A canulação venosa periférica guiada por ultrassonografia utiliza ultrassom em tempo real (dinâmico) para orientar a venopuntura e uma técnica de catéter sobre agulha para inserir um catéter venoso periférico (cânula), geralmente em uma veia profunda não palpável do braço.
A orientação ultrassonográfica pode facilitar o cateterismo venoso periférico, especialmente de veias profundas não palpáveis. Este tópico focalizará o uso da ultrassonografia para orientar a inserção de catéter IV. O procedimento real para um cateterismo IV é o mesmo feito quando não se emprega ultrassonografia e é descrito em detalhes em Como inserir um catéter intravenoso periférico.
Indicações
A dificuldade em identificar veias periféricas adequadas para canulação em pacientes que não exigem catéter venoso central
Contraindicações
Contraindicações absolutas:
Nenhum
Contraindicações relativas:
Operador de ultrassom destreinado ou inexperiente
Há algumas contraindicações relativas ao uso de certos locais para inserção de catéter IV, mas depois que um local apropriado é identificado, não há contraindicações ao uso da ultrassonografia.
Complicações
As complicações são incomuns, mas incluem:
Infecção local
Tromboflebite venosa
Estas são as mesmas complicações da colocação de IV (sem ultrassonografia), mas estas não estão relacionadas ao uso do ultrassonografia.
Outras complicações incluem:
Extravasamento dos líquidos infundidos nos tecidos adjacentes
Punção arterial
Hematoma ou sangramento
Dano à veia
Lesão nervosa
Embolia por catéter
Equipamento
Além dos equipamentos padrão necessários para iniciar a inserção de catéter IV, os operadores precisarão de:
Aparelho de ultrassom com sonda (transdutor) linear de alta frequência (7,5 MHz ou mais)
Envoltório transparente da sonda (p. ex., curativo estéril, envoltório de uso único para a sonda)
Curativo estéril descartável e lubrificante à base de água (preferível ao frasco multiuso do gel de ultrassonografia)
Considerações adicionais
Há, geralmente, 2 incidências utilizadas na canulação venosa periférica orientada por ultrassonografia. A incidência de eixo curto (transversal, seção transversa) costuma ser preferida porque é fácil de obter e é a melhor incidência para identificar veias e artérias e como estão orientadas entre si. Mas a incidência transversal mostra a agulha apenas na seção transversa [ponto hiperecóico (branco)], e a ponta da agulha só pode ser distinguida pela aparecimento e desaparecimento do ponto branco à medida que o plano de imagem cruza a ponta da agulha.
A incidência ultrassonográfica de eixo longo (longitudinal, no mesmo plano) é tecnicamente mais difícil de obter (é necessário manter o transdutor, a veia e a agulha no mesmo plano), mas obtêm-se uma imagem contínua de toda a agulha (inclusive de sua ponta), o que assegura uma inserção intraluminal precisa. O estreitamento progressivamente maior das veias periféricas aumenta a dificuldade de se obter a incidência longitudinal.
Anatomia relevante
As veias periféricas podem ser superficiais ou profundas. Em geral, a orientação ultrassonográfica é necessária quando as veias superficiais não são visíveis ou palpáveis. Alvos típicos para inserção de catéter IV orientada por ultrassonografia são
Veias profundas do antebraço
A veia braquial (geralmente há 2 veias braquiais que se localizam em ambos os lados da artéria braquial no aspecto medial do braço)
Posicionamento
Manter a parte do corpo que está sendo canulada em repouso sobre uma superfície confortável e ajustar a posição de modo a expor otimamente o local (p. ex., para canular a veia braquial ou a veia basílica, abduzir e rodar lateralmente o braço de modo a expor o aspecto medial do braço).
Descrição passo a passo do procedimento
O procedimento para preparar o local, inserir e fixar o catéter IV é o mesmo que quando a orientação ultrassonográfica não é utilizada e não é descrito aqui.
Preparar o aparelho de ultrassonografia e identificar uma veia candidata
Verificar se o aparelho de ultrassom está configurado e funcionando corretamente: configurar o aparelho no modo 2-dimensional ou modo B, e pronto para obter documentação apropriada da imagem de acordo com os protocolos da instituição. Certificar-se de que a imagem na tela se correlaciona com a orientação espacial da sonda ao segurar e movê-la. Para alcançar essa correlação, isso quase sempre significa orientar o marcador da sonda à esquerda do operador, e não à esquerda do paciente. A marca lateral na sonda corresponde ao ponto/símbolo marcador na tela do ultrassom. Ajustar as configurações do monitor e a posição da sonda, se necessário, para alcançar uma orientação esquerda-direita precisa.
Colocar um torniquete proximal ao provável local de inserção e fazer uma inspeção ultrassonográfica não estéril preliminar para identificar uma veia adequada. Um segmento de veia preferível é reto, largo, relativamente próximo da superfície e inconfundível com qualquer artéria dos arredores.
Utilizar uma incidência transversal (seção transversa, eixo curto) e ajustar o ganho no console de modo que os vasos sanguíneos permaneçam anecoicos (pareçam escuros no monitor de ultrassonografia) e os tecidos circundantes tenham tons de cinza. Definir a profundidade máxima na superfície de um osso, de modo a visualizar todo o campo. Deslizar lentamente a sonda de proximal para distal ao longo das veias e ajustar/girar a sonda de modo que a veia permaneça sob o centro da sonda. Ajustar a profundidade máxima em aproximadamente duas vezes a distância entre a superfície e a veia candidata.
Após identificar um local de canulação adequado, remover o torniquete.
Em geral, as veias são maiores, de paredes finas e ovais (em vez de paredes espessas e arredondadas) e são mais facilmente comprimidas (isto é, pressionando com o transdutor) do que as artérias. Pressionar levemente para evitar distorção ou ocultação do lúmen venoso.
Trombose venosa é uma contraindicação à canulação da veia trombosada; a trombose pode aparecer como uma irregularidade ecogênica cinza (em vez de preta) no lúmen. A veia trombosada é incompressível.
Inserir o catéter venoso periférico utilizando orientação por ultrassom
Preparar o equipamento IV e o local de inserção como descrito acima.
Reaplicar o torniquete proximalmente ao ponto de inserção da agulha previsto.
Utilizam-se duas camadas de gel. Aplique uma das camadas na extremidade da sonda em contato com a pele e a cubra com um curativo estéril transparente — firmemente aplicado para eliminar bolhas de ar sob o curativo. Em seguida, aplique lubrificante estéril na parte externa da sonda coberta.
Comece com a incidência transversal (eixo curto): coloque a extremidade de contato da sonda sobre a pele, transversalmente à veia. Selecionar um segmento da veia como o local alvo de entrada e centralizar essa imagem no monitor de ultrassonografia, o que centraliza a veia sob a sonda. Mover a sonda para uma posição preliminar ligeiramente distal ao local alvo de entrada na veia.
Inserir o angiocatéter, com o bisel da agulha virado para cima, na pele. Incline levemente a sonda, projetando assim o plano de imagem em direção ao angiocatéter para identificar a extremidade de contato com a pele. Depois que a ponta é identificada, mover a sonda proximalmente alguns milímetros (mais perto do local alvo de entrada na veia). Manter a sonda imóvel, avançar o angiocatéter e observar o monitor até que o ponto branco claro representando a ponta do angiocatéter apareça novamente.
Mantenha a incidência transversal (seção transversa) ao longo da canulação. Inclinar levemente a sonda para frente e para trás ao avançar o angiocatéter para reidentificar continuamente a ponta da agulha (ponto branco que desaparece/reaparece) à medida que se aproxima da veia.
Alternativamente, alterne para a incidência longitudinal (eixo longo) para observar o angiocatéter longitudinalmente à medida que este se aproxima e entra na veia. Gire a sonda em 90 graus de modo a manter imagens longitudinais completas (no plano) do angiocatéter e da veia.
À medida que o angiocatéter encontra a veia, a agulha deve primeiro recortar a parede superficial e, em seguida, atravessar a parede para entrar no lúmen. Um flash simultâneo de sangue vermelho escuro aparecerá na câmara de flash do angiocatéter e confirmará o posicionamento intraluminal da ponta da agulha.
Avance a agulha mais 1 a 2 mm, para garantir que a ponta do catéter também tenha entrado na veia. Realiza-se essa etapa porque a ponta da agulha precede um pouco a ponta do catéter.
Segurar a agulha firmemente e deslizar todo o comprimento do catéter sobre a agulha e na veia. O catéter deve deslizar facilmente e não causar dor. Remover a agulha.
Se há resistência ou dor, assume-se que o catéter não está na veia. Se você não conseguir mais visualizar o angiocateter dentro do lúmen da veia, será necessário interromper a tentativa e começar de novo em outro local.
Após o catéter ser inserido com sucesso, coletar todo o sangue necessário para exames laboratoriais, remover o torniquete, colocar um pouco de gaze sob o canhão, aplicar pressão na ponta proximal do catéter (para comprimir a veia e limitar a perda de sangue do canhão) e conectar a infusão IV ou equipamento de bloqueio de soro fisiológico.
Iniciar a infusão IV/estabelecer o bloqueio de soro fisiológico
Anexar a extremidade do tubo IV ou o equipamento de bloqueio de soro fisiológico ao canhão do catéter.
Iniciar a infusão ou lavar o equipamento de bloqueio de soro fisiológico (injetar cerca de 5 mL de soro fisiológico em pulsos pequenos e rápidos). O líquido deve fluir livremente.
Se o líquido extravasar ou não fluir livremente, remover o catéter, aplicar um curativo sobre a área com pressão suave e inserir um novo catéter em outro local.
Cobrir o local
Limpar todo o sangue e líquido do local, tomando cuidado para não interromper o catéter.
Cobrir o catéter com curativo oclusivo transparente.
Prender o tubo IV (ou tubo de bloqueio de soro fisiológico) e fixá-lo com fita na pele longe do local de inserção IV, para ajudar a evitar que tração acidental no tubo desloque o catéter.
Anotar a data e hora da canulação IV no curativo.
Aplicar uma prancha de imobilização conforme necessário.
Cuidados posteriores
Substituir ou remover os catéteres em 72 horas após a inserção.
Alertas e erros comuns
Sempre manter a visualização por ultrassom da ponta da agulha durante a inserção.
Pode parecer que a agulha está no interior do lúmen da veia sem que na verdade a veia tenha sido puncionada. Continuar avançando o catéter dentro da veia sob orientação ultrassonográfica até que um estalo seja sentido ou um pouco de sangue seja observado na câmara do catéter.
Recomendações e sugestões
Não é necessária uma quantidade abundante de gel ou lubrificante, que pode obscurecer o marcador central da sonda.
Lubrificante estéril à base de água, pacote de uso único (preferível ao frasco multiuso de gel de ultrassonografia) 1
Referência
1. Guideline for Ultrasound Transducer Cleaning and Disinfection. American College of Emergency Physicians. Approved June 2018; Revised April 2021. Accessed April 2025.
