecha ou no nariz do paciente.)

  • Encher em excesso o balão pode causar dor significativa.

Recomendações e sugestões para tratamento de epistaxe posterior com balão

  • Elevar a cadeira do paciente ao nível dos olhos reduz o esforço sobre as costas do médico em comparação a curvar-se

  • Sempre consultar um otorrinolaringologista após a inserção de um tamponamento nasal posterior para garantir o acompanhamento.

  • Após a inserção do tamponamento posterior, examinar a boca para certificar-se que não há mais sangramento na garganta. Se houver sangramento, adicionar mais líquido ao balão do catéter. Se ainda assim não for possível controlar o sangramento, consultar um otorrinolaringologista imediatamente.

Referências

  1. 1. Tunkel DE, Anne S, Payne SC, et al. Clinical Practice Guideline: nosebleed (epistaxis). Otolaryngol Head Neck Surg. 2020;162(1_suppl):S1-S38. doi:10.1177/0194599819890327

  2. 2. Rudmik L, Smith TL. Management of intractable spontaneous epistaxis. Am J Rhinol Allergy. 26(1):55-60, 2012. doi:10.2500/ajra.2012.26.3696

  3. 3. Christensen NP, Smith DS, Barnwell SL, et al. Arterial embolization in the management of posterior epistaxis. Otolaryngol Head Neck Surg.133:748-753, 2005. doi: 10.1016/j.otohns.2005.07.041

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