Mieloma múltiplo

(Mielomatose; mieloma dos plasmócitos)

PorJames R. Berenson, MD, Institute for Myeloma and Bone Cancer Research
Revisado/Corrigido: jun 2023
Visão Educação para o paciente

É uma neoplasia dos plasmócitos que produz imunoglobulina monoclonal e invade e destrói o tecido ósseo adjacente. As manifestações comuns incluem lesões líticas nos ossos que provocam dor e/ou fraturas, insuficiência renal, hipercalcemia, anemia e infecções recorrentes. O diagnóstico costuma exigir a demonstração da proteína M (algumas vezes presente na urina e não no soro, mas, em casos raros, inteiramente ausente) e/ou proteinúria de cadeia leve ou excesso de plasmócitos na medula óssea. O tratamento específico na maioria das vezes inclui alguma combinação de quimioterapia convencional, corticoides e um ou mais medicamentos adicionais como inibidores de proteassoma (p. ex., bortezomibe, carfilzomibe, ixazomibe), agentes imunomoduladores (p. ex., lenalidomida, talidomida, pomalidomida), ou anticorpos monoclonais (p. ex., daratumumabe, isatuximabe, elotuzumabe). Abordagens baseadas em anticorpos e células T para direcionar o antígeno de maturação de células B mostraram eficácia. Uma dose alta de melfalano seguida de transplante autólogo de células-tronco do sangue perifério também pode ser utilizada.

(Ver também Visão geral dos doenças plasmocitárias.)

Nos Estados Unidos, o risco ao longo da vida de contrair mieloma múltiplo é 1 em 132 (0,76%) (1). A idade média é cerca de 70 anos. A prevalência em negros é duas vezes maior que em brancos. Há discreta predominância do sexo masculino. A etiologia é desconhecida, embora sejam sugeridos fatores genéticos e cromossômicos, radiação e agentes químicos.

A American Cancer Society estima que em 2023 nos Estados Unidos haverá cerca de 35.730 novos casos de mieloma múltiplo diagnosticado e espera-se que cerca de 12.590 mortes ocorram (1).

Referência geral

  1. 1. American Cancer Society. Key Statistics About Multiple Myeloma. Atlanta, Ga., American Cancer Society; 2023.

Fisiopatologia do mieloma múltiplo

A proteína M (proteína imunoglobulina monoclonal) produzida pelos plasmócitos malignos é IgG em cerca de 55% dos pacientes com mieloma e IgA em torno de 20%. Desses pacientes, 40% também têm proteinúria de Bence Jones, que consiste em leves cadeias capa (κ) ou lambda (λ) monoclonais livres na urina. Em 15 a 20% dos pacientes, os plasmócitos secretam apenas proteína Bence Jones. Mielomas IgM e IgD são responsáveis por cerca de 1% dos casos cada; o mieloma IgD é mais frequente em pacientes de ascendência asiática. O mieloma IgE é extremamente raro. Raramente, os pacientes não têm proteína M no sangue e na urina, embora o ensaio sérico da cadeia leve livre utilizado atualmente demonstre cadeias leves monoclonais em muitos dos assim chamados pacientes não secretores.

Lesões difusas de osteoporose ou osteolíticas discretas estão frequentemente presentes, com os locais mais comuns sendo a pelve, coluna, arcos costais, fêmur, úmero e crânio. As lesões são causadas pela substituição óssea por plasmocitomas em expansão ou por citocinas que são secretadas por plasmócitos malignos que ativam os osteoclastos e suprimem os osteoblastos, levando à perda óssea. As lesões osteolíticas, geralmente, são múltiplas; são ocasionalmente massas intramedulares solitárias. O aumento da perda óssea pode levar à hipercalcemia. Os plasmocitomas extraósseos solitários são incomuns, mas podem ocorrer em qualquer tecido, em especial no trato respiratório superior.

Em muitos pacientes, insuficiência renal está presente no diagnóstico ou se desenvolve durante o curso da doença. A insuficiência renal tem muitas causas e, mais comumente, resulta da deposição de cadeias leves nos túbulos distais (doença renal associada a mieloma) ou hipercalcemia.

Muitas vezes, os pacientes desenvolvem anemia decorrente de doença renal ou supressão da eritropoese por células cancerígenas, mas também devido a causas não relacionadas, como deficiência de ferro ou deficiência de vitamina B12.

Por causa da falta de anticorpos normais e outras disfunções imunológicas, alguns pacientes têm maior suscetibilidade a infecções bacterianas. Infecções virais, especialmente infecções por herpes-zóster, ocorrem como resultado de modalidades de tratamento como inibidores de proteassoma (p. ex., bortezomibe, ixazomibe, carfilzomibe) e anticorpos monoclonais (p. ex., daratumumabe, elotuzumabe, isatuximabe).

A amiloidose ocorre em 10% dos pacientes com mieloma, com mais frequência naqueles com proteínas M do tipo lambda.

Expressões variantes do mieloma múltiplo ocorrem (ver tabela Expressões variantes de mieloma múltiplo).

Tabela

Sinais e sintomas do mieloma múltiplo

Dor óssea persistente (especialmente lombar ou torácica), insuficiência renal e infecções bacterianas recorrentes são os problemas mais comuns na apresentação, mas muitos pacientes são identificados quando exames laboratoriais de rotina mostram nível total de proteína elevado no sangue, proteinúria, anemia inexplicada ou insuficiência renal.

Os sintomas de anemia predominam ou podem ser a única razão para a avaliação em alguns pacientes e poucos têm manifestações da síndrome de hiperviscosidade.

Fraturas patológicas (fragilidade) (isto é, fraturas que ocorrem com trauma mínimo ou mesmo nenhum trauma) são comuns, e o colapso vertebral pode levar à compressão da medula espinal e paraplegia.

Neuropatia periférica, síndrome do túnel do carpo (sobretudo com doença amiloide associada), sangramento anormal e sintomas de hipercalcemia (p. ex., polidipsia, desidratação) são comuns.

A linfadenopatia e a hepatosplenomegalia não são raras.

Diagnóstico do mieloma múltiplo

  • Hemograma completo com plaquetas, esfregaço sanguíneo periférico e perfil bioquímico (nitrogênio da ureia sanguínea, creatinina, cálcio, ácido úrico, desidrogenase láctica [LDH])

  • Eletroforese de urina e proteína no soro (coleta de urina de 24 horas) seguida de imunofixação; imunoglobulinas quantitativas; cadeias leves livres séricas

  • Radiografias (exame do esqueleto) e tomografia por emissão de pósitrons (PET-TC) ou RM de corpo inteiro

  • Exame da medula óssea, incluindo citogenética convencional e estudos de hibridização fluorescente in situ (FISH)

Suspeita-se de mieloma múltiplo em pacientes com > 40 anos e dor óssea inexplicada persistente, em particular à noite ou durante o repouso; outros sintomas típicos ou alterações laboratoriais inexplicáveis (como aumento dos níveis de proteína na urina e no sangue, hipercalcemia, insuficiência renal ou anemia) ou radiografias mostrando fratura patológica ou lesões líticas.

A avaliação laboratorial inclui exames de sangue de rotina, DHL, microglobulina beta-2 sérica, eletroforese de proteínas e imunológicas no soro e na urina, cadeias leves livres séricas. Os pacientes também devem ser submetidos a um exame do esqueleto e, como são mais sensíveis a doenças ósseas do que as radiografias, PET-TC ou RM de corpo inteiro. Exame da medula óssea também é necessário junto com citogenética convencional e estudos com FISH (para revisão, ver [1, 2]).

Os exames sanguíneos de rotina compreendem hemograma e perfil bioquímico. Há anemia em 80% dos pacientes, geralmente normocítica-normocrômica com formação de rouleau, que são agregados de 3 a 12 eritrócitos que ocorrem em pilhas. As contagens de leucócitos e plaquetas quase sempre são normais. BUN, creatinina sérica, LDH, beta-2 microglobulina e ácido úrico sérico podem estar elevados. O hiato aniônico às vezes é baixo. Hipercalcemia está presente no diagnóstico em cerca de 10%.

Realiza-se a eletroforese de proteína e imunofixação em uma amostra de soro e urina concentrada coletada em 24 horas para quantificar o nível de proteína M na urina. A eletroforese sérica identifica a M-proteína em cerca de 80 a 90% dos pacientes. A maioria dos 10 a 20% restantes é de pacientes com apenas cadeias leves monoclonais livres (proteína de Bence Jones) que podem ser detectadas utilizando proteína na urina e eletroforese imunitária. Raramente, os pacientes têm IgM, IgD ou IgE. A proteína monoclonal não é evidente no diagnóstico em uma pequena proporção de pacientes; entretanto, durante o curso da doença, mais pacientes apresentam evidências de proteína monoclonal.

A eletroforese de imunofixação pode identificar a classe da imunoglobulina da M-proteína (IgG, IgA, ou, raramente, IgD, IgM ou IgE) com frequência pode detectar proteína de cadeia leve se a imunoeletroforese sérica for falso-negativa; a eletroforese de imunofixação é obtida mesmo que o teste sérico seja negativo, se houver forte suspeita de mieloma múltiplo.

A análise da cadeia leve livre no soro com delimitação das proporções kappa e lambda ou diferenças entre as cadeias leves envolvidas e não envolvidas ajuda a confirmar o diagnóstico e também pode ser utilizada para monitorar a eficácia do tratamento e fornecer dados prognósticos.

Mede-se o nível sérico de microglobulina beta-2 se o diagnóstico é confirmado ou se é muito provável e, junto com a albumina sérica, é utilizado para estadiar os pacientes como parte do sistema de estadiamento internacional (ver tabela Sistema de estadiamento internacional para mieloma múltiplo). A beta-2 microglobulina é uma pequena proteína na membrana de todas as células. Sua concentração varia diretamente de acordo com a massa tumoral e a gravidade da disfunção renal.

Tabela

Radiografias incluem exame do esqueleto (isto é, radiografia simples do crânio, ossos longos, coluna vertebral, pelve e arcos costais). Lesões líticas em saca-bocado ou osteoporose difusa estão presentes em 80% dos casos. As cintilografias ósseas habitualmente não são úteis. RM de corpo inteiro pode fornecer detalhes adicionais e é obtida se houver locais de dor ou sintomas neurológicos. Exames de imagem PET- CT fornecem informações prognósticas e ajudar a determinar se os pacientes têm plasmocitoma solitário ou mieloma múltiplo.

Mieloma múltiplo
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Essa radiografia do crânio mostra múltiplas lesões em saca-bocado no osso (setas), típicas do mieloma múltiplo.
Image courtesy of Michael J. Joyce, MD, e Hakan Ilaslan, MD.

Aspiração ebiópsia da médula óssea são feitos e revelam bainhas ou agregados de plasmócitos; o mieloma é diagnosticado quando ≥ 10% das células são desse tipo. No entanto, o envolvimento da medula é inconsistente; portanto, algumas amostras de pacientes com mieloma podem mostrar < 10% de plasmócitos. Ainda assim, a porcentagem de plasmócitos na medula óssea raramente é normal. A morfologia dos plasmócitos não se correlaciona à classe da imunoglobulina sintetizada. Estudos cromossômicos sobre a medula óssea (p. ex. utilizando hibridização in situ fluorescente [FISH] e imuno-histoquímica) podem revelar anormalidades cariotípicas nos plasmócitos que podem influenciar as escolhas de tratamento e são associadas às diferenças na sobrevida.

O diagnóstico e a diferenciação de outras neoplasias (p. ex., carcinoma metastático, linfoma e leucemia) e gamopatia monoclonal de significado indeterminado geralmente requerem múltiplos critérios

  • Células clonais de medula óssea no plasma ou plasmocitoma

  • Proteína M no plasma e/ou na urina

  • Órgãos prejudicados (hipercalcemia, insuficiência renal, anemia ou lesões ósseas)

No pacientes com M-proteína sérica, o mieloma é indicado por proteinúria de Bence Jones > 200 mg/24 horas, ou cadeias leves livres séricas anormais, lesões osteolíticas (sem evidência de carcinoma metastático ou doença granulomatosa) e bainhas ou agregados de plasmócitos na medula óssea.

Referências sobre diagnóstico

  1. 1. Sive J, Cuthill K, Hunter H, Kazmi M, Pratt G, Smith D and on behalf of British Society of Haematology: Guidelines on the diagnosis, investigation and initial treatment of myeloma: a British Society for Haematology/UK Myeloma Forum Guideline. Brit J Haematol 193:245–268, 2021. doi:10.1111/bjh.17410

  2. 2. Rajkumar SV: Multiple myeloma: 2022 update on diagnosis, risk-stratification and management. Am J Hematol 97(8):1086-1107, 2022. doi:10.1002/ajh.26590

Prognóstico para mieloma múltiplo

O mieloma múltiplo é progressivo e incurável, mas a sobrevida média em 5 anos melhorou para 58% como resultado dos avanços no tratamento (1). Sinais prognósticos desfavoráveis no diagnóstico são estágio mais alto, baixos níveis de albumina sérica, níveis mais altos de microglobulina beta-2 sérica, anomalias citogenéticas específicas nas células tumorais, e níveis mais altos de células malignas no sangue. Pacientes que inicialmente têm insuficiência renal também não evoluem bem, a menos que a função renal melhore com a terapia o que tipicamente acontece com as opções atuais de tratamento.

Como o mieloma múltiplo é, em última análise, fatal, os pacientes podem se beneficiar de discussões sobre o tratamento no final da vida envolvendo médicos, familiares e amigos. Os pontos para discussão podem envolver diretivas antecipadas, uso de tubos de alimentação e alívio de dor.

Referência sobre prognóstico

  1. 1. American Cancer Society: Multiple Myeloma: Early Detection, Diagnosis, and Staging. Survival Rates for Multiple Myeloma. Atlanta, Ga., American Cancer Society; 2023.

Tratamento do mieloma múltiplo

  • Quimioterapia convencional para pacientes sintomáticos

  • Talidomida, lenalidomiba ou lenalidomida pomalidomida e/ou bortezomibe, carfilzomibe, ou ixazomibe, mais corticoides e/ou quimioterapia convencional

  • Anticorpos monoclonais, incluindo elotuzumabe, isatuximabe e daratumumabe

  • Especialmente para o mieloma recidivante ou refratário, selinexor, um inibidor seletivo da exportação nuclear (SINE), e panobinostato, um inibidor da histona desacetilase

  • Especialmente para o mieloma recidivante ou refratário, tratamentos imunes direcionados ao antígeno de maturação de células B (BCMA), que é altamente expresso nas células do mieloma

  • O inibidor do BCL-2 (regulador da apoptose BCL2) venetoclax para pacientes cujas células malignas mostram o marcador genético t(11; 14)

  • Terapia de manutenção com corticoides, talidomida e/ou lenalidomida e inibidores de proteassoma, especialmente ixazomibe oral

  • Talvez transplante autólogo de células-tronco

  • Possivelmente radioterapia em áreas sintomáticas específicas que não respondem à terapia sistêmica

  • Tratamento das complicações (anemia, hipercalcemia, insuficiência renal, infecções e lesões ósseas), sobretudo aquelas associadas com alto risco de fraturas

O tratamento do mieloma melhorou nas 2 últimas década, e o objetivo terapêutico é prolongar a sobrevida. A terapia envolve o tratamento direto das células malignas em pacientes sintomáticos ou naqueles com disfunção de órgão relacionada a mieloma (anemia, disfunção renal, hipercalcemia ou doença óssea).

Os fatores de risco que exigem tratamento rápido de mieloma entre pacientes que inicialmente manifestam disfunção de órgão incluem

  • > 60% de plasmócitos na medula óssea

  • > 1 lesão na RM

  • Níveis séricos de cadeia leve > 100 mg/L

Considera-se que os pacientes com esses fatores de risco têm mieloma ativo e requerem tratamento imediato, embora quase todos os ensaios clínicos randomizados de tratamento precoce desses pacientes não tenham demonstrado melhora na sobrevida geral. Pacientes sem esses fatores de risco ou disfunção de órgão alvo provavelmente não se beneficiam do tratamento imediato, que quase sempre é mantido em suspenso até a ocorrência de sinais e sintomas ou complicações.

Tratamento de células malignas

Quimioterapia convencional no passado era o tratamento inicial do mieloma múltiplo, consistindo em melfalana oral e prednisona administradas em ciclos de 4 a 6 semanas por 8 a 12 ciclos com avaliação mensal da resposta. Entretanto, foram alcançados melhores resultados com a adição de um inibidor de proteassoma, como bortezomibe, carfilzomibe ou ixazomibe, ou com os imunomoduladores lenalidomida ou talidomida. Outros quimioterápicos, como a ciclofosfamida, a bendamustina, a doxorrubicina e seu análogo, a doxorrubicina peguilada lipossomal (doxorrubicina lipossômica), também são mais eficazes quando combinados a um imunomodulador (talidomida, lenalidomidaou bortezomibe). Há melhor sobrevida quando o tratamento inicial inclui bortezomibe e lenalidomida com corticoides. A adição do anticorpo monoclonal daratumumab ao bortezomibe e à dexametasona como parte do tratamento inicial parece melhorar os desfechos (1).

Resposta ao tratamento (ver tabela Definição da resposta ao tratamento do câncer) é indicado por

  • Diminuição da proteína M sérica e urinária

  • Diminuição dos níveis da cadeia leve livre sérica envolvida

  • Aumento do número de eritrócitos

  • Melhora da função renal em pacientes com insuficiência renal

  • Normalização dos níveis de cálcio entre aqueles com níveis elevados

  • Diminuição da dor óssea

  • Diminuição da fadiga

O transplante autólogo de células-tronco pode ser considerado para pacientes com funções cardíaca, hepática, pulmonar e renal adequadas, em particular para aqueles em que a doença é estável ou responde após vários cursos de quimioterapia convencional. Contudo, novas opções terapêuticas são muito eficazes e podem tornar a necessidade de transplante menos frequente ou completamente desnecessária. Estudos clínicos recentes mostram sobrevida sem progressão mais longa, mas nenhuma melhora na sobrevida geral quando os pacientes são submetidos a transplante de células-tronco como parte da terapia inicial (2).

O transplante de células-tronco alogênicas após quimioterapia não ablativa (p. ex., baixa dose de ciclofosfamida e fludarabina) ou baixa dose de radioterapia pode produzir sobrevida de 5 a 10 anos livre de mieloma em alguns pacientes. Contudo, o transplante alogênico de células-tronco com quimioterapia mieloablativa ou não mieloablativa permanece experimental devido à alta morbidade resultante da doença enxerto versus hospedeiro.

Tratamento de mieloma recidivado ou refratário

No mieloma recidivante ou refratário, pode-se utilizar combinações de um inibidor de proteassoma (bortezomibe, ixazomibe ou carfilzomibe) com um imunomodulador (talidomida, lenalidomida ou pomalidomide) e quimioterapia ou corticoides. Esses fármacos geralmente são combinados com outros fármacos eficazes que ainda não foram utilizados pelo paciente, embora os pacientes com remissão prolongada possam responder ao novo tratamento com o mesmo esquema que promoveu a remissão inicial. Os pacientes que não respondem a uma dada combinação de fármacos podem responder quando outro fármaco da mesma classe (p. ex., inibidores de proteassomas, imunomoduladores, quimioterápicos) for utilizado.

Anticorpos monoclonais direcionados às proteínas nas células do mieloma também podem ser altamente eficazes no mieloma recidivante ou refratário. Os anticorpos monoclonais incluem daratumumabe, isatuximabe e elotuzumabe. Esses anticorpos são mais eficazes quando combinados com os agentes imunomoduladores talidomida, lenalidomida ou pomalidomida, e dexametasona. O daratumumabe mostra melhores resultados quando combinado com bortezomibe e dexametasona (3), e tanto o daratumumabe como o isatuximabe também mostram eficácia melhorada quando somados ao carfilzomibe e à dexametasona. No entanto, o tratamento com qualquer um desses anticorpos monoclonais e somente dexametasona é eficaz em muitos pacientes sem os custos e os efeitos adversos de medicações adicionais.

O inibidor seletivo da exportação nuclear (SINE), e o panobinostate, um inibidor da histona desacetilase (HDACi) são especialmente eficazes quando combinados com outros fármacos ativos contra o mieloma.

Três tratamentos imunológicos eficazes que têm como alvo o antígeno de maturação de células B (BCMA) estão disponíveis. Esses tratamentos incluem terapias celulares para mieloma, terapias com células T do receptor do antígeno quimérico (idecabtageno vicleucel e ciltacabtageno autoleucel) e um anticorpo biespecífico teclistamabe que também tem como alvo o CD3 nas células T. Embora esses tratamentos sejam eficazes, eles podem causar efeitos adversos agudos significativos (síndrome de liberação de citocinas, problemas neurológicos) e alto risco de infecções graves em curso.

O venetoclax inibidor oral de BCL-2 demonstrou ser eficaz para tratar pacientes cujas células do mieloma mostram o marcador genético t(11; 14) (4).

Terapia de manutenção

A terapia de manutenção tem sido tentada com fármacos não quimioterápicos, incluindo interferona-alfa, que prolonga a remissão, mas não melhora a sobrevida e seus significantes efeitos adversos associados. Seguindo um regime baseado na resposta dos corticoides, estes, sozinhos, são eficazes no tratamento de manutenção.

A talidomida também pode ser eficaz como tratamento de manutenção, e lenalidomida isoladamente ou combinada com corticoides também é eficaz como tratamento de manutenção. Entretanto, a neoplasia secundária ainda é uma preocupação entre os pacientes que receberam terapia a longo prazo com lenalidomida, especialmente após o transplante autólogo de células-tronco. Assim, o risco de desenvolver cânceres secundários deve ser ponderado em relação à maior sobrevida.

O inibidor do proteassoma oral ixazomibe é eficaz como agente único para tratamento de manutenção. Não se sabe se a combinação de ixazomibe com lenalidomida é mais eficaz.

O papel dos anticorpos como terapia de manutenção ainda não foi definido.

Tratamento das complicações

Além de tratamento direto das células malignas, a terapia também deve ser direcionada para as complicações, que incluem

  • Anemia

  • Hipercalcemia

  • Hiperuricemia

  • Infecções

  • Insuficiência renal

  • Lesões ósseas

A Anemia pode ser tratada com eritropoetina recombinante em pacientes cuja anemia não é aliviada adequadamente pela quimioterapia. Se a anemia produzir sintomas cardiovasculares ou sistêmicos significantes, transfusões de concentrados de eritrócitos são feitas. Troca plasmática é indicada se o paciente desenvolver hiperviscosidade, o que raramente ocorre em pacientes com mieloma. Muitas vezes, os pacientes têm deficiência de ferro por razões não relacionadas ao mieloma e exigem ferro intravenoso. Em pacientes com anemia, deve-se medir periodicamente os níveis séricos de ferro, transferrina e ferritina para monitorar as reservas de ferro e também os níveis de vitamina B12.

Tratar a hipercalcemia com salurese vigorosa, bisfosfonatos IV (preferencialmente ácido zoledrônico) após a reidratação e, algumas vezes, calcitonina ou prednisona. Também pode-se utilizar denosumabe para tratar hipercalcemia especialmente entre os pacientes com insuficiência renal grave. Os pacientes devem evitar alimentos contendo cálcio, suplementos de cálcio e vitamina D.

A hiperuricemia pode ocorrer em alguns pacientes com alta carga tumoral e problemas metabólicos subjacentes. Mas a maioria dos pacientes não exige alopurinol. Indica-se alopurinol ou rasburicase para pacientes com altos níveis séricos de ácido úrico ou grande volume tumoral e alto risco de síndrome da lise tumoral com o tratamento.

Infecção é mais provável durante neutropenia induzida por quimioterapia. Além disso, a infecção pelo vírus herpes-zóster ocorre com frequência nos pacientes tratados com certos fármacos antimieloma, especialmente bortezomibe, carfilzomibe, ixazomibe, bem como os anticorpos monoclonais (daratumumabe, isatuximabe, elotuzumabe). Os novos tratamentos direcionados ao antígeno de maturação de células B (BCMA) estão associados a um risco muito alto de infecção grave.

Infecções bacterianas documentadas devem ser tratadas com antibióticos. O uso profilático de antibióticos não é recomendado rotineiramente.

É indicado fazer profilaxia com antivirais (p. ex., aciclovir, vanganciclovir ou fanciclovir) para os pacientes que recebem um inibidor de proteassoma (bortezomibe, carfilzomibe ou ixazomibe) ou anticorpo monoclonal (daratumumabe, isatuximabe, elotuzumabe).

Imunoglobulina profilática IV pode reduzir o risco de infecção, mas é geralmente reservada para pacientes com baixos níveis de imunoglobulina não envolvida e infecções recorrentes frequentes.

Indicam-se vacina pneumocócica e vacina contra influenza para evitar infecções, embora não sejam eficazes na maioria dos pacientes por causa da sua deficiência imunitária relacionada com a doença e o tratamento. Não se recomenda o uso de vacinas com microrganismos vivos para pacientes imunocomprometidos. A vacina contra zóster recombinante com vírus não viável, ao contrário da vacina contra zóster com vírus atenuados vivos, pode ser administrada para prevenir herpes-zóster, mas também tem eficácia limitada.

O comprometimento renal muitas vezes pode ser melhorado com hidratação adequada. Mesmo pacientes com proteinúria de Bence Jones maciça prolongada ( 10 a 30 g/dia) podem ter a função renal intacta se mantiverem o débito urinário > 2.000 mL/dia. A desidratação combinada com contraste hiperosmolar intravenoso alto pode precipitar a insuficiência renal oligúrica aguda em pacientes com proteinúria de Bence Jones. A troca plasmática pode ser eficaz em alguns casos. Deve-se evitar fármacos nefrotóxicos. Tratamento rápido e agressivo do mieloma subjacente para reduzir os níveis da imunoglobulina monoclonal nefrotóxica é importante para reverter essa condição.

Lesões esqueléticas requerem medidas de suporte. A manutenção de cálcio e vitamina D circulantes e suplementares ajuda a preservar a densidade óssea. Os níveis de vitamina D devem ser medidos no momento do diagnóstico e periodicamente e a dose de vitamina D deve ser ajustada de acordo com os resultados. Doses analgésicas e paliativas de radioterapia (18 a 24 gray) podem aliviar a dor óssea. Contudo, a radioterapia pode causar toxicidade significativa e, como ela suprime a médula óssea, prejudicar a capacidade de o paciente receber doses citotóxicas de quimioterapia sistêmica.

A maioria dos pacientes, especialmente aqueles com lesões líticas e osteoporose ou osteopenia generalizadas, deve também receber bisfosfonato IV (pamidronato ou ácido zoledrônico). Bisfosfonatos reduzem as complicações esqueléticas, diminuem a dor óssea e podem ter efeito antitumoral. Para pacientes com insuficiência renal potencialmente reversível decorrente de mieloma, mas não relacionada à hipercalcemia ou com reações à infusão contínuas após infusão de bisfosfonato, uma opção é o denosumabe mensal (administrado por via subcutânea) que, contrariamente aos bisfosfonatos, não é eliminado pelos rins e não causa reações à infusão. Tanto os bisfosfonatos como o denosumabe podem causar, raramente, osteonecrose da mandíbula. Manter uma saúde bucal excelente e evitar explantes e implantes dentários são importantes para minimizar o risco dessa complicação.

Referências sobre o tratamento

  1. 1. Abdallah N, Kumar SK. Daratumumab in untreated newly diagnosed multiple myeloma. Ther Adv Hematol 2019;10:2040620719894871. doi:10.1177/2040620719894871

  2. 2. Richardson PG, Jacobus SJ, Weller EA, et al. Triplet Therapy, Transplantation, and Maintenance until Progression in Myeloma. N Engl J Med 2022;387(2):132-147. doi:10.1056/NEJMoa2204925

  3. 3. Palumbo A, Chanan-Khan A, Weisel K, et al. Daratumumab, Bortezomib, and Dexamethasone for Multiple Myeloma. N Engl J Med 2016;375(8):754-766. doi:10.1056/NEJMoa1606038

  4. 4. Sidiqi MH, Al Saleh AS, Kumar SK, et al. Venetoclax for the treatment of multiple myeloma: Outcomes outside of clinical trials. Am J Hematol 2021;96(9):1131-1136. doi:10.1002/ajh.26269

Pontos-chave

  • Neoplasias plasmocitárias produzem imunoglobulina monoclonal que invade e destrói os ossos.

  • Plasmocitomas e secreção de citocinas em expansão causam múltiplas lesões osteolíticas discretas (geralmente na pelve, coluna vertebral, arcos costais e crânio) e osteoporose difusa; dor, fraturas e hipercalcemia são comuns.

  • Anemia e insuficiência renal são comuns.

  • Ocorre amiloidose em cerca de 10%, tipicamente nos pacientes que produzem excesso de cadeias leves lambda.

  • Realizar eletroforese da proteína no soro e na urina seguida de imunofixação, imunoglobulina quantitativa e medição das cadeias leves livres no soro.

  • Fazer aspirado e biópsia da medula óssea.

  • Deve-se tratar os pacientes sintomáticos e aqueles com disfunção de órgãos tratados com terapia medicamentosa, que pode incluir corticoides, quimioterápicos, inibidores de proteassoma, agentes imunomoduladores, anticorpos monoclonais, inibidores seletivos da exportação nuclear, inibidores de histona deacetilase, e imunoterapias celulares e baseadas em anticorpos direcionadas para antígenos de maturação de células B.

  • O transplante de células-tronco é uma opção para alguns pacientes, mas opções de tratamento mais recentes e altamente eficazes podem torná-lo desnecessário em outros.

Informações adicionais

Os recursos em inglês a seguir podem ser úteis. Observe que este Manual não é responsável pelo conteúdo desses recursos.

  1. Bal S, Giri S, Godby KN, Costa LJ: New regimens and directions in the management of newly diagnosed multiple myeloma. Am J Hematol 96:367–378, 2021. doi:10.1002/ajh.26080

  2. Cowan AJ, Green DJ, Kwok M, et al: Diagnosis and management of multiple myeloma: A review. JAMA 327:464-477, 2022. doi: 10.1001/jama.2022.0003

  3. Cook G, Morris CTCM: Evolution or revolution in multiple myeloma therapy and the role of the UK. Brit J Haematol 191:542–551, 2020. doi:10.1111/bjh.17148

  4. Gulla A, Anderson KC: Multiple myeloma: the (r)evolution of current therapy and a glance into the future. Haematologica 105:2358–2367, 2020. doi:10.3324/haematol.2020.247015

  5. Premkumar V, Bhutani D, Lentzsch S: Modern treatments and future directions for relapsed/refractory multiple myeloma patients. Clinical Lymphoma Myeloma Leuk20(11):736–743, 2020. doi:10.1016/j.clml.2020.06.023

  6. Soekojo CY, Chng WJ: Treatment horizon in multiple myeloma. Eur J Haematol 109:425-440, 2022. doi: 10.1111/ejh.13840

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