O transtorno de ingestão de alimentos esquivo/restritivo (TIAER) caracteriza-se por restrição da ingestão de alimentos; não inclui ter uma imagem corporal distorcida ou estar preocupado com a imagem do corpo (em contraposição à anorexia nervosa e à bulimia nervosa).
O transtorno de ingestão de alimentos evitativo/restritivo costuma iniciar-se na infância, geralmente entre 11 e 13 anos, mas pode surgir em qualquer idade (1). A causa exata da doença é desconhecida, mas pode ter componentes genéticos e psicossociais como trauma, ansiedade, autismo e deficiências de desenvolvimento. TIAER pode inicialmente lembrar o comer seletivo que é comum na infância quando as crianças se recusam a comer certos alimentos ou alimentos de uma determinada cor, consistência ou odor. Entretanto, essa meticulosidade alimentar, ao contrário do transtorno de ingestão alimentar esquiva/restritiva, geralmente envolve apenas alguns itens alimentares, e o apetite, ingestão geral de alimentos, crescimento e desenvolvimento da criança são normais.
Pacientes com ingestão alimentar evitativa/restritiva podem evitar ou limitar a alimentação por várias razões. Alguns pacientes perdem o interesse em comer ou temem que a alimentação leve a consequências prejudiciais como engasgo ou vômito. Podem evitar certos alimentos por causa das características sensoriais (p. ex., cor, consistência ou odor).
Referência
1. Fisher M, Zimmerman J, Bucher C, Yadlosky L. ARFID at 10 years: A Review of Medical, Nutritional and Psychological Evaluation and Management. Curr Gastroenterol Rep. 2023;25(12):421-429. doi:10.1007/s11894-023-00900-w
Sinais e sintomas do transtorno de ingestão de alimentos esquivo/restritivo
Pacientes com transtorno de ingestão de alimentos esquivo/restritivo evitam comer alimentos e restringem a ingestão de alimentos de tal forma que têm ≥ 1 dos seguintes:
Perda ponderal significativa ou, em crianças, incapacidade de crescer como esperado
Deficiência nutricional significativa
Dependência de alimentação enteral (por sonda de alimentação) ou suplementos nutricionais orais
Funcionamento psicossocial acentuadamente perturbado
Deficiências nutricionais potencialmente fatais, e o funcionamento social (p. ex., participar de refeições com a família, passar tempo com amigos quando comer pode estar presente) pode ser bastante prejudicado.
Diagnóstico do transtorno de ingestão de alimentos esquivo/restritivo
Avaliação psiquiátrica
Os critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª ed, Texto Revisado (DSM-5-TR) para ingestão alimentar evitativa/restritiva (1) incluem:
A restrição alimentar leva a perda ponderal significativa, falha do crescimento esperado em crianças, deficiência nutricional significativa, dependência de suporte nutricional e/ou perturbação acentuada do funcionamento psicossocial
A restrição alimentar não é causada pela indisponibilidade de alimentos, por uma prática cultural (p. ex., jejum religioso), por doença médica geral, por tratamento médico (p. ex., radioterapia, quimioterapia) ou por outro transtorno alimentar — particularmente anorexia nervosa
Não há evidências de alteração da percepção do peso ou forma corporal.
Entretanto, pacientes com um distúrbio médico geral que provoque diminuição da ingestão de alimentos e que mantêm a ingestão reduzida por muito mais tempo do que normalmente esperado e em um grau que exige intervenção específica podem ser considerados como tendo transtorno de ingestão alimentar esquiva/restritiva.
Quando os pacientes procuram atendimento inicialmente, os médicos devem excluir doença médica geral, bem como outros transtornos psiquiátricos que prejudiquem o apetite e/ou a ingestão, incluindo outros transtornos de alimentação e deglutição, depressão, esquizofrenia e transtorno factício imposto a outro.
Referência sobre diagnóstico
1. American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders. 5th ed, Text Revision. American Psychiatric Association Publishing; 2022:376-380.
Tratamento do transtorno de ingestão de alimentos esquivo/restritivo
Terapia cognitivo-comportamental ou tratamento baseado na família
A terapia cognitivo-comportamental e o tratamento baseado na família são comumente utilizados para ajudar os pacientes a normalizar sua alimentação (1). Ambas as intervenções também podem ajudá-los a se sentirem menos ansiosos sobre o que comem.
Treatment reference
1. Kambanis PE, Thomas JJ. Assessment and Treatment of Avoidant/Restrictive Food Intake Disorder. Curr Psychiatry Rep. 2023;25(2):53-64. doi:10.1007/s11920-022-01404-6
Pontos-chave
O transtorno de ingestão alimentar esquiva/restritiva pode causar perda ponderal significativa e deficiências nutricionais potencialmente fatais e comprometimento acentuado do funcionamento social (p. ex., participar de refeições em família).
Diagnosticar com base em critérios específicos, distinguindo particularmente o transtorno de ingestão alimentar esquiva/restritiva de anorexia nervosa ou bulimia nervosa.
Tratar com terapia cognitivo-comportamental ou terapia baseada na família.
