O canabidiol (CBD) é uma substância química encontrada na planta Cannabis sativa. Essa planta, que contém mais de 80 substâncias químicas conhecidas como canabinoides, também é chamada de maconha ou cânhamo. Dois ingredientes fundamentais da cannabis são o CBD e o tetra-hidrocanabinol (THC). O THC é responsável pelos efeitos inebriantes da canábis e pode contribuir para os benefícios à saúde da planta. Ao contrário do THC, o CBD não é inebriante.
O CBD está disponível em cápsulas gelatinosas, comprimidos, cápsulas, óleos, gomas, extratos líquidos e concentrados para cigarros eletrônicos (vape juice, para cigarros eletrônicos com refil). Alguns desses produtos contêm somente CBD, e outros contêm CBD em combinação com outros ingredientes.
Há indícios de alegações imprecisas sobre a quantidade real de CBD em produtos disponíveis comercialmente. Por exemplo, um estudo que comparou os ingredientes listados nos rótulos de 84 produtos contendo CBD comercializados pela internet constatou que apenas 30% apresentavam a concentração de CBD corretamente rotulada (1). Além disso, THC (ou maconha) foi detectado em 21% dos produtos.
Alegações sobre o canabidiol
O CBD de venda sob prescrição é utilizado para o tratamento de determinados transtornos convulsivos.
Algumas pessoas utilizam CBD para tratar muitos outros problemas de saúde, como:
Distúrbio bipolar
Dor
Ansiedade
Doença de Crohn
Diabetes
Problemas de sono
Esclerose múltipla
Sintomas de abstinência de heroína, morfina e outros opioides
Evidências sobre o canabidiol
O CBD oral foi aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos para o tratamento de convulsões associadas a duas encefalopatias epilépticas: síndrome de Lennox-Gastaut e síndrome de Dravet. Essas encefalopatias epilépticas começam na infância e envolvem convulsões frequentes, além de comprometimento grave do desenvolvimento cognitivo. Estudos clínicos relataram a eficácia do CBD nesses pacientes e em outros pacientes com epilepsias resistentes a tratamento (2, 3). Contudo, mais pesquisas são necessárias para determinar se os canabinoides são eficazes para outras formas mais prevalentes de epilepsia.
Há dados limitados sugerindo que o CBD pode ter um benefício modesto para dor neuropática. Uma revisão sistemática da Cochrane de 2018 sobre medicamentos à base de canábis para dor neuropática crônica em adultos incluiu 16 estudos com 1.750 participantes (4). A análise mostrou que os medicamentos à base de canábis podem aumentar a quantidade de pessoas em que o alívio da dor é de 50% ou mais em comparação com o placebo (21% versus 17%). Os medicamentos à base de canábis provavelmente aumentam a quantidade de pessoas em que o alívio da dor é de 30% ou mais em comparação com o placebo (39% versus 33%). Os autores concluíram que essa pequena melhora na dor neuropática pode ser sobrepujada pelos potenciais danos.
Um spray oromucosal demonstrou algum sucesso para o tratamento de espasticidade na esclerose múltipla (5).
Há inúmeros ensaios clínicos acerca do uso de CBD para vários sintomas e doenças, resumidos no National Institutes of Health (NIH) website.
Efeitos adversos do canabidiol
O CBD pode ter efeitos adversos como xerostomia, hipotensão arterial, diarreia, diminuição do apetite, alterações de humor, tontura, fadiga, exantema, insônia, má qualidade do sono e sonolência. A Food and Drug Administration (FDA) desaconselha fortemente o uso de CBD durante a gestação (6).
O CBD pode causar aumento de transaminases e lesão hepática.
Interações medicamentosas com o canabidiol
O CBD é metabolizado pelas enzimas CYP3A4 e CYP2C19 do citocromo p450 (CYP). A coadministração com medicamentos que são metabolizados pelo CYP3A4 ou CYP2C19 ou os inibem pode aumentar as concentrações plasmáticas desses medicamentos ou do CBD, o que pode resultar em efeitos mais fortes e maior risco de reações adversas (7).
O CBD pode aumentar a concentração sérica e os efeitos de vários fármacos, como:
Anticonvulsivantes (p. ex., brivaracetam, carbamazepina, clobazam, topiramato)
Imunossupressores utilizados para prevenir a rejeição após transplantes de órgão (p. ex., ciclosporina, tacrolimus)
Anticoagulantes (p. ex., varfarina)
Antidepressivos tricíclicos
Inibidores da bomba de prótons (p. ex., omeprazol); pode ocorrer diarreia
Nicotina, duração prolongada da ação da nicotina
Lítio, causando ou aumentando a toxicidade do lítio
Cetamina, possivelmente aumentando os efeitos antidepressivos
Metadona
Levotiroxina
O CBD pode causar sonolência e torpor; assim, o uso concomitante de CBD e sedativos (p. ex., benzodiazepinas, fenobarbital, morfina, álcool) pode deixar o paciente sonolento demais.
Estão surgindo informações sobre as interações. Qualquer medicamento com um índice terapêutico estreito (p. ex., amiodarona) justifica cautela e monitoramento atento do uso de CBD em decorrência da possibilidade de interações medicamentosas.
Por causa do potencial de hepatotoxicidade direta do CBD, pode ocorrer aumento da hepatotoxicidade quando outros medicamentos hepatotóxicos (p. ex., paracetamol, ácido valproico) são administrados concomitantemente.
Alguns medicamentos, incluindo anticonvulsivantes e rifampicina, podem diminuir a concentração sérica do CBD.
Antidepressivos tricíclicos podem aumentar as concentrações séricas de CBD e, assim, aumentar os efeitos adversos deste.
(Ver também tabela Algumas interações possíveis entre suplementos alimentares e fármacos.)
Referências
1. Bonn-Miller MO, Loflin MJE, Thomas BF, et al. Labeling accuracy of cannabidiol extracts sold online. JAMA. 318(17):1708-1709, 2017. doi:10.1001/jama.2017.11909
2. Szaflarski JP, Bebin EM, Comi AM, et al. Long-term safety and treatment effects of cannabidiol in children and adults with treatment-resistant epilepsies: Expanded access program results. Epilepsia. 59(8):1540-1548, 2018. doi:10.1111/epi.14477
3. Szaflarski JP, Bebin EM, Cutter G, et al. Cannabidiol improves frequency and severity of seizures and reduces adverse events in an open-label add-on prospective study. Epilepsy Behav. 87:131-136, 2018. doi:10.1016/j.yebeh.2018.07.020
4. Mucke M, Phillips T, Radbruch L, Petzke F, Hauser W. Cannabis-based medicines for chronic neuropathic pain in adults. Cochrane Database Syst Rev. 3(3):CD012182, 2018. Publicado em 2018 Mar 7. doi:10.1002/14651858.CD012182.pub2
5. Patti F, Messina S, Solaro C, et al; SA.FE. study group. Efficacy and safety of cannabinoid oromucosal spray for multiple sclerosis spasticity. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2016 Sep;87(9):944-51. doi: 10.1136/jnnp-2015-312591
6. U.S. Food & Drug Administration. What You Should Know About Using Cannabis, Including CBD, When Pregnant or Breastfeeding. Accessed February 25, 2025.
7. Balachandran P, Elsohly M, Hill KP. Cannabidiol interactions with medications, illicit substances, and alcohol: a comprehensive review. J Gen Intern Med. 36(7):2074-2084, 2021. doi:10.1007/s11606-020-06504-8
Informações adicionais
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