Perda auditiva

PorLawrence R. Lustig, MD, Columbia University Medical Center and New York Presbyterian Hospital
Revisado/Corrigido: jul 2022
Visão Educação para o paciente

Em todo o mundo, cerca de meio bilhão de pessoas (quase 8% da população mundial) tem perda auditiva (1). Mais de 10% das pessoas nos Estados Unidos têm algum grau de perda auditiva que compromete sua comunicação diária, tornando-a o distúrbio sensorial mais comum. Cerca de 1/800 a 1/1.000 recém-nascidos nascem com perda auditiva grave a profunda. Duas a 3 vezes mais, nascem com perda de audição mais leve. Durante a infância, mais 2 a 3/1.000 crianças adquirem a perda auditiva moderada a grave. Os adolescentes estão em risco de exposição excessiva ao ruído, traumatismo craniano, ou ambos. Idosos normalmente apresentam diminuição progressiva da audição (presbiacusia), o que provavelmente está diretamente relacionado com envelhecimento, exposição a ruídos e fatores genéticos. Estima-se que cerca de 30 milhões de pessoas nos Estados Unidos estão expostas a níveis prejudiciais de ruído diariamente.

Deficit auditivo na infância pode resultar em prejuízos ao longo da vida, principalmente nas habilidades de linguagem receptiva e expressiva. Determina-se a gravidade da deficiência por

  • Idade em que ocorreu a perda auditiva

  • Natureza da perda (sua duração, as frequências afetadas e o grau)

  • Suscetibilidades individuais da criança (p. ex., coexistência com deficiência visual, deficiência intelectual, deficits primários de linguagem, ambiente linguístico inadequado)

As crianças que têm outras deficiências sensoriais, linguísticas ou cognitivas são afetadas mais gravemente.

(Ver também Perda auditiva súbita.)

Referência geral

  1. 1. Wilson BS, Tucci DL, Merson MH, et al: Global hearing health care: new findings and perspectives. Lancet 390(10111):2503-15, 2017. doi: 10.1016/S0140-6736(17)31073-5

Fisiopatologia da perda auditiva

A perda auditiva pode ser classificada como condutiva, neurossensorial, ou mista.

A perda auditiva condutiva ocorre secundária às lesões no meato auditivo externo, membrana timpânica ou da orelha média. Essas lesões impedem que o som seja eficazmente conduzido para a orelha interna.

A perda auditiva neurossensorial é causada por lesões na orelha interna (sensorial) ou no (8º par craniano) nervo auditivo (neural). Essa distinção é importante, porque a perda auditiva sensorial é, por vezes, reversível e raramente é ameaça à vida. A perda auditiva neural raramente é recuperável e pode ser decorrente de tumor encefálico, quase sempre localizado no ângulo pontocerebelar. Denomina-se um tipo adicional da perda neurossensorial de transtorno do espectro da neuropatia auditiva quando o som pode ser detectado, mas o sinal não é enviado corretamente ao cérebro, e acredita-se que ocorra por causa de uma anormalidade das células ciliadas internas ou neurônios que as inervam dentro da cóclea (1).

Perda mista pode ser ocasionada por traumatismo craniano, com ou sem fratura do osso temporal, por infecção crônica, ou por uma de muitas doenças genéticas. Também pode ocorrer quando perda de audição condutiva transitória, geralmente consequente à otite média, é sobreposta por perda auditiva neurossensorial.

Tabela

Referência sobre fisiopatologia

  1. 1. Pham NS: The management of pediatric hearing loss caused by auditory neuropathy spectrum disorder. Curr Opin Otolaryngol Head Neck Surg 25(5):396-399, 2017. doi: 10.1097/MOO.0000000000000390

Etiologia da perda auditiva

Perda auditiva pode ser

Tabela

As causas mais comuns, geralmente, são:

  • Acúmulo de cerume

  • Ruído

  • Envelhecimento

  • Infecções (particularmente em crianças e adultos jovens)

Tabela

Acúmulo de cerume (cera) é a causa mais comum da perda auditiva condutiva tratável, em especial nos idosos. Os corpos estranhos obstruindo o canal auditivo, às vezes, são problemas em crianças, tanto em razão de sua presença, quanto por qualquer dano provocado inadvertidamente, durante sua remoção.

O ruído pode acarretar perda auditiva neurossensorial súbita ou gradual. No traumatismo acústico, a perda auditiva se dá após exposição a ruído único e extremo (p. ex., um tiro nas proximidades ou explosão); alguns pacientes também desenvolvem zumbido. A perda é geralmente temporária (a menos que haja também danos decorrentes da explosão, que podem destruir a membrana timpânica e/ou os ossículos). Na perda auditiva induzida por ruído, a perda ocorre ao longo do tempo por causa da exposição constante a ruídos > 85 decibéis (dB — ver Níveis sonoros). Mesmo antes que a perda auditiva possa ser identificada, a exposição aos ruídos pode lesar os neurônios auditivos e suas sinapses nas células ciliadas; esse comprometimento é denominado "perda auditiva oculta" ou "sinaptopatia", e os pacientes podem ter dificuldades auditivas em ambientes ruidosos e perda auditiva acelerada relacionada com a idade (1). Embora a suscetibilidade ao ruído varie individualmente, quase todo mundo perde parte de audição, caso seja exposto a ruído suficientemente intenso, por período prolongado. A exposição repetida ao barulho resulta na perda de células ciliadas no órgão de Corti. A perda auditiva costuma acontecer primeiro na frequência de 4 kHz e, gradualmente, se espalha para frequências mais baixas e mais altas conforme a exposição continua. Em contraste com a maioria das outras causas de perda auditiva neurossensorial, a perda auditiva induzida por ruído pode ser menos grave aos 8 kHz do que a 4 kHz.

Envelhecimento, juntamente com a exposição a ruídos e fatores genéticos, é um fator de risco comum para diminuição progressiva da audição. Denomina-se a perda auditiva relacionada à idade presbiacusia. Presbiacusia ocorre por causa de uma combinação de perda de células sensoriais (células ciliadas) e perda neuronal. Pesquisas também sugerem fortemente que exposição precoce a ruídos acelera a perda auditiva relacionada à idade. Frequências mais altas são mais afetadas do que frequências mais baixas na perda auditiva relacionada à idade.

Com mais pessoas utilizando máscaras durante a pandemia de covid-19, muitos pacientes experimentaram uma exacerbação da dificuldade auditiva percebida. Isso é o resultado da capacidade reduzida de ler sinais faciais e labiais em pessoas com máscara, além do abafamento dos sons da fala nestas pessoas.

Otite média aguda é uma causa comum de perda de audição transitória, leve a moderada (principalmente em crianças). No entanto, sem tratamento, sequelas de otite média aguda e otite média crônica (e a rara labirintite purulenta) podem ocasionar perda permanente, sobretudo se há formação de colesteatoma.

Otite média secretora (OMS) ocorre de várias maneiras. Quase todos os episódios de otite média aguda são seguidos por período de 2 a 4 semanas de OMS. A OMS também pode ser provocada pela disfunção da tuba auditiva (p. ex., resultante de fenda palatina, tumores benignos ou malignos da nasofaringe, ou rápidas mudanças na pressão do ar externo, como acontece durante a descida de altitudes elevadas ou rápida ascensão, durante mergulho).

Doenças autoimunes podem causar perda auditiva neurossensorial em todas as idades e podem ocasionar também outros sinais e sintomas.

Fármacos ototóxicos podem causar perda auditiva neurossensorial, e muitos também têm toxicidade vestibular.

Referência sobre etiologia

  1. 1. Liberman MC, Kujawa SG: Cochlear synaptopathy in acquired sensorineural hearing loss: manifestations and mechanisms. Hear Res 349:138-147, 2017. doi: 10.1016/j.heares.2017.01.003

Avaliação da perda auditiva

Consiste em detectar e quantificar a perda auditiva e determinar sua etiologia (particularmente causas reversíveis).

Rastreamento

A maioria das crianças maiores e adultos consegue notar perda súbita de audição, e cuidadores podem suspeitar que um recém-nascido tenha perda auditiva grave nas primeiras semanas de vida, quando ele não responde às vozes ou outros sons. Entretanto, perdas progressivas e quase todas as perdas em lactentes e crianças jovens devem ser detectadas por meio de triagem. Triagem em crianças deve começar ao nascimento, para que a percepção da linguagem permita o desenvolvimento ideal da linguagem. Se não rastreadas, as perdas bilaterais graves podem passar despercebidas até os 2 anos de idade, e as perdas unilaterais leves a moderadas ou graves muitas vezes só serão diagnosticadas quando a criança chegar à idade escolar.

Deve-se considerar a triagem em idosos porque os pacientes podem não ter percebido um declínio gradual da audição ou podem pensar que isso é uma consequência normal do envelhecimento.

A suspeita de perda auditiva deve, a qualquer momento, exigir encaminhamento para o especialista.

História

História da doença atual deve observar há quanto tempo a perda auditiva foi percebida, como tudo começou (p. ex., gradual, aguda), se é uni ou bilateral, e se o som está distorcido (p. ex., música desligada — som surdo ou sem vida) ou se há dificuldade com a discriminação da fala. O paciente deve ser perguntado se a perda foi após qualquer evento agudo (p. ex., traumatismo craniano, exposição a ruído, barotrauma [particularmente lesão em mergulho] ou uso de fármacos). Sintomas otológicos associados podem estar presentes (p. ex., otalgia, zumbido, otorreia), sintomas vestibulares (p. ex., desorientação no escuro, vertigem) e outros sintomas neurológicos (p. ex., cefaleia, fraqueza ou assimetria da mímica facial, disgeusia, plenitude aural). Em crianças, importantes sintomas associados incluem atrasos de linguagem ou fala, alterações visuais ou desenvolvimento motor prejudicado.

A revisão dos sistemas deve procurar determinar o impacto da dificuldade auditiva na vida do paciente.

A história clínica deve notar distúrbios anteriores possivelmente relacionados à causa, incluindo infecções do sistema nervoso central, otites recorrentes, exposição crônica ao ruído intenso, traumatismo craniano, doenças reumáticas (p. ex., artite reumatoide, lúpus) e história familiar de perda auditiva. A história medicamentosa deve buscar, especificamente, o uso atual ou prévio de fármacos ototóxicos. Para crianças pequenas, deve-se procurar a história de nascimento para determinar se houve infecções intrauterinas ou complicações no parto.

Exame físico

O foco é o exame da orelha e da audição e o exame neurológico. A orelha externa é inspecionada para verificar obstrução, infecção, malformações congênitas e outras lesões. Examina-se a membrana timpânica para determinar perfuração, secreção, otite média (pus ou líquido visto na orelha média através da MT) e colesteatoma. Durante o exame neurológico, atenção especial deve ser dada para o II ao VII pares cranianos, bem como às funções vestibular e cerebelar, pois anormalidades nessas áreas ocorrem frequentemente em casos de tumores do tronco cerebral e do ângulo pontocerebelar. Os testes de Weber e Rinne requerem um diapasão para diferenciar perda auditiva condutiva de neurossensorial.

No teste de Weber, a haste de um diapasão de 512 ou 1.024 Hz, vibrando, é colocada na linha média da cabeça, e o paciente indica em qual ouvido o tom é mais alto. Na perda auditiva condutiva unilateral, o tom é mais alto na orelha com perda auditiva. Na perda auditiva neurossensorial unilateral, o tom é mais alto na orelha normal, porque o diapasão estimula ambas as orelhas internas igualmente e o paciente percebe o estímulo com a orelha sadia.

No teste de Rinne, compara-se a audição por condução óssea com a audição por condução de ar. Condução óssea ultrapassa a orelha externa e média e testa a integridade da orelha interna, 8º par craniano e vias auditivas centrais. A haste de um diapasão é mantida contra a mastoide (por condução óssea); logo que o som não é mais percebido, a haste é removida da mastoide e o diapasão, ainda vibrando, é mantido perto do pavilhão auricular (por condução aérea). Normalmente, o som do diapasão ainda pode ser ouvido, indicando que a via respiratória é melhor do que a condução óssea. Com a perda auditiva condutiva acima de 25 dB, a relação é invertida; condução óssea é mais alta do que por via respiratória. Com a perda auditiva neurossensorial, ambos os tempos são reduzidos, mas a audição por via respiratória permanece melhor.

Sinais de alerta

Achados de particular interesse são

  • Perda auditiva neurossensorial unilateral

  • Anormalidades de pares cranianos (exceto perda auditiva)

  • Perda de audição rápida ou súbita

Interpretação dos achados

Muitas causas de perda auditiva (como cerume, lesão, exposição significativa ao ruído, sequelas infecciosas e farmacológica) são facilmente aparentes pela anamnese e ao exame físico (ver tabela Algumas causas de perda auditiva adquirida).

Achados associados são úteis no diagnóstico do pequeno número de pacientes nos quais nenhuma causa evidente pode ser encontrada. Pacientes que apresentam alterações neurológicas focais são particularmente preocupantes. O V ou VII par craniano, ou ambos, é quase sempre afetado por tumores que acometem o VIII nervo, assim a perda da sensibilidade facial, da força na mastigação (V) e paresia facial e disgeusia (VII) apontam para lesão nessa área. Sinais de doenças autoimunes (p. ex., edema ou dor articulares, inflamação nos olhos) ou disfunção renal podem sugerir essas doenças como a causa. Malformações maxilofaciais podem sugerir uma anormalidade genética ou desenvolvimental.

Toda criança com atraso na fala ou na linguagem ou com dificuldades na escola deve ser avaliada quanto à perda auditiva. Deficiência mental, afasia e autismo também devem ser considerados. Atraso no desenvolvimento motor pode ser sinal de deficit vestibular, que é frequentemente associado à perda auditiva neurossensorial.

Exames

Os exames incluem

  • Exames audiológicos

  • Às vezes, RM ou TC

Exames audiométricos são necessários para todas as pessoas que têm perda auditiva, pois esses testes normalmente incluem

  • Medição de limiares tonais nas vias aérea e óssea

  • Limiar de recepção da fala

  • Discriminação da fala

  • Timpanometria

  • Teste do reflexo acústico

As informações obtidas a partir desses testes ajudam a determinar a necessidade de maior diferenciação entre perda auditiva neural e sensorial.

A audiometria tonal quantifica a perda auditiva. Um audiômetro proporciona sons de frequências específicas (tons puros) em intensidades diferentes, para determinar o limiar de audição do paciente (o quão alto deve ser o som, para ser percebido) para cada frequência. A audição em cada orelha é testada a partir de 125 ou 250 até 8000 Hz por via respiratória (utilizando fones de ouvido) e até 4 kHz por via óssea (utilizando um oscilador em contato com o processo mastoide ou na testa). Os resultados dos testes são colocados em gráficos chamados audiogramas (ver figura Audiometria), que mostram a diferença entre o limiar auditivo do paciente e a audição normal em cada frequência. A diferença é medida em dB. O limite normal é considerado 0 dB nível de audição (NA); perda auditiva é considerada presente se o limiar do paciente é > 25 dB NA. Quando a perda auditiva é grave ao ponto de exigir tons fortes, sons intensos apresentados a uma orelha podem ser ouvidos na outra orelha. Em tais casos, um som de mascaramento, geralmente ruído de banda estreita, é apresentado para a orelha não testada, a fim de isolá-lo.

Audiograma da orelha direita em paciente com audição normal

Audiograma normal da orelha direita. As linhas verticais representam as frequências que são testadas de 125 a 8.000 Hz. As linhas horizontais marcam os limiares nos quais o paciente ouve o som.

Limiares normais são 0 dB +/ 10 dB. Os pacientes com limiar auditivo abaixo de 20 dB são considerados tendo audição média ou melhor do que a média. Quanto maior o dB, mais alto é o som e pior é a audição.

"O" é o símbolo padrão para a condução do ar da orelha direita; "X" é o símbolo padrão para a condução do ar para a orelha esquerda. O "<" é o símbolo padrão para a condução óssea desmascarada para a orelha direita; “>" é o símbolo padrão para a condução óssea desmascarada da orelha esquerda.

A razão pela qual tanto as medidas mascaradas como não mascaradas são necessárias é para assegurar que uma das orelhas não está ouvindo o som apresentado para a outra orelha (uma orelha é 'mascarada' de modo que não ouça o som apresentado para a outra orelha, dando um valor falso).

A logoaudiometria avalia o limiar de recepção de fala (SRT) e o índice de reconhecimento de palavras faladas. O SRT é a medida da intensidade na qual a fala é reconhecida. Para determinar o SRT, o examinador apresenta ao paciente uma lista de palavras em intensidades sonoras específicas. Essas palavras costumam ter 2 sílabas igualmente acentuadas. O examinador registra a intensidade com que o paciente repete 50% das palavras corretamente. O SRT estima, em média, o nível de audição nas frequências da fala (p. ex., 500, 1000, 2000 Hz).

O índice percentual de reconhecimento de fala (IPRF) testa a capacidade de discriminar os vários sons da fala ou fonemas. Ela é determinada pela apresentação de 50 palavras monossilábicas, foneticamente equilibradas, à intensidade de 35 a 40 dB acima do SRT do paciente. A lista de palavras contém fonemas na mesma frequência. A classificação é a porcentagem de palavras corretamente repetidas pelo paciente e reflete a capacidade de entender a fala em condições ideais de escuta. Classificação normal varia de 90 a 100%. O IPRF é normal com perda auditiva condutiva, embora em nível maior de intensidade, mas pode ser reduzido em todos os níveis em casos de perda auditiva neurossensorial. A discriminação é ainda pior na perda auditiva neural do que na sensorial. Teste de palavras entendidas dentro de frases completas é outro tipo de teste de reconhecimento que é muitas vezes utilizado para avaliar candidatos a dispositivos implantáveis (quando o benefício do aparelho auditivo é insuficiente).

A timpanometria mede a impedância da orelha média quanto à energia acústica e não requer a participação do paciente. É comumente utilizada para triagem de crianças com efusões em orelha média. Uma sonda contendo uma fonte de som, microfone e um regulador de pressão de ar é colocada firmemente com um selo hermético dentro do meato acústico. O microfone-sonda registra o som refletido a partir da membrana timpânica enquanto a pressão no canal é variada. Em geral, a complacência máxima da MT ocorre quando a pressão no meato acústico é igual à pressão atmosférica. Padrões de conformidade anormais sugerem perturbações anatômicas específicas. Em obstrução tubária e derrame da orelha média, máximo de complacência ocorre com pressão negativa no canal da orelha. Quando a cadeia ossicular é interrompida, como em necrose ou deslocamento do processo longo da bigorna, a orelha média é excessivamente complacente. Quando a cadeia ossicular é fixa, como na ancilose do estribo na otosclerose, a complacência pode ser normal ou reduzida.

O reflexo acústico é a contração do músculo estapédio em resposta aos sons intensos, o que altera a conformidade da membrana timpânica, protegendo a orelha média de trauma acústico. O reflexo é testado por meio da apresentação de um tom e medindo qual intensidade provoca alteração na impedância da orelha média, notado pelo movimento da membrana timpânica. Um reflexo ausente pode indicar doença da orelha média ou um tumor do nervo auditivo. Qualquer perda auditiva condutiva abole o reflexo acústico. Além disso, a paralisia facial abole o reflexo porque o nervo facial inerva o músculo estapédio.

Exames mais avançados, algumas vezes são necessários. RM com gadolínio do encéfalo, para detectar lesões do ângulo pontocerebelar, pode ser necessária em pacientes com exame neurológico anormal ou aqueles cujo teste audiológico mostra reconhecimento pobre de palavras, perda auditiva neurossensorial assimétrica ou uma combinação quando a etiologia não é clara.

A TC é feita se tumores ou erosão óssea são suspeitados. Realiza-se angiografia e venografia por ressonância magnética em caso de suspeita de anormalidades vasculares, como tumores glômicos.

O potencial evocado auditivo do tronco cerebral utiliza eletrodos de superfície, para monitorar a resposta de ondas cerebrais à estimulação acústica, em pessoas que não possam, de outro modo, responder.

A eletrococleografia mede a atividade da cóclea e do nervo auditivo, por meio de um eletrodo posicionado no tímpano. Ele pode ser utilizado para avaliar e monitorar pacientes com tonturas; pode ser utilizado em pacientes que estão acordados; e é útil no monitoramento intraoperatório.

As emissões otoacústicas são sons produzidos pelas células ciliadas externas da cóclea, em resposta ao estímulo sonoro, geralmente colocado no meato acústico. Essas emissões são essencialmente ecos de baixa intensidade que ocorrem com a ativação das células ciliadas externas cocleares. As emissões são utilizadas para triagem de perda auditiva em recém-nascidos e lactentes e para monitorar a audição de pacientes que estão utilizando fármacos ototóxicos (p. ex., gentamicina, cisplatina).

A avaliação auditiva central mede a discriminação de uma fala distorcida, a discriminação na presença de um estímulo competitivo na orelha oposta, a capacidade de completar frases parciais em uma mensagem significativa e a capacidade de localizar sons no espaço, na presença de outros estímulos acústicos simultâneos em ambas as orelhas. Deve-se realizar esse teste em alguns pacientes, como crianças com problemas de leitura ou aprendizado e idosos que parecem ouvir, mas não compreender.

Em crianças com perda auditiva, testes adicionais devem incluir exame oftalmológico, porque muitas das causas genéticas da surdez também causam anormalidades oculares. Crianças com perda auditiva inexplicável também devem ser submetidas a um ECG para procurar síndrome do QT longo e possivelmente também exames genéticos.

Tratamento da perda auditiva

As causas da perda de audição devem ser determinadas e tratadas. Fármacos ototóxicos devem ser interrompidos ou a sua dose deve ser reduzida, a menos que a gravidade da doença a ser tratada (quase sempre câncer ou infecção grave) justifique o risco de perda de audição adicional. Atenção aos níveis de pico e vale do fármaco é obrigatório para ajudar a minimizar o risco; estes níveis devem ser determinados em todos os pacientes. Em pacientes com disfunção renal, são necessários ajustes nas dosagens dos fármacos com muita atenção aos níveis máximos e mínimos para minimizar o risco de ototoxicidade (p. ex., ver Considerações posológicas dos antibióticos aminoglicosídeos). Há algumas anormalidades genéticas envolvendo as mitocôndrias que aumentam a sensibilidade a antibióticos aminoglicosídeos, e estas podem ser identificadas com triagem genética.

Secreção da orelha média pode ser drenada por miringotomia e seu reacúmulo evitado com a inserção de um tubo de timpanostomia. Tumores benignos (p. ex., hipertrofia de adenoides, pólipos nasais) e tumores malignos, (p. ex., cânceres de nasofaringe, tumores de seios paranasais), que bloqueiam a tuba auditiva ou o meato acústico, podem ser removidos. A perda auditiva causada por doenças autoimunes pode responder ao uso de corticoides.

Danos à membrana timpânica, aos ossículos ou otosclerose podem exigir tratamento cirúrgico (p. ex., timpanoplastia com reconstrução da cadeia ossicular; ossiculoplastia). Os tumores cerebrais que provocam perda de audição podem, em alguns casos, ser removidos ou irradiados com a preservação da audição.

Muitas causas da perda auditiva não têm cura, e o tratamento envolve compensar a perda auditiva com aparelhos auditivos e, nas perdas graves a profundas, um implante coclear. Além disso, vários mecanismos de alerta podem ajudar.

Aparelhos auditivos

Amplificação de som por meio de aparelho auditivo ajuda muitos pacientes. Apesar de não restaurarem a audição normal, eles podem melhorar significativamente a comunicação. Avanços nos circuitos de amplificação fornecem uma qualidade tonal mais natural para o som amplificado e oferecem recursos da amplificação responsiva "inteligente" que leva em conta o ambiente de audição (p. ex., em ambientes muito barulhentos e em ambientes com múltiplas pessoas falando). Os médicos devem incentivar o uso do aparelho auditivo e ajudar os pacientes a superar o estigma social que continua a dificultar a utilização desses dispositivos, talvez fazendo a analogia de que um aparelho auditivo está para a audição assim como os óculos estão para a visão. Outros fatores que limitam o uso mais generalizado de aparelho auditivo incluem questões de custo e conforto.

Todos os aparelhos auditivos possuem um microfone, amplificador, alto-falante, fone de ouvido e controle de volume, embora difiram na localização desses componentes. Um audiologista deve ser envolvido na seleção e na adaptação de um aparelho auditivo.

Os melhores modelos são ajustados individualmente à pessoa com perda auditiva. Por exemplo, pessoas, sobretudo com perda auditiva de alta frequência, podem não se beneficiar da amplificação simples, que apenas faz com que ouçam os sons em um volume mais alto; elas quase sempre precisam de um aparelho auditivo que, seletivamente, amplifica as altas frequências. Alguns aparelhos auditivos contêm aberturas no molde da orelha, o que facilita a passagem das ondas sonoras de alta frequência. Alguns utilizam processamento de som digital com múltiplos canais de frequência, para que a amplificação seja mais precisa, correspondendo à perda auditiva medida na audiometria.

O uso do telefone pode ser difícil para pessoas com aparelhos auditivos. Aparelhos auditivos típicos causam ruído, quando a orelha é colocada junto ao telefone. Alguns aparelhos auditivos têm uma bobina de telefone com um interruptor, que desliga o microfone e liga a bobina eletromagneticamente ao alto-falante do telefone.

Para a perda de audição moderada a grave, é adequado um dispositivo pós-auricular, que se encaixa por trás do pavilhão auricular e é acoplado ao molde da orelha, com a tubagem flexível. Um dispositivo intra-auricular, menos visível, que fica junto à concha e ao meato acústico, é apropriado para a perda auditiva leve a moderada. Algumas pessoas com perda auditiva leve, limitada às altas frequências, são mais confortavelmente equipadas com dispositivos pós-auricular e com meato acústico aberto. Dispositivos canaliculares estão contidos inteiramente dentro do meato acústico e são cosmeticamente aceitáveis para muitas pessoas do que as outras formas, mas eles são de difícil manipulação para algumas pessoas (especialmente os idosos).

Um dispositivo chamado CROS (contralateral routing of signals) é, ocasionalmente, utilizado para perda auditiva grave unilateral; um microfone é colocado na orelha que não funciona e o som é encaminhado para a orelha funcional, através de um fio ou transmissor de rádio. Esse dispositivo permite ao usuário ouvir os sons do lado que não funciona, permitindo alguma capacidade para localizar o som. Se a melhor orelha também tem alguma perda auditiva, o som de ambos os lados pode ser amplificado com o dispositivo CROS binaural (BiCROS).

A prótese de corpo é apropriada para perda auditiva profunda. É utilizada em um bolso de camisa ou colete e conectada por meio de um fio ao fone de ouvido (receptor), que está ligado ao meato auditivo externo por uma entrada plástica (molde).

Um dispositivo de condução óssea pode ser utilizado quando um molde auricular ou tubo não pode ser utilizado, como na atresia do meato acústico ou na otorreia persistente. Um oscilador é mantido contra a cabeça, geralmente sobre a mastoide, com um arco vibratório, e o som é conduzido através do crânio para a cóclea. Dispositivos auditivos de condução óssea exigem mais energia, causam mais distorções e são menos confortáveis de utilizar do que aparelhos auditivos de condução aéreos. Alguns dispositivos de condução óssea (aparelhos auditivos ancorados ao osso BAHA, bone-anchored hearing aids]) são implantados cirurgicamente no processo mastoide, evitando desconforto e destaque do arco vibratório.

Implantes cocleares

Pacientes com níveis avançados de perda auditiva, incluindo aqueles com alguma audição residual (natural), mas que mesmo com um aparelho auditivo não conseguem compreender mais da metade das palavras contidas em uma frase, podem se beneficiar de um implante coclear. A cirurgia pode resultar em perda de parte da audição residual. Entretanto, mesmo que a audição residual seja perdida, os implantes cocleares podem melhorar significativamente a audição, mesmo em pessoas com surdez profunda.

Esse dispositivo fornece sinais elétricos diretamente no nervo auditivo via múltiplos eletrodos implantados na cóclea. Um microfone externo e um processador convertem as ondas sonoras em impulsos elétricos, os quais são transmitidos através da pele eletromagneticamente de uma bobina de indução externa a um bobina interna implantada no crânio acima e atrás da orelha. A bobina interna se conecta aos eletrodos inseridos na escala timpânica.

Os implantes cocleares ajudam na melhora do reconhecimento de fala, fornecendo informações sobre a entonação das palavras e do ritmo do discurso. Muitos se não a maioria dos adultos usuários de implante coclear pode discriminar palavras, sem pistas visuais, permitindo-lhes falar ao telefone. Os implantes cocleares permitem às pessoas surdas, ouvir e distinguir sons do ambiente e de alerta. Eles também ajudam as pessoas surdas a modular sua voz e tornar a sua fala mais inteligível.

Resultados com implantes cocleares variam, dependendo de vários fatores, como

  • Período de tempo entre o início da perda auditiva e a colocação do implante (menor duração leva a melhores resultados)

  • Causa da perda auditiva de base

  • Posição do implante dentro da cóclea

Implantes de tronco cerebral

Embora os implantes cocleares não sejam uma opção para pacientes que tiveram ambos os nervos acústicos destruídos (p. ex., por fraturas ósseas temporais bilaterais ou neurofibromatose) ou que nasceram sem os nervos cocleares, esses pacientes podem ter parte da audição restaurada por meio de implantes no tronco encefálico que têm eletrodos conectados a dispositivos de detecção e processamento de som semelhantes àqueles utilizados para implantes cocleares, embora geralmente não sejam tão bons. Em geral, em crianças nascidas sem nervos cocleares que recebem implante de tronco encefálico, a tendência é que mais audição seja restaurada do que em pacientes que o recebem após ressecção de neuroma vestibular. Os resultados do implante de tronco encefálico variam de assistência com habilidades de leitura labial à capacidade de entender a linguagem sem a leitura labial (denominada compreensão da fala aberta).

Estratégias e tecnologias assistivas

Sistemas de alerta que utilizam a luz, para que as pessoas saibam quando a campainha está tocando, quando um detector de fumaça é acionado ou quando um lactente está chorando. Sistemas de som especiais, que transmitem sinais de rádio FM ou infravermelhos, ajudam as pessoas a ouvir em teatros, igrejas ou outros locais onde existe ruído competitivo. Muitos programas de televisão carregam legendas (closed caption). Dispositivos telefônicos de comunicação também estão disponíveis.

A leitura labial ou da fala é particularmente importante para as pessoas que podem ouvir, mas têm problemas de discriminação do som. A maioria das pessoas pode obter informações úteis por meio de leitura labial, mesmo sem treinamento formal. Até as pessoas com audição normal podem compreender melhor a fala, em um lugar barulhento, se puderem ver a pessoa que fala. Para utilizar essa informação, o ouvinte deve ser capaz de ver a boca do falante. Os profissionais de saúde devem ser sensíveis a essa questão e sempre se posicionarem de forma adequada, quando se fala para deficientes auditivos. Observar a posição dos lábios de um falante permite o reconhecimento da consoante que está sendo falado, melhorando, assim, a compreensão da fala em pacientes com perda auditiva de alta frequência. A leitura labial pode ser aprendida em sessões de reabilitação aural, em que um grupo de colaboradoresda mesma idade se reúne regularmente, para instrução e prática supervisionada na otimização da comunicação.

As pessoas podem melhorar o controle sobre seu ambiente de audição, modificando ou evitando situações difíceis. Por exemplo, as pessoas podem visitar um restaurante fora do horário de pico, quando ele é mais silencioso. Eles podem pedir uma cabine, que bloqueia alguns sons externos. Em conversas diretas, as pessoas podem pedir ao orador para encará-los. No início de uma conversação telefônica, podem identificar-se como deficientes auditivos. Em uma conferência, o orador pode ser solicitado a utilizar um sistema de escuta de apoio, que faz utilização de tecnologia, infravermelha ou ondas FM, que envia o som através do microfone diretamente para o aparelho auditivo do paciente.

Pessoas com perda auditiva profunda, muitas vezes, se comunicam utilizando a linguagem de sinais. Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é a versão mais comum no Brasil. Outras formas da comunicação linguística que utilizam dados visuais incluem Signed English, Signing Exact English e Cued Speech. Em todo o mundo, estima-se que existam mais de 300 linguagens de sinais únicas, com diferentes países, culturas e aldeias tendo sua própria forma única de linguagem de sinais.

Surdez unilateral

Pacientes com surdez unilateral (SUL) representam um desafio especial. Em situações de um para um, a compreensão auditiva e da fala permanece relativamente não afetada. Mas em ambientes barulhentos ou ambientes acústicos complexos (p. ex., salas de aula, festas, reuniões), pacientes com SUL são incapazes de ouvir e se comunicar de forma eficaz. Além disso, os pacientes que ouvem apenas com um ouvido não são capazes de localizar a origem dos sons. O efeito "sombra da cabeça" é a habilidade do cérebro de impedir que o som proveniente do lado surdo alcance a orelha que ouve. Isso pode resultar em perda de energia sonora de até 30 dB na orelha funcional (como uma comparação, um plugue auditivo comprado em loja resulta em uma queda de 22 a 32 dB na audição, aproximadamente equivalente). Para muitos pacientes, SUL pode alterar a vida e levar a incapacidades significativas no trabalho e na vida social.

O tratamento de SUL é feito por roteamento contralateral do sinal (RCS) do aparelho auditivo ou pela fixação óssea de implantes auditivos que captam o som do lado da surdez e o transferem para a orelha que ouve sem perda da energia sonora. Embora essas tecnologias melhorem a audição em ambientes ruidosos, elas não permitem a localização do som. Implantes cocleares são cada vez mais utilizados com sucesso em pacientes com SUL, particularmente se a orelha surdo também apresentar zumbido grave; implantes também mostraram fornecer a localização do som.

Tratamento da perda auditiva em crianças

Além do tratamento, de qualquer que seja a causa e do uso de aparelhos auditivos, crianças com perda auditiva necessitam de apoio no desenvolvimento da linguagem com a terapia adequada. Como as crianças devem ouvir para aprender um idioma espontaneamente, a maioria das crianças surdas só desenvolve um idioma com treinamento especial, idealmente começando assim que a perda auditiva é identificada (uma exceção seria uma criança surda que vive com pais surdos que são usuários fluentes da lingua de sinais). Lactentes surdos devem ser estimulados com uma forma de linguagem de entrada. Por exemplo, uma língua de sinais predominantemente visual pode fornecer uma base para o desenvolvimento posterior de um idioma oral se um implante coclear não estiver disponível. Entretanto, para crianças, não há substitutos para o acesso aos sons da fala (fonemas) que lhes permitam integrar entradas acústicas e desenvolver uma compreensão refinada e diferenciada da fala e da língua.

Crianças muito pequenas, com 1 mês de idade, com profunda perda auditiva bilateral e que não podem se beneficiar de aparelhos auditivos, podem ser candidatas ao implante coclear. Embora os implantes cocleares permitam a comunicação auditiva em muitas crianças com surdez congênita ou adquirida, são geralmente mais eficazes em crianças que já tenham desenvolvido a linguagem. Crianças que tiveram surdez pós-meningite com o tempo desenvolvem ossificação da orelha interna que impede a colocação de um implante; elas devem receber implantes cocleares o mais rápido possível para permitir que o implante seja colocado de modo correto e maximizar a eficácia. As crianças, cujos nervos acústicos foram destruídos por tumores, podem obter benefício pelo implante de tronco cerebral, com estimulação auditiva por eletrodos. As crianças com implantes cocleares podem ter risco ligeiramente maior de meningite que as crianças sem implantes cocleares ou adultos com implantes cocleares.

Crianças com surdez unilateral devem ser autorizadas a utilizar um sistema especial na sala de aula, como um dispositivo auditivo por ondas FM. Com esse sistema, o professor fala em um microfone que envia sinais para um aparelho auditivo na orelha sadio da criança, melhorando a capacidade da criança em reconhecer a fala, mesmo em um ambiente ruidoso.

Prevenção da perda auditiva

A prevenção da perda auditiva consiste, principalmente, em limitar a duração e a intensidade da exposição ao ruído. Pessoas que necessitam se expor ao barulho devem utilizar protetores de ouvido (p. ex., tampões de plástico ou silicone nos canais auditivos). A legislação trabalhista e as comissões de medicina ocupacional estabelecem normas relativas ao período que uma pessoa pode ser exposta a um ruído (ver Padrões de exposição a ruído ocupacional da OSHA). Quanto mais alto o barulho, menor o tempo permitido de exposição.

Fundamentos de geriatria: perda auditiva

Os idosos normalmente apresentam diminuição progressiva da audição (presbiacusia). Nos Estados Unidos, 40% das pessoas com deficiência auditiva são idosas. A deficiência auditiva é prevalente em mais de um terço das pessoas com mais de 65 anos de idade e mais de metade das pessoas acima dos 75 anos, tornando-a o transtorno sensorial mais comum nessa população. No entanto, a perda de audição no idoso deve ser avaliada e não simplesmente atribuída ao envelhecimento; pacientes idosos podem ter um tumor, um distúrbio neurológico ou autoimune ou uma perda auditiva condutiva facilmente corrigível. Além disso, pesquisas recentes sugerem fortemente que a perda auditiva no idoso pode facilitar a demência (que pode ser evitada corrigindo adequadamente a perda auditiva).

Presbiacusia

A presbiacusia é a perda auditiva neurossensorial que resulta, provavelmente, de uma combinação de deterioração e morte celular relacionadas à idade, em vários componentes do sistema auditivo e dos efeitos da exposição crônica ao ruído.

A perda auditiva quase sempre afeta as frequências mais elevadas (18 a 20 kHz) logo no início e gradualmente as frequências mais baixas; em geral, se torna clinicamente significativa quando atinge o crítico intervalo entre 2 e 4 kHz, por volta dos 55 a 65 anos (às vezes mais cedo). A perda de audição nas altas frequências afeta significativamente a compreensão da fala. Embora a sonoridade do discurso pareça normal, sons consonantais específicos (p. ex., C, D, K, P, S, T) tornam-se mais difíceis de ouvir. Os sons consonantais são os mais importantes para o reconhecimento da voz. Por exemplo, quando "sapato", "azul", "verdade", "muito" ou "novo" é falado, muitas pessoas com presbiacusia pode ouvir o "oo som", mas a maioria tem dificuldade em reconhecer que a palavra foi falada, porque eles não conseguem distinguir as consoantes. A incapacidade de distinguir as consoantes faz as pessoas afetadas muitas vezes acharem que o orador está resmungando. Um orador tentando falar mais alto, geralmente acentua os sons das vogais (que são de baixa frequência), fazendo pouco para melhorar o reconhecimento da voz. A compreensão da fala é particularmente difícil quando há ruído ambiente.

Rastreamento

Uma ferramenta de triagem é frequentemente útil para pessoas idosas, pois muitos não se queixam de perda auditiva. Uma delas é o Inventário de Dificuldade Auditiva para o Idoso, que questiona

  • Algum problema de audição faz você se sentir envergonhado quando conhece pessoas?

  • Algum problema de audição faz você se sentir frustrado quando fala com um membro da família?

  • Você tem dificuldade em ouvir quando alguém sussurra?

  • Você se sente prejudicado por um problema de audição?

  • Algum problema de audição lhe causa dificuldades quando visita amigos, parentes ou vizinhos?

  • Algum problema de audição faz você frequentar cultos religiosos com menos frequência do que você gostaria?

  • Algum problema de audição leva você a ter discussões com membros da família?

  • Algum problema de audição lhe causa dificuldade ao ouvir a televisão ou o rádio?

  • Você sente que qualquer dificuldade com a sua audição dificulta sua vida pessoal ou social?

  • Algum problema de audição lhe causa dificuldades em um restaurante com parentes ou amigos?

A pontuação é “não” = 0 ponto, “às vezes” = 2 pontos, e “sim” = 4 pontos. Classificações > 10 sugerem deficiência auditiva significativa e necessitam de acompanhamento.

Pontos-chave

  • Cerume, doenças genéticas, infecções, envelhecimento e exposição ao ruído são as causas mais comuns da perda auditiva.

  • Todos os pacientes com perda auditiva devem realizar avaliação audiológica.

  • Deficits de pares cranianos e outros deficits neurológicos devem indicar a necessidade de realização de exames de imagem.

  • As modalidades de tratamento incluem correção de causas reversíveis, aparelhos auditivos, procedimentos cirúrgicos como reconstrução ossicular e implantes cocleares, e tecnologias assistivas diversas.

Informações adicionais

Os recursos em inglês a seguir podem ser úteis. Observe que este Manual não é responsável pelo conteúdo desses recursos.

  1. National Institute on Deafness and Other Communication Disorders: informações para pacientes e profissionais sobre a perda auditiva e outros distúrbios de comunicação, funções associadas à audição, equilíbrio, paladar, olfato, voz, fala e linguagem

  2. Center for Disease Control and Prevention—Hearing Loss in Children: Informações para os pais sobre programas e serviços para crianças com perda auditiva

  3. The National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH)—Noise and Hearing Loss Prevention: revisa as normas e os padrões ocupacionais, estratégias de controle de ruído e dispositivos de proteção auditiva, bem como programas de prevenção de perda auditiva, fatores de risco e informações para indústrias e ocupações específicas

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