Síndrome de Down (trissomia do 21)

(Síndrome de Down; trissomia G)

PorNina N. Powell-Hamilton, MD, Sidney Kimmel Medical College at Thomas Jefferson University
Reviewed ByAlicia R. Pekarsky, MD, State University of New York Upstate Medical University, Upstate Golisano Children's Hospital
Revisado/Corrigido: modificado set. 2025
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Visão Educação para o paciente

É uma anomalia no cromossomo 21 que pode causar deficiência intelectual, microcefalia, baixa estatura e face característica. O diagnóstico é sugerido por anomalias físicas e desenvolvimento anormal e é confirmado por cariótipo e outras análises citogenéticas.; O manejo depende de cuidados de suporte e tratamento das manifestações e anomalias específicas da doença associada.

(Ver também Visão geral das anomalias cromossômicas.)

A síndrome de Down é a anormalidade cromossômica mais comum. É causada pela presença de um cromossomo 21 extra (trissomia 21) e é caracterizada por deficiência intelectual e um fenótipo variável que geralmente inclui hipotonia, características craniofaciais distintivas e uma gama de anomalias congênitas (1). O grau de deficiência intelectual é geralmente leve ou moderado, mas raramente é grave. Pessoas afetadas têm risco aumentado de múltiplas comorbidades médicas.

A incidência geral nos Estados Unidos é de aproximadamente 1/700 (2) entre os nascidos vivos, e o risco aumenta gradualmente à medida que a idade materna aumenta. Com base em um amplo estudo, aos 20 anos de idade materna, as chances previstas são de 1/1476 nascimentos; aos 35, são 1/352; e aos 40, são 1/85 (3). Entretanto, como a maioria dos nascimentos é de mães mais jovens, a maioria das crianças com síndrome de Down nasce de mães > 35 anos; somente aproximadamente 20% dos lactentes com a síndrome de Down nascem de mães > 35 anos de idade.

Referências gerais

  1. 1. Bull MJ. Down Syndrome. N Engl J Med. 2020;382(24):2344-2352. doi:10.1056/NEJMra1706537

  2. 2. Mai CT, Isenburg JL, Canfield MA, et al. National population-based estimates for major birth defects, 2010-2014. Birth Defects Res. 2019;111(18):1420-1435. doi:10.1002/bdr2.1589

  3. 3. Morris JK, Mutton DE, Alberman E. Revised estimates of the maternal age specific live birth prevalence of Down's syndrome. J Med Screen. 2002;9(1):2-6. doi:10.1136/jms.9.1.2

Etiologia da síndrome de Down

Em aproximadamente 95% dos casos, a síndrome de Down é causada pela não disjunção, resultando em um cromossomo 21 extra (trissomia 21), que normalmente é de origem materna. (1). Não disjunção refere-se à falha dos cromossomos homólogos ou cromátides-irmãs em se separarem adequadamente durante a meiose dos gametas. As pessoas afetadas têm 47 cromossomos, em vez dos 46 normais.

Cariótipo na síndrome de Down
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Caracteriza-se a síndrome de Down por um cromossomo 21 extra (ver seta).

L. WILLATT, EAST ANGLIAN REGIONAL GENETICS SERVICE/SCIENCE PHOTO LIBRARY

Aproximadamente 4% dos casos de síndrome de Down são decorrentes de uma translocação genética (2). Em uma translocação equilibrada, o material genético é trocado por material de outro cromossomo não homólogo e a contagem de cromossomos é mantida em 46. Em uma translocação desequilibrada, há ganho ou perda de material genético, criando um desequilíbrio genético e subsequentes anormalidades clínicas.

A translocação mais comum é t(14;21), na qual o cromossomo 21 está ligado ao cromossomo 14; esta é uma translocação desequilibrada, resultando em uma contagem de cromossomos de 45. Em torno de metade das pessoas com a translocação t(14;21), ambos os pais têm cariótipo normal, indicando uma translocação de novo. Na outra metade, um dos pais (quase sempre a mãe), que não tem síndrome de Down, possui apenas 45 cromossomos, um dos quais é t(14;21). Teoricamente, a probabilidade de uma mãe portadora ter um filho com síndrome de Down é 1:3, mas a probabilidade real é menor (aproximadamente 1:10). Se o portador for o pai, a chance é de apenas 1:20.

A outra translocação mais comum é t(21;22). Nesses casos, as mães portadoras têm aproximadamente 1:10 de chance de ter um filho com síndrome de Down; a probabilidade é ainda menor nos pais portadores.

A translocação 21q21q, que ocorre quando o cromossomo 21 extra liga-se a outro cromossomo 21, é muito menos comum. Determinar se um genitor é portador ou mosaico para a translocação 21q;21q é importante para entender os riscos para seus filhos. Um genitor portador (isto é, aquele que tem uma translocação equilibrada) tem 100% de chance de ter uma criança com síndrome de Down porque toda a descendência viável teria síndrome de Down ou monossomia 21. A monossomia 21 é geralmente incompatível com a vida.

O mosaicismo na síndrome de Down resulta, presumivelmente, de uma não disjunção durante a divisão celular no embrião. Pessoas com mosaicismo da síndrome de Down têm 2 linhagens celulares: uma com 46 cromossomos normais e outra com 47 cromossomos, incluindo um cromossomo 21 extra ou um número diferente de cromossomos, dependendo da translocação. Embora o risco de ter um filho com síndrome de Down seja acentuadamente maior, os pais também podem ter filhos com cromossomos normais. Em indivíduos com mosaicismo da síndrome de Down, o prognóstico quanto à inteligência e ao risco de complicações médicas provavelmente depende da proporção de células anormais (p. ex., células com trissomia do 21) em cada tecido, inclusive o cerebral. No entanto, na prática, este risco não pode ser previsto porque não é viável determinar o cariótipo em todas as células no corpo. Em alguns casos de mosaicismo da síndrome de Down, os sinais clínicos são discretos e a inteligência pode ser normal; contudo, mesmo nas formas sem mosaicismo, os achados clínicos são variáveis. Isso também é verdade para pessoas afetadas que não são mosaico.

Referências sobre etiologia

  1. 1. Antonarakis SE: Parental origin of the extra chromosome in trisomy 21 as indicated by analysis of DNA polymorphisms. Down Syndrome Collaborative Group. N Engl J Med 324(13):872-876, 1991. doi: 10.1056/NEJM199103283241302

  2. 2. Mutton D, Alberman E, Hook EB: Cytogenetic and epidemiological findings in Down syndrome, England and Wales 1989 to 1993. National Down Syndrome Cytogenetic Register and the Association of Clinical Cytogeneticists. J Med Genet 33(5):387-394, 1996. doi: 10.1136/jmg.33.5.387

Fisiopatologia da síndrome de Down

Como na maioria das situações em que há desequilíbrio cromossômico, a síndrome de Down afeta múltiplos sistemas e provoca defeitos estruturais e funcionais (ver tabela Algumas complicações da síndrome de Down). Nem todos os defeitos estão presentes na mesma pessoa.

Tabela
Tabela

A maioria das pessoas afetadas tem algum grau de deficiência cognitiva, variando de grave (QI de 20 a 35) a leve (QI de 50 a 75). Retardos motores e de linguagem grosseiros são também evidentes desde cedo na vida. A altura é frequentemente reduzida e há o risco maior de obesidade.

Aproximadamente 50% dos lactentes afetados apresentam cardiopatias congênitas; defeito do septo ventricular e defeito do septo atrioventricular (também chamado de defeito do coxim endocárdico ou defeito do canal atrioventricular) são os mais comuns (1, 2).

Aproximadamente 6% das pessoas afetadas têm anomalias GI, em particular atresia duodenal, às vezes acompanhada de pâncreas anular. A doença de Hirschsprung e a doença celíaca também são mais comuns (3).

Muitos têm endocrinopatias, incluindo tireoidopatias (com mais frequência hipotireoidismo) e diabetes.

Hipermobilidade atlanto-occipital e atlantoaxial, assim como anomalias ósseas da espinha cervical, pode causar instabilidade atlanto-occipital e cervical, podendo provocar fraqueza e paralisia.

Aproximadamente 60% das pessoas têm problemas oculares, incluindo catarata congênita, glaucoma, estrabismo e erros de refração (4); no entanto, essa prevalência pode variar entre diferentes populações (5).

A maioria tem perda da audição e otites são muito comuns.

Referências sobre fisiopatologia

  1. 1. Irving CA, Chaudhari MP. Cardiovascular abnormalities in Down's syndrome: Spectrum, management and survival over 22 years. Arch Dis Child. 2012;97(4):326-330. doi:10.1136/adc.2010.210534

  2. 2. de Groot-van der Mooren MD, Scheerman BC, Rammeloo LAJ, et al. Neonatal mortality and morbidity in Down syndrome in the time of prenatal aneuploidy testing: A retrospective cohort study. Eur J Pediatr. 2023;182(1):319-328. doi:10.1007/s00431-022-04686-3

  3. 3. Stoll C, Dott B, Alembik Y, Roth MP. Associated congenital anomalies among cases with Down syndrome. Eur J Med Genet. 2015;58(12):674-680. doi:10.1016/j.ejmg.2015.11.003

  4. 4. Afifi HH, Abdel Azeem AA, El-Bassyouni HT, Gheith ME, Rizk A, Bateman JB. Distinct ocular expression in infants and children with Down syndrome in Cairo, Egypt: myopia and heart disease. JAMA Ophthalmol. 2013;131(8):1057-1066. doi:10.1001/jamaophthalmol.2013.644

  5. 5. Bermudez BEBV, de Souza do Amaral ME, da Silva Gomes C, Novadzki IM, de Oliveira CM, Serpe CC. Ophthalmological abnormalities in Down syndrome among Brazilian patients. Am J Med Genet A. 2020;182(11):2641-2645. doi:10.1002/ajmg.a.61845

Sinais e sintomas da síndrome de Down

Aparência geral

Os neonatos afetados tendem a ser calmos, raramente choram e demonstram hipotonia muscular. A maioria tem perfil facial achatado (sobretudo ponte nasal achatada), mas alguns não têm características físicas incomuns óbvias no nascimento e então desenvolvem aspectos faciais característicos mais notáveis. Occipício achatado, microcefalia e pescoço curto com pele redundante na nuca são comuns.

As características físicas típicas das pessoas com síndrome de Down incluem o seguinte (1):

  • Os olhos têm um ângulo ascendente na borda lateral, dobras epicânticas nos cantos internos geralmente estão presentes, e manchas de Brushfield (manchas branco-acinzentadas semelhantes aos grãos de sal em volta da periferia da íris) podem ser visíveis.

  • A boca costuma ficar aberta; e a língua, saliente e enrugada, pode não ter a fissura central.

  • As orelhas costumam ser pequenas e arredondadas.

  • As mãos são frequentemente curtas e largas e muitas vezes têm uma única prega palmar transversal, e os dedos costumam ser curtos, com clinodactilia (curvatura) do 5º dedo, quase sempre com apenas 2 falanges.

  • Os pés podem ter um amplo espaço entre o 1º e o 2º pododáctilos (pododáctilos da sandália), com um sulco plantar que frequentemente estende-se posteriormente no pé.

Características físicas da síndrome de Down
Síndrome de Down (características faciais)
Síndrome de Down (características faciais)

Esta foto mostra uma criança com síndrome de Down com uma ponte nasal achatada, olhos virados para cima e dobras epicânticas nos cantos internos dos olhos.

Esta foto mostra uma criança com síndrome de Down com uma ponte nasal achatada, olhos virados para cima e dobras epicân

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© Springer Science+Business Media

Síndrome de Down (pregas nucais redundantes)
Síndrome de Down (pregas nucais redundantes)

Esta foto mostra pregas nucais redundantes em um lactente com síndrome de Down.

Esta foto mostra pregas nucais redundantes em um lactente com síndrome de Down.

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Síndrome de Down (manchas de Brushfield)
Síndrome de Down (manchas de Brushfield)

Esta foto mostra manchas brancas na íris de um paciente com síndrome de Down.

Esta foto mostra manchas brancas na íris de um paciente com síndrome de Down.

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Prega única palmar transversa
Prega única palmar transversa

RALPH C. EAGLE, JR./SCIENCE PHOTO LIBRARY

Síndrome de Down
Síndrome de Down

Esta foto mostra um jovem com muitas características físicas típicas da síndrome de Down, como baixa estatura, calvície frontal, cabelos finos, dobras epicânticas, pescoço espesso e obesidade troncular leve.

Esta foto mostra um jovem com muitas características físicas típicas da síndrome de Down, como baixa estatura, calvície

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By permission of the publisher. From Bird T, Sumi S: Atlas of Clinical Neurology. Edited by RN Rosenberg. Philadelphia, Current Medicine, 2002.

Crescimento e desenvolvimento

À medida que as crianças afetadas crescem, o deficit de desenvolvimento mental e físico torna-se aparente. A estatura costuma ser baixa. O QI médio é de cerca de 50, mas isso varia amplamente. Na infância, é comum a presença de comportamento sugestivo de transtorno de déficit de atenção/hiperatividade e a incidência de comportamentos associados ao transtorno do espectro autista é maior (em especial nas crianças com deficiência intelectual profunda).

Há maior risco de depressão em crianças e adultos com síndrome de Down.

Manifestações cardíacas

Os sintomas de cardiopatia são determinados por tipo e extensão da anomalia cardíaca.

Lactentes com defeitos cardíacos congênitos, dos quais os mais comuns são defeitos septais ventriculares e defeitos septais atrioventriculares, podem ser assintomáticos ou apresentar sinais de insuficiência cardíaca (p. ex., respiração difícil, frequência respiratória alta, dificuldade para se alimentar, sudorese e dificuldade para ganhar peso).

Sopros podem nem sempre estar presentes; contudo, pode haver vários sopros diferentes.

Manifestações gastrointestinais

Lactentes com doença de Hirschsprung geralmente atrasam a eliminação do mecônio. Lactentes gravemente afetados podem ter sinais de obstrução intestinal (p. ex., vômitos biliosos, evacuação difícil, distensão abdominal).

Atresia ou estenose duodenal pode manifestar-se com vômitos biliosos ou sem nenhum sintoma, dependendo da extensão da estenose. Pode-se detectar esses defeitos por ultrassonografia pré-natal (sinal de bolha dupla).

Efeito de dupla bolha
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Essa radiografia mostra o típico efeito de bolha dupla observado na obstrução total do duodeno. A bolha menor representa a parte proximal do duodeno dilatada (seta aberta); a bolha maior representa o estômago (seta fechada). Esse efeito pode ser visto na atresia de duodeno, na membrana duodenal, no pâncreas anular e veia porta pré-duodenal. Raramente, também pode ser visto na obstrução duodenal total resultante de bandas de Ladd em um paciente mal rodado.

By permission of the publisher. From Langer J: Gastroenterology and Hepatology: Pediatric Gastrointestinal Problems. Edited by M Feldman (series editor) and PE Hyman. Philadelphia, Current Medicine, 1997.

Referência sobre sinais e sintomas

  1. 1. Bull MJ, Trotter T, Santoro SL, et al: Health supervision for children and adolescents with Down syndrome. Pediatrics 149(5):e2022057010, 2022. doi: 10.1542/peds.2022-057010

Diagnóstico da síndrome de Down

  • Ultrassonografia fetal

  • Triagem sérica materna

  • Rastreamento pré-natal não invasivo (RPNI)

  • Biópsia da vilosidade coriônica e/ou amniocentese pré-natais com análise do cariótipo

  • Amostragem percutânea de sangue umbilical (cordocentese) com cariotipagem

  • Cariotipagem pós-natal

(Ver também Tecnologias de sequenciamento de última geração.)

Ultrassonografia fetal e testes séricos maternos, bem como RPNI, são oferecidos a todas as gestantes em ambientes de alta renda como testes de rastreamento para anormalidades cromossômicas incluindo síndrome de Down.

A ultrassonografia fetal pode detectar anomalias incluindo aumento da translucência nucal, defeito do septo atrioventricular e atresia duodenal, mas eles podem não estar presentes em todos os fetos com trissomia do 21.

Testes séricos maternos podem mostrar níveis anormais da proteína A plasmática no final do primeiro trimestre e de alfafetoproteína, beta-hCG (gonadotrofina coriônica humana), estriol não conjugado e inibina no início do segundo trimestre (15 a 16 semanas de gravidez).

RPNI, em que o DNA fetal livre de células obtido da circulação materna é testado quanto a aneuploidias, é atualmente a opção de rastreamento de escolha para trissomia do 21 em contextos de alta disponibilidade de recursos, por apresentar boa sensibilidade e especificidade (1).

Se houver suspeita de síndrome de Down com base em testes de rastreamento do soro materno, ultrassom ou RPNI, testes confirmatórios fetais ou pós-natais são recomendados. Métodos fetais de confirmação incluem amostragem de vilo coriônico e/ou amniocentese com teste por análise do cariótipo como o teste de escolha, mas a confirmação também pode ser feita por FISH e análise cromossômica por microarranjo.

Amostragem percutânea de sangue umbilical (APSU), também conhecida como cordocentese, é um procedimento invasivo utilizado para obter sangue fetal diretamente do cordão umbilical, permitindo cariotipagem rápida e confirmação da trissomia 21. Em geral, a APSU é reservada para situações em que outros métodos diagnósticos são inconclusivos ou quando resultados rápidos são necessários, mas esse procedimento tem um risco maior e é geralmente realizado mais tarde na gestação (após 18 semanas).

A cariotipagem é o teste de escolha para descartar uma translocação associada de modo que os pais possam receber aconselhamento genético apropriado em relação ao risco de recorrência. Oferece-se a opção do teste confirmatório pré-natal a todas as pacientes com resultado anormal, indeterminado ou incerto de RPNI. As decisões de tratamento não devem se basear apenas no resultado do RPNI.

A análise cromossômica por microarranjo é capaz de detectar deleções e duplicações em nível submicroscópico e substituiu a cariotipagem convencional em muitos países (2); contudo, a cariotipagem ainda é o teste de escolha quando se suspeita de aneuploidia.

Em contextos de alta disponibilidade de recursos, o rastreamento do soro materno e os testes diagnósticos para síndrome de Down estão geralmente disponíveis para todas as pacientes que iniciam o cuidado pré-natal antes das 20 semanas de gestação, independentemente da idade materna.

O American College of Obstetricians and Gynecologists Committee on Practice Bulletins aconselha que análises de DNA fetal livre de células sejam oferecidas a todas as pacientes grávidas, independentemente da idade ou fatores de risco adicionais (3).

Na ausência de diagnóstico pré-natal, o diagnóstico neonatal da síndrome de Down baseia-se em anormalidades físicas e é confirmado por exame citogenético, sendo o cariótipo o método preferencial.

Condições médicas concomitantes

Rastreamentos de rotina específicos para a idade dos lactentes e crianças afetadas podem ajudar a identificar as doenças associadas à síndrome de Down (4):

  • Ecocardiografia: no pré-natal ou nascimento

  • Triagem da tireoide (níveis do hormônio tireoestimulante [TSH]): no nascimento, 6 meses, 12 meses e então anualmente

  • Hemograma completo (HC) com diferencial, além de uma combinação de ferritina e proteína C reativa (PCR) ou uma combinação de ferro sérico e capacidade total de ligação de ferro (CTLF): com 1 ano e depois anualmente

  • Avaliações da audição: ao nascimento, a cada 6 meses até o estabelecimento da audição normal (aproximadamente aos 4 anos de idade), e então anualmente (com maior frequência se indicado)

  • Avaliação oftálmica: aos 6 meses, depois anualmente até os 5 anos; então a cada 2 anos até os 13 anos e cada 3 anos até os 21 anos de idade (ou mais frequentemente como indicado)

  • Crescimento: peso, altura e circunferência da cabela plotadas em cada consulta utilizando as curvas de crescimento da síndrome de Down

  • Estudo do sono para apneia obstrutiva do sono: realizada aos 4 anos de idade

O rastreamento de rotina à procura de instabilidade atlantoaxial e doença celíaca não é recomendado; crianças devem ser submetidas a esses exames se houver suspeita clínica. Recomenda-se que pacientes com história de cervicalgia, radiculalgia, fraqueza ou quaisquer outros sintomas neurológicos que sugerem mielopatia sejam submetidos a radiografia da coluna cervical na posição neutra; se nenhuma anormalidade suspeita for observada, eles devem ser submetidos a radiografias nas posições de flexão e extensão.

As diretrizes de cuidados de saúde para adultos com síndrome de Down publicadas por um painel de especialistas incluem recomendações para o rastreamento das seguintes doenças associadas (com a idade recomendada para iniciar o rastreamento) (5):

  • Diabetes: hemoglobina A1C ou glicemia de jejum a cada 2 a 3 anos a partir dos 30 anos ou aos 21 anos para aqueles com obesidade comórbida

  • Hipotireoidismo: hormônio tireoestimulante (TSH) a cada 1 a 2 anos a partir dos 21 anos

  • Demência por Alzheimer: avaliação anual a partir dos 40 anos

Referências sobre diagnóstico

  1. 1. Kagan KO, Sonek J, Kozlowski P. Antenatal screening for chromosomal abnormalities. Arch Gynecol Obstet. 2022;305(4):825-835. doi:10.1007/s00404-022-06477-5

  2. 2. Bedei I, Wolter A, Weber A, Signore F, Axt-Fliedner R. Chances and Challenges of New Genetic Screening Technologies (NIPT) in Prenatal Medicine from a Clinical Perspective: A Narrative Review. Genes (Basel). 2021;12(4):501. Publicado em 2021 Mar 29. doi:10.3390/genes12040501

  3. 3. American College of Obstetricians and Gynecologists’ Committee on Practice Bulletins—Obstetrics; Committee on Genetics; Society for Maternal-Fetal Medicine. Screening for Fetal Chromosomal Abnormalities: ACOG Practice Bulletin, Number 226. Obstet Gynecol. 2020;136(4):e48-e69. doi:10.1097/AOG.0000000000004084

  4. 4. Bull MJ, Trotter T, Santoro SL, et al. Health supervision for children and adolescents with Down syndrome. Pediatrics. 2022;149(5):e2022057010. doi:10.1542/peds.2022-057010

  5. 5. Tsou AY, Bulova P, Capone G, et al. Medical Care of Adults With Down Syndrome: A Clinical Guideline. JAMA. 2020;324(15):1543-1556. doi:10.1001/jama.2020.17024

Tratamento da síndrome de Down

  • Tratamento de manifestações específicas

  • Rastreamento de complicações e doenças associadas

  • Aconselhamento genético

A anomalia genética subjacente não pode ser curada. Abordagens de tratamento focadas no manejo de manifestações específicas e vigilância de complicações ou doenças associadas são bastante uniformes para todas as crianças (ver Condições médicas concomitantes).

Algumas anomalias cardíacas ou gastrointestinais congênitas são reparadas cirurgicamente. Outras doenças (p. ex., hipotireoidismo, doença celíaca, leucemia) são tratadas conforme apropriado.

O cuidado de crianças com síndrome de Down e suas famílias também deve incluir aconselhamento genético para a família, suporte familiar e social, e programa educacional apropriado para o nível do funcionamento intelectual (veja Deficiência intelectual).

Prognóstico da síndrome de Down

O processo de envelhecimento pode estar acelerado (1). Nas últimas décadas, e de acordo com estudos com pessoas que vivem em ambientes com muitos recursos, a expectativa mediana de vida aumentou para cerca de 60 anos, e sabe-se que algumas pessoas afetadas vivem até os 80 anos (2). As comorbidades que contribuem para a menor expectativa de vida incluem cardiopatias, maior susceptibilidade a infecções e leucemia. Há maior risco de doença de Alzheimer precocemente, e na necropsia, cérebros de adultos com síndrome de Down mostram achados microscópicos típicos (p. ex., angiopatia amiloide cerebral) (3). Pesquisas indicam que negros portadores da síndrome vivem menos do que os brancos (4, 5). Esse achado pode ser resultado de determinantes sociais da saúde, incluindo os impactos da redução do acesso, da qualidade e do uso dos serviços de saúde.

A probabilidade de as mulheres afetadas também terem um feto com a síndrome de Down é de aproximadamente 50%; contudo, parece haver um risco maior de aborto espontâneo. Homens com síndrome de Down são normalmente inférteis por causa da espermatogênese prejudicada, exceto para aqueles com mosaicismo.

Referências sobre prognóstico

  1. 1. Horvath S, Garagnani P, Bacalini MG, et al. Accelerated epigenetic aging in Down syndrome. Aging Cell. 2015;14(3):491-495. doi:10.1111/acel.12325

  2. 2. Englund A, Jonsson B, Zander CS, et al. Changes in mortality and causes of death in the Swedish Down syndrome population. Am J Med Genet A. 2013;161A(4):642-649. doi:10.1002/ajmg.a.35706

  3. 3. Davidson YS, Robinson A, Prasher VP, Mann DMA. The age of onset and evolution of Braak tangle stage and Thal amyloid pathology of Alzheimer's disease in individuals with Down syndrome. Acta Neuropathol Commun. 2018;6(1):56. doi:10.1186/s40478-018-0559-4

  4. 4. Kucik JE, Shin M, Siffel C, Marengo L, Correa A; Congenital Anomaly Multistate Prevalence and Survival Collaborative. Trends in survival among children with Down syndrome in 10 regions of the United States. Pediatrics. 2013;131(1):e27-e36. doi:10.1542/peds.2012-1616

  5. 5. Santoro SL, Esbensen AJ, Hopkin RJ, et al. Contributions to Racial Disparity in Mortality among Children with Down Syndrome. J Pediatr. 2016;174:240-246.e1. doi:10.1016/j.jpeds.2016.03.023

Pontos-chave

  • A síndrome de Down envolve um cromossomo 21 extra, seja um cromossomo separado ou uma translocação em outro cromossomo.

  • Em alguns casos, ocorre o mosaicismo, algumas células apresentam o cromossomo 21 alterado e outras são genotipicamente normais; esses pacientes podem ter manifestações mais sutis, mas o quadro é bastante variável.

  • O diagnóstico pode ser suspeitado no pré-natal com base em anomalias detectadas por ultrassonografia fetal (p. ex., aumento da translucência nucal, defeito cardíaco, atresia duodenal) ou baseado na análise de DNA fetal livre de células do sangue materno ou triagem de múltiplos marcadores maternos para níveis de proteína A plasmática no final do primeiro trimestre e níveis de alfafetoproteína, beta-gonadotrofina coriônica humana (beta-hCG), estriol não conjugado e inibina no início do segundo trimestre.

  • A análise do cariótipo é o exame confirmatório de escolha e pode ser feita no pré-natal por biópsia da vilosidade coriônica no primeiro trimestre ou amniocentese no segundo trimestre, ou no pós-natal com cordocentese ou amostra de sangue neonatal.

  • Fazer triagem de rotina específica para a idade a fim de detectar condições clínicas associadas (p. ex., anomalias cardíacas, hipotireoidismo).

  • Tratar as manifestações específicas, e fornecer suporte social e educacional e aconselhamento genético.

  • A expectativa de vida é diminuída principalmente por causa da cardiopatia e, em menor grau, pela maior suscetibilidade a infecções, leucemia mielocítica aguda e doença de Alzheimer de início precoce; contudo, aumentou acentuadamente nas últimas décadas, e alguma pessoas afetadas vivem até os 80 anos.

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