Pneumoconiose dos carvoeiros

(Antracose, Doença do pulmão negro, Pneumoconiose do mineiro)

PorCarrie A. Redlich, MD, MPH, Yale Occupational and Environmental Medicine Program Yale School of Medicine;
Efia S. James, MD, MPH, Yale School of Medicine;Brian Linde, MD, MPH, Yale Occ and Env Medicine Program
Revisado/Corrigido: mai 2020
Visão Educação para o paciente

A pneumoconiose dos trabalhadores das minas de carvão é causada pela inalação de poeira de carvão. A deposição de poeira acarreta o aparecimento de macrófagos repletos de poeira em torno dos bronquíolos (máculas de carvão), causando, ocasionalmente, enfisema bronquiolar focal. Habitualmente, a pneumoconiose dos trabalhadores das minas de carvão não provoca qualquer sintoma, mas pode evoluir para fibrose maciça progressiva, com comprometimento da função pulmonar. O diagnóstico baseia-se em história e radiografia de tórax. O tratamento quase sempre é de suporte.

(Ver também Visão geral da doença pulmonar ambiental.)

Etiologia da pneumoconiose dos carvoeiros

A pneumoconiose dos carvoeiros é causada pela inalação crônica de poeira de carvão com alto teor de carbono (antracito e betuminoso), tipicamente por 20 anos. A inalação de sílica contida no carvão também pode contribuir para a doença clínica.

Fisiopatologia da pneumoconiose dos carvoeiros

Os macrófagos alveolares englobam a poeira, liberam citocinas que estimulam a inflamação e se agrupam no interstício pulmonar em torno de bronquíolos e alvéolos (máculas de carvão). Desenvolvem-se nódulos de carvão à medida que se acumula colágeno e surge enfisema focal conforme as paredes dos bronquíolos se enfraquecem e se dilatam. Pode ocorrer fibrose, mas geralmente é limitada às áreas adjacentes às máculas de carvão. Distorção da arquitetura pulmonar, obstrução ao fluxo aéreo e comprometimento funcional costumam ser leves, mas podem ser altamente destrutivos em um grupo de pacientes.

Duas formas de pneumoconiose dos carvoeiros são descritos:

  • Simples, com máculas de carvão individuais

  • Complicada, com coalescência de máculas e fibrose maciça progressiva

Pacientes com pneumoconiose dos carvoeiros desenvolvem fibrose maciça progressiva na porcentagem de cerca de 1 a 2% por ano. Recentemente, encontrou-se uma rápida progressão da pneumoconiose para fibrose maciça progressiva em mineiros jovens trabalhadores da indústria do carvão, especialmente no leste dos Estados Unidos em comparação com o restante dos Estados Unidos (1).

Na fibrose maciça progressiva, os nódulos coalescem para formar massas parenquimatosas, flexíveis e de cor negra, geralmente na parte posterior dos campos pulmonares superiores. As massas podem invadir e destruir o suprimento vascular e as vias respiratórias, ou pode ocorrer cavitação. Pode haver desenvolvimento e progressão de fibrose maciça progressiva mesmo após a interrupção da exposição à poeira de carvão. Apesar da semelhança entre a FMP induzida pelo carvão e a silicose conglomerada, o desenvolvimento de FMP em trabalhadores do carvão não está relacionado com o teor de sílica do carvão. Entretanto, é necessário haver exposição à sílica no carvão para que a pneumoconiose dos carvoeiros se transforme em fibrose maciça progressiva, e a exposição apenas ao grafite pode causar pneumoconiose dos carvoeiros, mas não progressão para fibrose maciça progressiva.

Uma pequeno percentual dos pacientes com pneumoconiose dos carvoeiros desenvolve fibrose pulmonar difusa.

Complicações

A associação entre pneumoconiose dos carvoeiros e aspectos da artrite reumatoide é bem conhecida. Não está claro se a pneumoconiose dos carvoeiros predispõe os mineiros ao desenvolvimento de artrite reumatoide, se esta adquire forma única nos pacientes com pneumoconiose dos carvoeiros, ou se a artrite reumatoide altera a resposta dos mineiros à poeira do carvão. O aparecimento, em um espaço de tempo relativamente curto, de múltiplos nódulos arredondados no pulmão (síndrome de Caplan) representa resposta imunopatológica relacionada com a diátese reumatoide. Histologicamente, assemelham-se a nódulos reumatoides, mas têm região periférica de inflamação mais aguda.

Pacientes com pneumoconiose dos trabalhadores do carvão têm risco ligeiramente maior de desenvolver tuberculose ativa e infecções micobacterianas não tuberculose. Relataram-se associações fracas entre pneumoconiose dos trabalhadores das minas de carvão, esclerodermia progressiva e câncer de estômago.

Referência sobre fisiopatologia

  1. 1. Almberg KS, Halldin CN, Blackley DJ, et al: Progressive massive fibrosis resurgence identified in U.S. coal miners filing for black lung benefits, 1970-2016. Ann Am Thorac Soc 15(12):1420–1426, 2018. doi: 10.1513/AnnalsATS.201804-261OC

Sinais e sintomas da pneumoconiose dos carvoeiros

Habitualmente, a pneumoconiose dos trabalhadores das minas de carvão não provoca sintomas. A maioria dos sintomas pulmonares crônicos dos mineiros de carvão é provocada por outras condições, como bronquite industrial da poeira de carvão ou enfisema coincidente do tabagismo. A tosse pode ser crônica e problemática nos pacientes, mesmo após deixarem o local de trabalho e até naqueles que não fumam.

A fibrose maciça progressiva acarreta dispneia. O escarro de cor negra (melanoptise) é raro e é causado pela ruptura das lesões da fibrose maciça progressiva dentro das vias respiratórias. Com frequência, a fibrose maciça progressiva progride para hipertensão pulmonar com insuficiência respiratória e insuficiência ventricular direita.

Diagnóstico da pneumoconiose dos carvoeiros

  • História de exposição à poeira de carvão

  • TC ou radiografia de tórax

O diagnóstico da pneumoconiose dos carvoeiros depende da história de exposição ao pó do carvão e aspecto da radiografia ou TC do tórax.

Em pacientes com pneumoconiose dos carvoeiros, radiografia ou TC do tórax revela opacidades ou nódulos pequenos, arredondados e difusos. A detecção de pelo menos uma opacidade > 10 mm sugere fibrose maciça progressiva. A especificidade da radiografia de tórax para a fibrose maciça progressiva é baixa, uma vez que até um terço das lesões identificadas como fibrose maciça progressiva é, na realidade, formado por doenças malignas, cicatrizes, ou outras lesões. A TC do tórax também é mais sensível e específica que a radiografia de tórax para a detecção de nódulos coalescentes, fibrose maciça progressiva inicial e cavitação.

Fibrose pulmonar difusa caracteriza-se por opacidades reticulares predominantes no lobo inferior. Também relataram-se alterações com aspecto de favo.

Os testes de função pulmonar não são diagnósticos, mas são úteis para a caracterização da função pulmonar dos pacientes que têm a possibilidade de desenvolver defeitos obstrutivos, restritivos ou mistos. Como é possível evidenciar alterações da troca gasosa em alguns pacientes com pneumoconiose dos trabalhadores das minas de carvão simples e extensa e naqueles com pneumoconiose dos trabalhadores das minas de carvão complicada, recomendam-se avaliações basais e periódicas da DLCO e gasometria em repouso e durante o esforço.

Como os pacientes com pneumoconiose dos trabalhadores das minas de carvão muitas vezes tiveram exposição tanto à poeira de sílica quanto à de carvão, normalmente realiza-se vigilância para a tuberculose. Os pacientes com pneumoconiose dos trabalhadores das minas de carvão devem passar por teste de tuberculina anualmente. Naqueles com resultados positivos, podem ser necessárias cultura e citologia de escarro, TC e broncoscopia para confirmar a tuberculose.

Tratamento da pneumoconiose dos carvoeiros

  • Às vezes, suplementação de oxigênio e reabilitação pulmonar

  • Restrição para evitar exposição adicional

O tratamento raramente é necessário na pneumoconiose dos trabalhadores das minas de carvão simples, embora se recomendem a interrupção do tabagismo e a vigilância para a tuberculose. Para os pacientes com hipertensão pulmonar ou também hipoxemia, prescreve-se oxigenioterapia suplementar.

A reabilitação pulmonar pode ajudar os trabalhadores com comprometimento mais grave a realizarem as atividades de vida diária. Funcionários com pneumoconiose dos carvoeiros, especialmente aqueles com fibrose maciça progressiva, não devem receber exposição adicional, especialmente a altas concentrações de poeira. Trata-se tuberculose de acordo com as recomendações atuais.

Prevenção da pneumoconiose dos carvoeiros

As medidas preventivas incluem a eliminação da exposição, a interrupção do tabagismo e a vacinação contra pneumococo e influenza. É possível evitar a pneumoconiose dos trabalhadores das minas de carvão pela supressão da poeira de carvão na superfície de exploração deste minério. Apesar da regulamentação de longa data, as exposições continuam a ocorrer nos locais de mineração, resultando em taxas mais altas da doença, incluindo formas graves.

As máscaras respiratórias propiciam apenas proteção limitada.

Pontos-chave

  • A pneumoconiose dos carvoeiros é causada pela inalação crônica de poeira de carvão com alto teor de carbono (antracito e betuminoso) e, raramente, grafite, tipicamente por ≥ 20 anos.

  • A maioria dos pacientes tem pneumoconiose dos trabalhadores das minas de carvão simples, com os exames de imagem mostrando pequenos nódulos assintomáticos.

  • Alguns pacientes com pneumoconiose dos trabalhadores das minas de carvão desenvolvem fibrose maciça progressiva, com deterioração da função pulmonar, dispneia e deficiências evidentes nos exames de imagem.

  • O diagnóstico depende da história de exposição e de radiografias do tórax.

  • Tratar, dar suporte, incentivar a cessação do tabagismo e restringir ainda mais a exposição.

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