Clonorquíase

(Infecção hepática pelo trematódeo chinês)

PorChelsea Marie, PhD, University of Virginia;
William A. Petri, Jr, MD, PhD, University of Virginia School of Medicine
Reviewed ByChristina A. Muzny, MD, MSPH, Division of Infectious Diseases, University of Alabama at Birmingham
Revisado/Corrigido: modificado set. 2025
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Visão Educação para o paciente

Clonorquíase é a infecção causada no fígado pelo trematódeo Clonorchis sinensis. Em geral, adquire-se a infecção ingerindo peixe de água doce cru. A maioria das infecções é assintomática, mas quando presentes, os sintomas incluem dor abdominal no hipocôndrio direito, indigestão, fadiga e diarreia. O diagnóstico é feito pelo achado de ovos nas fezes ou no conteúdo duodenal. O tratamento é feito com praziquantel ou albendazol.

Trematódeos são parasitas achatados que infectam várias partes do corpo (p. ex., vasos sanguíneos, trato gastrointestinal, pulmões, fígado) dependendo da espécie (1, 2).

Clonorchis é endêmica no Leste Asiático (China, Japão, Coreia do Sul, norte do Vietnã, Taiwan) e em partes da Rússia; a infecção também ocorre em outras regiões entre pessoas que viveram em áreas endêmicas ou que consomem peixe cru ou malcozido e, às vezes, camarão — provenientes dessas áreas. O número de pessoas infectadas por C. sinensis está crescendo, de cerca de 7 milhões na década de 1990 para 15-20 milhões na década de 2010 em todo o mundo (3, 4).

Referências gerais

  1. 1. World Health Organization: Neglected tropical diseases: Clonorchiasis. July 28, 2020. Accessed July 11, 2025.

  2. 2. Centers for Disease Control and Prevention: DPDx–Laboratory Identification of Parasites of Public Health Concern: Clonorchiasis. November 13, 2024. Accessed July 11, 2025.

  3. 3. Fürst T, Keiser J, Utzinger J: Global burden of human food-borne trematodiasis: a systematic review and meta-analysis. Lancet Infect Dis 12(3):210-221, 2012. doi:10.1016/S1473-3099(11)70294-8

  4. 4. Tang ZL, Huang Y, Yu XB: Current status and perspectives of Clonorchis sinensis and clonorchiasis: epidemiology, pathogenesis, omics, prevention and control. Infect Dis Poverty 5(1):71, 2016. Publicado em 2016 Jul 6. doi:10.1186/s40249-016-0166-1

Fisiopatologia da clonorquíase

As formas adultas de C. sinensis vivem nos ductos biliares. Os ovos são eliminados nas fezes e ingeridos por caracóis. As cercárias (livres na água) liberadas dos caracóis infectados infectam subsequentemente vários peixes e camarões de água doce. Seres humanos podem ser infectados pela ingestão de peixes crus, malcozidos, embebidos em vinho, secos, salgados, curtidos ou, menos frequentemente, camarão de água doce contendo metacercárias encistadas (fase de repouso ou de maturação). Metacercárias são liberadas no duodeno, entram no ducto biliar comum através da ampola de Vater e migram para os ductos intra-hepáticos menores (ou, ocasionalmente, na vesícula biliar e nos ductos pancreáticos), onde amadurecem até adultos em aproximadamente 1 mês. Os adultos podem viver 25 anos e crescer até cerca de 10 a 25 mm por 3 a 5 mm. Por exemplo, alguns veteranos norte-americanos da guerra do Vietnã tiveram evidências sorológicas de exposição à infecção pelo trematódeo hepático quando testados 5 décadas depois do fim da guerra. Contudo, nenhum teve esses parasitas detectáveis por exame fecal (1).

Referência sobre fisiopatologia

  1. 1. Psevdos G, Ford FM, Hong S-T: Screening US Vietnam veterans for liver fluke exposure 5 decades after the end of the war. Infectious Diseases in Clinical Practice 26(4):208–210, 2018. doi: 10.1097/IPC.0000000000000611

Sinais e sintomas da clonorquíase

Os sintomas estão relacionados à carga de vermes; a maioria das infecções tem carga leve e é assintomática. Os sintomas geralmente ocorrem em pacientes com maior carga de vermes e maior duração da infecção. As manifestações clínicas geralmente ocorrem como resultado de processos inflamatórios que levam à obstrução intermitente das vias biliares ou devido às lesões mecânicas causadas por vermes que se alimentam do tecido mucoso, além dos efeitos tóxicos de seus produtos metabólicos e infecções bacterianas secundárias (1).

Na fase aguda, infecções mais graves podem causar febre, calafrios, dor epigástrica, hepatomegalia dolorosa, icterícia leve e eosinofilia. A diarreia pode ocorrer em seguida. Os sintomas costumam perdurar por 2 a 4 semanas.

Em infecções graves, a colangite crônica pode progredir para atrofia do parênquima hepático e fibrose portal. Icterícia pode ocorrer se uma massa de trematódeos obstruir o ducto biliar.

Outras complicações são colangite supurativa, colelitíase, colecistite, pancreatite e, mais tardiamente, colangiocarcinoma (câncer de ducto biliar [2]). Veteranos da guerra do Vietnã que desenvolvem colangiocarcinoma podem ter sido infectados por Clonorchis sinensis ou Opisthorchis viverrini durante o serviço militar no sudeste da Ásia (3). O risco de mortalidade do colangiocarcinoma é maior em pessoas asiáticas e em homens mais velhos (4).

Referência sobre sinais e sintomas

  1. 1. Centers for Disease Control and Prevention: DPDx–Laboratory Identification of Parasites of Public Health Concern: Clonorchiasis. November 13, 2024. Accessed July 1, 2025.

  2. 2. Xia J, Jiang SC, Peng HJ: Association between liver fluke infection and hepatobiliary pathological changes: A systematic review and meta-analysis. PLoS One 10 (7):e0132673, 2015. doi: 10.1371/journal.pone.0132673

  3. 3. Psevdos G, Ford FM, Hong S-T: Screening US Vietnam veterans for liver fluke exposure 5 decades after the end of the war. Infectious Diseases in Clinical Practice 26(4):208–210, 2018. doi: 10.1097/IPC.0000000000000611

  4. 4. Yao KJ, Jabbour S, Parekh N, Lin Y, Moss RA: Increasing mortality in the United States from cholangiocarcinoma: an analysis of the National Center for Health Statistics Database. BMC Gastroenterol 16(1):117, 2016. doi:10.1186/s12876-016-0527-z

Diagnóstico da clonorquíase

  • Exame microscópico das fezes

  • Às vezes, exames de sangue

  • Às vezes, exames de imagem (radiografias abdominais, TC, RM ou ultrassom)

  • Raramente exame histopatológico

O diagnóstico da clonorquíase baseia-se no achado de ovos nas fezes ou no conteúdo duodenal (exame de ovos e parasitas fecais). Os ovos só se tornam detectáveis nas fezes 3 a 4 semanas após a infecção. Os ovos são difíceis de serem distinguidos daqueles de Opisthorchis. Os ovos não são detectáveis nas fezes durante a obstrução biliar, pois são excretados principalmente pela bile no duodeno.

Outros testes não fazem o diagnóstico, mas podem ser anormais; fosfatase alcalina e bilirrubina podem estar elevadas. Níveis elevados de eosinófilos circulantes e IgE séricos também são comuns. A eosinofilia distingue a infecção por trematódeo da hepatite viral aguda.

Ocasionalmente, uma radiografia abdominal simples mostra calcificação intra-hepática. Ultrassonografia, TC, RM, colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPER) ou colangiografia pode mostrar irregularidade ductal e evidência de cicatrização.

A ultrassonografia à procura de fibrose periductal em pacientes de alto risco (homens, > 50 anos) em regiões endêmicas pode melhorar a detecção precoce do colangiocarcinoma e, portanto, a taxa de sobrevida (1).

Em raros casos, o diagnóstico é confirmado pela identificação de trematódeos adultos no exame histopatológico de espécimes cirúrgicos ou pela realização de colangiografia trans-hepática percutânea; trematódeos adultos também podem ser encontrados nas fezes após terapia anti-helmíntica.

Métodos de detecção sorológicos, moleculares (p. ex., reação em cadeia da polimerase [PCR]) ou antigênicos (p. ex., ensaio imunoenzimático [ELISA]) específicos do organismo foram desenvolvidos, mas não estão amplamente disponíveis.

Referência sobre diagnóstico

  1. 1. Chamadol N, Khuntikeo N, Thinkhamrop B, et al: Association between periductal fibrosis and bile duct dilatation among a population at high risk of cholangiocarcinoma: a cross-sectional study of cholangiocarcinoma screening in Northeast Thailand [correção publicada em BMJ Open 9(5):e023217corr1, 2019]. BMJ Open 9(3):e023217, 2019. Publicado em 2019 Mar 20. doi:10.1136/bmjopen-2018-023217

Tratamento da clonorquíase

  • Praziquantel ou albendazol

O tratamento da clonorquíase é com um dos seguintes:

  • Praziquantel, por via oral 3 vezes ao dia, por 2 dias

  • Albendazol por via oral uma vez ao dia durante 7 dias

O praziquantel mostra alta eficácia contra a clonorquíase (1). A tribendimidina é uma alternativa anti-helmíntica promissora ao praziquantel, demonstrando taxas de cura semelhantes e menos efeitos adversos gastrointestinais quando administrada por via oral durante 3 dias consecutivos, mas permanece em grande parte indisponível fora da China. O praziquantel é o único medicamento recomendado para uso global pela Organização Mundial da Saúde.

Nos Estados Unidos, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) recomendam o uso do albendazol como agente alternativo. O albendazol requer, adicionalmente, dosagem por vários dias (geralmente 7 dias). Em uma meta-análise de rede, os estudos indicaram eficácia semelhante para o albendazol e o praziquantel; no entanto, as pesquisas sobre o albendazol são limitadas por tamanhos de amostra reduzidos e alto risco de viés (1).

Obstrução biliar pode requerer cirurgia.

A prevenção da clonorquíase envolve cozimento total dos peixes e camarões de água doce de águas endêmicas e evitar comê-los crus, mal cozidos, secos, em conserva ou embebidos em vinho. Em regiões endêmicas, o tratamento com praziquantel reduziu a carga de clonorquíase (2). Deve-se investigar infecção nos familiares de pacientes infectados com exame parasitológico de fezes e hemograma com contagem de eosinófilos.

Referências sobre tratamento

  1. 1. Qian MB, Patel C, Palmeirim MS, et al: Efficacy of drugs against clonorchiasis and opisthorchiasis: a systematic review and network meta-analysis. Lancet Microbe 2022;3(8):e616-e624. doi:10.1016/S2666-5247(22)00026-X

  2. 2. Choi MH, Park SK, Li Z, et al: Effect of control strategies on prevalence, incidence and re-infection of clonorchiasis in endemic areas of China. PLoS Negl Trop Dis 4(2):e601, 2010. doi:10.1371/journal.pntd.0000601

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