Considerações gerais sobre defeitos cardíacos

PorLee B. Beerman, MD, Children's Hospital of Pittsburgh of the University of Pittsburgh School of Medicine
Revisado/Corrigido: abr 2023
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Cerca de um em cada 100 bebês nasce com um defeito no coração. Alguns são graves, mas muitos não são. Esses defeitos podem envolver formação anômala das paredes ou válvulas do coração ou nos vasos sanguíneos que entram ou saem do coração.

  • Os sintomas de defeitos congênitos do coração variam com a idade. Os bebês podem ter dificuldade para respirar ou ter respiração rápida, se alimentarem inadequadamente, apresentarem sudorese ou aumento da frequência respiratória durante a alimentação, descoloração azulada (cianose) dos lábios ou da pele, irritabilidade incomum ou dificuldade para ganhar peso. As crianças pequenas podem se cansar facilmente durante a atividade ou apresentar um batimento cardíaco acelerado. Crianças mais velhas e adolescentes podem ter tolerância à atividade diminuída, dor no peito durante a atividade, percepção dos batimentos cardíacos (palpitações), tontura ou desmaios.

  • Durante o exame, o médico pode notar cor da pele anormal, pulsações anormais do lado esquerdo do peito, sopro cardíaco ou outros sons anormais, batimento cardíaco acelerado, respiração rápida ou difícil, pulso fraco e/ou fígado grande.

  • Um ecocardiograma (ultrassom do coração) ajuda a identificar quase todos os defeitos cardíacos.

  • O tratamento inclui cirurgia cardíaca a céu aberto para defeitos graves, uso de um cateter com um balão na ponta para abrir ou alargar válvulas ou vasos sanguíneos, utilização de um dispositivo implantado por meio de um cateter para fechar determinados tipos de orifícios ou vasos sanguíneos adicionais, ou medicamentos.

O defeito congênito do coração mais comum é uma válvula aórtica bicúspide. A válvula aórtica é a válvula que se abre com cada batimento cardíaco para permitir a passagem de sangue do coração para o corpo. Uma válvula aórtica normal tem três cúspides ou folhetos. Quando a válvula é bicúspide, ela tem apenas duas cúspides em vez de três. Uma válvula aórtica bicúspide geralmente não causa problemas no bebê ou na criança e pode não ser diagnosticada até que a pessoa se torne adulta. Os defeitos cardíacos mais comuns diagnosticados em bebês e crianças são defeitos do septo atrial e ventricular (orifícios entre as câmaras do coração).

Você sabia que...

  • Cerca de um em cada 100 bebês nasce com um defeito no coração.

Anatomia do coração

O coração é dividido em dois lados (direito e esquerdo) e cada lado é dividido em duas câmaras (um átrio e um ventrículo). Os átrios e ventrículos de ambos os lados são separados entre si por válvulas.

No lado direito do coração:

  • O sangue entra pela veia cava (a maior veia do corpo) e flui para o átrio direito

  • Em seguida, o sangue flui através da válvula tricúspide para o ventrículo direito

  • Em seguida, o sangue flui saindo do coração através da válvula pulmonar e segue para a artéria pulmonar

  • A artéria pulmonar envia o sangue para os pulmões (onde o sangue coleta oxigênio e elimina dióxido de carbono)

No lado esquerdo do coração:

  • O sangue rico em oxigênio entra pela veia pulmonar e flui para o átrio esquerdo

  • Em seguida, o sangue flui através da válvula mitral para o ventrículo esquerdo

  • Em seguida, o sangue flui saindo do coração através da válvula aórtica e segue para a aorta (a maior artéria do corpo)

  • O sangue circula pelo corpo, primeiro pelas artérias, depois pelas veias e, depois, pela veia cava (e de volta ao coração)

(Consulte também Uma visualização do coração e Considerações gerais sobre o coração e os vasos sanguíneos.)

Circulação fetal normal

O fluxo sanguíneo é diferente no feto em comparação a crianças e adultos.

Tanto em crianças como em adultos, todo o sangue que retorna do corpo para o coração (o sangue de coloração azulada que vem das veias, com baixo teor de oxigênio) passa pelo átrio direito e, depois, através do ventrículo direito chegando à artéria pulmonar, e de lá entra nos pulmões. Nos pulmões, o sangue coleta oxigênio dos sacos de ar (alvéolos) dos pulmões e também libera dióxido de carbono (consulte Trocas de oxigênio e dióxido de carbono). Esse sangue, que é rico em oxigênio e tem uma coloração vermelha, retorna então dos pulmões para o átrio esquerdo e para o ventrículo esquerdo e de lá é bombeado para o corpo através de uma artéria grande chamada aorta e, depois, através de artérias menores.

No feto, as vias pelas quais o sangue circula pelo coração e pelos pulmões são diferentes. Como o feto está dentro do útero, ele não é exposto ao ar e seus pulmões estão colapsados e preenchidos com líquido amniótico (o líquido dentro do útero durante a gestação). Como o feto não respira ar enquanto está no útero, o sangue do feto recebe oxigênio através da placenta. O sangue rico em oxigênio da mãe flui pelos vasos sanguíneos do útero. O sangue da mãe não flui diretamente para o feto. Somente o oxigênio no sangue da mãe é transferido para o sangue fetal na placenta, que, em seguida, retorna ao feto através dos vasos sanguíneos umbilicais (no cordão umbilical).

Antes do nascimento, grande parte do sangue nas veias (sangue venoso) que chega ao lado direito do coração se desvia dos pulmões não funcionantes e é transportado ao resto do corpo do feto através de dois atalhos (derivações). Esses atalhos são

  • O forame oval, um orifício entre as duas cavidades superiores do coração, o átrio direito e o átrio esquerdo

  • O duto arterioso, um vaso sanguíneo que conecta as duas artérias de grande porte que partem do coração, denominadas artéria pulmonar e a aorta

No feto, o sangue venoso que chega ao coração recebeu oxigênio da placenta. Esse sangue oxigenado pode ser transportado para o corpo através do forame oval e do duto arterioso, em grande parte se desviando dos pulmões não funcionantes. Esse padrão circulatório muda imediatamente após o nascimento. O líquido dentro dos pulmões do bebê é espremido durante o parto, enquanto ele está atravessando o canal vaginal. Assim que o recém-nascido respira pela primeira vez, os pulmões se enchem de ar e, com isso, ele começa a receber oxigênio. Depois que o cordão umbilical é cortado, a placenta (e, portanto, a circulação da mãe) deixa de estar conectada à circulação do recém-nascido e todo o oxigênio do recém-nascido passa a ser suprido pelos pulmões. Assim, o forame oval e o duto arterioso não são mais necessários e eles geralmente se fecham durante os primeiros dias ou primeiras semanas de vida, o que torna a circulação do recém-nascido igual à de um adulto. Às vezes, o forame oval não se fecha (um quadro clínico denominado forame oval patente); porém, ter um forame oval patente não costuma causar problemas de saúde.

A circulação normal em um feto

O fluxo sanguíneo através do coração em um feto difere do fluxo nas crianças e nos adultos. Nas crianças e nos adultos, o sangue coleta oxigênio nos pulmões. O feto não é exposto ao ar. Ele fica dentro do útero e seus pulmões estão colapsados e preenchidos com líquido amniótico. Como o feto não respira ar, o sangue do feto recebe oxigênio que passa dos vasos sanguíneos da mãe para a placenta. O sangue fetal rico em oxigênio na placenta passa pelos vasos sanguíneos umbilicais (no cordão umbilical) e entra no coração fetal. Somente uma pequena quantidade de sangue passa pelos pulmões. O resto do sangue se desvia dos pulmões fluindo através de dois atalhos (derivações):

  • O forame oval, um orifício entre os átrios direito e esquerdo

  • O duto arterioso, um vaso sanguíneo que conecta a artéria pulmonar com a aorta

Normalmente, esses dois atalhos se fecham logo após o nascimento.

Tipos de defeitos cardíacos

Abaixo estão maneiras pelas quais os defeitos cardíacos causam alterações no fluxo sanguíneo normal para os pulmões e o corpo:

  • Desviar o fluxo sanguíneo (o sangue flui através de aberturas que não fazem parte da circulação normal)

  • Redirecionar o fluxo de sangue (o sangue flui pelos vasos que estão dispostos de forma diferente da circulação normal)

  • Bloquear o fluxo sanguíneo, como ocorre quando uma válvula cardíaca ou um vaso sanguíneo são defeituosos

Derivação do fluxo sanguíneo

A derivação costuma ser classificada em

  • Direita-esquerda

  • Esquerda-direita

A derivação direita-esquerda envolve a mistura de sangue pobre em oxigênio do lado direito do coração com sangue rico em oxigênio do lado esquerdo do coração que é bombeado para os tecidos do corpo. Quanto mais sangue pobre em oxigênio (de coloração azul) circular para o corpo, mais azulado fica o corpo, especialmente os lábios, a língua, a pele e as unhas. Muitos defeitos cardíacos são caracterizados pela coloração azul da pele (cianose). A cianose indica que não há uma quantidade suficiente de sangue rico em oxigênio alcançando os tecidos onde ele é necessário. Muitos tipos diferentes de defeitos congênitos do coração podem causar uma derivação direita-esquerda e, consequentemente, cianose, mas um dos mais comuns é a tetralogia de Fallot.

A derivação esquerda-direita envolve a mistura do sangue rico em oxigênio, que é bombeado sob pressões elevadas saindo do lado esquerdo do coração e se misturando com sangue pobre em oxigênio que está sendo bombeado do lado direito do coração através da artéria pulmonar para os pulmões. A derivação esquerda-direita faz com que a circulação seja ineficiente e aumenta a quantidade de sangue fluindo até os pulmões, o que às vezes também causa hipertensão da artéria pulmonar. Com o passar do tempo, o fluxo elevado e a pressão alta podem danificar os vasos sanguíneos dos pulmões sobrecarregando os lados esquerdo e direito do coração, resultando no enfraquecimento dos músculos do coração e na perda da função (insuficiência cardíaca – consulte a figura Insuficiência cardíaca: problemas de bombeamento e enchimento). Exemplos de defeitos com derivação esquerda-direita são defeitos do septo ventricular, defeitos do septo atrial, duto arterioso patente e defeitos do septo atrioventricular.

Redirecionamento do fluxo sanguíneo

Na transposição das grandes artérias, as ligações normais da aorta e da artéria pulmonar com o coração estão invertidas. A aorta, o vaso sanguíneo que fornece sangue para o organismo, está conectada ao ventrículo direito em vez do ventrículo esquerdo, e a artéria pulmonar, que envia sangue para os pulmões, está conectada ao ventrículo esquerdo em vez do ventrículo direito. Assim, o sangue pobre em oxigênio circula pelo corpo e o sangue rico em oxigênio circula entre os pulmões e o coração e não chega ao resto do corpo. O resto do corpo não recebe oxigênio suficiente e ocorre uma cianose grave em minutos após o nascimento.

Bloqueio do fluxo sanguíneo

Os bloqueios podem ocorrer nas válvulas cardíacas ou nos vasos sanguíneos que saem do coração. O fluxo de sangue pode estar impedido de

  • Chegar aos pulmões devido a um estreitamento da válvula pulmonar (estenose da válvula pulmonar) ou estreitamento na própria artéria pulmonar (estenose da artéria pulmonar)

  • Passar através da aorta em direção ao corpo devido a um estreitamento da válvula aórtica (estenose da válvula aórtica) ou a um bloqueio na própria aorta (coarctação da aorta)

  • Chegar ao interior do coração devido a um estreitamento na válvula tricúspide (no lado direito do coração) ou na válvula mitral (no lado esquerdo do coração)

O bloqueio do fluxo sanguíneo pode dar origem à insuficiência cardíaca. A insuficiência cardíaca não significa que o coração parou de bater e não é a mesma coisa que um ataque cardíaco. A insuficiência cardíaca significa que o coração não consegue bombear o sangue normalmente. Como resultado, o sangue do lado esquerdo do coração pode voltar para os pulmões e o sangue do lado direito pode voltar para o corpo causando aumento do fígado ou inchaço das pernas. A insuficiência cardíaca também pode se desenvolver quando o bombeamento do coração é muito fraco (nos casos em que o bebê nasce com um músculo cardíaco debilitado, por exemplo).

Causas de defeitos cardíacos

Tanto fatores genéticos quanto ambientais contribuem para o desenvolvimento de defeitos congênitos do coração.

Fatores ambientais incluem certos distúrbios que a mãe tem ou desenvolve durante a gravidez e alguns medicamentos que ela tenha tomado. Distúrbios que podem aumentar o risco de um bebê ter um defeito congênito do coração incluem diabetes, rubéola e lúpus eritematoso sistêmico. Certos medicamentos, incluindo lítio, isotretinoína e medicamentos anticonvulsivantes, também aumentam o risco.

Fatores genéticos fortemente associados a defeitos congênitos do coração incluem certas anomalias cromossômicas, particularmente Síndrome de Down, trissomia do cromossomo 13, trissomia do cromossomo 18 e Síndrome de Turner. Outros distúrbios genéticos, como a síndrome de DiGeorge, síndrome de Marfan, síndrome de Williams e síndrome de Noonan podem causar defeitos congênitos afetando vários órgãos, incluindo o coração. Mulheres com mais de 35 anos de idade correm maior risco de ter um feto com anomalias cromossômicas. Mesmo sem uma anomalia cromossômica, a idade materna avançada parece ser um fator de risco em si para defeitos cardíacos congênitos. Pais com idade avançada também pode contribuir para defeitos congênitos do coração.

Quando uma família teve uma criança com um defeito no coração, o risco de um defeito cardíaco congênito ocorrer em uma gravidez subsequente depende do tipo de defeito cardíaco e se há uma anomalia cromossômica específica. Adultos que nasceram com um defeito no coração devem ser testados para verificar a presença de anomalias cromossômicas e conversar com um consultor genético para ajudar a determinar o risco de terem um filho ou filha com um defeito no coração.

Sintomas de defeitos cardíacos

Às vezes, os defeitos cardíacos causam poucos ou nenhum sintoma e não conseguem ser detectados mesmo durante um exame físico da criança. Alguns defeitos leves só causam sintomas mais tarde. Felizmente, os defeitos cardíacos mais graves em crianças podem ser detectados tomando por base os sintomas observados pelos pais e por anomalias observadas durante um exame médico.

Uma vez que a circulação normal de sangue rico em oxigênio é necessária para o crescimento, o desenvolvimento e a atividade normais, os bebês e as crianças com defeitos cardíacos podem não crescer ou ganhar peso normalmente. Elas podem ter dificuldade para se alimentar ou podem ficar rapidamente cansadas quando praticam atividade física.

Em casos mais graves, a criança pode sentir dificuldade para respirar ou a pele pode ficar azulada (cianose). É possível que crianças mais velhas com defeitos cardíacos não consigam acompanhar o ritmo dos colegas durante a prática de atividade física ou elas podem sentir falta de ar, desmaiar ou sentir dor no peito, sobretudo quando praticam exercícios físicos.

O fluxo sanguíneo anômalo no coração costuma causar um som anormal (sopro cardíaco) que pode ser ouvido com um estetoscópio. Em geral, o médico consegue ouvir sopros cardíacos graves com facilidade. Contudo, a grande maioria dos sopros cardíacos que ocorrem na infância não é causada por defeitos cardíacos e não é um sinal de problema. Sopros que não são causados por uma doença cardíaca costumam ser chamados sopros inocentes ou funcionais.

A insuficiência cardíaca faz com que o coração bata mais rapidamente, o que costuma causar um acúmulo de líquido nos pulmões ou no fígado. O acúmulo de líquido pode dificultar a respiração quando a pessoa se alimenta, causar uma respiração acelerada, grunhidos durante a respiração, sons crepitantes nos pulmões e um fígado com volume aumentado e inchaço nas pernas.

Alguns defeitos cardíacos (como um orifício no átrio) aumentam o risco de um coágulo de sangue se formar no lado direito do coração e passar pelo defeito, para o lado esquerdo do coração e depois para o corpo, onde ele pode bloquear uma artéria no cérebro, causando um AVC. Contudo, esse tipo de coágulo sanguíneo é raro na infância.

Você sabia que...

  • A grande maioria dos sopros cardíacos que ocorrem na infância não é causada por defeitos cardíacos e não representa um problema.

Síndrome de Eisenmenger

A síndrome de Eisenmenger ocorre quando uma grande derivação esquerda-direita que não é corrigida em idade precoce causa lesões irreversíveis nos vasos sanguíneos dos pulmões. Essa lesão acaba dando origem à reversão da derivação para direita‑esquerda.

A derivação esquerda-direita envolve a mistura do sangue rico em oxigênio, que é bombeado do lado esquerdo do coração, com sangue pobre em oxigênio que está sendo bombeado através da artéria pulmonar para os pulmões. A derivação esquerda-direita faz com que a circulação seja ineficiente e aumenta a quantidade de sangue fluindo pelos pulmões. Com o passar do tempo, esse fluxo sanguíneo adicional danifica os vasos sanguíneos pulmonares, fazendo com que as paredes dos vasos sanguíneos engrossem de forma anormal. Isso pode acontecer lentamente, ao longo de muitas décadas, como no caso do defeito do septo atrial, ou rapidamente, como ocorre no tronco arterioso persistente.

A resistência contra o fluxo em artérias danificadas e espessadas nos pulmões acaba se tornando tão elevada que ocorre uma inversão do fluxo de sangue do lado direito para o lado esquerdo do coração. Essa inversão do fluxo de sangue é chamada de síndrome de Eisenmenger. A síndrome de Eisenmenger pode sobrecarregar o lado direito do coração, causando insuficiência cardíaca. Outras complicações incluem aumento da descoloração azulada (cianose), aumento anormal da espessura do sangue, sangramento dos pulmões e AVCs.

Distúrbios capazes de causar a síndrome de Eisenmenger incluem

Como os defeitos congênitos do coração são geralmente diagnosticados e tratados de imediato, a síndrome de Eisenmenger está se tornando menos comum.

Os sintomas incluem pele com coloração azulada (cianose), alargamento e inchaço das unhas das mãos e pés (baqueteamento), desmaios, falta de ar durante atividades, fadiga e dor torácica. Outros sintomas podem se desenvolver, dependendo do defeito congênito que causou a síndrome de Eisenmenger.

Se os médicos suspeitarem da síndrome de Eisenmenger, um eletrocardiograma, ecocardiograma e cateterismo cardíaco são feitos para obter mais informações sobre como o coração está funcionando. Os médicos também fazem exames laboratoriais para identificar anomalias causadas pela falta de oxigênio.

Embora existam algumas intervenções ou medicamentos capazes de retardar a progressão natural desse quadro clínico, o transplante do coração e pulmão é o único tratamento definitivo para a síndrome de Eisenmenger. Portanto, é importante que os defeitos cardíacos congênitos sejam identificados e corrigidos o quanto antes.

Diagnóstico de defeitos cardíacos

  • Antes do nascimento, ultrassonografia

  • Eletrocardiograma

  • Radiografia do tórax

  • Ecocardiograma

  • Cateterismo cardíaco

Muitos defeitos cardíacos podem ser diagnosticados antes do nascimento através da ecocardiograma (ultrassonografia do coração). Se o obstetra suspeitar ou diagnosticar a presença de um defeito cardíaco, com frequência ele encaminha a mãe a uma clínica onde ela pode realizar um exame de ultrassom especializado chamado ecocardiograma fetal. Esse procedimento permite realizar um exame detalhado do coração do feto. Caso um defeito cardíaco grave seja confirmado, são feitos planos para prestar o melhor tipo de assistência possível ao recém-nascido imediatamente após o nascimento.

Nos Estados Unidos e em muitos outros países, os recém-nascidos são triados para defeitos cardíacos quando eles têm um ou dois dias de idade. A triagem é realizada com um oxímetro de pulso (um teste indolor que verifica os níveis de oxigênio no sangue usando um sensor aplicado na pele). Caso um defeito cardíaco não seja detectado antes ou logo após o nascimento, o médico suspeita que ele está presente em recém-nascidos ou crianças pequenas quando eles apresentam sintomas, quando o médico ouve sopros cardíacos anômalos ao escutar o coração com um estetoscópio ou quando outros sinais de doença cardíaca são reconhecidos.

O diagnóstico de defeitos cardíacos nas crianças envolve as mesmas técnicas usadas no diagnóstico de doenças cardíacas em adultos. Os médicos muitas vezes suspeitam de um defeito após fazerem perguntas específicas à família e fazerem um exame físico. Em seguida, eles costumam realizar um ecocardiograma, eletrocardiograma (ECG) e uma radiografia do tórax.

Um ecocardiograma pode diagnosticar quase todos os defeitos específicos. A ressonância magnética (RM) do coração e a tomografia computadorizada (TC) do coração podem ser usadas para adicionar detalhes anatômicos importantes de certos defeitos cardíacos ou dos vasos sanguíneos. O cateterismo cardíaco consegue fornecer informações mais detalhadas sobre a anomalia e também pode ser utilizado para tratar alguns defeitos cardíacos.

Tratamento de defeitos cardíacos

  • Cirurgia cardíaca a céu aberto

  • Procedimentos de cateterismo cardíaco

  • Medicamentos

  • Oxigenação por membrana extracorpórea (do inglês “Extracorporeal Membrane Oxygenation”, ECMO) e dispositivos de assistência ventricular (DAVs)

  • Em casos raros, um transplante cardíaco

Assistência imediata

Insuficiência cardíaca ou cianose que ocorre na primeira semana de vida representa uma emergência médica. Os médicos costumam inserir um tubo fino (um cateter) na veia do cordão umbilical do recém-nascido para administrar medicamentos com maior facilidade e rapidez. Medicamentos são administrados pela veia para reduzir a carga de trabalho do coração e melhorar a quantidade de oxigênio transportada para o corpo. Em recém-nascidos, as prostaglandinas podem salvar a vida no caso de certos defeitos cardíacos críticos que exigem que o duto arterioso permaneça aberto. É possível que o recém-nascido também precise de ventilação mecânica para ajudá‑lo a respirar. Quando determinados defeitos estiverem presentes, às vezes, os recém-nascidos também recebem oxigênio.

Cirurgia cardíaca a céu aberto

Muitos defeitos cardíacos graves podem ser reparados de maneira eficaz com cirurgia cardíaca a céu aberto. O momento para realização da cirurgia depende do defeito específico, dos seus sintomas e da sua gravidade. Contudo, os bebês com sintomas graves resultantes de um defeito cardíaco devem realizar cirurgia durante os primeiros dias ou semanas de vida.

O reparo de alguns defeitos cardíacos complicados pode ser muito difícil nas primeiras semanas e pode ser necessário um procedimento cardíaco não aberto para estabilizar o quadro clínico do bebê e retardar a necessidade de uma cirurgia mais corretiva. Um exemplo desse tipo de cirurgia seria a criação de uma derivação entre a aorta e a artéria pulmonar.

Cateterismo cardíaco

O cateterismo cardíaco é um procedimento no qual um tubo fino (cateter) é inserido em uma veia ou artéria na virilha e avançado até o coração para diagnóstico ou tratamento. Outras abordagens para o coração são, às vezes, usadas, incluindo a veia ou uma artéria do cordão umbilical no recém-nascido.

Estruturas estreitadas, às vezes, podem ser alargadas pela introdução de um cateter na área estreitada do coração. Um balão preso ao cateter é insuflado e alarga o estreitamento, geralmente de uma válvula (um procedimento chamado valvuloplastia com balão) ou vaso sanguíneo (um procedimento chamado angioplastia com balão). Esses procedimentos com balão podem ser realizados em vez de cirurgia cardíaca a céu aberto ou podem adiar a necessidade de realizar cirurgia cardíaca a céu aberto.

No caso de alguns recém-nascidos, como aqueles que têm transposição das grandes artérias, um procedimento denominado septostomia atrial por cateter balão pode ser realizado durante um cateterismo cardíaco. Nesse caso, um balão é utilizado para alargar o forame oval (o orifício entre as cavidades superiores do coração) para ajudar a melhorar o fluxo de oxigênio para o corpo. Esse procedimento costuma ser realizado para estabilizar o bebê antes da cirurgia cardíaca a céu aberto.

O cateterismo cardíaco também pode ser utilizado para fechar o duto arterioso patente ou certos tipos de orifícios no coração (muitos tipos de defeitos do septo atrial e alguns tipos de defeitos do septo ventricular) ao inserir um tampão ou outro dispositivo especializado através do cateter. O cateterismo cardíaco não deixa uma cicatriz grande na pele e o tempo de recuperação é muito mais curto do que o período de recuperação após uma cirurgia cardíaca a céu aberto.

Medicamentos

Em um recém-nascido com bloqueio severo do fluxo sanguíneo para o corpo ou pulmões, um tipo de medicamento denominado prostaglandina pode ser administrado para ajudar a manter o duto arterioso aberto, algo que pode salvar a vida do bebê.

Outros medicamentos que costumam ser usados em crianças com um defeito cardíaco incluem

  • Um diurético, como a furosemida, que ajuda a remover o excesso de líquido dos pulmões e do resto do corpo

  • Inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA), como captopril, enalapril ou lisinopril (que causam o relaxamento dos vasos sanguíneos e ajudam o coração a bombear mais facilmente)

  • A digoxina, que ajuda o coração a bombear com um pouco mais de força

  • A milrinona, um medicamento forte que é administrado pela veia (via intravenosa) para estimular o coração a bater com mais força e causar o relaxamento de vasos sanguíneos constritos

Aparelhos para dar assistência à função cardíaca

Aparelhos mecânicos podem ser usados para dar suporte ao coração de crianças com insuficiência cardíaca grave e que não respondem aos medicamentos. Esses aparelhos têm uma bomba que ajuda a enviar uma quantidade suficiente de sangue para os pulmões e para o corpo quando o coração não consegue bombear de maneira eficiente. Eles podem ser utilizados durante vários dias, semanas ou até mesmo meses para permitir que o coração da criança se recupere após ter tido uma infecção viral ou uma cirurgia cardíaca a céu aberto de grande porte, ou para ajudar a estabilizar a criança até ser possível realizar o transplante cardíaco.

Durante a oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO, do inglês Extracorporeal Membrane Oxygenation), o sangue da criança circula por uma máquina que acrescenta oxigênio e remove o dióxido de carbono e, depois, bombeia esse sangue de volta para o corpo da criança.

Alguns tipos de aparelhos, chamados dispositivos de assistência ventricular (DAVs), podem ser inseridos no corpo. O DAV bombeia sangue do coração para o corpo. Esse aparelho permite manter o suporte para a circulação por mais tempo do que a ECMO.

Transplante de coração

Em casos raros, quando nenhum outro tratamento ajuda, é feito um transplante de coração. No entanto, a falta de corações de doadores limita a disponibilidade deste procedimento.

Controle de longo prazo

Crianças com um músculo cardíaco fraco ou problemas na válvula residual depois da cirurgia precisam de tratamento de longo prazo com medicamentos e alterações na dieta (como restrição de sal e uso de uma fórmula láctea de alto teor calórico em uma quantidade relativamente pequena de líquido). Esses tratamentos diminuem a carga de trabalho do coração.

Algumas crianças com defeitos cardíacos significativos ou que foram submetidas a cirurgias para reparo de defeitos cardíacos precisam tomar antibióticos antes de consultas com um dentista e antes de realizarem certas cirurgias (por exemplo, no trato respiratório). Esses antibióticos são utilizados para prevenir uma infecção cardíaca séria denominada endocardite. No entanto, a maioria das crianças com defeitos cardíacos, independentemente de terem ou não sido submetidos a cirurgia, não necessita desses antibióticos. Porém, todas as crianças com defeitos cardíacos devem praticar bons cuidados dentais e da gengiva para diminuir o risco de uma infecção se disseminar até o coração.

Mais informações

Os seguintes recursos em inglês podem ser úteis. Vale ressaltar que O MANUAL não é responsável pelo conteúdo desses recursos.

  1. Associação Americana do Coração: Defeitos cardíacos comuns: Fornece uma visão geral dos defeitos congênitos comuns do coração para pais e cuidadores

  2. Associação Americana do Coração: Endocardite infecciosa: Fornece uma visão geral da endocardite infecciosa, incluindo um resumo do uso de antibióticos, para pais e cuidadores

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