Fasciolíase é uma infecção causada pelos trematódeos hepáticos Fasciola hepatica ou Fasciola gigantica, transmitida pela ingestão de agrião ou outras plantas aquáticas contaminadas. As manifestações iniciais incluem dor abdominal e hepatomegalia. O diagnóstico é por sorologia ou detecção dos ovos nas fezes, em aspirados duodenais ou em amostras de bile. Triclabendazol ou, possivelmente, nitazoxanida.
Trematódeos são parasitas achatados que infectam várias partes do corpo (p. ex., vasos sanguíneos, trato gastrointestinal, pulmões, fígado) dependendo da espécie.
F. hepatica e F. gigantica são os vermes do fígado de ovelhas e gado (esses animais são os hospedeiros definitivos); ocasionalmente esses trematódeos podem infectar camelídeos, cervos e búfalos (1, 2). Caramujos são hospedeiros intermediários. A fasciolíase humana incidental é adquirida pela ingestão de agrião ou outras plantas aquáticas contaminadas por esterco de ovelhas ou gado. Ocorre em regiões de criação de ovelhas da Europa (p. ex., França, Espanha, Turquia) e Oriente Médio, África, China e América do Sul, mas é rara nos Estados Unidos. A prevalência global da infecção por Fasciola (fasciolíase) é estimada entre 2,4 milhões e 17 milhões de pessoas (3), com muitas mais em risco de infecção.
Image from the Centers for Disease Control and Prevention, Global Health, Division of Parasitic Diseases and Malaria.
Na infecção aguda, as larvas imaturas migram pela parede intestinal, cavidade peritoneal, cápsula e parênquima do fígado, antes de entrarem nos ductos biliares, nos quais se tornam adultas em cerca de 3 a 4 meses. Os adultos põem ovos, que atravessam os ductos biliares, alcançam o duodeno e são então expelidos nas fezes.
Referência geral
1. World Health Organization: Neglected tropical diseases: Fascioliasis. July 28, 2020. Accessed July 11, 2025.
2. Centers for Disease Control and Prevention: Liver Flukes: About Fasciola. February 14, 2024. Accessed July 11, 2025.
3. Mas-Coma S, Valero MA, Bargues MD: Fascioliasis. Adv Exp Med Biol 2019;1154:71-103. doi:10.1007/978-3-030-18616-6_4
Sinais e sintomas da fasciolíase
A fasciolíase aguda pode causar dor abdominal, hepatomegalia, náuseas, vômitos, febre intermitente, urticária, mal-estar e perda ponderal decorrente de lesão hepática. Eosinofilia é comum.
A infecção crônica pode ser assintomática ou conduzir à dor abdominal intermitente, colelitíase, colangite, icterícia obstrutiva ou pancreatite. A infecção crônica começa a se manifestar 6 meses após a exposição e pode durar 10 anos ou mais.
Infecção grave pode causar colangite esclerosante secundária e cirrose biliar. Podem ocorrer lesões ectópicas na parede do intestino, nos pulmões, ou em outros órgãos.
A fasciolíase faríngea foi relatada após o consumo de fígado cru infectado no Oriente Médio; esta síndrome é chamada de halzoun, que pode estar associada à faringite e edema faríngeo, contribuindo para disfagia e dispneia. Halzoun não está bem caracterizado, e outros patógenos também foram propostos como etiologia (1).
Referência sobre sinais e sintomas
1. Khalil G, Haddad C, Otrock ZK, et al: Halzoun, an allergic pharyngitis syndrome in Lebanon: the trematode Dicrocoelium dendriticum as an additional cause. Acta Trop 125(1):115-118, 2013. doi:10.1016/j.actatropica.2012.09.013
Diagnóstico da fasciolíase
Exame microscópico de fezes ou de material duodenal ou biliar, obtido por endoscopia, para pesquisa de ovos
Sorologia
Às vezes, exames de imagem (TC abdominal, RM, colangiopancreatografia retrógrada endoscópica [CPRE] ou ultrassonografia)
Deve-se considerar a possibilidade de fasciolíase em pacientes com dor abdominal e/ou hepatomegalia e relato de ingestão de agrião, outras plantas aquáticas ou vegetais crus contaminados.
Quando existe suspeita de fasciolíase, os pacientes devem fazer exame de fezes à procura de ovos e testes séricos de anticorpos. Os ovos são difíceis de serem distinguidos daqueles de Fasciolopsis buski. Achados de suporte nos exames de sangue e de imagem realizados para avaliação de sintomas abdominais incluem anemia, eosinofilia, testes de função hepática anormais, velocidade de hemossedimentação elevada, além de hipergamaglobulinemia e lesões hipodensas no fígado na TC durante a fase aguda da fasciolíase.
Se o exame de fezes e o teste de anticorpos são negativos ou duvidosos, mas ainda existir suspeita de fasciolíase (isto é, com base em vários achados de suporte, particularmente eosinofilia), deve-se fazer endoscopia com aspiração duodenal e biliar. Ovos e, às vezes, vermes adultos podem ser detectados em amostras obtidas durante a endoscopia do duodeno ou nas proximidades do ducto biliar.
Sorologia baseada em ensaios de detecção de anticorpos é especialmente útil em:
Estágios iniciais da infecção antes que os ovos sejam produzidos (a produção de ovos tipicamente começa pelo menos 3 a 4 meses após a exposição)
Infecção crônica quando a produção de ovos é esporádica ou baixa
Perda da detecção de anticorpos ocorre 6 a 12 meses após a cura.
Testes sorológicos baseados em ensaio imunoenzimático (ELISA), que utilizam antígenos específicos de Fasciola, estão disponíveis globalmente. Nos Estados Unidos, o método padrão envolve um ensaio imunoenzimático (EIA) com antígenos excretório-secretórios ou recombinantes, seguido de teste confirmatório por imunoblot para amostras EIA-positivas. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) desenvolveram um ensaio de imunoblot para fasciolíase, utilizando um antígeno recombinante de F. hepatica (FhSAP2), caracterizado por alta sensibilidade e especificidade (1, 2). Vale notar que os ovos de F. gigantica frequentemente não são detectados nas fezes; testes sorológicos (baseados em antígenos) são preferidos.
Em áreas endêmicas, os ovos também podem ser vistos nas fezes após a ingestão de fígado de animais infectados, que não são infectantes para seres humanos, resultando em diagnóstico errôneo de fasciolíase. Assim, deve-se solicitar que os pacientes sigam uma dieta livre de fígado durante vários dias antes do exame de fezes.
Ultrassonografia, TC, RM, colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) ou colangiografia podem detectar anormalidades do trato biliar na doença crônica.
Referências sobre diagnóstico
1. Centers for Disease Control and Prevention: DPDx–Laboratory Identification of Parasites of Public Health Concern: Fascioliasis. May 2, 2019. Accessed July 1, 2025.
2. Shin SH, Hsu A, Chastain HM, et al: Development of Two FhSAP2 Recombinant-Based Assays for Immunodiagnosis of Human Chronic Fascioliasis. Am J Trop Med Hyg 2016;95(4):852-855. doi:10.4269/ajtmh.16-0253
Tratamento da fasciolíase
Triclabendazol ou, possivelmente, nitazoxanida
O tratamento da fasciolíase para pacientes ≥ 6 anos é com 2 doses de triclabendazol, administradas com intervalo de 12 horas, por via oral, com alimentos (1). Nitazoxanida por via oral duas vezes ao dia por 7 dias pode ser eficaz, mas os dados são limitados.
Praziquantel não é recomendado devido à alta probabilidade de falha no tratamento.
Em alguns pacientes, a extração dos vermes adultos do trato biliar por CPRE pode ser útil para reduzir a carga parasitária e, portanto, os sintomas.
A prevenção é feita não comendo agrião ou outras plantas de água doce nas regiões onde a F. hepatica é endêmica. Deve-se avaliar os familiares das pessoas infectadas à procura de fasciolíase.
Treatment reference
1. Gandhi P, Schmitt EK, Chen CW, Samantray S, Venishetty VK, Hughes D: Triclabendazole in the treatment of human fascioliasis: a review. Trans R Soc Trop Med Hyg 2019;113(12):797-804. doi:10.1093/trstmh/trz093
