A filiariase bancroftiana está presente em áreas tropicais e subtropicais da África, da Ásia, no Pacífico e nas Américas, inclusive no Haiti. A filariose causada por Brugia é endêmica no Sul e no Sudeste Asiático.
Programas de tratamento em massa reduziram a prevalência em muitas regiões, mas no mundo todo ainda há > 36 milhões de pessoas com filariose linfática.
Filariose linfática é causada por Wuchereria bancrofti, Brugia malayi ou B. timori. A transmissão ocorre por mosquitos. Larvas infectantes do mosquito migram para as vias linfáticas, nas quais se desenvolvem até vermes adultos no período de 6 a 12 meses. As fêmeas medem de 80 a 100 mm e os machos, cerca de 40 mm. Fêmeas adultas grávidas produzem microfilárias, que circulam no sangue.
Sinais e sintomas
A infecção pode resultar em microfilaremia sem manifestações clínicas evidentes. Os sinais e sintomas são causados principalmente por vermes adultos. A microfilaremia desaparece de forma gradual depois de a pessoa deixar a área endêmica.
A filariose inflamatória aguda consiste em 4 a 7 dias de episódios (na maioria das vezes recorrentes) de febre e inflamação de linfonodos com linfangite, denominando-se adenolinfangite (ADL) aguda ou epididimite aguda e inflamação de cordão espermático. O envolvimento localizado de um membro afetado pode resultar em abscesso, que drena externamente e deixa uma cicatriz. A ADL é frequentemente associada a infecções bacterianas secundárias. Episódios de ADL normalmente precedem a doença crônica por ≥ 2 décadas. A filariose aguda é mais grave em imigrantes não expostos anteriormente do que em residentes nativos.
A filariose crônica desenvolve-se insidiosamente em muitos anos. Na maioria dos pacientes, ocorre dilatação linfática assintomática, mas respostas inflamatórias crônicas aos vermes adultos e infecções bacterianas secundárias podem resultar em linfedema crônico da área afetada do corpo. Maior suscetibilidade local a infecções bacterianas e fúngicas contribui ainda mais para seu desenvolvimento. Linfedema depressivo crônico dos membros inferiores pode progredir para elefantíase (obstrução linfática crônica). W. bancrofti podem causar hidrocele e elefantíase escrotal. Outras formas de doença filarioide crônica são causadas pelo rompimento dos vasos linfáticos ou drenagem anômala das linfas, provocando quilúrias e quiloceles.
Os sinais extralinfáticos são hematúria microscópica crônica, proteinúria e poliartrite leve, presume-se que todas resultem da deposição de imunocomplexos.
Eosinofilia pulmonar tropical é uma manifestação incomum com broncospasmo recorrente, infiltrado pulmonar transitório, febre de baixo grau e eosinofilia intensa. É mais provável que seja decorrente de reações de hipersensibilidade a microfilárias. A eosinofilia pulmonar tropical crônica pode provocar fibrose pulmonar.
Diagnóstico
A detecção microscópica de microfilárias no sangue estabelece o diagnóstico da filariose linfática. Concentrados de sangue filtrados ou centrifugados são mais sensíveis do que gota espessa. Deve-se obter amostras de sangue quando ocorre o pico de microfilaremia — à noite na maioria das áreas endêmicas, mas durante o dia em muitas ilhas do Pacífico. Vermes adultos viáveis podem ser visualizados em linfáticos dilatados por meio de ultrassonografia; seu movimento é chamado de dança filarioide.
Há vários testes sanguíneos disponíveis:
Pacientes com infecção ativa por filária tipicamente têm altos níveis de IgG4 antifilarioide no sangue. Mas há reatividade cruzada antigênica significativa entre as filárias e outros helmintos, e uma sorologia positiva não diferencia entre infecção filarioide atual e passada.
Tratamento
A dietilcarbamazina (DEC) mata as microfilárias e uma proporção variável de vermes adultos. Nos Estados Unidos, a dietilcarbamazina está disponível nos Centers for Disease Control and Prevention (CDC) após a confirmação laboratorial da filariose.
Tratamento da filariose linfática aguda
Dietilcarbamazina costuma ser administrada na dose de 2 mg/kg por via oral 3 vezes ao dia durante 12 dias; a alternativa é 6 mg/kg por via oral em dose única. Geralmente, o esquema de dose única parece ser tão eficaz quanto o esquema de 12 dias.
Os efeitos adversos da dietilcarbamazina são geralmente limitados e dependem do número de microfilárias no sangue. Os mais comuns são tontura, náuseas, febre, cefaleia e dores musculares ou articulares, que considera-se estarem relacionados à liberação de antígenos filarioide.
Antes do tratamento com DEC, deve-se avaliar nos pacientes coinfecção por Loa loa (loíase) ou Onchocerca volvulus (oncocercíase) porque a dietilcarbamazina pode causar reações graves nos pacientes com essas infecções. Pode-se administrar uma dose de albendazol 400 mg VO mais ivermectina (200 mcg/kg VO) em regiões em que a oncocercose é co-endêmica, mas a ivermectina não mata os vermes adultos responsáveis pela filariose linfática.
Algumas combinações de fármaco e esquemas foram usadas em programas de tratamento em massa.
Além disso, doxiciclina foi administrada a longo prazo (p. ex., 100 mg VO duas vezes ao dia por 4 a 8 semanas). Doxiciclina elimina as bactérias endossimbiontes Wolbachia dentro da filária, levando os vermes filários adultos à morte. Pode-se administrá-la com DEC ou usá-la isoladamente.
Em geral, crises de adenolinfangite aguda desaparecem de forma espontânea, embora possam ser necessários antibióticos para controlar infecções bacterianas secundárias.
Tratamento do linfedema crônico
Linfedema crônico requer um cuidado meticuloso com a pele, inclusive uso de antibióticos sistêmicos para tratar infecções bacterianas secundárias; estes antibióticos podem reduzir ou impedir a progressão da elefantíase.
Se a terapia com dietilcarbamazina previne ou diminui o linfedema crônico continua controverso.
Medidas conservadoras, como bandagem elástica no membro comprometido, reduzem o edema.
Descompressão cirúrgica, usando desvios nodal-venosos para melhorar a drenagem linfática, oferece algum benefício a longo prazo em casos extremos de elefantíase. Também é possível tratar hidroceles maciças cirurgicamente, mas a recorrência é comum.
Tratamento da eosinofilia pulmonar tropical
Prevenção
Evitar picadas de mosquito em áreas endêmicas é a melhor proteção (p. ex., pelo uso de dietiltoluamida [DEET] na pele exposta, roupas impregnadas de permetrina e telas de proteção para camas).
Quimioprofilaxia com dietilcarbamazina (DEC) ou combinações de fármacos antifilariais (ivermectina/albendazol ou ivermectina/DEC) podem suprimir microfilaremia e, assim, reduzir a transmissão do parasita por mosquitos em comunidades endêmicas. DEC é até mesmo usada como um aditivo para o sal de mesa em algumas áreas endêmicas.
Pontos-chave
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A filariose linfática é transmitida por mosquitos; larvas infectantes migram para os vasos linfáticos, onde se transformam em vermes adultos.
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Vermes adultos dentro dos vasos linfáticos podem causar inflamação resultando em adenolinfangite ou epididimite aguda ou obstrução linfática crônica que, em alguns pacientes, leva à elefantíase ou hidrocele.
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Diagnosticar com base na detecção microscópica de microfilárias em concentrados filtrados ou centrifugados do sangue que é coletado no momento do dia quanto a microfilaremia alcança o pico (varia dependendo da espécie).
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Testes de antígeno, anticorpos e DNA do parasita são alternativas ao diagnóstico por microscopia.
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Tratar com dietilcarbamazina após exclusão da coinfecção por Loa loa e Onchocerca volvulus.