Sangramento vaginal no início da gestação

PorEmily E. Bunce, MD, Wake Forest School of Medicine;
Robert P. Heine, MD, Wake Forest School of Medicine
Revisado/Corrigido: jul 2023
Visão Educação para o paciente

O sangramento vaginal ocorre em aproximadamente 20% das gestações confirmadas durante as primeiras 20 semanas; cerca de metade evolui para aborto espontâneo (1).

O sangramento vaginal também está associado a outros desfechos desfavoráveis da gestação, como

Referências

  1. 1. Everett C: Incidence and outcome of bleeding before the 20th week of pregnancy: prospective study from general practice. BMJ 315(7099):32-34, 1997. doi:10.1136/bmj.315.7099.32

Etiologia

Alterações obstétricas ou não obstétricas podem causar sangramento vaginal durante o início da gestação (ver tabela Algumas causas de sangramento vaginal no início da gestação).

A causa mais perigosa do sangramento vaginal durante a gestação precoce é

Um cisto do corpo lúteo rompido, embora menos comum, também é possível e pode causar hemorragia com hemoperitônio e potencial choque.

A causa mais comum é

Tabela

Avaliação

Uma mulher grávida com sangramento vaginal deve ser imediatamente avaliada.

Gestação ectópica ou outras causas de sangramento vaginal grave (p. ex., aborto inevitável, cisto de corpo lúteo hemorrágico roto) podem ocasionar choque hemorrágico. Deve-se determinar o tipo sanguíneo, fazer um teste de compatibilidade, e estabelecer o acesso intravenoso o mais cedo possível durante a avaliação, caso tais complicações ocorram

História

A história da doença atual deve incluir:

  • Data prevista para o parto (e se isso se baseia na última menstruação ou ultrassonografia)

  • Quaisquer fatores de risco por complicações obstétricas e testes anteriores ou complicações durante a gestação atual

  • Descrição e quantidade do sangramento, incluindo o número de absorventes com sangue e se houve coágulos ou tecido

  • Presença ou ausência de dor

Deve-se questionar a paciente no sentido de determinar se é certo que a fonte do sangramento é vaginal. Sangramento do trato urinário ou gastrointestinal pode, às vezes, ser confundido com sangramento vaginal.

Caso haja dor, deve-se determinar início, localização, duração e característica.

Revisão dos sintomas deve verificar febre, calafrios, dor abdominal ou pélvica, corrimento vaginal e sintomas neurológicos, como atordoamento, síncope ou quase síncope.

História clínica deve incluir a gravidade (número de gestações confirmadas), paridade (número de partos prematuros e a termo), número de abortos (espontâneos ou induzidos) e fatores de risco de gestação ectópica e aborto espontâneo.

Exame físico

A avaliação das pacientes durante a gestação deve incluir avaliação pré-natal de rotina para verificar o estado da gestante e do feto, incluindo

  • Avaliação dos sinais vitais maternos

  • Exame abdominal para altura uterina

  • Às vezes, exame pélvico

  • Avaliação do estado fetal com ausculta da frequência cardíaca fetal

  • Às vezes, ultrassonografia pélvica (dependendo dos sintomas e da idade gestacional)

O exame físico direcionado para a avaliação do sangramento vaginal engloba a revisão dos sinais vitais em busca de sinais de febre e hipovolemia (taquicardia e/ou hipotensão).

A avaliação focaliza exames abdominais e pélvicos. O abdome é palpado à procura de dor, sinais peritoneais (descompressão brusca, rigidez ou defesa) e tamanho do útero. Deve-se checar os batimentos cardíacos fetais com um ultrassom Doppler.

O exame pélvico é feito pela inspeção dos órgãos genitais externos, do exame especular e da palpação bimanual. Sangue ou produtos de concepção na vagina, se presentes, devem ser removidos, sendo enviados em seguida para laboratório para confirmação.

O colo do útero deve ser examinado à procura de corrimento, dilatação, lesões, pólipos e tecido no óstio.

O exame bimanual deve verificar a presença de dor à movimentação do colo do útero, massas anexiais ou dor, e tamanho do útero.

Sinais de alerta

Os achados a seguir são particularmente preocupantes:

  • Instabilidade hemodinâmica (taquicardia, hipotensão, ou ambas)

  • Alterações ortostáticas do pulso ou da pressão arterial

  • Síncope ou quase síncope

  • Sinais peritoneais (dor à descompressão brusca, rigidez, defesa)

  • Febre, calafrios e corrimento vaginal mucopurulento

Interpretação dos achados

Os achados clínicos ajudam a sugerir uma causa, mas raramente são diagnósticos (ver tabela Algumas causas do sangramento vaginal). Entretanto, um canal cervical dilatado mais a perda de tecido fetal e dor abdominal em cólica sugerem fortemente um aborto espontâneo; o aborto séptico geralmente é aparente em determinadas circunstâncias e com sinais de infecção grave (febre, toxemia, corrimento purulento ou sanguinolento). Mesmo que essas manifestações clássicas não estejam presentes, é possível a existência de ameaça de aborto ou aborto retido, mas a causa mais séria — gestação ectópica rota — deve ser excluída.

Apesar de a descrição clássica de gestação ectópica incluir dor grave, sinais peritoneais e massa anexial dolorosa, a gestação ectópica pode se manifestar de diversas formas e deve ser sempre considerada, mesmo quando o sangramento é escasso e a dor for mínima.

Exames

Uma gravidez autodiagnosticada é confirmada com um teste de urina para hCG. Para mulheres com gestação documentada, diversos exames são realizados:

  • Nível quantitativo de beta-hCG

  • Tipagem sanguínea e fator Rh

  • Geralmente ultrassonografia

Determina-se o fator Rh para verificar a necessidade de aplicação de imunoglobulina Rho(D) para prevenir sensibilização materna. Caso o sangramento seja substancial, os testes devem incluir hemograma completo e tipagem sanguínea (para a presença de anticorpos irregulares) ou provas cruzadas. Para hemorragia grave ou choque, também se determinam o tempo de protrombina/ tempo de tromboplastina parcial (PT/ PTT), o nível de fibrinogênio e os produtos da degradação da fibrina.

A ultrassonografia pélvica transvaginal é realizada para confirmar a gestação intrauterina. Se os produtos da concepção tiverem sido obtidos intactos, sugere-se também ultrassonografia pélvica transvaginal para confirmar o aborto completo e a ausência de produtos da concepção retidos. Se as pacientes estiverem em choque ou o sangramento for abundante, realiza-se a ultrassonografia ao lado do leito.

O nível quantitativo de beta-hCG ajuda a interpretar os resultados da ultrassonografia, mas não há correlação absoluta entre um certo nível de hCG e a idade gestacional, devido à variabilidade e, às vezes, gestação múltipla.

Além disso, a gestação intrauterina ainda é possível, mesmo que não seja observada na ultrassonografia transvaginal. Nenhum nível estabelecido de beta-hCG pode excluir gestação intrauterina. A zona discriminatória é o nível de beta-hCG acima do qual a ultrassonografia transvaginal deve ser capaz de visualizar um saco gestacional com um saco vitelino, um achado que confirma uma gestação intrauterina. Níveis de 1.000 a 2.000 mUI/mL são comumente usados como zona discriminatória; entretanto, alguns estudos mostram que pode não ser possível visualizar um saco gestacional até que o hCG esteja ≥ 3.510 UI / L (1). Deve-se utilizar o nível de discriminação da instituição em que o teste é realizado para orientar o tratamento clínico (2). Em pacientes estáveis, a ultrassonografia seriada pode ajudar a orientar o tratamento quando os níveis de beta-hCG estiverem próximos dessa zona discriminatória.

A ultrassonografia também ajuda na identificação de um cisto de corpo lúteo roto e doença trofoblástica gestacional. Pode também mostrar produtos de concepção no útero, presentes em pacientes com abortos incompletos, sépticos ou retidos.

Se o estado da paciente for estável e a suspeita clínica de gestação ectópica for pequena, podem-se realizar avaliações seriadas dos níveis de beta-hCG ambulatoriamente. Normalmente, os níveis dobram a cada 1,4 a 2,1 dias até o 41o dia de gestação; na gestação ectópica (e abortos), os níveis podem ser menores que os esperados para a data da coleta e, geralmente, não dobram tão rapidamente. Se a suspeita clínica de gestação ectópica é moderada a alta (p. ex., sangramento significativo, dor à palpação anexial ou ambas), deve-se considerar esvaziamento uterino diagnóstico ou dilação e curetagem (D e C) e laparoscopia diagnóstica.

Referências sobre diagnóstico

  1. 1. Connolly A, Ryan DH, Stuebe AM, Wolfe HM: Reevaluation of discriminatory and threshold levels for serum β-hCG in early pregnancy. Obstet Gynecol 121(1):65-70, 2013. doi:10.1097/aog.0b013e318278f421

  2. 2. Doubilet PM, Benson CB: Further evidence against the reliability of the human chorionic gonadotropin discriminatory level. J Ultrasound Med 30 (12):1637–1642, 2011. doi:10.7863/jum.2011.30.12.1637

Tratamento

O tratamento do sangramento vaginal durante gestação precoce é direcionado à doença subjacente:

  • Gestação ectópica rompida: laparoscopia ou laparotomia imediata

  • Gestação ectópica não rota: metotrexato ou salpingotomia ou salpingectomia via laparoscopia ou laparotomia

  • Ameaça de aborto ou aborto inevitável: tratamento expectante para pacientes hemodinamicamente estáveis

  • Abortos incompletos, perdidos ou retidos: D e C ou esvaziamento uterino

  • Aborto completo: acompanhamento obstétrico

  • Aborto séptico: antibioticoterapia IV e esvaziamento uterino urgente, caso se identifiquem produtos de concepção retidos durante a ultrassonografia

Mulheres que têm tipo sanguíneo Rh-negativo e apresentam sangramento vaginal ou gestação ectópica devem receber imunoglobulina Rho (D) para prevenir aloimunização.

Pontos-chave

  • Se as pacientes têm sangramento vaginal durante a gestação precoce, sempre estar alerta quanto à gestação ectópica; os sintomas podem ser leves ou graves.

  • O aborto espontâneo é a causa mais comum de sangramento no início da gestação.

  • Sempre fazer teste do fator Rh para as mulheres que apresentam sangramento vaginal durante a gestação precoce para determinar a necessidade de administração de imunoglobulina Rh0(D).

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