Transtorno transvéstico

[Uso de roupas do sexo oposto (cross-dressing); transvestismo; fetichismo transvéstico]

PorGeorge R. Brown, MD, East Tennessee State University
Reviewed ByMark Zimmerman, MD, South County Psychiatry
Revisado/Corrigido: modificado out. 2025
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Visão Educação para o paciente

Travestismo envolve excitação sexual intensa e recorrente com o uso de roupas do sexo oposto, que pode se manifestar como fantasias, impulsos ou comportamentos. Transtorno transvéstico é o travestismo que causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo funcional em uma ou mais áreas importantes da vida.

Na Classificação Internacional de Doenças, 11ª revisão (CID-11), o fetichismo tranvéstico ou transtorno transvéstico não é um diagnóstico específico; está subsumido em uma categoria mais geral de transtornos parafílicos envolvendo comportamento solitário ou indivíduos consentidores (1). Se a excitação sexual associada ao hábito de vestir-se com roupas do sexo oposto causar sofrimento ou prejuízo significativo, o transtorno parafílico pode ser diagnosticado.

"Cross-dresser" ou transformista são termos mais comuns e aceitáveis do que "travestista". Utilizar roupas do sexo oposto, por si só, não é considerado um transtorno psiquiátrico. O travestimo (cross-dressing) ocorre tanto em homens heterossexuais como em homossexuais. O hábito de vestir-se com roupas do sexo oposto é muito menos comum entre mulheres, possivelmente porque as mulheres têm uma gama mais ampla de opções de vestuário antes de ultrapassarem o que a sociedade considera estilos inadequados ao gênero. Pessoas não binárias que se vestem com roupas geralmente associadas a um sexo de nascimento diferente não são, em geral, consideradas como praticando “cross-dressing”. Algumas pessoas que praticam travestismo o fazem por razões diversas que normalmente não estão relacionadas à excitação sexual (p. ex., trajes de fantasia). No entanto, para pessoas que praticam travestismo/cross-dressing e que apresentam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo funcional decorrente de seus impulsos ou comportamentos de travestismo, o diagnóstico de transtorno transvéstico pode ser apropriado.

Homens que se vestem com roupas de mulher geralmente iniciam tal comportamento durante o final da infância. Até 3% dos homens já se transvestiram e se sentiram sexualmente estimulados por isso pelo menos uma vez, mas bem menos informaram uso regular de roupas do sexo oposto (2). Utilizar roupas do sexo oposto está associado, pelo menos inicialmente, à excitação sexual intensa. A excitação sexual que é produzida pelo vestuário em si (não propriamente vestindo as roupas) é considerada uma forma de fetichismo e pode ocorrer com ou independente do uso de roupas do sexo oposto.

Os perfis de personalidade de homens que praticam travestismo/cross-dressing parecem, em geral, semelhantes às normas ajustadas para idade e raça (3). Disforia de gênero é mais comum em homens do sexo masculino com transtorno transvéstico. Esses indivíduos podem relatar excitação ao uso de roupas tipicamente femininas quando adolescentes que diminuem ou desaparecem mais tarde na vida, acompanhadas por um desejo de viver plenamente no sexo feminino. Alguns com transtorno transvéstico também podem apresentar disforia de gênero intermitente associada a perda, luto, uso de substâncias ou depressão.

Quando homens que se vestem com roupas do sexo oposto têm parceiros que os apoiam, eles podem se sentir confortáveis em se envolver em atividade sexual com trajes femininos. Por outro lado, se o parceiro não oferecer apoio, eles podem experimentar ansiedade, depressão, culpa e vergonha relacionadas ao desejo de vestir-se com roupas associadas ao sexo oposto, o que pode levar à disfunção sexual no relacionamento. Essas emoções negativas podem desencadear ciclos que envolvem eliminar repetidamente as roupas femininas do guarda-roupa, acumular novos itens e vivenciar novamente sentimentos de vergonha; o ciclo pode, assim, continuar.

Referências gerais

  1. 1. World Health Organization. (2019). 6D36 Paraphilic disorder involving solitary behaviour or consenting individuals. In International statistical classification of diseases and related health problems (11th ed). Accessed August 25, 2025. 

  2. 2. Långström N, Zucker KZ. Transvestic fetishism in the general population: Prevalence and correlates. J Sex Marital Ther. 31(2):87-95, 2005. doi: 10.1080/00926230590477934

  3. 3. Brown GR, Wise TN, Costa PT Jr, Herbst JH, Fagan PJ, Schmidt CW Jr. Personality characteristics and sexual functioning of 188 cross-dressing men. J Nerv Ment Dis. 1996;184(5):265-273. doi:10.1097/00005053-199605000-00001

Diagnóstico do transtorno transvéstico

  • Avaliação psiquiátrica

Os critérios clínicos para o diagnóstico do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição, Texto Revisado (DSM-5-TR) requerem os seguintes (1):

  • Os pacientes experimentam excitação recorrente e intensa com o uso de roupas do sexo oposto, manifestada por fantasias, desejos intensos ou comportamentos.

  • Essas fantasias, desejos sexuais intensos ou comportamentos causam sofrimento clinicamente significativo ou prejudicam o desempenho no trabalho, os relacionamentos sociais ou outras áreas importantes da vida.

  • O quadro esteve presente por 6 meses.

Ao fazer o diagnóstico, o clínico deve especificar se

  • Fetichismo (excitação sexual por tecidos, materiais ou roupas) ou autoginefilia (excitação por pensamentos ou imagens de si mesmo como mulher) estão presentes.

  • O paciente está vivendo em um ambiente controlado (p. ex., uma instituição) ou está em remissão completa (isto é, pelo menos 5 anos sem sofrimento/prejuízo em um ambiente não controlado)

Referência sobre diagnóstico

  1. 1. American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders. 5th ed, Text Revision. American Psychiatric Association Publishing; 2022:798-800.

Tratamento do transtorno transvéstico

  • Grupos sociais e de suporte

  • Às vezes, psicoterapia

A maioria das pessoas que se vestem com roupas do sexo oposto não apresenta sofrimento significativo relacionado a isso e pode não buscar voluntariamente tratamento de saúde mental. Aqueles que procuram avaliação ou tratamento geralmente chegam trazidos por um cônjuge infeliz, são encaminhados pelos tribunais ou buscam atendimento espontaneamente por receio de vivenciar consequências sociais e profissionais negativas. Algumas pessoas que se travestem podem procurar tratamento de disforia de gênero, transtorno por uso de substâncias ou depressão comórbidos.

Embora não haja ensaios randomizados, grupos sociais e de apoio, tanto presencialmente quanto na internet, para homens que se travestem são muitas vezes muito úteis (1, 2).

Devido à falta de evidências de alta qualidade, nenhum medicamento demonstrou eficácia confiável, embora ISRS tenham sido utilizados com sucesso ocasional em pacientes cuja apresentação clínica inclui importante componente obsessivo-compulsivo (3). Há 1 relato de caso de um paciente com transtorno transvéstico beneficiando-se de buspirona (4).

A psicoterapia, quando indicada, tem por objetivo a autoaceitação, a terapia familiar e a modulação dos comportamentos de risco.

Mais tarde na vida, às vezes aos 50, 60 anos ou mais, os homens que se travestem podem procurar tratamento médico por causa dos sintomas da disforia de gênero e podem então atender os critérios de diagnóstico para disforia de gênero.

Referências sobre o tratamento

  1. 1. Newring K, Wheeler J, Draper C. Transvestic fetishism: Assessment and Treatment. In: Laws DR, Donohue WT, eds. Sexual Deviance: Theory, Assessment, and Treatment. Guilford Press; 2028: 285-304.

  2. 2. Moser C, Kleinplatz PJ. Transvestic fetishism: Psychopathology or iatrogenic artifact? NJ Psychologist. 52(2):16-17, 2002.

  3. 3. Balon Rez-Sierra D, Balgobin C, Wise TN. Treatment of paraphilic disorders. In: Balon R, ed. Practical Guide to Paraphilia and Paraphilic Disorders. Springer/Springer International Publishing AG; 2016:43-62.

  4. 4. Fedoroff JP. Buspirone hydrochloride in the treatment of transvestic fetishism. J Clin Psychiatry. 1988;49(10):408-409.

Pontos-chave

  • A maioria dos praticantes de cross-dressing não atende aos critérios clínicos para transtorno transvéstico e pode não buscar tratamento voluntariamente.

  • O diagnóstico do transtorno transvéstico é feito somente se o uso de roupas do sexo oposto causar sofrimento clinicamente significativo ou prejudicar o funcionamento, e a condição estiver presente por 6 meses.

  • Nenhum medicamento é sistematicamente eficaz; psicoterapia e grupos de apoio podem ajudar.

  • Autoaceitação e redução de danos são as principais abordagens para auxiliar aqueles com transtorno tranvéstico.

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