Gonorreia

PorSheldon R. Morris, MD, MPH, University of California San Diego
Revisado porChristina A. Muzny, MD, MSPH, Division of Infectious Diseases, University of Alabama at Birmingham
Revisado/Corrigido: modificado ago. 2025
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Fatos rápidos

A gonorreia é uma infecção sexualmente transmissível causada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae. Ela infecta o revestimento da uretra, do colo do útero, do reto ou da garganta ou as membranas que cobrem a parte frontal do olho (conjuntiva e córnea).

  • A gonorreia é geralmente transmitida através de contato sexual.

  • As pessoas geralmente têm uma secreção saindo do pênis ou da vagina e podem precisar urinar com mais frequência e urgência.

  • Cultura ou exames do material genético da bactéria com uma amostra de urina ou de secreção dos órgãos genitais, do reto ou da garganta conseguem detectar a infecção.

  • Antibióticos podem curar a infecção, mas resistência aos antibióticos usados para tratar a gonorreia está se tornando cada vez mais comum.

  • O uso de preservativos durante a relação sexual pode ajudar a prevenir a transmissão de gonorreia e de outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) de uma pessoa para outra.

(Consulte também Considerações gerais sobre infecções sexualmente transmissíveis).

A gonorreia é uma infecção sexualmente transmissível (IST) muito comum. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA estimam que mais de um milhão e meio de novas infecções ocorrem nos Estados Unidos todo ano.

A gonorreia é quase sempre transmitida por contato sexual vaginal, oral ou anal. Após um episódio de intercurso sexual vaginal sem preservativo, a chance de transmissão de uma mulher infectada para um homem é de aproximadamente 22%. A chance de transmissão de um homem infectado para uma mulher e de um homem para um homem pode ser maior.

Se uma gestante estiver infectada, a bactéria pode se espalhar para os olhos do recém‑nascido durante o trabalho de parto e o parto, causando conjuntivite no recém‑nascido.

É possível que crianças que sofreram abuso sexual tenham gonorreia.

Pessoas com gonorreia correm um risco maior de desenvolver outras ISTs, tais como clamídia, sífilis e infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV).

Você sabia que...

  • Se uma gestante tiver gonorreia, é possível que a infecção seja transmitida aos olhos do recém‑nascido durante o parto e, por isso, os recém‑nascidos são rotineiramente tratados para prevenir esse tipo de infecção.

Sintomas da gonorreia

Geralmente, a gonorreia causa sintomas apenas nos locais de infecção inicial, mais comumente no colo do útero, pênis, uretra ou garganta. Em poucas pessoas, a infecção também pode espalhar-se pela corrente sanguínea a outras partes do corpo, especialmente para a pele, articulações ou ambas.

A maioria dos homens infectados não tem nenhum sintoma. Os sintomas começam entre dois e catorze dias após a infecção. Homens sentem um leve desconforto na uretra (o tubo que passa pelo pênis e drena a urina da bexiga). Esse desconforto é seguido, pouco tempo depois, por dor leve a intensa ao urinar, uma secreção purulenta amarelo-esverdeada do pênis e vontade frequente de urinar. O orifício na ponta do pênis pode ficar vermelho e inchar. Às vezes a bactéria se espalham até o epidídimo (o tubo enrolado na parte superior de cada testículo), fazendo com que o escroto fique inchado e sensível ao toque em um dos lados.

A maioria das mulheres infectadas não tem sintomas. Assim, a gonorreia pode ser detectada somente durante os exames preventivos de rotina ou após o diagnóstico da infecção no parceiro. Os sintomas geralmente começam dez dias após a infecção. Os sintomas podem incluir desconforto leve na região genital, secreção vaginal amarela ou esverdeada e dor durante a relação sexual. Quando a uretra (o tubo que drena a urina da bexiga) também está infectada, outros sintomas podem incluir dor durante a micção ou necessidade frequente de urinar.

A infecção pode subir pelo trato reprodutivo e infectar o útero, os tubos que conectam os ovários ao útero (trompas de Falópio) e, às vezes, áreas ao redor dos ovários. Em algumas mulheres, a infecção se dissemina para o revestimento da pelve e da cavidade abdominal (peritônio) causando peritonite. O conjunto dessas infecções é denominado doença inflamatória pélvica (DIP) e ela causa dor abdominal inferior intensa e, às vezes, febre. Às vezes, a infecção se concentra na região ao redor do fígado, na parte superior direita do abdômen, causando dor, febre e vômito (um quadro clínico denominado síndrome de Fitz-Hugh-Curtis).

A gonorreia retal (proctite gonocócica) pode surgir após a prática de sexo anal sem proteção com um parceiro infectado. Essa infecção geralmente não causa sintomas, mas pode causar constipação, coceira, sangramento e secreção turva do reto. A área que rodeia o ânus fica vermelha e em carne viva, enquanto as fezes se cobrem de muco e pus. O médico examina o reto com uma sonda de visualização (anuscópio) para procurar por muco e pus na parede do reto.

O gonorreia na garganta (faringite gonocócica) pode surgir após a prática de sexo oral sem proteção com um parceiro infectado. Em geral, essa infecção não causa sintomas, mas a garganta pode ficar dolorida.

A gonorreia ocular (conjuntivite gonocócica) pode surgir se os líquidos infectados entrarem em contato com os olhos. Essa infecção causa inchaço das pálpebras e secreção de pus dos olhos. Nos adultos, muitas vezes afeta um só olho. Geralmente ambos os olhos estão infectados em recém-nascidos (consulte Conjuntivite no recém-nascido). Se a infecção não for tratada precocemente pode haver o desenvolvimento de cegueira.

A infecção gonocócica disseminada (também denominada síndrome artrite-dermatite ou gonorreia da pele e articulações) é uma complicação rara da gonorreia. Ela ocorre quando a infecção se dissemina pela corrente sanguínea para outras partes do corpo, especialmente para a pele e as articulações. As pessoas geralmente apresentam febre e sentem mal-estar geral. As articulações ficam doloridas, inchadas e sensíveis (artrite). A pele por cima das articulações infectadas pode ficar vermelha e quente. Podem surgir pequenas manchas vermelhas na pele (dermatite), geralmente nos braços e nas pernas. As manchas são ligeiramente dolorosas e podem estar preenchidas com pus. A infecção raramente se dissemina para o coração ou para o sistema nervoso e o cérebro.

A artrite séptica gonocócica é uma forma de infecção gonocócica disseminada que causa artrite dolorosa e acúmulo anormal de líquido nas articulações afetadas. Em geral, ela afeta uma ou duas articulações grandes, como os joelhos, tornozelos, pulsos ou cotovelos. Os sintomas costumam começar de forma repentina. As pessoas geralmente têm febre, dor articular intensa e limitação do movimento. A pele por cima das articulações infectadas pode ficar vermelha e quente.

Em crianças, a gonorreia é geralmente um sinal de abuso sexual. Nas meninas, a área genital (vulva) pode ficar irritada, vermelha e inchada e elas podem apresentar secreção pela vagina. Se a uretra estiver infectada, as crianças, principalmente os meninos, podem ter dor ao urinar.

Diagnóstico da gonorreia

  • Em geral, por meio de ensaio de amplificação de ácido nucleico (NAAT) de uma amostra de secreção coletada do colo do útero, vagina, pênis, garganta ou do reto, ou de uma amostra de urina

  • Às vezes, cultura de uma amostra da uretra, do colo do útero, do reto ou de uma articulação ou do sangue

Para diagnosticar gonorreia, os médicos coletam uma amostra da secreção e a enviam para um laboratório. Os ensaios NAAT são exames altamente sensíveis que conseguem detectar o material genético exclusivo, o DNA ou RNA, de gonococos e de clamídias (que também costumam estar presentes). Os laboratórios podem testar a presença de ambas as infecções em uma única amostra. Como o ensaio NAAT facilita a detecção dos organismos, é possível usar amostras de urina. Assim, esses ensaios NAAT são convenientes para fazer a triagem de pessoas sem sintomas ou que não querem que seja feita a coleta de amostras de suas áreas genitais.

Às vezes, amostras são enviadas para cultura. Uma cultura é o processo pelo qual é feita uma tentativa de cultivar micro-organismos tais como bactérias em laboratório até que haja uma quantidade suficiente para identificá-los.

No caso de homens, é possível que o médico consiga diagnosticar rapidamente a gonorreia ao examinar amostras da secreção do pênis e identificar as bactérias (gonococos) caso ele tenha acesso a uma unidade de saúde que conta com o equipamento adequado e pessoal treinado. Se a secreção for óbvia, o médico coleta uma amostra da ponta do pênis com um cotonete ou lâmina. Se não houver secreção óbvia, o médico insere um cotonete curto, de meia polegada ou mais, na uretra para coletar a amostra. Os homens não devem urinar por pelo menos duas horas antes da coleta da amostra.

No caso das mulheres, o médico faz um exame físico da pelve. Para detectar gonorreia, os médicos geralmente coletam uma amostra do colo do útero com um cotonete e a enviam para cultura ou ensaio NAAT. Mulheres que não podem se submeter a um exame pélvico podem fornecer uma amostra de urina ou usar um cotonete para coletar uma amostra da própria vagina.

Se o médico suspeitar que existe uma infecção na garganta ou no reto, esses locais serão avaliados por meio de cultura ou ensaio NAAT.

Se a pessoa tiver feridas na pele, o médico coleta sangue e amostras da uretra, do colo do útero e do reto e as enviam para serem avaliadas por cultura ou NAAT.

Se uma articulação estiver vermelha e inchada, os médicos coletam líquido da articulação usando uma agulha. O médico envia o líquido para cultura e outros exames (artrocentese).

Como a pessoa pode ter mais de uma IST, é possível que o médico colete amostras de sangue e fluidos genitais para investigar outras ISTs, tais como sífilis e infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV).

Exames preventivos para gonorreia

Algumas pessoas sem sintomas fazem exames preventivos para gonorreia por terem um risco maior para essa infecção.

Se os exames preventivos forem recomendados, eles são realizados mesmo que a pessoa use preservativos de forma consistente. O ensaio NAAT é feito em uma amostra de urina ou vaginal.

As mulheres fazem exames preventivos anualmente se forem sexualmente ativas e tiverem menos de 25 anos de idade ou se tiverem 25 anos de idade ou mais, forem sexualmente ativas e tiverem um ou mais dos seguintes fatores de risco:

  • IST anterior

  • Atividades sexuais de alto risco (por exemplo, ter muitos parceiros sexuais ou múltiplos parceiros sexuais, usar preservativos de forma inconsistente quando não estiver em um relacionamento mutuamente monogâmico ou praticar trabalho sexual)

  • Ter um parceiro sexual que tem uma IST ou tem outros parceiros sexuais

Gestantes com menos de 25 anos ou com 25 anos ou mais com um ou mais fatores de risco fazem exames preventivos durante a primeira consulta pré-natal e novamente durante o terceiro trimestre se o seu risco ainda for alto. Gestantes com gonorreia que foram tratadas devem ser testadas novamente no prazo de três meses.

Homens que fazem sexo com homens fazem exames preventivos com base nos critérios a seguir:

  • Se forem sexualmente ativos Pelo menos uma vez ao ano

  • Se tiverem um risco maior (por exemplo, aqueles com infecção por HIV, múltiplos parceiros sexuais, ou um parceiro que tenha vários parceiros): A cada três a seis meses

Pessoas transgênero e de gênero diverso fazem exames preventivos se forem sexualmente ativas e com base nas suas práticas sexuais e anatomia. Por exemplo, todas as pessoas com colo do útero com menos de 25 anos fazem exames preventivos anualmente. Se elas tiverem 25 anos de idade ou mais, pessoas com colo do útero devem fazer exames preventivos anualmente se o risco delas for maior. O ensaio NAAT é feito com uma amostra coletada do reto de pessoas transgênero e de gênero diverso com base nos comportamentos sexuais e na exposição informados.

Homens não incluídos nas categorias acima não fazem exames preventivos rotineiramente, mas esses exames preventivos estão disponíveis se a pessoa pedir para fazê-los e frequentemente eles são oferecidos a todos os homens que estão ou estiveram em um lugar onde a disseminação de gonorreia é alta (por exemplo, clínicas para adolescentes, clínicas de IST e presídios).

Tratamento da gonorreia

  • Um antibiótico

  • Exames e tratamento simultâneo de parceiros sexuais

Para pessoas com gonorreia, em geral, os médicos administram uma única injeção do antibiótico ceftriaxona no músculo. As gestantes são tratadas com o mesmo antibiótico. Antibióticos alternativos são administrados a pessoas alérgicas à ceftriaxona.

Se a gonorreia tiver se disseminado para a pele, articulações ou outras partes do corpo através da corrente sanguínea, a pessoa é geralmente tratada no hospital e recebe antibióticos por via intravenosa ou por injeção intramuscular. O líquido acumulado é drenado das articulações.

Se os sintomas retornarem ou não desaparecem depois do tratamento, é possível que o médico colete amostras para cultura para determinar se a pessoa está curada e pode fazer exames para determinar se os gonococos são resistentes aos antibióticos usados.

Se o médico acreditar que a pessoa tem tanto gonorreia como clamídia, a clamídia é tratada ao mesmo tempo, geralmente com o antibiótico ceftriaxona. Esse tratamento é necessário porque os sintomas das duas infecções são semelhantes e comumente as pessoas têm as duas infecções simultaneamente.

As pessoas com gonorreia devem se abster de atividade sexual até o tratamento estar concluído para evitar infectar os parceiros sexuais.

Parceiros sexuais

Todos os parceiros sexuais que tiveram contato sexual com pessoas infectadas nos últimos 60 dias devem ser testados quanto à presença de gonorreia e outras ISTs e, se os exames forem positivos, devem ser tratados. Se os parceiros sexuais foram expostos a gonorreia nas últimas duas semanas, eles são tratados sem esperar os resultados dos exames.

Tratamento imediato do parceiro ou parceira é uma opção que os médicos muitas vezes usam para facilitar o tratamento de parceiros sexuais. Essa abordagem envolve dar à pessoa com uma IST uma receita médica ou medicamentos para serem dados a seus parceiros sexuais. Assim, os parceiros sexuais são tratados, mesmo que ainda não tenham consultado um médico. Passar por uma consulta é melhor porque o médico pode verificar se a pessoa é alérgica a medicamentos e quanto à presença de outras ISTs. Contudo, se for improvável que os parceiros sexuais procurem um médico, o tratamento imediato do parceiro é útil.

Prevenção da gonorreia

As pessoas podem fazer o seguinte para ajudar a reduzir seu risco de ter gonorreia e outras ISTs:

  • Praticar sexo mais seguro, inclusive usar um preservativo toda vez que fizer sexo oral, anal ou genital.

  • Reduzir o número de parceiros sexuais e não ter parceiros sexuais de alto risco (pessoas com muitos parceiros sexuais ou que não praticam sexo seguro).

  • Praticar monogamia ou abstinência mútuas.

  • Receber vacinação (disponível para algumas ISTs).

  • Procurar receber diagnóstico e tratamento imediatos para prevenir a transmissão para outras pessoas.

  • Identificar contatos sexuais caso tenha uma IST para fins de aconselhamento e tratamento.

Mais informações

O seguinte recurso em inglês pode ser útil. Vale ressaltar que O Manual não é responsável pelo conteúdo deste recurso.

  1. Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC): Sobre a gonorreia

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