Colangite esclerosante primária (CEP)

PorYedidya Saiman, MD, PhD, Lewis Katz School of Medicine, Temple University
Revisado/Corrigido: ago 2023
Visão Educação para o paciente

A colangite esclerosante primária consiste em uma inflamação irregular, com fibrose e estreitamentos do ducto biliar, que não tem uma causa conhecida. Entretanto, 80% dos pacientes com CEP também têm doença inflamatória intestinal, mais frequentemente colite ulcerativa. Outras condições associadas incluem doenças do tecido conjuntivo, causas autoimunes e síndromes de deficiência imunitária, eventualmente complicadas por infecções oportunistas. Fadiga e prurido se desenvolvem de forma insidiosa e progressiva. O diagnóstico é por colangiografia [colangiopancreatografia por ressonância magnética (CPRM)] ou colangiopancreatografia endoscópica retrógrada (CPRE)]. O transplante está indicado na doença avançada.

(Ver também Visão geral da função biliar.)

A CEP é a forma mais comum de colangite esclerosante. A maioria (70%) dos pacientes com CEP é composta por homens. A idade média no momento do diagnóstico é 40 anos.

Etiologia da colangite esclerosante primária

Embora a causa seja desconhecida, a colangite esclerosante primária (CEP) está muito associada a doença inflamatória intestinal (que ocorre em 70% dos pacientes) (1). Cerca de 5% dos pacientes com colite ulcerativa e 1% dos portadores de doença de Crohn desenvolvem a colangite esclerosante primária. Essa associação e a presença de vários autoanticorpos [p. ex., anticorpos antinucleares (ANA) e anticorpos antineutrófilos perinuclears (p-ANCA)] sugerem mecanismos imunomediados. Linfócitos T parecem estar envolvidos com a destruição dos canais biliares, sugerindo a presença de uma imunidade celular desordenada. A predisposição genética pode ser sugerida pela tendência de a doença se desenvolver em vários membros da família e ter maior incidência naqueles com HLAB8 e HLADR3, que muitas vezes são correlacionados com doenças autoimunes. Um gatilho desconhecido (p. ex., infecção bacteriana, lesão do ducto isquêmico) pode, presumivelmente, precipitar o desenvolvimento de CEP em pessoas geneticamente predispostas.

Referência sobre etiologia

  1. 1. Bowlus CL, Arrivé L, Bergquist A, et al: AASLD practice guidance on primary sclerosing cholangitis and cholangiocarcinoma. Hepatology 77(2):659-702, 2023. doi: 10.1002/hep.32771

Sinais e sintomas da colangite esclerosante primária

O aparecimento é, geralmente, insidioso e progressivo, com fadiga e prurido. Até 40% dos pacientes podem apresentar sintomas como dor abdominal, prurido, diarreia, fadiga por icterícia e febre (1). Pode haver desenvolvimento de esteatorreia e deficiência de vitaminas lipossolúveis. Icterícia persistente sugere doença avançada. Cálculos biliares sintomáticos e coledocolitíase tendem a se desenvolver em cerca de 75% dos pacientes (1).

Alguns destes são assintomáticos até tardiamente na evolução da história natural da doença, apresentando então hepatosplenomegalia ou cirrose. A colangite esclerosante primária (CEP) tende a progredir de forma lenta e inexorável. A fase terminal envolve cirrose em fase descompensada com hipertensão portal, ascite e insuficiência hepática.

Apesar da associação entre CEP e doença inflamatória intestinal, as duas doenças tendem a traçar caminhos distintos. Colite ulcerativa pode aparecer anos antes da CEP e tende a ter um curso mais insidioso quando associada à CEP. Do mesmo modo, colectomia total não muda o curso da CEP.

A presença tanto de CEP como de doença inflamatória intestinal aumenta o risco de carcinoma colorretal, independentemente do fato de o paciente ter sido submetido ou não a transplante de fígado para CEP. A colangiocarcinoma se desenvolve em 10 a 15% dos pacientes (2).

Referência sobre sinais e sintomas

  1. 1. Kaplan GG, Laupland KB, Butzner D, et al: The burden of large and small duct primary sclerosing cholangitis in adults and children: a population-based analysis. Am J Gastroenterol 102(5):1042-1049, 2007. doi: 10.1111/j.1572-0241.2007.01103.x

  2. 2. Tabibian JH, Ali AH, Lindor KD: Primary sclerosing cholangitis, part 2: Cancer risk, prevention, and surveillance. Gastroenterol Hepatol (NY). 14(7):427-432, 2018. PMID: 30166959

Diagnóstico da colangite esclerosante primária

  • Colangiografia por ressonância magnética

A colangite esclerosante primária deve ser a suspeita em pacientes com anormalidades inexplicáveis nos testes hepáticos; se o paciente tiver doença inflamatória intestinal, a suspeita é ainda mais elevada. Um padrão colestático nos exames bioquímicos do fígado é típico, com fosfatase alcalina e gama-glutamiltransferase geralmente mais elevadas do que as aminotransferases. Níveis de gamaglobulina e de IgM tendem a aumentar. Anticorpos antinucleares e pANCA geralmente são positivos. Anticorpo antimitocondrial, positivo na colangite biliar primária, é caracteristicamente negativo.

Exploração do sistema hepatobiliar por imagens geralmente começa com ultrassonografia, para excluir obstrução extra-hepática. O diagnóstico da CEP exige colangiografia para a demonstração de múltiplas estenoses e dilatações envolvendo os canais biliares intra e extra-hepáticos (ultrassonografia só poderá sugerir tais danos). Colangiografia deve começar com colangiopancreatografia por ressonância magnética (CPRM). A colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPER) geralmente é uma 2ª escolha porque é invasiva. Biópsia hepática normalmente não é necessária para o diagnóstico. Quando realizada por qualquer outra razão, revela proliferação ductal, fibrose periductal, inflamação e perda ou desaparecimento de ductos biliares. À medida que a doença progride, a fibrose estende a partir dos espaços-porta e, por fim, leva à cirrose biliar.

Adultos com CEP, mesmo na ausência de cirrose, devem ser submetidos a exames de imagem do abdome (ultrassom, TC abdominal ou ressonância magnética/colangiopancreatografia por RM) a cada 6 a 12 meses para rastreamento à procura de câncer da vesícula biliar e colangiocarcinoma. Deve-se monitorar regularmente os níveis séricos do antígeno carboidrato (CA) 19-9 (1)

Colonoscopia com biópsia deve ser realizada em pacientes sem doença inflamatória intestinal (DII) preexistente no momento do diagnóstico da CEP e deve ser realizada anualmente em pacientes com CEP e DII a partir do momento do diagnóstico da CEP devido ao aumento do risco de adenocarcinoma colorretal.

Referência sobre diagnóstico

  1. 1. Bowlus CL, Lim JK, Lindor KD: AGA Clinical practice update on surveillance for hepatobiliary cancers in patients with primary sclerosing cholangitis: Expert review. Clin Gastroenterol Hepatol 17(12):2416-2422, 2019. doi: 10.1016/j.cgh.2019.07.011

Tratamento da colangite esclerosante primária

  • Cuidados de suporte

  • Colangiopancreatografia endoscópica retrógrada (CPER) para dilatação das obstruções grandes (dominantes)

  • Transplante para colangite bacteriana recorrente ou complicações de insuficiência hepática

Pacientes assintomáticos geralmente requerem apenas monitoramento (p. ex., exame físico e testes de função hepática duas vezes/ano) e, em adultos, exames periódicos de imagem e medição do CA 19-9 para rastreamento de câncer de vesícula biliar e colangiocarcinoma. O ácido ursodesoxicólico (até 20 mg/kg/dia) reduz o prurido e melhora os marcadores bioquímicos, mas não a sobrevida. Colestase e cirrose crônicas requerem tratamento de suporte. Colangite bacteriana recorrente é tratada com antibióticos e colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPER) conforme necessário (1). Se uma única estenose parece ser a principal causa de obstrução (uma estenose dominante, encontrada em cerca de 45% dos pacientes) (2), a dilatação por CPRE [com citologia em escova e hibridização fluorescente in situ (FISH) para rastrear colangiocarcinoma] e o implante de stent podem aliviar os sintomas.

O transplante de fígado é o único tratamento que melhora a expectativa de vida em pacientes com colangite esclerosante primária e que oferece uma cura. Colangites bacterianas recorrentes, complicações da doença hepática em fase terminal (p.ex., como ascite intratável, encefalopatia portossistêmica ou sangramento por varizes esofágicas), ou colangiocarcinoma (em pacientes apropriadamente selecionados) são indicações para transplante hepático.

Referências sobre o tratamento

  1. 1. Aabakken L, Karlsen TH, Albert J, et al: Role of endoscopy in primary sclerosing cholangitis: European Society of Gastrointestinal Endoscopy (ESGE) and European Association for the Study of the Liver (EASL) Clinical Guideline. Endoscopy 49(6):588-608, 2017. doi: 10.1055/s-0043-107029

  2. 2. Bowlus CL, Arrivé L, Bergquist A, et al: AASLD practice guidance on primary sclerosing cholangitis and cholangiocarcinoma. Hepatology 77(2):659-702, 2023. doi: 10.1002/hep.32771

Pontos-chave

  • A maioria dos pacientes (80%) tem DII, normalmente retocolite ulcerativa, e muitos têm autoanticorpos.

  • Suspeitar de CEP se os pacientes, particularmente aqueles com doença inflamatória intestinal, têm um padrão colestático inexplicável de anormalidades nos testes hepáticos.

  • Excluir obstrução biliar extra-hepática por ultrassonografia, então fazer CPRM (ou, como uma segunda opção, colangiopancreatografia retrógrada endoscópica [CPRE]).

  • Monitorar os pacientes com testes de função hepática periódicos, testar regularmente para câncer da vesícula biliar e tratar os sintomas e as complicações (p. ex., CPRE para avaliar e tratar estenoses dominantes).

  • Considerar transplante de fígado para colangite ou complicações recorrentes do desenvolvimento de insuficiência hepática.

quizzes_lightbulb_red
Test your KnowledgeTake a Quiz!
Baixe o aplicativo  do Manual MSD!ANDROID iOS
Baixe o aplicativo  do Manual MSD!ANDROID iOS
Baixe o aplicativo  do Manual MSD!ANDROID iOS