Como tratar a epistaxe anterior com cauterização

PorWaleed M Abuzeid, BSc, MBBS, University of Washington
Reviewed ByLawrence R. Lustig, MD, Columbia University Medical Center and New York Presbyterian Hospital
Revisado/Corrigido: modificado jun. 2025
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Visão Educação para o paciente

Frequentemente, pode-se interromper a epistaxe (hemorragia nasal) com cauterização (vedação de um vaso sanguíneo utilizando corrente elétrica ou substâncias químicas).

A causa da epistaxe pode ser sangramento na passagem nasal anterior ou posterior. Epistaxe é um diagnóstico comum; no entanto, apenas aproximadamente 6% das pessoas que experimentam epistaxe procuram atenção médica. A epistaxe corresponde a 0,5% de todos os atendimentos em pronto-socorro. A idade média dos pacientes que se apresentam com epistaxe é de 53 anos.

A epistaxe anterior deve ser inicialmente tratada com compressão digital aplicada de maneira firme e ininterrupta no terço inferior do nariz por um mínimo de 10 minutos completos. A pressão pode ser aplicada pelo médico responsável pelo tratamento ou por pacientes e cuidadores sob a orientação do médico. Uma alternativa à compressão digital é o uso de um clipe nasal comercial, se disponível. A aplicação de vasoconstritores locais na cavidade nasal pode ser um adjuvante útil à compressão nasal digital.

Rinoscopia, ou endoscopia nasal, é geralmente realizada em seguida para identificar a fonte do sangramento. Se a compressão falhar e o local de sangramento for acessível e identificável por meio de rinoscopia anterior, o próximo passo é controlar a epistaxe anterior com cauterização, o que evita algumas das desvantagens do tamponamento nasal (p. ex., desconforto, risco de infecção e/ou migração de material do tamponamento).

Se o sangramento persistir de um local anterior não identificado, apesar do uso de compressão nasal e cauterização, é necessário fazer um tamponamento nasal.

Se houver sangramento na faringe posterior, mas não na passagem nasal anterior, uma epistaxe posterior deve ser considerada. A epistaxe posterior, que ocorre em aproximadamente 5 a 10% dos casos de epistaxe, é tratada de forma diferente da epistaxe anterior; por isso, é importante identificar o local do sangramento sempre que possível (1).

Indicações para o tratamento da epistaxe anterior com cautério

  • Sangramento nasal anterior em um local claramente visível

  • Falha na compressão nasal para interromper o sangramento nasal

Locais de sangramento anterior são geralmente aparentes ao exame direto. Se nenhum local é aparente, e houve apenas 1 ou 2 pequenas hemorragias nasais, exame mais aprofundado não é necessário. Se o sangramento é contínuo ou recorrente e nenhum local é visto, pode ser necessário utilizar o método de tamponamento nasal anterior.

Contraindicações ao tratamento da epistaxe anterior com cauterização

Contraindicações absolutas

  • Incapacidade de observar a fonte de sangramento

O objetivo dos procedimentos descritos aqui é a epistaxe que é espontânea ou resultante de trauma leve. Epistaxe em pacientes com trauma facial deve ser tratado por especialista.

Contraindicações relativas

  • Pacientes com marca-passo e/ou desfibrilador podem exigir consulta cardiológica antes de realizar a eletrocauterização monopolar.

  • Pacientes com implante coclear talvez não possam ser submetidos à eletrocauterização monopolar.

Complicações do tratamento da epistaxe anterior com cauterização

  • Lesão ou perfuração do septo nasal, especialmente decorrente de múltiplas tentativas excessivamente agressivas ou bilaterais de cauterização

  • Aderências intranasais

Equipamento para tratamento de epistaxe anterior com cauterização

  • Luvas, máscara e capote

  • Bata ou campos estéreis para o paciente

  • Fonte de sucção e cânulas Frazier, de diversos calibres, com controle digital integrado para regular a intensidade da sucção

  • Esponjas de gaze estéril

  • Bacia de êmese

  • Cadeira com apoio de cabeça ou cadeira de otorrinolaringologista

  • Fonte de luz e lanterna de cabeça com feixe estreito ajustável

  • Espéculo nasal

  • Abaixadores de língua

  • Cânula de aspiração de Frazier

  • Tiras de nitrato de prata ou eletrocautério

  • Pomada antibiótica (p. ex., bacitracina)

  • Mistura de anestésico/vasoconstritor tópico (p. ex., cocaína a 4%, tetracaína a 1% ou lidocaína a 4% mais oximetazolina a 0,5%) (p. ex., spray de oximetazolina a 0,5%)

  • Swabs ou compressa de algodão

Considerações adicionais para o tratamento da epistaxe anterior com cauterização

  • Perguntar sobre o uso de fármacos anticoagulantes ou antiplaquetários.

  • Realizar o hemograma completo, o tempo de protrombina (TP) e o tempo de tromboplastina parcial (TTP) se houver sinais ou sintomas de doença hemorrágica ou se o paciente tiver epistaxe grave ou recorrente.

Anatomia relevante para o tratamento da epistaxe anterior com cauterização

  • O plexo vascular submucoso responsável pela irrigação do septo nasal anterior é o local mais comum de epistaxe anterior. Este plexo é formado por ramos da artéria etmoidal anterior, artéria esfenopalatina, artéria palatina maior e ramo septal da artéria labial superior.

Posicionamento para tratamento de epistaxe anterior com cauterização

  • O paciente deve sentar-se ereto na posição olfativa com a cabeça estendida, preferencialmente em uma cadeira de otorrinolaringologia especializada. O occipúcio do paciente deve estar apoiado para evitar seu movimento repentino para trás. O nariz do paciente deve, idealmente, estar nivelado em relação aos olhos do médico.

  • O paciente deve segurar a bacia de êmese para coletar qualquer sangramento ou êmese contínua (p. ex., do sangue deglutido).

Descrição passo a passo do tratamento da epistaxe anterior com cauterização

  • Orientar o paciente a assoar o nariz suavemente para remover coágulos. Alternativamente, aspirar a passagem nasal cuidadosamente.

  • Inserir um espéculo nasal com o dedo indicador apoiado no nariz ou na bochecha do paciente e o punho paralelo ao chão (de modo que as lâminas se abram verticalmente).

  • Abrir delicadamente o espéculo e examinar o nariz utilizando uma lanterna de cabeça ou uma fonte de luz direcionada que permita ao médico manter uma mão livre para manipular a sucção ou outros instrumentos durante o exame.

  • Utilizar uma aspiração com ponta de Frazier para remover sangue e coágulos que atrapalham a visualização da área.

  • Inspecionar o septo anterior para verificar se há fluxo sanguíneo proveniente da área do plexo vascular e também avaliar se há fluxo de sangue pela parte posterior do nariz.

  • Aplicar uma mistura de vasoconstritor/anestésico tópico: colocar cerca de 3 mL de solução de cocaína a 4% ou lidocaína a 4% com oximetazolina em um pequeno copo medidor e umedecer 2 ou 3 compressas de algodão na solução e inseri-las no nariz, aplicando em camadas verticais (ou borrifar um vasoconstritor tópico, como a oximetazolina, e inserir compressas de algodão contendo apenas anestésico tópico).

  • Deixar os fármacos tópicos no local por 10 a 15 minutos para interromper ou reduzir o sangramento, fornecer anestesia e reduzir o edema da mucosa.

  • Utilizar tiras de nitrato de prata para cauterizar o local somente se a vasoconstrição interrompeu o sangramento e o local está claramente visível. Colocar a ponta do bastão de nitrato de prata contra o local e rolar a ponta sobre o local de sangramento por 4 a 5 segundos até formar uma escara. Isso dará à mucosa uma coloração acinzentada.

  • Limpar ou aspirar qualquer excesso de nitrato de prata para evitar cauterização adicional nesse local ou em outros locais no nariz.

  • Os pacientes muitas vezes espirram após a cauterização com nitrato de prata, o que pode reiniciar o sangramento, exigindo repetição da cauterização.

  • Se estiver utilizando eletrocautério, colocar a ponta do instrumento na área de sangramento da mucosa e aplicar corrente de coagulação por alguns segundos até que a mucosa cauterizada fique visível. Se estiver utilizando cauterização térmica, colocar a ponta aquecida do dispositivo na área do sangramento por vários segundos até que a mucosa cauterize. Uma cauterização prolongada, extensa ou bilateral no septo nasal pode resultar em lesão tecidual irreversível, incluindo necrose septal com resultante perfuração. Outros riscos incluem infecção e cicatrizes.

  • Se a cauterização não interromper o sangramento após 2 tentativas, deve-se utilizar outra técnica, como tamponamento nasal.

  • Após o sucesso da hemostasia, aplicar pomada antibiótica (como bacitracina) na área cauterizada.

Cuidados posteriores para o tratamento da epistaxe anterior com cauterização

  • Aconselhar o paciente a não utilizar ácido acetilsalicílico ou anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) por 4 dias após o tratamento da epistaxe.

  • A área cauterizada deve ser recoberta com vaselina 2 a 3 vezes ao dia por 3 a 5 dias.

  • Aconselhar o paciente que se o sangramento recorrer, as narinas devem ser comprimidas por 20 minutos sem interrupção. Aplicar spray nasal de oximetazolina antes de comprimir as narinas pode ajudar a controlar o sangramento. Se isso não interromper o sangramento ou se o sangramento for profuso, o paciente deve retornar ao pronto-socorro.

Alertas e erros comuns ao tratar epistaxe anterior com cauterização

  • Não abrir o espéculo lateralmente nem utilizá-lo de maneira não apoiada. (Manter um dedo da mão que está segurando o espéculo na bochecha ou no nariz do paciente.)

  • Evitar cauterizar a mucosa muito profundamente. A cauterização com nitrato de prata tem menor probabilidade de cauterizar muito profundamente e é preferível ao eletrocautério.

  • Não cauterizar o septo nasal bilateralmente porque isso aumenta o risco de lesão e perfuração do septo.

Recomendações e sugestões para tratar a epistaxe anterior com cauterização

  • Elevar a cadeira do paciente ao nível dos olhos reduz o esforço sobre as costas do médico em comparação a curvar-se

  • Ao utilizar bastões de nitrato de prata, aplicar pressão suave em vez de firme para evitar a cauterização muito profunda.

  • Ao utilizar nitrato de prata, iniciar perifericamente ao redor do local do sangramento e trabalhar em direção ao centro. Evitar a cauterização de grandes áreas da mucosa.

  • Reinspeção da cavidade nasal 10 a 15 minutos após a conclusão da cauterização para assegurar que o sangramento não recomeçou.

Referência

  1. 1. Tunkel DE, Anne S, Payne SC, et al. Clinical Practice Guideline: nosebleed (epistaxis). Otolaryngol Head Neck Surg. 2020;162(1_suppl):S1-S38. doi:10.1177/0194599819890327

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