A necrose cortical renal é a destruição do tecido cortical resultante de lesão arteriolar renal e levando a lesão renal aguda. Essa doença rara costuma surgir tipicamente em recém-nascidos e em gestantes e após o parto, se houver sepse e complicações da gestação. Os sinais e sintomas incluem hematúria macroscópica, dor no flanco, diminuição do débito urinário, febre e sintomas de uremia. Os sintomas da doença subjacente podem predominar. O diagnóstico é feito por ultrassonografia, TC ou biópsia renal. A taxa de mortalidade em 1 ano é 20%. O tratamento é direcionado à doença subjacente e à preservação da função renal.
Na necrose cortical renal, que pode ser irregular ou difusa, as lesões arteriolares renais bilaterais resultam em destruição e calcificação dos tecidos corticais e lesão renal aguda. Os tecidos corticais renais finalmente calcificam-se. O córtex justamedular, a medula e a área logo abaixo da cápsula são poupados.
Etiologia da necrose cortical renal
A lesão geralmente resulta da redução da perfusão da artéria renal secundária a vasospasmo, lesão microvascular, ou coagulação intravascular.
Cerca de 10% dos casos ocorrem em lactentes e crianças. As complicações da gestação aumentam o risco dessa doença em recém-nascidos e em mulheres, assim como a sepse. Outras causas [p. ex., coagulação intravascular disseminada (CIVD)] são menos comuns (ver tabela Causas da necrose cortical renal).
Sinais e sintomas da necrose cortical renal
Hematúria macroscópica, dor no flanco e, algumas vezes, diminuição do débito urinário ou anúria abrupta podem ocorrer. A febre é comum e ocorre desenvolvimento de insuficiência renal e hipertensão. Entretanto, esses sintomas são geralmente obscurecidos pela doença subjacente.
Diagnóstico da necrose cortical renal
Exames de imagem ou biópsia renal
Há suspeita diagnóstica quando os sintomas típicos ocorrem em pacientes com causas potenciais.
O diagnóstico geralmente pode ser estabelecido por ultrassonografia ou TC. A biópsia renal é realizada apenas se o diagnóstico não for claro e não existir contraindicação. Estabelece o diagnóstico definitivo e as informações prognósticas.
Urinálise, hemograma completo, eletrólitos séricos, testes de função hepática e exames da função renal são realizados rotineiramente. Esses exames geralmente confirmam o diagnóstico de insuficiência renal aguda ou crônica (p. ex., indicadas por elevação da concentração de nitrogênio da ureia sanguínea e creatinina e por hiperpotassemia) e sugerem a causa. As anormalidades graves de eletrólitos podem estar presentes dependendo da causa (p. ex., hiperpotassemia, hiperfosfatemia, hipocalcemia). O hemograma geralmente detecta leucocitose (mesmo quando a causa não é sepse) e pode detectar anemia e trombocitopenia se a causa for hemólise, coagulação intravascular disseminada (CIVD) ou sepse. As aminotransferases podem estar elevadas em estados de hipovolemia relativa (p. ex., choque séptico, hemorragia pós-parto). Caso se suspeite de coagulação intravascular disseminada (CIVD), os exames de coagulação são realizados. Podem detectar baixas concentrações de fibrinogênio, aumento de produtos de degradação da fibrina e aumento do tempo de protrombina (TP)/RNI e do tempo de tromboplastina parcial (TTP). O exame de urina tipicamente detecta proteinúria e hematúria.
Tratamento da necrose cortical renal
Tratamento da causa subjacente
Preservação da função renal
O tratamento é direcionado para a doença de base e para a preservação da função renal (p. ex., com diálise precoce).
Prognóstico para necrose cortical renal
O prognóstico da necrose cortical renal era ruim no passado, com mortalidade > 50% no primeiro ano. Mais recentemente, com o uso de tratamento agressivo de suporte, a mortalidade em 1 ano pode ser de 20% e até 20% dos sobreviventes podem recuperar alguma função renal.
Pontos-chave
A necrose cortical renal é rara e costuma ocorrer em recém-nascidos e em gestantes ou após o parto com sepse e complicações da gestação.
Suspeitar do diagnóstico em pacientes de risco que desenvolvem sintomas típicos (p. ex., hematúria macroscópica, dor no flanco, diminuição da produção de urina, febre, hipertensão).
Confirmar o diagnóstico com exames de imagem ou biópsia renal.
Tratar a doença subjacente.