Intoxicação por hidrocarbonetos

PorGerald F. O’Malley, DO, Grand Strand Regional Medical Center;
Rika O’Malley, MD, Grand Strand Medical Center
Reviewed ByDiane M. Birnbaumer, MD, David Geffen School of Medicine at UCLA
Revisado/Corrigido: modificado abr. 2025
v1119235_pt
Visão Educação para o paciente

A intoxicação por hidrocarbonetos (p. ex., gasolina, querosene, solventes) pode resultar da ingestão ou inalação. A ingestão, mais comum em crianças com < 5 anos, pode resultar em pneumonite aspirativa. A inalação, mais comum em adolescentes, pode resultar em fibrilação ventricular, geralmente sem sintomas de alerta. O diagnóstico de pneumonite é clínico, por radiografias e oximetria. O esvaziamento gástrico é contraindicado devido ao risco de aspiração. O tratamento é de suporte.

(Ver também Princípios gerais da intoxicação.)

A ingestão de hidrocarbonetos, como derivados de petróleo (p. ex., gasolina, querosene, óleo mineral, óleo de lamparina, tíner para pinturas), resulta em mínimos efeitos sistêmicos, mas a aspiração pode causar grave pneumonite aspirativa. O potencial tóxico depende principalmente da viscosidade medida em segundos Saybolt universal (SSU). Hidrocarbonetos líquidos com baixa viscosidade (SSU < 60), como gasolina e óleo mineral, podem se espalhar rapidamente sobre a superfície de grandes áreas e são mais propensos a causar pneumonite aspirativa que os hidrocarbonetos com SSU > 60, como o alcatrão.

Complicações sistêmicas podem ocorrer se hidrocarbonetos forem ingeridos em grandes quantidades. Se absorvidos sistemicamente, eles podem causar toxicidade no sistema nervoso central (SNC) ou no fígado, o que é mais provável com hidrocarbonetos halogenados (p. ex., tetracloreto de carbono, tricloroetileno).

A ingestão crônica de tolueno pode causar intoxicação do sistema nervoso central a longo prazo, caracterizada por destruição periventricular, occipital e talâmica.

É comum entre adolescentes a inalação recreacional de hidrocarbonetos halogenados (p. ex., colas, tintas, solventes, sprays de limpeza, gasolina, hidrocarbonetos e hidrofluorocarbonetos utilizados como refrigerantes e propelentes em aerossóis — ver Solventes voláteis), por meio de sopros em sacos ou aniagem. Pode causar euforia e alteração do estado mental, além de sensibilizar o coração às catecolaminas endógenas. Arritmias ventriculares fatais podem ocorrer; elas geralmente ocorrem sem palpitações premonitórias ou outro aviso, frequentemente quando os pacientes se assustam ou são perseguidos (''morte súbita por cheirar'') (1).

Referência

  1. 1. Jolliff HA, Fletcher E, Roberts KJ, et al. Pediatric hydrocarbon-related injuries in the United States: 2000-2009. Pediatrics. 2013;131(6):1139-1147. doi:10.1542/peds.2012-3913

Sinais e sintomas da intoxicação por hidrocarbonetos

Após a ingestão, mesmo de pequena quantidade de hidrocarboneto líquido, os pacientes inicialmente têm tosse, engasgo e vômitos. Crianças menores podem ter cianose, detenção de fôlego e tosse persistentemente. Crianças maiores e adultos podem relatar sensação de queimação no estômago.

A pneumonite aspirativa produz hipóxia e dificuldade respiratória. Sinais e sintomas de pneumonite podem desenvolver-se poucas horas antes do infiltrado ser visível na radiografia. Uma substanciosa absorção sistêmica, particularmente de hidrocarboneto halogenado, pode causar letargia, coma e convulsões. A pneumonite não fatal resolve-se em cerca de 1 semana; a ingestão de óleo de lamparina ou mineral geralmente leva 5 a 6 semanas para regredir.

Em geral, as arritmias ocorrem antes da apresentação e distintamente não recorrem, a não ser que os pacientes tenham excessiva agitação.

O uso de longo prazo de hidrocarbonetos inalados pode causar toxicidades multissistêmicas, envolvendo o SNC e o sistema periférico, fígado, rins, coração e medula óssea.

Diagnóstico de intoxicação por hidrocarbonetos

  • Radiografia e oximetria feitos cerca de 6 horas após a ingestão

  • Às vezes, eletrólitos séricos e testes hepáticos

  • Normalmente, RM ou TC do plexo apropriado

Se os pacientes estiverem muito obnubilados para relatar a história, deve-se suspeitar exposição a hidrocarbonetos pelo odor de seu hálito ou de suas roupas ou se for encontrado frasco em seus arredores. Resíduos de tinta nas mãos ou ao redor da boca sugerem que o paciente tenha cheirado tinta recentemente.

O diagnóstico de pneumonite aspirativa é feito por sinais e sintomas, assim como por radiografia e oximetria, que é realizada cerca de 6 horas após a ingestão, ou antes, se os sintomas forem graves. Havendo insuficiência respiratória, mede-se gasometria arterial. A ingestão aguda de hidrocarbonetos causa principalmente coma e depressão do SNC. A exposição crônica a alguns hidrocarbonetos (n-hexano, MnBK) causa neuropatia periférica desmielinizante. A força é gravemente afetada, mas a sensibilidade e os reflexos podem ser minimamente afetados.

Eletrólitos, juntamente com enzimas da função hepática e função renal, devem ser avaliados em caso de exposição a hidrocarbonetos halogenados ou exposição crônica a quaisquer hidrocarbonetos.

A toxicidade para o sistema nervoso central é diagnosticada por exame neurológico e RM. Os principais achados da RM incluem atrofia, hiperintensidade da substância branca na ponderação em T2 e hipointensidade dos gânglios da base e tálamo na ponderação em T2.

Tratamento da intoxicação por hidrocarbonetos

  • Remoção de roupas contaminadas e descontaminação externa

  • Cuidados de suporte

  • O esvaziamento gástrico é contraindicado

Qualquer roupa contaminada deve ser removida e a pele, lavada. (ATENÇÃO:esvaziamento gástrico, que aumenta o risco de aspiração, é contraindicado.) Carvão tem eficácia limitada e não é recomendado. Os pacientes que não tiverem pneumonite aspirativa ou outros sintomas após 4 a 6 horas são dispensados. Aqueles com sintomas são admitidos e tratados com medidas de suporte; antibióticos e corticoides não são indicados.

Anormalidades eletrolíticas, particularmente hipopotassemia, devem ser corrigidas antes da alta.

Fornecer SCAV padrão para pacientes com fibrilação ventricular por exposição a hidrocarbonetos com uso cauteloso de adrenalina devido à preocupação com a sensibilização do miocárdio.

Dicas e conselhos

  • Evitar o esvaziamento gástrico se há suspeita de ingestão de hidrocarbonetos (às vezes suspeita com base no odor do hálito ou nas roupas) porque aumenta o risco de aspiração de hidrocarbonetos.

quizzes_lightbulb_red
Test your KnowledgeTake a Quiz!
ANDROID iOS
ANDROID iOS
ANDROID iOS