Diagnóstico de doença infecciosa

PorMaria T. Vazquez-Pertejo, MD, FACP, Wellington Regional Medical Center
Revisado/Corrigido: out 2022 | modificado dez 2022
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As doenças infecciosas são causadas por micro-organismos, tais como bactérias, vírus, fungos e parasitas.

Os médicos suspeitam de uma infecção com base nos sintomas, nos resultados de exames físicos e nos fatores de risco da pessoa. Primeiro, os médicos confirmam que a pessoa tem uma infecção em vez de outro tipo de doença. Por exemplo, uma pessoa com tosse e dificuldade de respirar pode ter pneumonia (infecção no pulmão). No entanto, a pessoa pode, em vez disso, ter asma ou insuficiência cardíaca, as quais não são causadas por infecção. Em uma pessoa assim, uma radiografia do tórax pode ajudar os médicos a distinguir a pneumonia de outras possíveis doenças.

Quando os médicos confirmarem que a pessoa apresenta uma infecção, eles geralmente precisam saber que micro-organismo específico está causando a infecção. Muitos micro-organismos diferentes podem causar uma determinada infecção. Por exemplo, a pneumonia pode ser causada por vírus, bactérias ou, raramente, fungos. O tratamento é diferente para cada micro-organismo.

Muitos tipos diferentes de testes de laboratório podem identificar micro-organismos. Os testes de laboratório usam uma amostra de sangue, urina, escarro ou outro fluido ou tecido do corpo. Essa amostra pode ser

  • Corada e examinada ao microscópio

  • Cultivada (colocada em condições que estimulem o crescimento de micro-organismos)

  • Testada para anticorpos (moléculas produzidas pelo sistema imunológico da pessoa em resposta ao micro-organismo)

  • Testada para antígenos do micro-organismo (moléculas do micro-organismo que desencadeiam uma resposta imunológica do corpo)

  • Testada para material genético (tal como DNA ou RNA) do micro-organismo

Nenhum teste único pode identificar cada micro-organismo e os testes que funcionam bem para um micro-organismo muitas vezes não funcionam bem para outro. Os médicos devem escolher o teste com base em que micro-organismos eles acham que são mais prováveis de causar uma doença.

Às vezes, são realizados vários testes diferentes, geralmente em uma ordem específica, com base nos resultados do teste anterior. Cada teste estreita ainda mais as possibilidades. Se não for realizado o teste certo, os médicos podem não identificar a causa da infecção.

Quando um micro-organismo é identificado, os médicos podem então fazer testes para determinar que medicamentos são mais eficazes contra ele (testes de suscetibilidade) e o tratamento eficaz pode ser iniciado mais cedo.

Amostras para exames

Uma amostra é obtida de uma área do corpo da pessoa com probabilidade de conter o micro-organismo suspeito de causar a infecção. As amostras podem incluir

  • Sangue

  • Escarro

  • Urina

  • Fezes

  • Tecido

  • Líquido cefalorraquidiano

  • Muco do nariz, garganta ou região genital

Algumas amostras enviadas para testes, tais como escarro, fezes e muco do nariz ou garganta, contêm normalmente muitos tipos de bactérias que não causam doença. Os médicos precisam distinguir entre essas bactérias e aquelas que poderiam causar a doença da pessoa.

Outros exemplos vêm de áreas que geralmente não contêm micro-organismos (são estéreis), tais como a urina, o sangue ou líquido cefalorraquidiano (o fluido que circunda o cérebro e a medula espinhal). Encontrar qualquer bactéria nessas amostras é anormal, desde que a área da qual a amostra foi coletada tenha sido primeiramente limpa com um antisséptico para evitar contaminação.

Coloração e exame usando um microscópio

Os médicos às vezes podem identificar um micro-organismo simplesmente ao olhá-lo ao microscópio.

A maioria das amostras é tratada com colorações. As colorações são tinturas especiais que colorem os micro-organismos, fazendo com que eles se destaquem do fundo. Alguns micro-organismos possuem um tamanho e formato distintos e cor com tintura que possibilita aos médicos reconhecê-los.

Porém, muitos micro-organismos são parecidos e não podem ser diferenciados usando o microscópio. Além disso, deve haver uma quantidade suficiente deles e eles precisam ser grandes o suficiente para serem vistos ao microscópio. Por exemplo, os vírus não podem ser identificados usando um microscópio porque são muito pequenos.

Para as bactérias, os médicos muitas vezes usam primeiro a coloração de Gram (um corante de cor violeta). As bactérias são classificadas da seguinte forma:

  • Gram-positivas (aparecem azuis porque retêm o corante violeta de Gram)

  • Gram-negativas (aparecem vermelhas porque não retêm o corante)

Às vezes, os médicos decidem quais antibióticos usar com base na bactéria ser Gram-positiva ou Gram-negativa. As bactérias Gram-positivas e Gram-negativas tendem a ser suscetíveis a diferentes grupos de antibióticos.

Além da coloração de Gram, podem ser usadas outras colorações dependendo dos micro-organismos que se acredita estarem presentes.

Cultura de micro-organismos

Muitas amostras contêm muito poucos micro-organismos para se ver ao microscópio ou para serem identificados usando outros testes. Assim, geralmente os médicos tentam cultivar os micro-organismos em laboratório (chamado cultura) até que haja quantidade suficiente para identificá-los.

A amostra é colocada em uma placa estéril ou em um tubo de teste que contém nutrientes específicos para incentivar o crescimento de micro-organismos. Utilizam-se diferentes nutrientes dependendo de qual micro-organismo os médicos suspeitam que esteja causando a infecção. Muitas vezes, os médicos adicionam substâncias à placa ou tubo de teste para parar o crescimento de micro-organismos que não causam a doença de que os médicos suspeitam.

Muitos micro-organismos, tais como as bactérias que causam infecções do trato urinário ou faringite estreptocócica, podem crescer facilmente em uma cultura. Algumas bactérias, tais como bactérias que causam sífilis, não podem ser desenvolvidas em cultura. Outras bactérias, tais como aquelas que causam tuberculose, e fungos podem ser desenvolvidos em cultura, mas levam semanas para crescer. Alguns vírus podem ser desenvolvidos em cultura, mas muitos não podem.

Após os micro-organismos serem cultivados, são feitos testes para identificá-los e para determinar sua suscetibilidade e sensibilidade a medicamentos antimicrobianos.

Teste de suscetibilidade e sensibilidade de um micro-organismo a medicamentos antimicrobianos

Embora os médicos saibam, em geral, que medicamentos antimicrobianos são eficazes contra diferentes micro-organismos, os micro-organismos estão constantemente desenvolvendo resistência a medicamentos que antes eram eficazes. Assim, os testes de suscetibilidade são realizados para determinar o quanto vários medicamentos antimicrobianos são eficazes contra o micro-organismo específico infectando a pessoa. Esses testes ajudam os médicos a determinar qual medicamento usar para uma infecção específica da pessoa (consulte Escolha de um antibiótico).

As culturas são muitas vezes usadas para testes de suscetibilidade. Depois que um micro-organismo tiver sido desenvolvido em uma cultura, os médicos adicionam medicamentos antimicrobianos diferentes para ver quais matam o micro-organismo. Eles também testam o quanto o micro-organismo é sensível a um medicamento, ou seja, se é necessária uma quantidade pequena ou grande de um medicamento para matar o micro-organismo (teste de sensibilidade). Se for necessária uma quantidade grande para matar o micro-organismo no laboratório, os médicos geralmente não usam o medicamento.

Às vezes, podem ser usados testes genéticos para detectar genes no micro-organismo que causam resistência a certos medicamentos antimicrobianos. Por exemplo, é possível identificar Staphylococcus aureus resistente a meticilina (SARM) por meio de testes para o gene mecA.

Como os testes de suscetibilidade são realizados no laboratório, os resultados nem sempre correspondem ao que acontece com o corpo da pessoa ao receber um medicamento. Os fatores relacionados à pessoa que recebe o medicamento podem influenciar a eficácia do medicamento (consulte também Considerações gerais sobre a resposta medicamentosa). Eles incluem os seguintes:

  • Como o sistema imunológico da pessoa está funcionando

  • A idade da pessoa

  • Se a pessoa tem outros distúrbios

  • Como o corpo da pessoa absorve e processa o medicamento

Testes que detectam anticorpos contra micro-organismos ou seus antígenos

Alguns micro-organismos, tais como bactérias que causam sífilis, não podem ser desenvolvidos em cultura. Para diagnosticar estas infecções, os médicos podem usar uma variedade de testes chamados testes imunológicos. Estes testes detectaram um dos seguintes:

  • Anticorpos, produzidos pelo sistema imunológico da pessoa em resposta ao micro-organismo

  • Os antígenos de um micro-organismo (as moléculas do organismo capazes de desencadear uma resposta imunológica no corpo)

Testes de anticorpos

Os testes de anticorpos são geralmente feitos em uma amostra de sangue da pessoa infectada, porque os anticorpos circulam no sangue. Eles também podem ser feitos em amostras de líquido cefalorraquidiano ou outros fluidos corporais.

Os anticorpos são substâncias produzidas pelo sistema imunológico da pessoa para ajudar a defender contra infecção. Eles são produzidos por certos tipos de glóbulos brancos do sangue quando estes encontram uma substância ou célula estranha. Geralmente leva-se dias para produzir o anticorpo.

Um anticorpo reconhece e visa a substância estranha específica (antígeno) que acionou sua produção; portanto, cada anticorpo é único, criado para um tipo específico (espécie) de micro-organismo. Se uma pessoa tiver anticorpos contra um micro-organismo em particular, isso significa que a pessoa foi exposta àquele micro-organismo e produziu uma resposta imunológica. Porém, como muitos anticorpos permanecem na corrente sanguínea muito depois de a infecção ser resolvida, encontrar anticorpos em um micro-organismo não significa necessariamente que a pessoa ainda está infectada. Os anticorpos podem perdurar após uma infecção anterior.

Os médicos podem fazer testes para vários anticorpos, dependendo das infecções que eles acham ser prováveis. Às vezes os médicos apenas testam se um anticorpo está presente ou não. Mas geralmente eles tentam determinar a quantidade de anticorpos que está presente. Eles determinam a quantidade de anticorpos ao diluir repetidamente a amostra pela metade até o teste não ser mais positivo para o anticorpo. Quanto mais diluições forem necessárias até que o teste seja negativo, mais anticorpos existem na amostra da pessoa infectada.

Como demora vários dias a semanas para o sistema imunológico produzir anticorpos em quantidade suficiente para serem detectados, o diagnóstico de uma infecção pode ser sofrer atraso. Os testes de anticorpos feitos logo depois que as pessoas adoecerem são muitas vezes negativos. Assim, os médicos podem obter uma amostra imediatamente e depois outra algumas semanas depois para ver se os níveis de anticorpos aumentaram. Se os níveis de um anticorpo estiverem baixos no primeiro teste após a pessoa ficar doente, encontrar um aumento nos níveis de anticorpos várias semanas depois sugere uma infecção ativa, atual ou recente (em vez de uma infecção anterior).

Você sabia que...

  • Encontrar anticorpos contra um micro-organismo no sangue de uma pessoa não significa, necessariamente, que a pessoa ainda está infectada porque os anticorpos podem perdurar de uma infecção prévia.

Testes para antígenos

Antígenos são substâncias capazes de desencadear uma resposta imunológica no corpo. Micro-organismos (e todas as células) têm antígenos na sua superfície e dentro deles. Cada tipo de micro-organismo tem antígenos diferentes e únicos. Assim, encontrar um desses antígenos significa a presença de um micro-organismo específico. Testes para antígenos detectam a presença de um micro-organismo diretamente, para que o médico possa diagnosticar uma infecção rapidamente, sem esperar que a pessoa produza anticorpos em resposta ao micro-organismo. Além disso, esses testes podem ser usados em pessoas cujos sistemas imunológicos não conseguem produzir muitos anticorpos, como pessoas que fizeram um transplante de medula óssea recentemente ou que têm AIDS.

Para realizar testes para antígenos, os médicos colhem uma amostra da pessoa e misturam com um anticorpo teste para o micro-organismo suspeitado. Havendo antígenos para aquele micro-organismo na amostra da pessoa, eles se fixam ao anticorpo-teste. Diferentes métodos podem ser usados para detectar a combinação antígeno-anticorpo. Mas, qualquer que seja o método usado, a presença do antígeno significa que o micro-organismo está presente e provavelmente é a causa da infecção.

Testes que detectam material genético em micro-organismos

Testes que detectam material genético de micro-organismos são chamados

  • Testes baseados em ácido nucleico

Se um micro-organismo for difícil de desenvolver em cultura ou de ser identificado por outros métodos, os médicos podem fazer testes para identificar pedaços do material genético do micro-organismo. Esse material genético consiste em ácidos nucleicos: ácido desoxirribonucleico (DNA) e/ou ácido ribonucleico (RNA). Partes do DNA e do RNA em cada organismo são exclusivas desse organismo. Assim, encontrar um pouco desse DNA ou RNA significa a presença de um micro-organismo específico.

A reação em cadeia de polimerase (polymerase chain reaction, PCR) é um exemplo deste tipo de teste. A técnica de PCR é usada para produzir muitas cópias de um gene de um micro-organismo, facilitando bastante a identificação do micro-organismo.

Cada teste genético é específico a apenas um micro-organismo específico. Ou seja, um teste genético para o vírus da hepatite C detecta apenas aquele vírus e nenhum outro. Portanto, esses testes são realizados somente quando um médico já suspeita de determinada doença.

A maioria dos testes baseados em ácido nucleico é projetada para identificar a presença de um micro-organismo (chamados testes qualitativos). Porém, para certas infecções, como HIV e hepatite C, os testes também podem medir a quantidade de material genético do micro-organismo que está presente (chamados testes quantitativos) e, dessa forma, determinam o quão grave é a infecção. Os testes quantitativos podem também ser usados para monitorar a eficiência do tratamento.

Os testes baseados em ácido nucleico podem às vezes ser usados para verificar os genes dos micro-organismos ou as mutações no gene que fazem o micro-organismo ser resistente a um medicamento. Porém, esses testes não são totalmente precisos porque nem todas as mutações de resistência são conhecidas. Assim, os testes não podem verificar todos os genes de resistência que possam estar presentes. Além disso, esses testes são caros, não amplamente disponíveis e disponíveis somente para alguns micro-organismos.

Outros testes usados para identificar micro-organismos

Testes que identificam certas características exclusivas do micro-organismo são, por vezes, chamados

  • Testes de identificação não baseados em ácido nucleico

Esses testes recebem este nome porque não se baseiam na identificação do material genético do micro-organismo, que consiste de ácidos nucleicos (DNA e RNA).

Por exemplo, testes podem ser feitos para identificar o seguinte:

  • As substâncias nas quais o micro-organismo consegue crescer ou nas quais cresce melhor quando é cultivado

  • Enzimas produzidas pelo micro-organismo (que ajuda o micro-organismo a infectar células ou a se espalhar mais rapidamente pelos tecidos)

  • Outras substâncias nos micro-organismos (como proteínas e ácidos graxos) que ajudam a identificá-lo

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