Nefronoftise e doença renal tubulointersticial autossômica dominante (DRTAD) são doenças hereditárias que causam cistos restritos à medula renal ou à junção corticomedular e, com o tempo, insuficiência renal em estágio final.
(Ver também Visão geral da doença renal cística.)
Nefronoftise e doença renal tubulointersticial autossômica dominante (DRTAD) são agrupadas porque compartilham várias características. Patologicamente, podem causar cistos restritos a medula renal ou junção corticomedular, assim como uma tríade de atrofia tubular, desintegração da membrana basal tubular e fibrose intersticial. Cistos podem ou não estar presentes e são um resultado da dilatação tubular. Provavelmente, compartilham mecanismos similares, apesar de não serem bem caracterizados. Ambas as doenças apresentam as seguintes características:
Defeito na concentração urinária resistente à vasopressina (ADH) que causa poliúria e polidipsia
Perda de sódio intensa o suficiente para exigir suplementação
Anemia
Acidose metabólica
Tendência a proteinúria leve e sedimento urinário benigno
Com o tempo, DRET
As principais diferenças entre a nefronoftise e a doença medular renal cística incluem os padrões de herança e a idade de início da doença renal crônica.
Nefronoftise
A herança é autossômica recessiva. A nefronoftise é responsável por até 15% dos casos de insuficiência renal crônica em crianças e adultos jovens (< 20 anos de idade). Há 3 tipos:
Infantil, idade média de início 1 ano
Juvenil, idade média de início 13 anos
Adolescente, idade média de início 19 anos
Onze mutações em genes foram identificadas em pacientes com nefronoftise. As mutações do gene NPHP1 são as mais comuns, identificadas em cerca de 30 a 60% dos pacientes. Ao redor de 10% dos pacientes com nefronoftise também apresentam outras manifestações, incluindo retinite pigmentar, fibrose hepática, retardo intelectual e outras alterações neurológicas.
A doença renal em estado terminal (DRET) geralmente se desenvolve durante a infância e causa restrição de crescimento e doença óssea. Entretanto, em muitos pacientes, esses problemas desenvolvem-se lentamente ao longo de anos e são tão bem compensados que não são reconhecidos como anormais até que surjam sintomas urêmicos significativos. Algumas vezes, desenvolve-se hipertensão.
Diagnóstico da nefronoftise
Exames de imagem, exames genéticos ou ambos
Deve-se suspeitar do diagnóstico em crianças com as seguintes características, em especial quando o sedimento urinário é benigno:
Polidipsia e poliúria
Diminuição progressiva da função renal, particularmente sem hipertensão
Achados extrarrenais associados
Anemia desproporcional ao grau da insuficiência renal
Em geral, a proteinúria está ausente. O diagnóstico é confirmado por exames de imagem, mas os cistos geralmente ocorrem tardiamente na doença. Ultrassonografia, TC, ou RM podem mostrar limites renais lisos com rins de tamanho normal ou pequenos, perda da diferenciação corticomedular e múltipos cistos na junção corticomedular. Hidronefrose tipicamente está ausente. Dispõem-se de exames genéticos para diagnóstico.
Tratamento da nefronoftise
Cuidados de suporte
No início da doença, o tratamento é feito pelo controle da hipertensão, alteraçòes eletrolíticas, distúrbios ácido-básicos e anemia. Crianças com restrição de crescimento podem responder a suplementos nutricionais e tratamento com hormônio de crescimento. Essencialmente, todos os pacientes desenvolvem doença renal crônica e exigem diálise ou transplante.
Doença renal tubulointersticial autossômica dominante (DRTAD)
Doença renal tubulointersticial autossômica dominante (anteriormente conhecida como doença renal cística medular) é um grupo de doenças genéticas raras. Um relatório de consenso (1) dos Kidney Disease Improving Global Outcomes (KDIGO) propôs classificar essas doenças com base no gene causador, do qual 4 são atualmente conhecidos (ver tabela Doença renal tubulointersticial autossômica dominante: classificação baseada em gene).
Alterações histopatológicas comuns para essas doenças incluem
Fibrose intersticial
Atrofia tubular
Espessamento das membranas basais tubulares
Possível formação de cistos como resultado da dilatação tubular
Ausência do complemento e coloração de imunoglobulina na imunofluorescência
A doença renal tubulointersticial autossômica dominante afeta indivíduos entre 30 e 70 anos de idade. Cerca de 15% de todos os pacientes não têm história familiar, o que sugere uma nova mutação esporádica. Hipertensão é comum, mas geralmente apenas modesta e normalmente não precede o início da disfunção renal. Hiperuricemia e gota são comuns e podem preceder o início de insuficiência renal significativa. A doença renal em estágio terminal tipicamente ocorre entre 30 e 50 anos de idade. Deve-se suspeitar de DRTAD em pacientes com os seguintes achados, especialmente quando o sedimento urinário é benigno:
Polidipsia e poliúria
Gota em idade jovem
História familiar de gota e doença renal crônica
Proteinúria ausente ou leve. Os resultados dos exames de imagem apresentam muitas semelhanças com os da nefronoftise; entretanto, os cistos renais medulares só são visíveis algumas vezes. Exames genéticos podem confirmar o diagnóstico. A biópsia renal pode ser necessária em pelo menos um membro familiar afetado.
O tratamento geralmente é semelhante ao tratamento da nefronoftise. Alopurinol pode melhorar o controle da gota.
Referência sobre o tratamento
1. Eckardt K-U, Alper SL, Antignac C, et al: Autosomal dominant tubulointerstitial kidney disease: Diagnosis, classification, and management—A KDIGO consensus report. Kidney Int 88(4):676-683, 2015. doi: 10.1038/ki.2015.28
Pontos-chave
Nefronoftise e doença renal tubulointersticial autossômica dominante causa incapacidade de concentrar a urina (com polidipsia e poliúria), perda de sódio, anemia e doença renal em estágio terminal.
Nefronoftise é autossômica recessiva e causa doença renal em estágio terminal durante a infância, enquanto doença renal tubulointersticial autossômica dominante (DRTAD) é autossômica dominante e provoca doença renal em estágio terminal aos 30 a 50 anos de idade.
Obter imagem renal e, quando disponível, exame genético.
Tratar as doenças associadas e tratamento de suporte da doença renal.