Transtorno de escoriação (dermatotilexomania)

PorKatharine Anne Phillips, MD, Weill Cornell Medical College;
Dan J. Stein, MD, PhD, University of Cape Town
Revisado/Corrigido: jun 2023
Visão Educação para o paciente

Dermatotilexomania é caracterizada por escoriações recorrentes da pele, resultando em lesões cutâneas.

Pacientes com transtorno de escoriação friccionam ou arranham repetidamente a pele; a escoriação não é desencadeada por preocupações com a aparência ou saúde (p. ex., para remover uma lesão que eles percebem como pouco atraente ou possivelmente cancerígena). Alguns pacientes causam escoriações na pele saudável; outros em lesões menores como calos, espinhas ou crostas.

Alguns pacientes causam escoriações na pele quase que automaticamente (isto é, sem plena consciência); outros estão mais conscientes da atividade. As escoriações não são desencadeadas por obsessões ou preocupações com a aparência (que pode ser um sintoma do transtorno dismórfico corporal). Contudo, a escoriação da pele pode ser precedida por uma sensação de tensão ou ansiedade que é aliviada ao escoriar a pele, o que muitas vezes também é acompanhado por uma sensação de gratificação.

Escoriar a pele geralmente começa na adolescência, embora possa iniciar em várias idades. Em um determinado ponto no tempo, cerca de 3% das pessoas têm o transtorno. Cerca de 75% delas são mulheres (1).

Referência geral

  1. 1. Farhat LC, Reid M, Bloch MH, et al: Prevalence and gender distribution of excoriation (skin-picking) disorder: A systematic review and meta-analysis. J Psychiatr Res161:412-418, 2023. doi: 10.1016/j.jpsychires.2023.03.034.

Sinais e sintomas do transtorno de escoriação

A escoriação da pele geralmente é crônica, com oscilações dos sintomas se não tratada. Os locais de escoriação da pele podem mudar com o tempo. Os padrões da escoriação da pele variam de um paciente para outro. Alguns têm múltiplas áreas de cicatrização; outros se concentram apenas em algumas lesões. Muitos pacientes tentam camuflar as lesões cutâneas com roupas ou maquiagem.

A escoriação da pele pode ser acompanhada por uma série de comportamentos ou rituais. Os pacientes podem procurar meticulosamente um determinado tipo de crosta para arrancar; eles podem tentar assegurar que a crosta é arrancada de uma forma específica (utilizando os dedos ou um instrumento) e podem morder ou engolir a crosta depois de ter sido arrancada.

Os pacientes com dermatilomania tentam repetidamente interromper ou diminuir esse comportamento, mas não conseguem.

Os pacientes podem se sentir constrangidos ou envergonhados com a aparência dos locais de lesão da pele ou com sua inncapacidade de controlar esse comportamento. Como resultado, os pacientes podem evitar situações sociais nas quais outras pessoas possam ver suas lesões cutâneas; normalmente não arranham a pele na frente de outras pessoas, exceto, talvez, familiares. Os pacientes podem ter comprometimento de outras áreas de funcionamento (p. ex., profissional e/ou acadêmico), principalmente por evitarem situações de socialização.

Alguns pacientes podem arrancar a pele de outras pessoas. Muitos também têm outros comportamentos repetitivos com foco no corpo, como tricotilomania ou onicofagia.

Se grave, a dermatilomania pode deixar cicatrizes, infecções, causar sangramento importanto e até mesmo sepse.

Muitas pessoas com dermatilomania também apresentam outros transtornos de saúde mental, como transtorno obsessivo-compulsivo ou transtorno depressivo maior.

Diagnóstico do transtorno de escoriações

  • Critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição, Texto Revisado (DSM-5-TR)

Para corresponder aos critérios diagnósticos da dermatilomania, normalmente os pacientes precisam

  • Causar lesões cutâneas visíveis por escoriação da pele (embora alguns pacientes tentem camuflar as lesões com roupas ou maquiagem)

  • Fazer tentativas repetidas de diminuir ou interromper a escoriação da pele

  • Experimentar sofrimento intenso ou comprometimento da funcionalidade decorrente da atividade

O sofrimento pode conter sentimentos de constrangimento ou vergonha (p. ex., por causa da perda do autocontrole ou das consequências estéticas das lesões cutâneas).

Tratamento do transtorno de escoriações

  • Terapia cognitivo-comportamental (em geral, treinamento de reversão de hábitos)

  • Inibidores seletivos de recaptação de serotonina ou clomipramina

  • N-acetilcisteína ou memantina (moduladores de glutamato)

A terapia cognitivo-comportamental adaptada ao tratamento dos sintomas específicos da dermatilomania é a psicoterapia de escolha. O treinamento de reversão de hábitos, uma terapia predominantemente comportamental, foi mais bem estudada; consiste em:

  • Treinamento de conscientização (p. ex., automonitoramento, identificação dos gatilhos para o comportamento)

  • Controle de estímulos (modificar situações — por exemplo, evitar gatilhos — para reduzir a probabilidade de iniciar a escoriação da pele)

  • Treinamento de resposta alternativa (ensinar os pacientes a substituir a escoriação da pele por outros comportamentos, como cerrar os punhos, fazer tricô ou crochê, ou sentar sobre as próprias mãos)

ISRSs ou clomipramina podem ser úteis para transtornos de depressão ou ansiedade coexistentes, e poucas evidências sugerem que esses medicamentos também possam reduzir a dermatotilexomania (1, 2).

Os moduladores do glutamato N-acetilcisteína e memantina parecem ajudar a reduzir a gravidade dos sintomas, mas são necessários mais dados para corroborar a eficácia e segurança a longo prazo dessas abordagens. Em pequenos estudos randomizados, N-acetilcisteína e memantina resultaram em redução dos sintomas da dermatilomania em comparação com placebo (3, 4).

Referências sobre o tratamento

  1. 1. Simeon D, Stein DJ, Gross S, et al : A double-blind trial of fluoxetine in pathologic skin picking. J Clin Psychiatry 58(8):341-347, 1997. doi: 10.4088/jcp.v58n0802

  2. 2. Bloch MR, Elliott M, Thompson H, et al: Fluoxetine in pathologic skin-picking: open-label and double-blind results. Psychosomatics 42(4):314-319, 2001. doi: 10.1176/appi.psy.42.4.314

  3. 3. Grant JE, Chamberlain SR, Redden SA, et al: N-Acetylcysteine in the treatment of excoriation disorder: A randomized clinical trial. JAMA Psychiatry 73(5):490-496, 2016. doi: 10.1001/jamapsychiatry.2016.0060

  4. 4. Grant JE, Chesivoir E, Valle S, et al: Double-blind placebo-controlled study of memantine in trichotillomania and skin-picking disorder.  Am J Psychiatry 180(5):348-356, 2023. doi: 10.1176/appi.ajp.20220737

Pontos-chave

  • Na dermatilomania, o hábito de escoriar a pele não é desencadeado por obsessões ou preocupações com a aparência, mas pode ser precedido por uma sensação de tensão ou ansiedade que é aliviada pelo escoriamento, o que costuma ser seguido de sensação de gratificação.

  • Pacientes com dermatilomania tentam parar ou diminuir esse comportamento, mas não conseguem.

  • A dermatilomania causa lesões visíveis na pele.

  • Tratar com terapia cognitivo-comportamental adaptada ao tratamento dos sintomas específicos de escoriações (incluindo treinamento para reversão de hábitos) e/ou um ISRS, clomipramina, N-acetilcisteína ou memantina.

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