Mansonelose

PorChelsea Marie, PhD, University of Virginia;
William A. Petri, Jr, MD, PhD, University of Virginia School of Medicine
Reviewed ByChristina A. Muzny, MD, MSPH, Division of Infectious Diseases, University of Alabama at Birmingham
Revisado/Corrigido: modificado jan. 2025
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Visão Educação para o paciente

Mansonelose refere-se a doenças causadas pelos nematoides filariais (vermes) Mansonella perstans, M. ozzardi e M. streptocerca. A transmissão ocorre por picadas de mosquitos ou borrachudos. As infecções geralmente são assintomáticas, mas podem ocorrer sintomas. Confirma-se o diagnóstico da infecção por M. perstans e M. ozzardi pela identificação de microfilárias em esfregaços de sangue; nenhuma das espécies apresenta periodicidade significativa, de modo que o sangue pode ser coletado a qualquer momento. O diagnóstico de M. streptocerca baseia-se na identificação de microfilárias em fragmentos de pele ou biópsias cutâneas. O tratamento depende da espécie de Mansonella infectante.

Três espécies de Mansonella causam a maioria das doenças humanas. Assim como ocorre com outras doenças filariais, seu ciclo de vida é complexo (ver DPDx - Laboratory Identification of Parasites of Public Health Concern: Mansonellosis).

(Ver também Abordagem às infecções parasitárias e Visão geral das infecções por nematoide filarial.)

Mansonella perstans

M. perstans é transmitida por picadas de mosquitos (Culicoides) na África subsaariana e nas Américas, do Panamá à Argentina. Estima-se que mais de 114 milhões de pessoas estejam infectadas em todo o mundo (1). A probabilidade de infecção aumenta com a idade e a prevalência pode se aproximar de 100% em áreas altamente endêmicas.

Os vermes adultos residem nas cavidades pleural, pericárdica e peritoneal, bem como no retroperitônio e no mesentério. Microfilárias sem bainha são encontradas na corrente sanguínea. Os mosquitos adquirem os vermes quando sugam o sangue de um ser humano infectado.

A maioria das infecções é assintomática ou leve. A migração de vermes adultos pode causar edemas subcutâneos transitórios semelhantes aos do Loa loa (edemas de Calabar), inflamação do pericárdio ou da pleura, nódulos conjuntivais, danos na retina e inflamação periocular. Sintomas inespecíficos incluindo prurido, urticária, artralgias e mal-estar. Manifestações neuropsiquiátricas, meningoencefalite e hepatite foram atribuídas a M. perstans em raras ocasiões.

Faz-se o diagnóstico de M. perstans identificando as microfilárias não sem bainha em um esfregaço de sangue. Pode-se identificar as microfilárias no sangue tanto durante o dia como à noite. Eosinofilia está frequentemente presente. Diagnósticos moleculares também foram desenvolvidos (2).

M. perstans é relativamente resistente a medicamentos utilizados para tratar outras filarioses, incluindo a dietilcarbamazina. Presume-se que a administração de doxiciclina, 200 mg uma vez ao dia por 4 a 6 semanas, visando as bactérias endossimbióticas Wolbachia presentes em vermes adultos de M. perstans, pode interromper a reprodução dos vermes adultos e ser curativa. Wolbachia foi observado em M. perstans do Mali, Camarões, Gana e Gabão. Há relatos divergentes sobre a presença de Wolbachia em Uganda, possivelmente devido a restrições metodológicas ou pela presença de múltiplas cepas de M. perstans. A doxiciclina demonstrou-se eficaz contra M. perstans no Mali (3) e em Gana (4), mas a utilidade da doxiciclina no tratamento das infecções em regiões onde não há presença de Wolbachia não foi sistematicamente estudada. Nos casos em que a doxiciclina é ineficaz, a terapia combinada de dietilcarbamazina com mebendazol por 3 semanas melhorou a atividade em relação à monoterapia (5).

Mansonella ozzardi

M. ozzardi é endêmica na América Central e do Sul e em algumas ilhas do Caribe. Os seres humanos são o principal reservatório da infecção. 

M. ozzardi é transmitida por picadas de mosquitos (Culicoides) e borrachudos (Simulium amazonicum). O ciclo de vida é semelhante ao do M. perstans, exceto que os vermes adultos residem no sistema linfático e também nas cavidades torácica e peritoneal. As microfilárias estão presentes tanto no sangue como na pele. 

A maioria das pessoas com infecção por M. ozzardi é assintomática, mas algumas têm exantema, linfadenopatia, artralgias, febre, cefaleia ou sintomas pulmonares. A ceratite induzida por microfilaremia do M. ozzardi foi relatada na região amazônica do Brasil.

Confirma-se o diagnóstico de M. ozzardi pela identificação de microfilárias em amostras de sangue ou pele. O sangue pode ser coletado a qualquer momento. Eosinofilia é comum. Testes sorológicos também podem ser úteis na identificação de infecção, mas não são específicos.

O tratamento é feito com uma dose única de ivermectina 200 mcg/kg por via oral (6). Antes do tratamento com ivermectina, os pacientes devem ser avaliados quanto à possibilidade de coinfecção pelo parasita filarial Loa loa, caso tenham estado em áreas da África Central onde ambos os parasitas são transmitidos, pois a ivermectina pode causar reações graves em pacientes com coinfecção intensa por Loa loa. Wolbachia endossimbióticos estão presentes no M. ozzardi, mas a eficácia da doxiciclina no tratamento não foi avaliada.

Mansonella streptocerca

M. streptocerca é transmitida nas florestas tropicais da África Ocidental e Central e Uganda. Desconhece-se a prevalência do M. streptocerca. Primatas não humanos são às vezes infectados, mas não são os principais reservatórios da infecção.

O ciclo de vida do M. streptocerca é semelhante ao do M. perstans, exceto que os vermes adultos residem na derme da parte superior do tronco e ombro. Microfilarias são encontradas na pele. A maioria das pessoas com M. streptocerca é assintomática. Pode haver espessamento da derme, máculas hipopigmentadas e linfadenopatia axilar ou inguinal bilateral. Ao contrário de Onchocerca volvulus, M. streptocerca adultos não formam nódulos subcutâneos.

Faz-se o diagnóstico de M. streptocerca pela identificação de microfilárias em fragmentos ou biópsias cutâneos. Eosinofilia é comum. A sorologia também pode ser útil na identificação de infecção filarial, mas não é específica.

Administra-se dietilcarbamazina (DEC) 2 mg/kg 3 vezes ao dia por 12 dias para tratar M. streptocerca. A dietilcarbamazina (DEC) mata tanto microfilárias como vermes adultos. Entretanto, pode exacerbar os sintomas cutâneos e sistêmicos em razão da liberação de antígenos das microfilárias que estão morrendo. Não se deve administrar dietilcarbamazina (DEC) a pacientes com O. volvulus ou infecções maciças por Loa loa devido ao potencial de efeitos adversos graves.

A ivermectina (150 mcg/kg via oral, dose única) pode reduzir as cargas microfilariais de M. streptocerca, mas seu impacto sobre o curso da infecção é incerto. Antes do tratamento com ivermectina, deve-se avaliar nos pacientes co-infecção por Loa loa, outro parasita filarial, se estiveram em regiões da África Central onde ambos os parasitas são transmitidos porque a ivermectina pode causar reações graves em pacientes com coinfecção intensa por Loa loa. Não se sabe se M. streptocerca hospeda Wolbachia ou se a doxiciclina tem um papel no tratamento.

Referências

  1. 1. Simonsen PE, Onapa AW, Asio SM. Mansonella perstans filariasis in Africa. Acta Trop. 2011;120 Suppl 1:S109-S120. doi:10.1016/j.actatropica.2010.01.014

  2. 2. Keiser PB, Coulibaly Y, Kubofcik J, et al. Molecular identification of Wolbachia from the filarial nematode Mansonella perstansMol Biochem Parasitol. 2008;160(2):123-128. doi:10.1016/j.molbiopara.2008.04.012

  3. 3. Coulibaly YI, Dembele B, Diallo AA, et al. A randomized trial of doxycycline for Mansonella perstans infection. N Engl J Med. 2009;361(15):1448-1458. doi:10.1056/NEJMoa0900863

  4. 4. Batsa Debrah L, Phillips RO, Pfarr K, et al. The Efficacy of Doxycycline Treatment on Mansonella perstans Infection: An Open-Label, Randomized Trial in Ghana. Am J Trop Med Hyg. 2019;101(1):84-92. doi:10.4269/ajtmh.18-0491

  5. 5. Bregani ER, Rovellini A, Mbaïdoum N, Magnini MG. Comparison of different anthelminthic drug regimens against Mansonella perstans filariasis. Trans R Soc Trop Med Hyg. 2006;100(5):458-463. doi:10.1016/j.trstmh.2005.07.009

  6. 6. de Almeida Basano S, de Souza Almeida Aranha Camargo J, Fontes G, et al. Phase III Clinical Trial to Evaluate Ivermectin in the Reduction of Mansonella ozzardi infection in the Brazilian Amazon. Am J Trop Med Hyg. 2018;98(3):786-790. doi:10.4269/ajtmh.17-0698

Pontos-chave

  • A epidemiologia, as manifestações clínicas e o tratamento recomendado variam entre as espécies de Mansonella , e as infecções são frequentemente assintomáticas.

  • Se o tratamento com ivermectina for planejado, deve-se avaliar os pacientes quanto à possibilidade de coinfecção por Loa loa, caso tenham estado em áreas da África Central onde este é transmitido.

  • A assistência com testes sorológicos e outros testes diagnósticos para todas as espécies de Mansonella está disponível nos DPDx Diagnostic Procedures dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e no Laboratory of Parasitic Diseases do National Institutes of Health (NIH) (1-301-496-5398).

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