Anemias sideroblásticas

PorGloria F. Gerber, MD, Johns Hopkins School of Medicine, Division of Hematology
Revisado/Corrigido: jun 2023
Visão Educação para o paciente

As anemias sideroblásticas são um grupo diverso de anemias caracterizadas pela presença de níveis séricos aumentados de ferro, ferritina e saturação de transferrina, bem como sideroblastos em anel (eritroblastos com mitocôndrias perinucleares com ingurgitamento de ferro). Os sintomas são aqueles da anemia e incluem fadiga e letargia. O diagnóstico é com hemograma completo, contagem de reticulócitos e esfregaço de sangue periférico, bem como análises do ferro e exame da medula óssea. O tratamento requer interrupção das substâncias causadoras e administração de suplementos vitamínicos e eritropoetina.

(Ver também Visão geral da diminuição da eritropoiese.)

Anemias sideroblásticas podem ser

  • Adquirida

  • Congênito

A anemia sideroblástica adquirida é frequentemente associada a a síndrome mielodisplásica (mas pode ser causada por medicamentos ou toxinas) e causa anemia normocítica ou macrocítica.

A anemia sideroblástica congênita é causada por uma das inúmeras mutações autossômicas ou ligadas ao X e geralmente é uma anemia microcítica-hipocrômica mas pode ser normocítica.

Anemias sideroblásticas são anemias por utilização de ferro, que são caracterizadas por utilização mitocondrial inadequada de ferro devido à síntese prejudicada do heme, apesar da presença de quantidades adequadas ou aumentadas de ferro. Algumas vezes, as anemias sideroblásticas se caracterizam pela policromatofilia (indicativa de maior quantidade de reticulócitos) e por eritrócitos pontilhados (siderócitos) contendo grânulos carregados de ferro (corpos de Pappenheimer).

Tanto na anemia sideroblástica adquirida como na congênita, a síntese do heme é prejudicada pela incapacidade de incorporar ferro à protoporfirina IX, levando à formação de sideroblastos em anel.

Anemia sideroblástica adquirida

Mais frequentemente, as anemias sideroblásticas adquiridas são parte de

Mutações somáticas nos genes envolvidos no splicing de RNA, com mais frequência SF3B1 (splicing factor 3b subunit 1), ocorrem comumente. Anemia sideroblástica adquirida ocorre na idade adulta.

As causas menos comuns incluem

  • Deficiência de vitamina B6 (piridoxina) ou cobre (possivelmente causada pela ingestão de zinco, o que impede a absorção de cobre pelo trato gastrointestinal)

  • Fármacos (p. ex., cloranfenicol, ciclosserina, isoniazida, linezolida e pirazinamida)

  • Toxinas (como etanol e chumbo)

Ocorrem produção deficiente de reticulócito, morte intramedular dos eritrócitos e hiperplasia (e displasia) eritroide na medula óssea. Embora haja hipocromia eritrocitária, outros eritrócitos podem ser grandes, gerando índices normocíticos ou macrocíticos; caso aconteça, a variação de tamanho dos eritrócitos (dimorfismo) geralmente causa aumento da amplitude de distribuição do diâmetro dos eritrócitos.

Anemia sideroblástica congênita

As formas hereditárias da anemia sideroblástica são menos comuns do que aquelas adquiridas e geralmente ocorrem na infância. A anemia sideroblástica congênita mais comum é uma forma ligada ao X causada por mutações germinativas no ALAS2 (5'-aminolevulinato sintase 2), um gene envolvido na biossíntese do heme. A vitamina B6 (piridoxina) é um cofator essencial para a enzima produzida pelo ALAS2, portanto os pacientes podem responder aos suplementos de piridoxina.

Foram identificadas inúmeras outras formas ligadas ao cromossomo X, autossômicas e mitocondriais com mutações nos genes envolvidos na síntese do heme ou outras vias enzimáticas mitocondriais (1).

Os eritrócitos geralmente são microcíticos e hipocrômicos, mas isso nem sempre é o caso.

Referência geral

  1. 1. Ducamp S, Fleming MD: The molecular genetics of sideroblastic anemia. Blood 133:59–69, 2019. doi: 10.1182/blood-2018-08-815951

Diagnóstico das anemias sideroblásticas

  • Hemograma completo, contagem de reticulócitos e esfregaço sanguíneo periférico

  • Dosagem de ferro (ferro, ferritina e saturação de transferrina séricos)

  • Exame da medula óssea

  • Teste genético para mutação hereditária ou adquirida suspeita

Suspeita-se de anemia sideroblástica em pacientes com anemia microcítica ou anemia com RDW alto, em particular com aumento de ferro sérico, ferritina sérica e saturação de transferrina (ver Anemia por deficiência de ferro).

O esfregaço periférico mostra o dimorfismo dos eritrócitos. Os eritrócitos podem aparecer pontilhados.

É necessário o exame da medula óssea, que revela hiperplasia eritroide. A coloração para ferro revela acúmulo patognomônico de ferro nas mitocôndrias perinucleares dos eritroblastos (sideroblastos em anel). Pode haver outras características da síndrome mielodisplásica, comoas citopenias e a displasia.

O chumbo sérico é medido se a anemia sideroblástica tiver causa desconhecida.

Tratamento das anemias sideroblásticas

  • Suspender as substâncias que causam o quadro

  • Suplementos vitamínicos ou minerais

  • Eritropoietina recombinante (EPO)

A eliminação de uma toxina ou alguma substância (especialmente ingestão de álcool ou zinco) ou suplementos de minerais/vitaminas (cobre ou piridoxina) podem levar à recuperação.

A anemia sideroblástica ligada ao X pode responder a 50 mg de piridoxina por via oral 3 vezes ao dia, mas geralmente de forma incompleta.

Os casos adquiridos frequentemente respondem a altas doses de EPO recombinante e tratamento padrão para a síndrome mielodisplásica de baixo risco. Pode-se tratar os casos refratários à suplementação de EPO com luspatercepte, que promove a diferenciação dos precursores de eritrócitos (1).

Tratar a sobrecarga de ferro com quelação ou flebotomia conforme tolerado ajuda a prevenir danos nos órgãos terminais. O tratamento da anemia grave é de suporte com transfusões. Em pacientes jovens com casos congênitos dependentes de transfusão, deve-se considerar o transplante alogênico de medula óssea.

Referência sobre o tratamento

  1. 1. Fenaux P, Platzbecker U, Mufti GJ, et al:Luspatercept in patients with lower-risk myelodysplastic syndromes. N Engl J Med 382(2): 140–151, 2020.  doi: 10.1056/NEJMoa1908892

Pontos-chave

  • As anemias sideroblásticas pode ser adquiridas ou congênitas.

  • Sideroblastos em anel na biópsia da medula óssea são patognomônicos.

  • A anemia geralmente é microcítica na anemia sideroblástica congênita e macrocítica na anemia sideroblástica adquirida.

  • Os níveis séricos de ferro, ferritina e transferrina encontram-se tipicamente aumentados.

  • Tratar a doença subjacente e considerar piridoxina nos casos congênitos ou eritropoietina recombinante nos casos adquiridos.

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