Como reduzir luxações anteriores do ombro utilizando a técnica de Davos

PorMatthew J. Streitz, MD, San Antonio Uniformed Services Health Education Consortium
Reviewed ByDiane M. Birnbaumer, MD, David Geffen School of Medicine at UCLA
Revisado/Corrigido: modificado ago. 2025
v45398148_pt
Visão Educação para o paciente

A técnica de Davos (Boss-Holzach-Matter) utiliza a tração-contratração autoadministrada. Os pacientes controlam a potência do procedimento, minimizando assim a dor, ansiedade e espasmos musculares sem o uso de analgesia. Após instruídos, os pacientes muitas vezes podem utilizar a técnica de Davos sem assistência profissional.

(Ver também Visão geral das técnicas de redução da luxação do ombro, Visão geral das luxações e Luxações do ombro.)

Indicações para a técnica de Davos

  • Luxação anterior do ombro em paciente calmo e colaborativo (pois o próprio paciente auxilia na redução).

Deve-se tentar a redução logo após (p. ex., em 30 minutos) o diagnóstico ser feito.

Deve-se tentar a redução imediatamente, utilizando técnica diferente da de Davos, se houver deficit neurovascular associado ou elevação da pele (decorrente de fratura óssea deslocada ou, menos comumente, fratura-luxação, com risco de penetração ou ruptura cutânea). Se um cirurgião ortopédico não está disponível, pode-se tentar a redução fechada, idealmente utilizando força mínima; se a redução não é bem-sucedida, pode-se realizá-la no centro cirúrgico sob anestesia geral.

Luxações abertas requerem cirurgia, mas deve-se utilizar técnicas de redução fechada e imobilização como tratamento interino se não há cirurgião ortopedista disponível e há déficit neurovascular.

Contraindicações à técnica de Davos

Contraindicações à redução fechada simples:

  • Fratura da tuberosidade maior com deslocamento de > 1 cm

  • Deformidade de Hill-Sachs significativa (≥ 20% de deformidade na cabeça do úmero decorrente de impactação contra a borda da cavidade glenoidal)

  • Fratura do colo cirúrgico (abaixo das tuberosidades maior e menor)

  • Fratura de Bankart (borda anteroinferior da cavidade glenoidal) envolvendo fragmento ósseo de mais de 20% e com instabilidade glenoumeral

  • Fratura proximal do úmero em 2 ou mais partes

Essas fraturas associadas significativas exigem avaliação e tratamento ortopédicos, devido ao risco do procedimento em si piorar a luxação e a gravidade da lesão.

Outras razões para consultar um cirurgião ortopédico antes da redução são

  • A articulação está exposta (ou seja, uma fratura ou luxação aberta na qual o osso ou fragmentos da fratura atravessam a pele).

  • O paciente é uma criança, na qual muitas vezes há uma fratura da placa de crescimento (fise); entretanto, se há déficit neurovascular e o cirurgião ortopedista não está disponível, deve-se fazer a redução imediatamente.

  • A luxação ocorreu há mais de 7 a 10 dias, em razão do maior risco de dano à artéria axilar durante a redução, especialmente em pacientes idosos

Complicações da técnica de Davos

  • Aumento do deslocamento das fraturas associadas

Equipamento para a técnica de Davos

  • Atadura elástica

  • Imobilizador de ombro ou tipoia e faixa

  • Anestesia intra-articular*: 20 mL de lidocaína a 1%, seringa de 20 mL, agulha de calibre 20 de 5 cm, solução antisséptica (p. ex., clorexidina, iodopovidona), compressas de gaze

* A técnica de Davos geralmente pode ser realizada sem analgesia; entretanto, apenas uma tentativa de redução sem analgesia pode ser realizada.

Considerações adicionais para a técnica de Davos

Anatomia relevante para a técnica de Davos

  • Na maioria das luxações anteriores, a cabeça do úmero fica aprisionada fora e contra o lábio anterior da cavidade glenoidal. As técnicas de redução devem afastar a cabeça do úmero do lábio glenoidal e então retorná-la à cavidade glenoidal.

  • Deficits do nervo axilar são os deficits nervosos mais frequentes nas luxações anteriores do ombro. Geralmente se resolve em alguns meses, às vezes logo após a redução do ombro.

  • A lesão da artéria axilar é rara nas luxações anteriores do ombro e sugere possível lesão concomitante do plexo braquial (porque o plexo braquial circunda a artéria) (1).

Posicionamento para a técnica de Davos

  • Posicionar o paciente em decúbito dorsal na maca com o quadril e o joelho ipsilaterais fletidos e o pé apoiado no leito.

Descrição passo a passo da técnica de Davos

Exame neurovascular

Fazer exame neurovascular pré-procedimento do braço afetado e repeti-lo após cada tentativa de redução. Em geral, testar a função motora é mais confiável do que testar a função sensitiva, em parte porque os territórios supridos pelos nervos cutâneos podem se sobrepor. Avaliar o seguinte:

  • Pulsos distais e enchimento capilar (artéria axilar)

  • Sensibilidade tátil do aspecto lateral do braço (nervo axilar), eminências tenar e hipotenar (nervos mediano e ulnar) e dorso do 1º espaço interdigital (nervo radial)

  • Abdução do ombro contra resistência, enquanto se palpa a contração do músculo deltoide (nervo axilar): no entanto, se esse teste piorar a dor do paciente, não realizá-lo até que o ombro tenha sido reduzido.

  • Aposição polegar-indicador (gesto de "OK") e flexão do dedo contra resistência (nervo mediano)

  • Abdução dos dedos contra resistência (nervo ulnar)

  • Extensão do punho e dedos contra resistência (nervo radial)

Analgesia intra-articular

Como o método de redução de Davos é uma técnica de tração suave e pode ser menos dolorosa que outras, pode-se oferecer ao paciente uma tentativa sem analgesia; contudo, deve ser feita apenas uma tentativa (2).

Para administrar analgesia intra-articular:

  • O local de inserção da agulha é aproximadamente 2 cm inferior à borda lateral do acrômio (na depressão criada pela ausência da cabeça do úmero).

  • Limpar a área com solução antisséptica e deixá-la secar por pelo menos 1 minuto.

  • Opcional: aplicar o anestésico local ( 1 mL), criando uma pápula, no local.

  • Inserir a agulha intra-articular perpendicularmente à pele, aplicar contrapressão no êmbolo da seringa e avançar a agulha em direção medial e ligeiramente inferior, cerca de 2 cm.

    Se for aspirado sangue da articulação, manter o canhão da agulha imóvel, trocar para uma seringa vazia, aspirar todo o sangue e reconectar a seringa com anestésico.

  • Injetar 10 a 20 mL de solução anestésica (p. ex., lidocaína a 1%).

  • Esperar a analgesia ocorrer (até 15 a 20 minutos) antes de prosseguir.

Reduzir o ombro — método de Davos

  • Pedir que o paciente permaneça sentado na maca plana e flexione ao máximo o quadril e o joelho do lado afetado.

  • Colocar os cotovelos do paciente nas laterais da coxa e, com as palmas voltadas uma para a outra, envolver firmemente os punhos (colocando os punhos anteriormente à tuberosidade tibial) utilizando um curativo elástico.

  • Sentar-se de lado na maca, sobre o pé da perna flexionada.

  • Instruir o paciente a relaxar, inclinar-se gradualmente para trás com a coluna vertebral ereta, estender a cabeça, encolher os ombros e endireitar os braços relaxados. A inclinação para trás aplica tração no ombro, com a contração fornecida pelos punhos do paciente envolvidos ao redor da tíbia.

  • O paciente ajusta a quantidade de tração para manter o relaxamento e os níveis de dor toleráveis.

  • Os sinais de uma redução bem-sucedida podem incluir um alongamento do braço, um “estalido” perceptível e uma breve fasciculação do deltoide.

Cuidados posteriores para a técnica de Davos

  • Confirma-se preliminarmente a redução bem-sucedida pela restauração do contorno normal do ombro, diminuição da dor e pela capacidade renovada do paciente de cruzar o braço sobre o tórax e colocar a palma da mão sobre o ombro oposto.

  • Imobilizar o ombro com tipoia e faixa ou com imobilizador.

    Como a articulação pode luxar espontaneamente depois de uma redução bem-sucedida, não adiar a imobilização.

  • Fazer exame neurovascular pós-procedimento. Deficit neurovascular justifica avaliação ortopédica imediata.

  • Realizar radiografias pós-procedimento para confirmar a redução adequada e identificar quaisquer fraturas coexistentes.

  • Organizar o acompanhamento ortopédico.

Alertas e erros comuns para a técnica de Davos

  • Instruir os pacientes a permitir tempo suficiente para que o espasmo muscular desapareça antes de abandonar o procedimento.

  • A luxação aparente do ombro em uma criança costuma ser uma fratura envolvendo a placa de crescimento, que tende a se fraturar antes de a articulação ser danificada.

Recomendações e sugestões para a técnica de Davos

  • Manter a coluna ereta e os ombros relaxados é fundamental para o sucesso dessa manobra.

  • Pacientes que retornam com aumento da dor em até 48 horas após a redução, é provável que a causa seja uma hemartrose (a menos que o ombro tenha se luxado novamente). Aspirar o sangue do espaço articular (ver Como fazer artrocentese do ombro).

Referências

  1. 1. Perlmutter GS, Apruzzese W. Axillary nerve injuries in contact sports: recommendations for treatment and rehabilitation. Sports Med. 1998;26(5):351-361. doi:10.2165/00007256-199826050-00005

  2. 2. Marcano-Fernandez FA, Balaguer-Castro M, Fillat-Goma F. Teaching Patients How to Reduce a Shoulder Dislocation: A Randomized Clinical Trial Comparing the Boss-Holzach-Matter Self-Assisted Technique and the Spaso Method. J Bone Joint Surg Am. 2018;100(5):375-380. doi:10.2106/JBJS.17.00687

quizzes_lightbulb_red
Test your KnowledgeTake a Quiz!
ANDROID iOS
ANDROID iOS
ANDROID iOS