Tosse em crianças

PorDeborah M. Consolini, MD, Thomas Jefferson University Hospital
Reviewed ByAlicia R. Pekarsky, MD, State University of New York Upstate Medical University, Upstate Golisano Children's Hospital
Revisado/Corrigido: mar. 2025 | modificado abr. 2025
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Visão Educação para o paciente

A tosse é um reflexo que ajuda na eliminação de secreções das vias respiratórias, protege-as da aspiração de corpos estranhos e pode ser a manifestação de um sintoma de doença. A tosse é uma das razões mais comuns pelas quais os pais levam seus filhos a um profissional de saúde.

Etiologia da tosse em crianças

As causas de tosse diferem dependendo de os sintomas serem agudos (< 4 semanas) ou crônicos (> 4 semanas). (Ver tabela Algumas causas de tosse em crianças.)

A causa mais comum da tosse aguda é

As causas mais comuns da tosse crônica são

Aspiração de corpos estranhos e doenças, como fibrose cística e discinesia ciliar primária, são menos comuns, mas possam provocar tosse persistente.

Tabela
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Avaliação da tosse em crianças

História

História da doença atual deve avaliar o tempo de duração e o tipo da tosse (áspera, repentina, paroxística) e o aparecimento (súbito ou demorado). O médico de perguntar sobre sintomas associados. Alguns desses sintomas são ubíquos (p. ex., coriza, dor de garganta, febre); outros podem sugerir uma causa específica: cefaleia, coceira nos olhos e dor de garganta (gotejamento pós-nasal); sibilos e tosse com esforço (asma); sudorese noturna (tuberculose); e regurgitação, irritabilidade ou arqueamento das costas após as mamadas em lactentes (refluxo gastroesofágico). Insuficiência de crescimento ou perda ponderal podem ocorrer com tuberculose ou fibrose cística. Os pais de crianças pequenas ou crianças com atraso cognitivo significativo devem ser questionados sobre a possibilidade de aspiração de corpo estranho, incluindo irmãos maiores ou visitantes com brinquedos pequenos, acesso a pequenos objetos e consumo de alimentos pequenos e lisos (p. ex., amendoim, uvas).

A revisão dos sistemas deve notar sintomas das causas possíveis, incluindo dor abdominal (algumas pneumonias bacterianas), perda ou ganho insuficiente de peso, fezes rançosas (fibrose cística) e dores musculares (possível associação com doença viral ou pneumonia atípica geralmente sem pneumonia bacteriana).

A história clínica deve cobrir infecções respiratórias recentes, pneumonias de repetição, história de alergias ou asma conhecidas, fatores de risco de tuberculose (p. ex., contato com uma pessoa portadora de tuberculose ou com suspeita da doença, exposição a prisões, infecção pelo HIV viagens para países com infecção endêmica ou imigração destes) e exposição aos irritantes respiratórios.

Exame físico

Observar sinais vitais, incluindo movimentos respiratórios, temperatura e saturação de oxgênio. Observar ainda sinais de desconforto respiratório (p. ex., nariz congestionado, retrações intercostais, cianose, gemidos, estridor, ansiedade acentuada).

No exame da cabeça e do pescoço, atenção para a presença e a quantidade de corrimento nasal, condições das conchas nasais (palidez, secreção ou inflamação). Na faringe, conferir a presença de gotejamento pós-nasal.

Deve-se inspecionar as áreas cervical e supraclavicular e palpá-las em busca de linfadenopatia.

No exame do pulmão, atenção para estridor, sibilos, estertores, roncos, diminuição dos sons respiratórios e sinais de consolidação (p. ex., egofonia, mudança de E para A, macicez à percussão), além da observação de retrações ou uso de músculos acessórios para respiração.

No exame abdominal, atenção para a dor abdominal, especialmente nos quadrantes superiores (possível pneumonia lobar inferior esquerda ou direita).

No exame das extremidades, observar dedos em clava ou cianose do leito ungueal (fibrose cística).

Sinais de alerta

Os achados a seguir são particularmente preocupantes:

  • Cianose ou hipóxia no oxímetro de pulso

  • Estridor

  • Desconforto respiratório

  • Aparência tóxica

  • Exame pulmonar alterado

Interpretação dos achados

Os achados clínicos com frequência indicam uma causa específica (ver tabela Algumas causas de tosse em crianças); a distinção entre as tosses aguda e crônica é particularmente útil, embora seja importante observar que muitas doenças que causam tosse crônica começam de maneira aguda e os pacientes podem já estar manifestando os sintomas há 4 semanas.

Outras características da tosse são úteis, mas menos específicas. Tosse ladrante sugere laringotraqueobronquite/laringotraqueíte (crupe) ou traqueíte; também pode ser característica da tosse psicogênica ou de tosse pós-infecção do trato respiratório. Tosse repentina é consistente com pneumonia atípica ou viral. Tosse paroxística é característica de pertussis ou certas pneumonias virais (adenovírus). Tosse noturna pode indicar asma ou gotejamento pós-nasal. Tosse no início do sono ou ao acordar pela manhã geralmente indica sinusite; tosse no meio da noite é mais consistente com asma. Em crianças pequenas com tosse súbita, sem febre ou sintomas de ITRS, a principal suspeita é a aspiração de corpo estranho.

Exames

Avaliar com oxímetro de pulso e radiografia de tórax aquelas crianças que tiverem sinais de alerta. Todas as crianças com tosse crônica devem fazer radiografias.

Crianças com estridor, sialorreia, febre e ansiedade acentuada devem ser avaliadas quanto à epiglotite, tipicamente em sala cirúrgica por um otorrinolaringologista preparado para colocar imediatamente um tubo endotraqueal ou de traqueostomia. Se há suspeita de aspiração de corpo estranho, deve-se fazer radiografia de tórax nas incidências inspiratória e expiratória (ou, em alguns centros, TC de tórax).

Crianças com fatores de risco de TB ou perda ponderal devem realizar radiografia de tórax e teste tuberculínico cutâneo utilizando derivado proteico purificado (PPD) ou ensaio de liberação de interferon-gama.

Crianças com episódios de pneumonia de repetição, deficit de crescimento e fezes rançosas devem ser submetidas a radiografia de tórax e teste do suor para fibrose cística.

Tosse aguda em crianças com sintomas de infecções do trato respiratório superior, sem nenhum sinal de alerta, geralmente é causada por infecção viral. Raramente são indicados exames, a menos que estes sejam necessários para o controle de uma infecção (p. ex., um surto de covid-19 em uma escola ou creche). Muitas outras crianças sem sinais de alerta apresentam diagnóstico presumível após a história e o exame físico. Nesses casos, muitas vezes são realizados tratamentos empíricos sem sucesso, o que pode sugerir, posteriormente, a necessidade de realização dos testes. Por exemplo, quando há suspeita de sinusite alérgica e o tratamento é realizado com anti-histamínicos sem alívio dos sintomas, deve-se proceder à TC da cabeça para reavaliação. Caso de suspeita de doença do refluxo gastroesofágico tratado sem sucesso com bloqueador de H2 e/ou bomba de inibidor de prótons exige avaliação com estudo de Ph, sonda de impedância ou endoscopia.

Tratamento da tosse em crianças

O tratamento da tosse depende da doença de base. Por exemplo, antibióticos para pneumonia bacteriana, broncodilatadores e anti-inflamatórios para asma. Crianças com infecções virais devem receber terapia de suporte, inclusive oxigênio suplementar e/ou broncodilatadores, se necessário.

São poucas as evidências que suportam a indicação dos supressores de tosse e agentes mucolíticos. A tosse é um mecanismo importante para eliminação de secreções das vias respiratórias e pode ajudar na recuperação das infecções respiratórias. O uso de medicamentos não específicos para supressão da tosse não é recomendado em crianças, e o uso de medicamentos de venda livre para tosse e resfriado não é recomendado em crianças < 4 anos de idade. A Academia Americana de Pediatria e a U.S. Food and Drug Administration (FDA) contraindicam expressamente o uso de medicamentos de venda livre para tosse e resfriado em crianças < 4 anos de idade.

Pontos-chave

  • O diagnóstico clínico é geralmente adequado.

  • É necessário alto grau de suspeição de aspiração de corpo estranho em crianças pequenas e crianças com deficiências cognitivas significativas.

  • Antitussígenos e expectorantes não têm eficácia comprovada na maioria dos casos e não são recomendados para crianças pequenas.

  • Considerar obter uma radiografia de tórax se os pacientes têm sinais de alerta ou tosse crônica.

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