Transtornos de aprendizagem são considerados um tipo de transtorno neurodesenvolvimental. Distúrbios do neurodesenvolvimento são condições neurológicas que aparecem cedo na infância, geralmente antes da idade escolar. Esses transtornos prejudicam o desenvolvimento do funcionamento pessoal, social, acadêmico e/ou ocupacional e normalmente envolvem dificuldades de aquisição, manutenção ou aplicação de habilidades ou conjuntos de informações específicas. Os transtornos podem envolver distúrbios de atenção, memória, percepção, linguagem, solução de problemas ou interação social. Outros transtornos do desenvolvimento neurológico comuns incluem deficit de atenção/hiperatividade, distúrbios do espectro do autismo e deficiência intelectual.
Transtornos de aprendizagem específicos afetam a capacidade de
Portanto, esses transtornos envolvem problemas de leitura, matemática, ortografia, expressões escritas ou manuscritas, compreensão ou uso da linguagem verbal ou não verbal ( Transtornos de aprendizagem específicos comuns). A maioria dos transtornos de aprendizagem é complexa ou mista, com deficits em mais de um sistema.
Embora se desconheça o número de crianças com transtornos de aprendizagem, nos EUA, cerca de 5% da população em idade escolar recebe educação especial para esses transtornos de aprendizagem. Entre os afetados, os meninos superam as meninas em 5:1.
Os transtornos de aprendizagem podem ser congênitos ou adquiridos. Nenhuma causa única foi definida, mas supõe-se que deficits neurológicos estejam envolvidos, quer outras manifestações neurológicas estejam ou não presentes (além do transtorno de aprendizagem). As influências genéticas estão frequentemente envolvidas. Outras causas possíveis incluem
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Doenças maternas, ouuso de drogas tóxicas durante a gestação
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Complicação durante a gestação ou no trabalho de parto (p. ex., posição, toxemia, trabalho de parto prolongado, parto rápido)
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Problemas neonatais (p. ex., prematuridade, baixo peso ao nascimento, icterícia grave, asfixia perinatal, pós-maturidade, insuficiência respiratória)
Fatores potenciais pós-natais incluem exposição a toxinas ambientais (p. ex., o chumbo), infecções do sistema nervoso central, neoplasias e seus tratamentos, trauma, desnutrição e isolamento ou privação social grave.
Transtornos de aprendizagem específicos comuns
Transtorno |
Manifestação |
Dislexia (comprometimento da leitura) |
Problemas com a leitura |
Dislexia fonológica |
Problemas com análise do som e memória |
Dislexia superficial |
Problemas com o reconhecimento visual das formas e estruturas das palavras |
Disgrafia (comprometimento da expressão escrita) |
Problemas com compreensão, expressões escritas ou grafia |
Discalculia (comprometimento da matemática) |
Problemas com matemática e dificuldades para solucionar questões |
Ageometria (ageometresia) |
Problemas de raciocínio matemático |
Anarritmia |
Dificuldades na formação de conceitos básicos e inabilidade para adquirir aptidões de computação |
Afasia anômica (disnomia) |
Dificuldades para recordar palavras e solicitar informações da memória |
Sinais e sintomas
Crianças com transtornos de aprendizagem apresentam pelo menos uma inteligência média, embora estas dificuldades possam ocorrer naquelas com baixa função cognitiva.
Os sinais e sintomas dos transtornos de aprendizagem graves podem se manifestar em uma idade precoce, mas os transtornos de aprendizagem leves ou moderados só são reconhecidos na idade escolar, quando a criança se depara com o rigor acadêmico do aprendizado.
Deficiências acadêmicas
Podem apresentar dificuldades na alfabetização e aquisição de associações (p. ex., nomes das cores, classificação, contagem, nomes das letras). A compreensão da fala pode ser limitada, a linguagem é adquirida lentamente e o vocabulário pode ser pequeno. Crianças afetadas podem não entender o que leem, podem ter escrita desordenada, segurar o lápis de modo desajeitado, podem ter dificuldades em organizar ou iniciar tarefas ou repetir uma história ordenadamente, podem confundir símbolos matemáticos e fazer leitura errada de números.
Deficiências em funções executivas
Os distúrbios ou atrasos de linguagem, atenção e compreensão são prognósticos de problemas acadêmicos além da pré-escola. A memória pode ser deficiente, incluindo a memória próxima e remota, uso da memória (p. ex., na recitação) e recordação ou recuperação verbal.
Os problemas podem ocorrer na conceituação, abstração, generalização, raciocínio, organização e planejamento de informações para resolver problemas. Pessoas com problemas na função executiva muitas vezes têm dificuldade de organizar e concluir tarefas.
Podem ocorrer problemas de percepção visual e processamento auditivo, incluindo dificuldades na percepção espacial e orientação (p. ex., localização de objetos, memória espacial, conhecimento da posição e localização), memória e atenção visual, discriminação e análise de sons.
Problemas de comportamento
Algumas crianças com transtornos de aprendizagem têm dificuldade de seguir as convenções sociais (p. ex., revezar-se, aproximar-se muito do ouvinte, não entender piadas); essas dificuldades muitas vezes também são componentes dos distúrbios do espectro do autismo leves.
Outros sinais precoces são: atenção com curta duração, hiperatividade, problemas de motricidade fina (p. ex., desenhos ou cópias de má qualidade) e variabilidade no desempenho e comportamento durante todo o tempo.
Podem também ocorrer impulsividade, comportamentos sem metas definidas e hiperatividade, problemas de disciplina, agressividade, desistem ou evitam situações, timidez e medos excessivos. Como se pode observar, distúrbios de aprendizagem e de deficit de atenção/hiperatividade (DDAH) frequentemente ocorrem juntos.
Diagnóstico
Crianças com transtornos de aprendizagem são identificáveis quando se reconhece uma discrepância entre o seu potencial e o desempenho acadêmico. Para determinar as deficiências nas habilidades e processos cognitivos, são necessárias avaliações da fala, linguagem, cognitiva, educacional, médica e psicológica. Também são necessárias avaliações do comportamento social e emocional para planejar o tratamento e monitorar o progresso.
Avaliação
A avaliação cognitiva tipicamente inclui testes de inteligência verbal e não verbal e costuma ser feita por um psicologo educacional. Os testes psicoeducacionais podem ser úteis na descrição da maneira, preferida pela criança, de processar informações (de modo holístico, ou analítico, visual ou auditivo). Avaliações neuropsicológicas são particularmente úteis para crianças com lesão cerebral ou doenças, para mapear as áreas cerebrais que correspondem a fragilidade e tensões funcionais específicas. Avaliações da fala e linguagem estabelecem a integridade da compreensão e uso da linguagem, processamento fonológico e memória verbal, e também podem avaliar a linguagem (social) pragmática.
Avaliação educacional e do desempenho pelas observações dos professores quanto ao comportamento na sala de aula e desempenho acadêmico é essencial. As avaliações medem as habilidades no reconhecimento, compreensão, fluência e decodificação da palavra. Amostras da escrita devem se obtidas para avaliar a ortografia, sintaxe e fluência de ideias. Habilidades matemáticas devem ser avaliadas em termos de computação, conhecimento das operações, compreensão dos conceitos e interpretação dos "problemas do mundo".
Avaliação médica inclui um detalhado história familiar e da criança, exame físico, neurológico e do desenvolvimento neural, para buscar-se a base do distúrbio. As anormalidades físicas e sinais neurológicos, embora infrequentes, podem indicar causas médicas tratáveis. Problemas de coordenação motora podem indicar deficits neurológicos ou retardo do desenvolvimento neural. Os níveis de desenvolvimento são avaliados de acordo com critérios padronizados.
Avaliação psicológica identifica DDAH, distúrbios de conduta, ansiedade, depressão e reduzida autoestima, que estão frequentemente associados, e devem ser diferenciados das dificuldades de aprendizagem. Devem ser avaliados as atitudes na escola, a motivação, o relacionamento com os pares e a autoconfiança.
Critérios clínicos
O diagnóstico dos transtornos de aprendizagem é clínico e baseia-se nos critérios do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (DSM-5), e exige evidências de que pelo menos um dos seguintes esteve presente por ≥ 6 meses, apesar da intervenção direcionada:
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Leitura de palavras imprecisa, lenta e/ou que requer esforço
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Dificuldade para compreender o significado do material escrito
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Dificuldade de grafia
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Dificuldade para escrever (p. ex., vários erros gramaticais e de pontuação; ideias não expressas claramente)
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Dificuldade para dominar o sentido numérico (p. ex., compreender a magnitude relativa e relacionamento dos números; em crianças maiores, dificuldade de fazer cálculos simples)
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Dificuldade de raciocinar matematicamente (p. ex., usar conceitos matemáticos para resolver problemas)
As habilidades devem estar substancialmente abaixo do nível esperado para a idade da criança e também prejudicar significativamente o desempenho na escola ou nas atividades diárias.
Tratamento
O tratamento dos transtornos de aprendizagem focaliza a conduta educacional, mas também pode envolver terapia médica, comportamental e psicológica. Os programas de ensino com uma abordagem estratégica compensam os fármacos (ensinar a criança como aprender). Uma má combinação de métodos educativos aplicados à criança com transtornos de aprendizagem agrava o problema.
Algumas crianças necessitam de instruções especializadas em apenas uma área enquanto continuam a frequentar classes regulares. Outras crianças precisam de programas educacionais separados e intensos. As leis norte-americanas colocam estas crianças em salas de aulas de crianças sem estas dificuldades.
Os fármacos afetam minimamente as aquisições acadêmicas, inteligência e habilidades de aprendizagem, embora certos fármacos (p. ex., psicoestimulantes como o metilfenidato e várias preparações anfetamínicas) possam melhorar a atenção e a concentração, permitindo que a criança possa responder mais eficientemente às instruções.
Muitos remédios populares e terapias não foram comprovados (p. ex., eliminar temperos alimentares, uso de antioxidantes ou megadoses de vitaminas, estimulação sensorial e movimentação passiva, terapia sensorial integrada, mediante exercícios posturais, treinamento do nervo auditivo e treinamento optométrico para melhorar a percepção visual e processos de coordenação sensoriomotor).