Tricomoníase é a infecção da vagina ou do trato genital masculino causada por Trichomonas vaginalis. Pode ser assintomática ou produzir uretrite, vaginite ou, ocasionalmente, cistite, epididimite ou prostatite. O diagnóstico é feito por meio de exame microscópico direto, testes de tira reagente ou testes de amplificação de ácido nucleico das secreções vaginais, por urina ou cultura uretral. Pacientes e contatos sexuais são tratados com metronidazol, tinidazol ou secnidazol.
(Ver também Visão geral das infecções sexualmente transmissíveis.)
Trichomonas vaginalis é um protozoário flagelado sexualmente transmissível que infecta mais mulheres do que homens; as estimativas de prevalência em todo o mundo em 2016 foram 5,3% entre as mulheres e 0,6% entre os homens. Mais de 150 milhões de novos casos ocorrem anualmente (1).
A infecção pode ser assintomática em ambos os sexos. Em homens, o organismo pode persistir por longos períodos no trato geniturinário sem provocar sintomas e pode ser transmitido a parceiros sexuais. Tricomoníase pode ser responsável por até 8% das uretrites masculinas não gonocócicas e não clamídicas em algumas áreas (2).
Coinfecção com gonorreia e outras infecções sexualmente transmissíveis é comum.
Referências gerais
1. Rowley J, Vander Hoorn S, Korenromp E, et al. Chlamydia, gonorrhoea, trichomoniasis and syphilis: global prevalence and incidence estimates, 2016. Bull World Health Organ. 2019;97(8):548-562P. doi:10.2471/BLT.18.228486
2. Williamson DA, Chen MY. Emerging and Reemerging Sexually Transmitted Infections. N Engl J Med. 2020;382(21):2023-2032. doi:10.1056/NEJMra1907194
Sinais e sintomas da tricomoníase
Mulheres podem apresentar sintomas da tricomoníase que variam de nenhum corrimento vaginal a corrimento vaginal copioso, amarelo-esverdeado e espumoso e odor de peixe, com sensibilidade na vulva e no períneo, dispareunia e disúria. Uma infecção previamente assintomática pode se tornar sintomática a qualquer momento, com inflamação da vulva e do períneo e edema de lábios. As paredes vaginais e a superfície do colo do útero podem apresentar lesões vermelhas em forma de “morango” devido a hemorragias mucosas pontilhadas. Uretrite e, possivelmente, cistite também podem ocorrer.
Homens normalmente são assintomáticos; porém, algumas vezes, a uretrite resulta em uma secreção que pode ser passageira, espumosa ou purulenta, ou causar disúria e polaciúria, geralmente no início da manhã. Com frequência, a uretrite é leve e causa apenas irritação uretral mínima e umidade ocasional no meato uretral, sob o prepúcio, ou em ambos. Epididimite e prostatite são complicações menos comuns (1).
Referência sobre sinais e sintomas
1. Williamson DA, Chen MY. Emerging and Reemerging Sexually Transmitted Infections. N Engl J Med. 2020;382(21):2023-2032. doi:10.1056/NEJMra1907194
Diagnóstico da tricomoníase
Para mulheres, exame vaginal com testes de amplificação de ácidos nucleicos (NAATs), exame microscópico a fresco, testes rápidos com tira reagente de antígeno ou, às vezes, cultura ou citologia cervical
Para homens, NAAT ou cultura de urina ou swab uretral ou cultura de sêmen
Deve-se suspeitar de tricomoníase em mulheres com vaginite, em homens com uretrite e em seus parceiros. Assim como no diagnóstico de qualquer IST, pacientes com suspeita ou confirmação de tricomoníase devem ser testados para excluir outras infecções sexualmente transmissíveis comuns, como gonorreia e clamídia. A suspeita de tricomoníase é elevada quando os sintomas persistem após o tratamento de outras infecções, como gonorreia e clamídia.
Testes para mulheres
Em mulheres, pode-se realizar um dos seguintes testes diagnósticos com as secreções vaginais:
NAAT
pH vaginal e exame a fresco
Test rápido de fluxo immunocromográfico
Cultura
NAATs são mais sensíveis do que o exame microscópico ou cultura para o diagnóstico da tricomoníase em mulheres.
Testes com tira reagente do fluxo de imunocromatografia também estão disponíveis para exames em pontos de atendimento para mulheres.
O exame microscópico possibilita que o médico avalie simultaneamente se há tricomoníase e vaginose bacteriana, pois estas causam sintomas semelhantes e/ou podem coexistir. A amostra do corrimento vaginal é obtida do fórnix posterior. O pH é medido. Em seguida, as secreções são colocadas enre 2 lâminas e diluídas com hidróxido de potássio a 10% em uma lâmina (exame a fresco com KOH) e com cloreto de sódio a 0,9% na outra (exame a fresco com soro fisiológico). Para o teste do odor, verifica-se se o exame a fresco com KOH libera odor de peixe, decorrente das aminas produzidas na vaginose bacteriana. A lâmina do exame a fresco com solução salina deve ser avaliada ao microscópio o mais rápido possível para detectar tricomonas, que podem se tornar imóveis e mais difíceis de reconhecer poucos minutos após a preparação. (Os tricomonas tem a forma de pera com flagelos, muitas vezes móveis, e em média têm 7 a 10 micrômetros — aproximadamente o tamanho dos leucócitos, mas ocasionalmente alcançam 25 micrômetros.) Tricomoníase também é comumente diagnosticada visualizando o organismo quando o teste de Papanicolau (Pap) é feito.
Citologia cervical (teste de Papanicolau) e exame de urina não são tradicionalmente utilizados para testar a tricomoníase, mas às vezes a infecção é detectada incidentalmente e deve ser tratada.
Imagem obtida da Public Health Image Library dos Centers for Disease Control and Prevention.
Testes para homens
NAATs de urina ou swab uretral são a primeira escolha para o diagnóstico em homens.
Exames para ambos os sexos
A cultura também pode ser realizada para diagnóstico, mas é menos sensível que os NAATs.
Para as mulheres, as amostras vaginais são preferidas para cultura. Para homens, swab uretral, sedimento urinário ou sêmen são preferidos para cultura.
A cultura é mais útil no contexto de infecções persistentes por trichomonas quando há suspeita de resistência aos 5-nitroimidazóis. Cultura e teste de resistência antimicrobiana para metronidazol e tinidazol são disponibilizados nos Estados Unidos pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Ver também Submitting Specimens to CDC.
Tratamento da tricomoníase
Metronidazol, tinidazol ou secnidazol orais
Tratamento dos parceiros sexuais
Mulheres com tricomoníase devem receber metronidazol, 500 mg, por via oral, duas vezes ao dia, durante 7 dias. Os homens devem receber metronidazol 2 g por via oral em dose única. Um tratamento alternativo para mulheres e homens é tinidazol 2 g por via oral em uma única dose ou uma dose única de grânulos de secnidazol 2 g misturados com uma única porção de pudim, purê de maçã ou iogurte (1).
Se a infecção persistir em mulheres e a reinfecção por parceiros sexuais foi excluída, as mulheres devem receber metronidazol 500 mg, duas vezes ao dia, por 7 dias, ou tinidazol, 2 g, por via oral, uma vez ao dia, durante 7 dias.
O metronidazol pode causar leucopenia, reações semelhantes às de dissulfiram com álcool, ou superinfecções por Candida. Esse medicamento atravessa a placenta, mas é geralmente seguro para uso na gravidez (2). Tinidazol e secnidazol não foram estabelecidos como seguros durante a gestação e não são recomendados.
Parceiros sexuais dos últimos 60 dias e/ou o parceiro sexual mais recente devem ser avaliados e tratados para tricomoníase com os mesmos esquemas terapêuticos adequados ao sexo e também investigados quanto a outras infecções sexualmente transmissíveis. Se houver probabilidade de baixa adesão ao acompanhamento por parceiros sexuais e se permitido por lei estadual e local, o tratamento pode ser iniciado em parceiros sexuais de pacientes com tricomoníase documentada sem confirmar o diagnóstico no parceiro (terapia de parceiro acelerada ou EPT) (1). A EPT pode aumentar a adesão dos parceiros e reduzir a falha terapêutica por reinfecção. Assim como no diagnóstico do paciente primário, deve-se considerar cultura com teste de resistência antimicrobiana em casos de suspeita de resistência medicamentosa.
Referências sobre tratamento
1. Muzny CA, Schwebke JR, Nyirjesy P, et al. Efficacy and Safety of Single Oral Dosing of Secnidazole for Trichomoniasis in Women: Results of a Phase 3, Randomized, Double-Blind, Placebo-Controlled, Delayed-Treatment Study. Clin Infect Dis. 2021;73(6):e1282-e1289. doi:10.1093/cid/ciab242
2. Workowski KA, Bachmann LH, Chan PA, et al. Sexually Transmitted Infections Treatment Guidelines, 2021. MMWR Recomm Rep. 2021;70(4):1-187. Publicado em 2021 Jul 23. doi:10.15585/mmwr.rr7004a1. Erratum: Vol. 70, No. RR-4. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2023;72(4):107-108. Publicado em 2023 Jan 27. doi:10.15585/mmwr.mm7204a5
Pontos-chave
A tricomoníase pode ser assintomática, particularmente nos homens, ou causar vaginite ou, às vezes, uretrite.
Nas mulheres, diagnosticar com testes de amplificação de ácido nucleico (NAATs), exame microscópico das secreções vaginais, testes com tira reagente ou cultura.
Em homens sintomáticos, o diagnóstico deve ser feito com NAATs.
Tratar pacientes e seus parceiros sexuais com metronidazol, tinidazol ou secnidazol oral.
